capítulo três
NOVO MUNDO VELHO
O
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voo de Chicago para Miami estava sendo
tranquilo. Quando recebi alta pela manhã. Kevin ligou no aeroporto logo de
manhã e agendou o nosso voo para a tarde. Cochilei boa parte do voo. Estava
feliz por ter saído do hospital o problema é que eu não sei se devia estar
feliz por estar voltando para casa afinal em minha mente não existe casa. Não
me lembrava de nada. Continuava a ter flashes da minha infância, mas nada atual.
Nada que pudesse ser reconhecido. Eram como imagens embasadas. Não conseguia
decodificar essas lembranças, mas parecia ser algo bom. Meu cérebro estar
trabalhando para lembrar.
Estava sentado em minha poltrona na janela. Lá embaixo eu via a cidade
minúscula. Algumas vezes tudo o que eu via eram nuvens. Kevin tinha se
levantado da poltrona e estava no cockpit
conversando com o piloto e o copiloto. Eram amigos deles. Notei que as
comissárias de bordo – um homem e duas mulheres – não param de olhar para mim.
Tenho quase certeza de que elas eram amigas de Kevin e me conheciam. Kevin deve
ter contado o que aconteceu e pediu para que ninguém me incomodasse com
perguntas. Eu agradeço a ele por isso. Alguns minutos se passaram e eu vi Kevin
caminhar lá da frente até mim. Nós nos sentamos nas quinta fileira.
- você está bem? – perguntou ele se inclinando até mim.
- estou bem.
- quer comer ou beber alguma coisa?
- não. eu estou bem – falei nervoso. Não me sentia bem.
- você costumava ficar enjoado quando voava.
- eu ficava?
- sim. Você sempre tomava um Dramin antes de voar.
- por acaso você não tem nenhuma ai?
- tenho – falou Kevin indo até galley e voltando com uma garrafa de
água. Ele se sentou ao meu lado e me entregou o comprimido. Ele abriu a garrafa
de água mineral e eu coloquei o comprimido na boca tomando três longos goles de
água.
- obrigado – falei devolvendo a garrafa.
- falta pouco para chegarmos em casa.
- OK – falei sorrindo para ele e voltando a olhar para fora do avião.
Kevin continuou sentado ao meu lado e por alguns instantes eu olhei para
uma das comissárias de bordo que me encaravam.
- quem é aquela? – perguntei para Kevin. Uma mulher de cabelos pretos e
olhos castanhos claros.
- aquela é Laila Adamson. Ela faz paetê da minha tripulação.
- porque ela está me olhando sem parar?
- não sei – falou Kevin levantando a mão chamando Laila que veio até
nós.
- pois não? – falou ela com um sorriso.
- você está deixando ele desconfortável Laila – falou Kevin – para de
ficar olhando para ele.
- nossa, me desculpa – falou ela preocupada – me desculpa Max.
- não tem problema – falei olhando para Kevin – não precisava ter feito
isso.
- Laila sabe que estou brincando com ela.
Ao me ver dizer aquilo Laila franziu a testa como se estivesse intrigada
pelo meu comportamento.
- o que foi? – perguntei vendo a reação dela.
- não é nada – falou Laila passando as mãos no cabelos colocando eles
para trás da orelha.
- pode falar.
- é sério. não é nada – falou ela sem graça.
- é sério Laila. Eu não me lembro de nada e se você me conhece qualquer
informação pode valer a pena.
- é que… não me leve a mal – falou Laila olhando para Kevin – antes você
não era tão… - falou ela pausando.
- tão o que? – perguntou Kevin.
- amigável – falou ela rindo sem graça – você nunca foi do tipo que conversava
comigo ou com os outros membros da tripulação do Comandante Kevin. Sempre que
você voava conosco você era um pesadelo.
- Laila! – falou Kevin.
- é verdade. Só estou sendo sincera. Foi ele que pediu por sinceridade.
Ele era o tipo de passageiro que eu odiava. Nós te apelidamos de ‘Pesadelo’
- Eu era tão chato assim.
- só um pouco – falou Kevin – convenhamos Max, mas seu trabalho é
criticar. Você tem o direito de reclamar. Você é bom no que faz. Vários hotéis
pelo pais te convidavam para passar uma semana só para que você os avaliasse.
- sim – falei olhando para Kevin – mas não é porque eu sou bom em algo
que eu devo ser arrogante – falei confuso com o que Laila tinha dito – essa
parte de mim eu não quero lembrar.
- olha me desculpa se eu te ofendi de alguma maneira – falou Laila.
- não. de maneira nenhuma. É bom me conhecer pelo outro ângulo.
- se precisarem de qualquer coisa é só chamarem – falou Laila se
virando.
- Sabe – falei impedindo que ela se fosse – nós podíamos sair qualquer
dia desses.
Laila deu risada quando eu disse aquilo e olhou para Kevin.
- vai me dizer que ele também esqueceu que é gay?
- não – falei rindo – Eu estou falando sobre sair como amigos, mas acho
que é idiotice.
- não… eu adoraria – falou Laila.
- Kevin tem o meu número. Quando quiser sair é só me ligar – falou Laila
voltando á galley.
- me desculpa por isso – falou Kevin.
- não. Eu gostei dela ter me dito isso – falei respirando fundo – eu era
mesmo um babaca?
- eu não sou uma pessoa confiável. Eu te amo então não posso falar mal
de você nem se eu quisesse.
- OK – falei tentando esquecer aquele assunto. ‘Eu te amo’. Ele tinha
dito essas três palavras um monte de vezes desde ontem. Não sei porque ele
insistia em dizer aquilo toda hora. Não queria magoá-lo, mas eu não sentia a
mesma coisa. Talvez antes do acidente eu sentisse, mas quando olho para ele eu
não sinto meu coração acelerar. Não sinto vontade de beijá-lo e nem vontade de
estar junto dele. Como eu posso quebrar o coração de alguém que parece gostar
tanto de mim?
Um barulho um pouco irritante silencioso permeou por todo o avião e
algumas luzes piscaram no alto.
- Senhores passageiros pedimos que afivelem seus cintos. Estaremos
pousando no Aeroporto Internacional de Miami em Instantes – falou Laila no
interfone olhando para mim.
Afivelei o cinto e Kevin fez o mesmo. Fiquei um pouco tonto quando o
avião fez uma manobra e eu fechei os olhos e tentei relaxar. Não por medo, mas
pelo enjoo no meu estômago. Torci para o avião chegar logo ao solo.
- vai ficar tudo bem – falou Kevin segurando minha mão. Abri os olhos e
olhei para ele. Respirei fundo e fechei minha mão segurando-a. Não queria ser
aquele babaca outra vez.
Senti um frio na barriga quando o avião começou a posar e um baque
quando as rodas tocaram o chão. Respirei aliviado por finalmente estar em terra
firme. O avião taxiou na pista alguns minutos e em seguida as portas da
aeronave se abriram. Os passageiros se levantaram e começaram a pegar suas
bagagens e eu fiz o mesmo. Tudo o que eu tinha comigo era uma mochila. Era a
única coisa que estava no quarto do hotel onde estava hospedado em Chicago.
- foi bom te ver de novo – falou Laila quando Kevin e eu íamos saindo da
aeronave. Éramos os últimos passageiros.
- eu diria o mesmo se eu me lembrasse da última vez que te vi. Laila deu
gargalhada ao me ouvir dizer aquilo. Eu sorri para ela. Ela parecia ser uma
pessoa alegre.
Me despedi dos outros comissários e ao sairmos da aeronave Kevin colocou
óculos escuros e nós caminhamos até o aeroporto. Ao contrário de mim ele não tinha
nenhuma bagagem. Ele foi ás pressas para Chicago quando ficou sabendo no meu
acidente.
Ao chegarmos no aeroporto nos atravessamos o saguão e Kevin olhou para
mim.
- Max você espera aqui um pouco?
- claro. Onde você vai?
- em um lugar. Será rápido.
- OK – falei olhando em volta. Haviam um pequeno jardim e alguns bancos
e eu fui até lá me sentar. As pessoas iam e vinham e eu olhava em volta
tentando me familiarizar com o lugar. Quando eu tomasse minha vida normal eu
passaria muito por aquele aeroporto. Eu tinha gostado muito do meu trabalho
como avaliador do TripAdvisor. Parece ser o emprego dos sonhos.
Os minutos se passaram e eu vi Laila juntamente com os outros
comissários de bordo vindo pelo saguão com malas de rodinha. Laila falou alguma
coisa para os amigos e veio até mim.
- o que está fazendo aqui sozinho? Onde está o Comandante McFarlane?
- não sei. Ele disse que ia em algum lugar e voltava logo.
- vocês podem ir – gritou Laila para os amigos. Os amigos acenaram para
ela e Laila se sentou ao meu lado.
- obrigado – falei agradecendo-a.
- não é nada. Eu posso ficar aqui até ele voltar.
- não por isso – falei sem graça – estou falando sobre o que me disse no
avião.
- na verdade não devia ter dito aquilo. Nós nem nos conhecemos.
- não. você foi sincera. Eu não me lembro de nada e é bom saber que eu
fui uma pessoa antipática. Talvez dessa vez eu não seja.
- até agora você está indo bem – falou Laila sorrindo.
- você sempre trabalha com Kevin quando ele está pilotando?
- a maioria das vezes sim. Depende da escala, mas geralmente somos
quatro. Eu, Kyara, Carter e Thomas. Sabe nós também considerávamos você parte
da tripulação.
- sério?
- sim. Mesmo que você não fosse o passageiro dos sonhos vocês estava
sempre nos voos do Kevin.
- então os outros três também me odeiam?
- mais ou menos – falou Laila rindo.
- você parece ser uma pessoa bem feliz.
- é minha personalidade – falou Laila com um sorriso no rosto.
- voltei – falou Kevin com as mãos nas costas – o que está fazendo aqui
Laila?
- companhia para o Max – falou Laila se levantando.
- obrigado – falou Kevin.
- onde você foi? – perguntei me levantando.
- te comprar isso – falou ele me mostrando um pequeno embrulho.
- um presente? Pelo o que? – perguntei olhando o pequeno embrulho
vermelho com um laço.
- hoje é seu aniversário.
- sério? – falei abrindo um embrulho. Era um iPhone. Na caixa tinha um
S6.
- na verdade eu já tinha comprado outra coisa pra você que está lá em
casa, mas você precisa de um celular então decidi comprar outro.
- obrigado – falei forçando um sorriso.
- não é nada – falou Kevin se aproximando. Percebi que ele queria um
beijo, mas ao invés disso eu virei o rosto e o abracei. Laila percebeu que
aquilo tinha sido constrangedor.
- OK – falou Kevin me soltando sem graça. O abraço tinha sido patético.
Sabe quando você abraça uma pessoa que não tem muita intimidade e durante o
abraço você percebe que foi uma péssima ideia? Foi exatamente isso que
aconteceu.
- está fazendo quantos anos? – perguntou Laila.
- é… – falei olhando para Kevin – quantos anos estou fazendo?
- vinte e quatro – falou Kevin.
- vinte e quatro? – falei achando estranho. A sensação de não saber a
idade era engraçada. Perder a memória era engraçado. Tudo soava estranho. Acho
que devo me acostumar com essa sensação – Vinte e quatro! – falei olhando para
o iPhone
- vamos indo? – perguntou Kevin.
- vamos – falei colocando minha mochila nas costas.
Nós caminhamos até a saída do aeroporto e Laila nos acompanhou. Um taxi
parou na nossa frente e Kevin ofereceu a á Laila.
- tenham um bom dia – falou Laila entrando n taxi enquanto o Taxistas
colocava a mala dela no porta malas.
- obrigado – falou Kevin e eu sinalizei para ela enquanto o Taxi se
distanciava.
Um segundo taxi parou e Kevin e eu nos sentamos no banco de trás. Kevin
disse o endereço para o taxista e em seguida passou o braço por trás de mim e
colocou no meu ombro me puxando para perto dele. toda vez que ele tentava uma
proximidade eu me sentia estranho.
A cidade era linda. O taxi percorreu o litoral e eu pude ver o mar. Era
como se fosse a primeira vez que visse aquele lugar, mas admito que tive
sensação de dejavú quando passamos em frente a uma estátua de uma mão. quando
passamos mais perto Kevin percebeu que eu fiquei encarando a estátua. Eram um
monte de pessoas que formavam uma mão. Como elas escalassem.
- essa estátua é uma homenagem ás vítimas do Holocausto.
- seu sobrenome é McFarlane?
- sim – falou Kevin acariciando meu ombro.
- você é escocês?
- sim – falou Kevin – vim para os
Estados Unidos quando tinha dezoito anos.
- eu notei o sotaque – falei olhando novamente para a estátua que ficou
para trás – eu meio que me lembro dela.
- viu só? Foi só voltar para casa que você já está se lembrando de tudo
– falou Kevin.
- não de tudo – falei corrigindo – foi só uma sensação de dejavú.
- não seja pessimista. Você vai se lembrar. Tenho fé nisso.
O taxi parou de frente a uma casa enorme. Parecia uma mansão. Havia um
belo jardim por toda a frente e pelo o que percebi dava aa volta na casa. Havia
um portão de grades e dava pra ver o jardim e em seguida a casa mais a frente.
Kevin pagou a corrida e assim que entramos eu vi um cachorro correr na nossa
direção. Eu levei um susto, mas o cachorro veio até mim parecendo feliz.
- quem é esse? – falei sentindo o cachorro ficando de pé e colocando
suas grande patas no meu ombro. Era um cachorro enorme.
- esse cachorro é seu?
- na verdade ele é seu. Você trouxe ele para cá quando se mudou.
- qual o nome dele?
- Buddha – falou Kevin fazendo carinho na cabeça do cachorro – ele é um
Malamute do Alasca.
O cachorro parecia um lobo. Era totalmente branco e tinha os olhos
azuis. Seus pelos pareciam plumas e ele parecia feliz em me ver.
- senta Buddha – falei ordenando e ele obedeceu.
- como você sabia que ele é treinado? – perguntou Kevin.
- não sei… só sabia – falei caminhando ao lado de Kevin até a porta de
entrada.
Ao chegarmos em frente a porta de entrada Kevin olhou para mim e me
encarou.
- o que foi?
- eu preciso te contar uma coisa – falou Kevin respirando fundo.
- o que foi?
- Devia ter te contado antes, mas eu não tive coragem. Vou admitir que
esse foi um erro meu.
- o que foi?
- eu tenho um filho – falou Kevin.
- filho?
- oi pai – falou um rapaz de olhos azuis e cabelos pretos abrindo a
porta. Era um rapaz mais ou menos da minha altura. Ele usava uma calça jeans
preta e uma jaqueta de couro. Parece até que ele tinha passado lápis preto no
olho. Ele tinha um colar esquisito no pescoço e vários anéis nos dedos.
- como assim? – falei confuso.
O garoto se afastou e Kevin entrou na casa. Eu fiz o mesmo. Tive uma
sensação estranha ao passar pelo garoto. O rapaz fechou a porta e ficou me
encarando sem piscar. Fiquei sem graça com aquela situação.
- Max esse é Adrien – falou Kevin – meu filho.
- você tem um filho? Pensei que…
- eu nem sempre fui Gay – falou Kevin – quer dizer… eu nem sempre fui
assumido. Antes de me assumir eu fui
casado com uma mulher durante alguns anos e nos tivemos um filho. A mãe dele
morreu a mais ou menos três anos.
- entendi – falei olhando para o filho dele que não parava de me
encarar.
- então é verdade? – perguntou Adrien para mim.
- o que?
- você não se lembra de nada?
- não.
- nem da sua família? Nem de mim?
- não. de nada.
- isso é ótimo – falou Adrien rindo.
- cara porque você não aproveita essa chance e cai fora daqui? Pega suas
coisas e vá para outro lugar criar memorias.
- Adrien para com isso – falou Kevin bravo.
- o que está acontecendo? – perguntei confuso para Kevin.
- não é nada – falou Kevin – Adrien se desculpe e vá para seu quarto.
- porque eu deveria te ouvir?
- porque eu sou seu pai e você vive debaixo do meu teto – falou Kevin
muito irritado com o filho.
- sabe… quando meu pai me ligou hoje e cedo e contou o que tinha acontecendo
com você eu não acreditei. Sério. Eu precisava ver para acreditar.
Sinceramente… quando ele ligou e disse que você tinha sofrido um acidente eu
torci para que a próxima frase fosse “ele não resistiu”.
- Já chega Adrien! – gritou Kevin – cala a sua boca e vá para seu
quarto.
- sabe quantos anos meu pai tem? – perguntou Adrien – ele te contou
quantos anos tem?
- na verdade não – falei olhando para Kevin.
- faço quarenta e três esse ano – falou Kevin olhando para mim e então ele
olhou para o filho – eu já disse pra ir para o seu quarto – falou Kevin tentando
ficar calmo.
- agora adivinha quantos anos eu tenho? – falou Adrien.
Tentei não em meter e fiquei calado.
- vinte e quatro – falou Adrien – se eu me lembro bem hoje é seu aniversário
então você oficialmente tem a mesma idade que eu, mas você é três meses mais
novo do que eu. Não acha isso irônico? Você dorme com um homem que tem idade
para ser seu pai e você tecnicamente é meu pai e eu sou mais velho do que você.
Toda aquela situação estava me irritando. Não tinha ideia do porque de
aquilo estar acontecendo. Kevin tinha errado em não em contar isso antes. Fui pego
de surpresa e tinha sido uma surpresa horrível.
- você já é bem grandinho – falou Kevin – Não preciso da sua aprovação. Eu
sou seu pai.
- isso não é lindo? Como se não bastasse meu pai traz esse bonequinho
para morar conosco.
- vá para o seu quarto – falou Kevin perdendo a paciência.
- Ok pai, só me faça um favor? pelo menos tapa a boca dele. Não sou
obrigado a ouvir ele gemendo igual uma cadela no cio enquanto você come ele
Kevin se virou para o filho e deu um tapa na cara dele. Um tapa forte. Levei
um susto e meu coração bateu forte. Percebi que Kevin se arrependeu do que fez
no instante em que estava feito. Adrien olhou para o pai e deu um sorriso sarcástico.
- nossa… - falou Adrien passando a língua no lábio inferior. Estava
sangrando. Havia um pequeno corte. Ele passou o dedo na boca e olhou para mim –
Como você se sentiria se fosse ao contrário? E se eu fosse até sua casa e
comesse sua mãe?
- já chega – falou Kevin segurando forte no braço do filho.
- OK. Eu vou – falou Adrien se soltando da mão de Kevin subindo as
escadas. Todo o momento ele me encarou. Eu podia ver a raiva nosso olhos dele,
mas ele carregava um sorriso sarcástico no rosto.
- me desculpa por isso – falou Kevin respirando fundo e se sentando no
sofá – eu devia ter te contado ainda no hospital.
- não tem problema – falei me sentando do lado dele – eu estou chocado,
mas eu não me importo com o que ele falou até porque eu nem sei se tenho mãe.
- Adrien sempre foi problemático. Ele foi expulso de várias escolas, inclusive
a escola militar. Ele piorou quando a mãe morreu. Ele nunca aceitou o fato de
eu ser gay.
- ele sempre implicou comigo?
- sim – falou Kevin – Eu não devia ter feito aquilo – falou Kevin – ele tem
alguns problemas, mas é meu filho.
- sabe ele meio que está certo – falei tirando a aliança do dedo.
- o que está fazendo? – perguntou Kevin confuso.
- te devolvendo isso.
- não liga para o que ele disse. A nossa idade não interfere em nada.
- não é pela idade. É pela lembrança. Eu não me lembro de você. Nós não
podemos ser namorados, não podemos ser noivos. Não enquanto eu estiver com essa
Amnésia. Não podemos agir naturalmente porque você não passa de um estranho pra
mim.
- então é isso? Está desistindo de mim?
- não. Vou morar aqui com você afinal você me conhece bem. Vou aceitar a
sua ajuda e com um pouco de sorte eu vou me lembrar de tudo ou de pelo menos um
pouco. Sinto que toda essa sua tentativa de ter afeto comigo está atrapalhando.
Talvez eu seja um conhecido para você, mas coloque-se no meu lugar. Eu não me
lembro de você. Quando eu olho para você eu não sinto nada. Não me lembro de
nada. Não leve a mal. Quando me olho no espelho eu também não me reconheço. Não
sei quem sou.
- se você acha que vai ser melhor assim – falou Kevin pegando a aliança –
tudo bem.
- será melhor sim.
- mas eu vou guardar. Um dia você vai coloca-la novamente.
- talvez – falei me levantando – mas até lá nós somos dois amigos. Nada
mais do que isso – falei pegando minha mochila e subindo as escadas. Kevin me
acompanhou. Ao chegarmos no topo Kevin apontou para o quarto,
- esse é nosso quarto, mas acho que você vai querer ficar em um quarto
sozinho.
- vou sim.
- você pode se hospedar nesse – falou Kevin me mostrando o quarto no fim
do corredor.
Olhei para a outra ponta do corredor e vi que tinha outro quarto e lá
dentro estava Adrien deitado na cama ouvindo som em um volume alto. Um rock
pesado. O quarto de Kevin ficava entre os nossos dois quartos. Mais próximo do
quarto onde eu ficaria. Próximo ao quarto de Adrien havia um outro quarto que provavelmente
estava vazio.
- tem certeza que vai ficar bem? – perguntou Kevin.
- vou sim – falei quase gritando. O volume da música está muito alto.
- espera um pouco – falou Kevin caminhando rapidamente até o quarto do
filho. Ele entrou lá dentro e abaixou o volume da música. Ao sair ele fechou a
porta do quarto e veio até mim.
- vou ficar bem, mas eu não sei se é uma boa ideia eu ficar aqui já que
está atrapalhando seu relacionamento com seu filho.
- não. Você vai ficar. Adrien já é bem grandinho. Ele só está nessa casa
porque é meu filho. Ele não tem emprego e só anda com más companhias. Vocês
podem ter a mesma idade, mas você com certeza é bem mais maduro e tem mais juízo.
Não se preocupe com Adrien. Ele é inofensivo.
- Tudo bem – falei respirando fundo – acho que vou me instalar aqui então
– falei entrando no quarto e Kevin me seguiu. Assim que joguei a mochila na
cama nós ouvimos o som da música aumentar novamente. Kevin respirou fundo e
cruzou os braços. Percebi que ele estava irritado e desesperado pelo
comportamento do filho.
- suas roupas estão no meu quarto. Você pode trazê-las e colocar nesse
guarda roupas aqui.
- não. Pode deixa-las lá – falei me sentando na cama.
- OK – falou Kevin – fique a vontade.
- vou ficar – falei olhando para a mão de Kevin – você não vai tirar sua
aliança?
- não – falou Kevin olhando para a mão – enfim… vou deixar você se
instalar e descansar. Deve estar cansado do hospital.
- estou sim. Minhas costas doem.
- vou deixar você em paz.
- obrigado por tudo.
- se precisar de alguma coisa vou estar lá embaixo.
- tudo bem – falei vendo Kevin sair do quarto e fechar a porta.
Cai deitado na cama e respirei fundo. Que diabos tinha acontecido? Eu
realmente tinha aceitado me casar com Kevin mesmo ele tendo um filho tão
problemático que com certeza faria da nossa vida um inferno? Não me importo com
a idade de Kevin, mas morar com o filho dele que é quatro meses mais novo do
que eu? Onde eu estava com a cabeça?
Uma das melhores coisas que tinha acontecido
nessa viagem de volta a Miami foi Laila. Acho que uma amizade poderia brotar
ali. Ela parece ser sincera e poderá me ajudar nessa recuperação e será uma válvula
de escape dessa vida que tinha antes de tudo isso. Kevin parece ser um bom
homem. De verdade. Parece que ele gosta muito de mim e com certeza nós tínhamos
algo forte antes disso tudo, mas ele estava me sufocando. Ele estava querendo
agir como se tudo estivesse normal, mas pelo menos agora ele sabe como me
sinto.
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