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capítulo onze
VAI FICAR TUDO BEM
olidão. É
tudo o que tenho sentido desde que estava hospedado nesse hotel a pouco mais de
duas semanas. Eu mal me lembrava das pessoas que existiam na minha vida antes
do acidente e agora eu tenho que ficar longe das poucas que eu me lembrava. Eu
devia estar saindo, me divertindo, conhecendo pessoas, mas tudo o que eu fazia
era ficar no meu quarto de hotel pedindo serviço de quarto. Hora eu estava na
cama assistindo TV e hora eu estava dentro da banheira de hidromassagem. Que um
dos melhores momentos do meu dia.
Eu tinha tentado ligar para meu pai, minha mãe e até para Lea, mas eles
nunca atendiam. Eles realmente estavam levando a sério toda essa coisa de
“incesto”. Como prometido eu ia ás consultas com o Dr. Bryan O’Connor duas
vezes por semana. Segunda e Quinta. Era minha rotina. Do hotel a clínica e da
clínica para o hotel.
- como você tem se sentido? – perguntou Dr. Bryan com o mesmo caderno e
a mesma caneta na mão. Aquilo começava a me irritar.
- estou bem – falei tomando um gole do meu copo de água.
- bem em que sentido? O que tem sentido?
- saudades da minha família.
- é só isso que tem sentido? Saudades?
- claro. O que mais eu sentiria?
- você não é burro Max. Sabe que estou me referindo aos sentimentos que
você disse ter sobre o seu pai.
- eu não sei. Não vejo meu pai a duas semanas então não sei se o que
estou sentindo. Tudo o que sei é que me sinto entediado o dia todo. Ficar
naquele quarto de hotel está me matando.
- Esse não era nosso combinado. Você devia estar saindo, fazendo amigos,
conhecendo pessoas… isso pode te ajudar a firmar novas memórias e é claro, te
ajudar a superar esses sentimentos.
- na verdade eu sinto medo – falei respirando fundo.
- de nunca se lembrar?
- não. Desse sentimento que tenho por meu pai. E se ele não desaparecer.
- Max…- falou o Dr. Ryan fechando
seu caderno – você não tem ideia de quantas pessoas vem até mim por causa
desses sentimentos. Homens e mulheres que tem sentimentos sexuais por um dos
pais. Até pais e mães já vieram ate mim porque eles tem sentimentos pelos
filhos. E alguns deles chegaram a realizar o ato.
- o que você faz para curá-los? – perguntei curioso.
- não é uma doença. Quer dizer… nossos caráter e nossos gostos e desejos
são formados porque crescemos em volta de valores que a nossa sociedade
considera aceitável ou não. Aquelas mulheres do oriente médio que sobrem todo o
corpo. Elas não estão erradas por se vestirem daquele jeito. Aquilo é cultura
daquele país. Não existe cultura certa e cultura errada. Existem culturas
diferentes que devem ser respeitadas.
- então não é errado sentir isso por familiares?
- na nossa cultura sim. Na nossa sociedade é ‘Imoral’. Ética e Moral são
coisas diferentes que variam de um país para o outro e até de uma família para
outra. Perante a sociedade você é obrigado a ter uma postura ‘moral’ e ‘ética’,
mas não quer dizer que estão certos. Em muitos país a lei diz que
homossexualidade é crime. Não é porque uma coisa é lei que significa que seja
certa.
- então está dizendo que não é errado?
- Não se trata do que eu acho. Se trata de como você se sente e eu acho
que se esses sentimentos são genuínos eles não irão desaparecer.
- então qual é o sentido de eu vir a essas consultas se nem você
acredita que esses sentimentos vão desaparecer?
- meu intuito não é fazer esses sentimentos desaparecer. Talvez eles
sejam reais, e talvez não sejam. Estamos
falando de dois adultos aqui. Seu pai e você são adultos e podem consentir
sexo. Na verdade eu quero que você esteja preparado. Se esses sentimentos não
desaparecerem você sabe como seu pai se sente e ele definitivamente não sente o
mesmo por você.
- então eu posso voltar a vê-lo? Posso voltar a ver a minha família?
- pode. Estar apaixonado é o mesmo que estar apaixonado por alguém que
você nunca vai ter. Apenas siga em frente. É uma paixão, um desejo como
qualquer outro. Não estou aqui para fazer uma ‘terapia de aversão’ como eles
fazia com os gays e lésbicas nos anos 80. Não estou aqui para te dizer qual
caminho deve seguir. Sou apenas a luz que iluminado as opções. A escolha é sua.
- tudo bem – falei respirando fundo.
Chegado mais o fim de uma sessão eu agradeci ao Dr. Bryan pelas
palavras. Ele tinha me dado muito o que pensar. Estava confuso. Tudo o que eu
queria é que um ajo viesse do céu e me dissesse o que fazer, mas é mais
complicado do que eu.
Sai da clínica e decidi ir a um bar. Sei que não devia, mas eu estava
com vontade. Meu pai tinha proibido o hotel de entregar bebidas no meu quarto,
mas eu precisava tomar alguma coisa. Minha boca estava seca e toda vez que eu
estava em um dilema eu tinha vontade de beber. Sei que não tenho um histórico
muito bom com bebedeiras. Tinha me custado um rim, mas acho que um gole, um
copo não em faria tão mal. Caminhei para dentro do bar e me senti próximo ao
balcão.
- o que vai querer chefe? – perguntou a balconista.
- vodca pura.
- OK – falou ela om um sorriso no rosto colocando um copo em cima do
balcão e em seguida ela colocou gelo e colocou bebida até a metade. Respirei
fundo e fiquei encarnado o copo.
Me sentia mal por muitas coisas e as palavras do Dr. Bryan O’Connor
tinha me feito pensar bastante em Kevin e Adrien. Não devia jugar o que eles
faziam. Não devia ter dito que era nojento e errado. Quem sou eu para jogar a
primeira pedra? Kevin tinha sacaneado comigo ao me arrastar para dentro da vida
dele sendo que ele não gostava de mim. Ele só queria um relacionamento de
fachada. Acho que essa era a parte ruim de namorar homens mais velho. Eles são
mais experientes, conhecem todos os truques, dizem a coisa certa na hora certa
e sabem onde tocar para te deixar gemendo e pegando fogo pedindo por mais.
Finalmente peguei o copo e o levei até a boca, mas antes de engolir
alguém passou atrás de mim e esbarrou no um braço me fazendo derramar a bebida.
- que droga – falei me levantando.
- me desculpa – falou uma mulher loira atrás de mim.
- Ursula?
- Max? – falou ela com um sorriso – o que está fazendo aqui?
- imagino que o mesmo que você – falei pegando um lenço de papel
limpando minha camiseta.
- me desculpa – falou ela se sentando ao meu lado no balão – deixa que
eu te pago outra bebida.
- deixa pra lá – falei voltando a me sentar – talvez isso seja um sinal.
- o que anda fazendo da vida? – perguntou Ursie tomando um gole da taça que
ela trouxe com ela. Tinha uma azeitona com cenoura lá dentro.
- nada – falei rindo.
- o que aconteceu com você e Kevin? – perguntou Ursie rindo comigo –
olha eu não quero me intrometer, mas eu nunca mais vi você entrando ou saindo
da casa do Kevin… vocês estão bem?
- Estamos bem separados – falei olhando para Ursie que tentou não rir.
- eu se. Foi terrível – falei rindo.
- isso é bom… quer dizer, sinto muito.
- Não. Você está certa. Ficar com Kevin foi a decisão mais idiota que já
tomei na vida.
- Amem – falou Ursie tomando o último gole da sua taça – você viu como a
cidade está eufórica?
- está? Eu nem percebi. Não tenho saído muito esses dias. O que
aconteceu?
- amanhã o militar volta para casa.
- e amanhã? Eu nem me lembrava mais disso. Tudo oque me lembro é que eles cancelaram a volta
dele por algum motivo.
- Amanhã cedo ele chega aqui em Miami e eles estão reorganizando o
trânsito. Eles acham que muitas pessoas irão até o aeroporto para recebe-lo.
- sabe eu não entendo toda essa movimentação. É só um cara que foi pra
guerra.
- ele estava lutando pelo país.
- eu sei que vou soar um pouco “comunista” e “antipatriota”, mas eu acho
idiotice invadir outro país.
- eles só estão tentando fazer com que eles tenham a mesma liberdade que
nós.
- Chega de sangue por Óleo.
Ursie deu risada quando eu disse
aquilo e eu ri com ela. Era a frase mais clichê do mundo.
- foi bom encontrar você – falou Ursie se levantando.
- nós podemos sair qualquer dia desses – falei me levantando com ela.
- é claro. É só marcar – falou ela enquanto caminhávamos para fora do
bar.
Ursie e eu trocamos números de telefone e nos despedimos. Fui param eu
quarto de hotel e decidi acabar com meu estresse afogando-o na banheira de
hidromassagem. Depois de colocar um óleo cheiroso eu entrei dentro da água
quente e fechei os olhos. Tentava não pensar
no meu pai, mas era difícil depois de tudo o que o Dr. Bryan me disse. O
que será que meu pai estava sentindo com tudo aquilo? Ele definitivamente
estava pagando por tudo o que usava então ele sabia que estava bem. Ela sabia
tudo o que comprava, todas as vezes que saia e voltava. Foi bom me encontrar
com Ursula no bar. Ela me impediu de bebero
gole que seria o primeiro de muitos. Era melhor eu continuar com o meu
Ginger Ale.
Pensei muito sobre o meu pai naquela noite. Acabei adormecendo com a
televisão ligada depois de comer um espaguete. Acordei no dia seguinte com o
som de fogos de artificio. Abri os olhos
e vi a luz do sol entrando pela janela do quarto e é claro a luz da televisão
que continuava ligada.
Olhei no relógio e vi que era pouco mais das oito horas. Prestei atenção
na televisão e vi que estava no noticiário. A repórter falava algo sobre o
“Deus Americano”. O herói que estava
voltando para casa.
No momento todo mundo falava sobre esse tal herói. O aeroporto não
ficava muito longe do hotel onde estava. Acho que vou no aeroporto ver se esse
homem merece o título de “Deus”. A repórter disse que ele chegaria ás nove
então eu corri para o banho e depois vesti uma roupa confortável.
Pedi um taxi e assim que ele chegou a recepcionista no hotel me ligou
avisando. A melhor parte de se estar em um hotel é que eu nunca preciso arrumar
a bagunça que faço. Havia pratos, colher, garrafas, roupas e toalhas espalhadas
pelo quarto e quando eu voltasse estaria tudo arrumado.
Ao chegar lá em baixo eu entrei no taxi e disse que gostaria de ir ao
aeroporto.
- muita gente está indo pra lá hoje – falou o taxista saindo com o
carro.
- pois é. Esse herói está causando o maior bafafá.
- sim. Esse herói e nasceu aqui mesmo em Miami. Ele é um orgulho.
- você acredita que nunca tinha ouvido falar nele até pouco tempo?
- sério? a mídia tem noticiado ele por tanto tempo, especialmente a
impressa local.
- pois é. É engraçado.
Seguindo viagem vi ao longe o aeroporto. Assim que nos aproximamos
percebi o quão sério era aquela situação. Havia dezenas de pessoas, talvez
centenas. Algumas com suas bandeirinhas americanas, outros com bandeiras de
“Boas Vindas” ao herói nacional.
- eu não te disse? – falou o taxista parando – aqui é o mais perto que
posso te deixar. Não estão permitindo chegar mais perto do que isso devido a
multidão.
- obrigado – falei pagando a corrida e saindo do taxi.
Assim que sai senti um frio na barriga e uma brisa gelada passar por mim.
Mesmo o sol brilhando firme e forte lá no alto eu estava com um pouco de frio.
As pessoas passaram por mim e eu me senti esquisito por alguns instantes. Meus
pés não se moveram, mas não foi preciso muito para caminhar com as pessoas que
estavam indo até o aeroporto. Continuei a caminhar em direção ao aeroporto e eu
tive uma sensação estranha. Sabe quando as coisas acontecem e você tem a
impressão de que estão em câmera lenta? Foi como me senti ao ver a multidão em
volta do aeroporto. Podre de mim que não sabia que a verdadeira multidão estava
lá dentro. Todas gritando e assoviando. Todas eufóricas.
Os funcionários do aeroporto nos guiavam dependendo de onde queríamos
ir. Decidi ir para o saguão do aeroporto. Ele passaria por lá quando
desembarcasse. O lugar estava lotado. Sem chance de eu pelo menos conseguir ele
a chegada dele.
- Max? – falou uma voz familiar ao longe.
- oi – falei olhando para trás. Era Laila. A comissária de bordo.
- você veio ver a chegada do herói?
- defina ver? Porque eu acho que só vou vê-lo pela televisão.
- vem por aqui. Nós vamos ficar lá na frente – falou Laila pegando minha
mão. Ela estava com seu uniforme e pelo o que percebi a maioria dos
funcionários do aeroporto me conheciam. Eles acenavam e eu apenas sorria. Laila
me puxou e nós passamos pelos guardas sem muita dificuldade. Nós chegamos até a
frente.
- daqui nós vamos vê-lo chegar – falou Laila olhando para mim.
- Kevin está aqui?
- sim. Está lá – falou Laila apontando para fora do aeroporto. Para a
pista de pouso. Havia duas fuleiras de Pilotos esperando a chegada do herói.
Olhei em volta e percebi que a imprensa estava em peso no local.
Entrevistando algumas pessoas e outras noticiando o ocorrido. Era com certeza
transmissão nacional. As pessoas esperavam a muito tempo pela volta dele.
- o voo chega que horas? – perguntou uma mulher para Laila.
- as nove horas - falou Laila com
um sorriso. Pode ser alguns minutos antes ou depois.
- você sabe porque eles cancelaram a visita do herói?
- sei, mas eu não posso falar – falou Laila olhando em volta – eles nos
fizeram prometer.
- tudo bem – falei respirando fundo. Estava meio que nervoso e até
ansioso com a chegada dele.
Depois de algum tempo observando a multidão meu celular tocou. Vi que
era o número do meu pai.
- pai? – falei atendendo o celular.
- filho? Que barulheira é essa? onde você está filho?
- estou no aeroporto.
- você foi ver a chegada do soldado ou foi ver o Kevin?
- que pergunta é essa pai? Você fica duas semanas sem atender minhas
ligações e me pergunta logo isso? É claro que eu vim ver o soldado. Estou aqui
com uma amiga. Já disse que não quero nada com Kevin.
- onde você está?
- já disse que estou no aeroporto.
- eu estou a caminho do aeroporto. Me fizeram estacionar o carro a quase
duas quadras de distância – falou meu pai – quero saber onde você está para que
eu vá ficar ai com você.
- Eu estou no saguão. Está cheio de gente aqui. Há pessoas do lado
direito e do lado esquerdo. Quando ele chegar vai passar no corredor do meio. Estou
na frente do lado esquerdo.
- Ele Chegou!! – gritou uma voz mais atrás de mim. Nesse momento todo
mundo no local gritou. O avião que o trazia estava taxiando na pista.
- parece que ele chegou pai.
- não desliga o telefone – falou meu pai ofegante. Provavelmente ele estava
correndo.
- cuidado pai.
- não se preocupe filho. Estou chegando – falou ele correndo. Era
possível ouvir o barulho dos carros e da gritaria pelo telefone dele.
Alguns guardas tentavam conter a multidão para que não passassem da
faixa amarela escrito “não ultrapasse”. A última coisa que eles queriam é que
as pessoas pulassem em cima do soldado e o machucassem. Algumas pessoas me
empurravam e foi quando ao longe vi a porta do avião se abrir.
- está chegando pai? – perguntei uma última vez.
- ainda não entrei no aeroporto – falou ele parando para respirar.
Percebi pela sua voz.
Nesse momento todas as pessoas começaram a cantar em coro o hino
nacional. Um por um foram levantando sua voz e logo todos cantavam.
Por alguns instantes me esqueci de meu pai ao telefone. Vi ao longe o
homem descendo as escadas do avião. Mais uma vez eu vi tudo acontecer em câmera
lenta. O vento passava devagar por entre as bandeiras nas mãos de todos os
presentes.
O homem cumprimentou os pilotos e até alguns soldados em fileira. Em
seguida acenou para todos no saguão enquanto finalizavam o hino. Ele veio
caminhando na nossa direção segurando sua mala. Ele vestia a roupa camuflada.
Era como se ele soubesse que todos estariam lá para recebe-lo. E ele
provavelmente sabia. Ele tinha sido preparado para aquilo.
- Max, ele chegou? – perguntou meu pai.
- sim.
Quando dei a resposta ouvi um barulho pelo telefone. Um carro freando e
em seguida uma batida. Meu coração gelou. Ouvi algumas pessoas gritando do
outro lado do telefone.
- Pai? – falei ansioso – Pai? Está ai?
Não obtive resposta. Comecei a ficar nervoso e tentei voltar pela
multidão para saber o que tinha acontecido com ele. Me virei para trás tentando
passar pela multidão, mas não conseguia. As pessoas me empurravam de volta.
Olhei para a frente e vi que o soldado se aproximava do saguão e foi
quando uma confusão começou do lado direito. Parecia uma briga. Os guardas
correram até lá e foi quando meu celular tocou. Olhei para tela e vi que era
meu pai ligando de volta.
Nesse momento a multidão começou a empurrar e eu fui cambaleando para a
frente e fui parar no meio do saguão por onde o herói viria. Os guardas
voltaram para a posição que estavam e nem me perceberam lá no meio. Eu não me
importava.
- Pai? – falei atendendo o telefone – você está bem? Graças a Deus! –
falei esperando ouvir sua voz – pensei
que fosse tivesse sofrido um acidente ou algo parecido. Disse pra você não
correr. Você está chegando? – falei de costas para a o soldado que caminhava
naquela direção. Eu encarava a multidão e foi quando um dos guardas me viu lá
parado.
- quem fala? – perguntou uma voz feminina do outro lado da linha.
- esse telefone é do meu pai. Ele se chama Leon. Ele está bem?
Por alguns instantes a pessoa do outro lado da linha não disse nada e
foi quando ouvi um barulho estridente. O barulho foi tão alto. Me assustei e o
celular caiu no chão. Em seguida tudo o que eu vi foram pessoas correndo para
todos os lados. Pessoas gritando.
- Max! Gritou Laila olhando para mim. Ela tentou vir em minha direção,
mas os guardas a seguraram.
Meu coração batia forte no peito e tudo o que eu fazia era olhar em
volta sem entender o que estava acontecendo. Em seguida ouvi outro barulho como
o anterior só que dessa vez foi mais perto e bem mais alto. Junto com o barulho
senti um baque no meu corpo que involuntariamente caiu para a frente como se
algo tivesse me acertado.
Meu corpo bateu com tudo para a frente. Senti minha cabeça bater no chão
e em seguida algo escorrendo. Senti que havia machucado a cabeça. Era um corte.
Senti o chão frio e gelado em minhas mãos. Caído no chão vi as pessoas
correndo. Elas passavam como vultos a minha frente. Os pés corriqueiros indo de
um lado para o outro. A barulheira infernal e a dor redundante. Forcei minhas
mãos e tentei levantar o corpo, mas não conseguia. Estava tonto e desorientado
por ter batido a cabeça no chão.
Era como se não sentisse meu corpo. Não conseguia mover minhas pernas,
por mais que eu tentasse.
- vai fica tudo bem – falou uma voz na minha cabeça – vai ficar tudo
bem1!
Tentei ficar calmo e ouvir a voz na minha cabeça, mas senti a respiração
quente na minha nuca. Percebi que a voz não vinha da minha cabeça.
Será que eu estava sonhando ou era apenas minhas consciência tentando me
acalmar?
Mais uma vez tentei me levantar, mas não consegui. Foi então que senti
uma mão se repousar sobre a minha.
- fique calmo, fique abaixado – falou novamente a voz em meus ouvidos.
Foi então que virei o rosto para o lado e percebi que não era minha
consciência. Tinha alguém em cima de mim me forçando para baixo. Era por isso
que não conseguia me levantar.
- o que aconteceu? – perguntei tentando ter alguns esclarecimentos.
- um atirador insurgente – falou a voz do homem que me segurava.
- eu fui atingido? – perguntei com medo da resposta.
- Não, mas foi por pouco – falou ele tentando me acalmar.
Olhei para frente novamente e vi que um homem estava caído no chão.
Parecia ter sangue em volta dele.
- o atirador foi atingido?
- sim.
- então estamos seguros.
- não até segunda ordem – falou ele levando uma mão até meu pescoço me
mantendo parado.
Virei o rosto para o outro lado e vi que varias câmeras estavam
apontando para nós. As canais noticiavam ao vivo o ataque.
- quem era o alvo? – perguntei tentando ignorar toda estressante
situação.
- eu – falou o homem – Você estava bem na minha frente, não poderia
deixar você me servir de escudo humano.
- você salvou minha vida – falei sentindo meu coração bater rápido.
- nada mais do que minha obrigação.
- quem é você? – perguntei curioso.
- Ralf – respondeu ele com sua voz rouca e macia e estranhamente
reconfortante.
- acho que estamos seguros Ralf.
- podem haver outros atiradores. Precisamos ficar abaixados até ter
certeza de que não existem mais atiradores.
- e o soldado? O herói? Será que está tudo bem com ele? – falei me
lembrando do porque de estar ali.
- mais ou menos.
- porque você não sai de cima de mim? se você é o alvo você não devia
estar se protegendo?
- não faz bem o meu estilo.
- não entendo, você disse que é o alvo.
- sim, mas eu nunca disse que estava tentando me proteger. Meu trabalho
só estará completo quando você estiver a salvo.
- qual o seu trabalho exatamente?
- depende, hoje meu trabalho é você.
- eu ainda acho que você devia estar se protegendo. Era o que eu faria.
- tem dois franco atiradores escondidos no aeroporto. Foram eles que
acertaram o atirador que tentou me matar. Eles estão preparados caso exista
outro. Não é trabalho deles te proteger. É injusto, mas é a verdade. Eles
atirariam em você se desconfiassem que você fez parte disso tudo. Você estava
fora da multidão no meio do meu caminho. Existe grandes chances deles acharem
que você está no meio dessa bagunça.
Nesse momento vimos o esquadrão da S.W.A.T. entrar no saguão.
- vocês estão bem? – perguntou um deles de pé na nossa frente.
- sim.
- O outro atirador também foi abatido do lado de fora do aeroporto. Nós
vasculhamos todo o aeroporto e temos certeza de que não há mais ninguém.
Ao ouvir essas palavras o peso saiu de cima de mim. No literal e
figurativo.
Ao me sentir livre me virei de bruços encarando o teto. Finalmente vi o
homem de pé parado no alto com a mão estendida. Estiquei a mão e ele me ajudou
a levantar.
- você está bem? – perguntou o homem olhando fixo pra mim quando fiquei
de pé. Estava sem reação. Agora percebi que era ele.
- é você – falei sem jeito – o herói.
- Ralf Theodore Falconer – falou ele apertando minha mão. Agora de perto
eu conseguia vê-lo de verdade. O homem tinha um olhar cansado, mas otimista.
Ele não tinha um sorriso em seu rosto, mas parecia animado. Ele tinha cabelos
loiros desgrenhados, uma barba bem preenchida em seu rosto. Seus olhos eram de
um azul penetrante e envolvente. Era como se tivessem colocado a água do mar e
o céu dentro de seus olhos. Eu podia o vento soprando seus olhos formando
ondas.
- você está bem? – perguntou o policial da SWAT.
- estou falei saindo do meu transe.
- meu pai! – falei me lembrando dele. Soltei a mão do soldado e me virei
tentando correr para fora, mas os policiais me seguraram.
- se acalma – falou o soldado segurando meu braço – você precisa ser
examinado. Você tem um corte profundo na testa.
- estou bem – falei olhando em volta. Havia pessoas chorando e outras
apenas sentadas no chão sem acreditar que aquilo tinha acontecido. Tudo o que
queria era saber se meu estava bem.
O soldado me segurou forte e não
me deixou ir. Os paramédicos se aproximaram para me examinar.
- dê algo para ele se acalmar, ele deve estar em choque – falou ele me
segurando mais forte ainda.
Os paramédicos se aproximaram e colocaram algum remédio em uma seringa.
Ralf então me abraçou forte por trás me imobilizando enquanto o médico aplicava
o calmante na minha veia.
- em instantes ele ficará bem – falou o médico.
Senti exatamente quando o remédio fez efeito, foi como um choque no meu
corpo que começou no meu peito e se espalhou pelos braços e pernas. Senti meu
corpo fraquejar e de repente não senti mais nada a não ser sono. Meu corpo
cedeu ao cansaço do estresse.
- vai ficar tudo bem – falou Ralf com os braços envoltos em mim. Ele
segurou meu corpo quando não consegui mais ficar em pé. Ele se ajoelhou no chão
e me colocou deitado. Seu rosto foi a última coisa que vi antes de apagar. Sua
mão alisando minha testa foi a última coisa que senti.
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Jesus, Maria, José! Como você pode pensar em não continuar esse texto? Haha' Senti, com esse capítulo, a mesma sensação gostosa que senti no auge da empolgação com Paixão Secreta e Princípe impossível. Definitivamente não estou mais triste pelo fim de Princípe, pois agora tenho um Deus para me preencher os pensamentos, emoções e ansiedade! Pleeease, demore a postar os próximos capítulos não! :D
ResponderExcluirA.
Obrigado :) fico feliz que esteja gostando.
ExcluirObrigado pelos seus comentários :)