Capítulo 26: Pedaço de Mim | Conto: Deus Americano

capítulo vinte e seis

PEDACO DE MIM

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E

stava alguns apenas alguns passos de distancia de receber o meu novo rim. Meu corpo já não estava se dando muito bem com o órgão que até o momento presente me faz vomitar sangue e ficar amarelo. Pelo o que a Dra. Columbus me disse eu estava com Insuficiência Renal Crônica. Então essa é a minha última chance. Se eu não receber esse rim logo eu estarei onde meu pai está. Essa vida de ficar de hospital em hospital não é para mim. Acho que nunca precisei tanto de hospitais como nos últimos meses. Espero nunca mais precisar.

Dr. Gray, o meu doador, foi com Dra. Columbus para fazer alguns exames e minha cirurgia está oficialmente marcada para ás dez horas da noite então infelizmente eu precisaria passar por outra diálise. Seis horas sentado em uma cadeira sem fazer nada. Na minha mente eu tinha várias coisas, mas eu estava pensando em Lea. Acho que as lembranças a corroeram de uma forma que era impossível aguentar. Por qual outro motivo ela pularia na frente de um carro? Me sentia mal por Lea.

O relógio na parede marcava quase três horas da tarde e eu basicamente olhava pra a aliança no meu dedo. Claro que eu eventualmente teria que devolvê-la para Laila e Ursie, mas por enquanto aquele era o meu passatempo. Olhar para a aliança e saber o que ela representava. Foi uma surpresa saber que Ursie e Laila estavam noivas. Estava com tantos problemas que eu estava perdendo a vida passar. Eu admito que fiquei chateado por Ursie não ter me contado que pediria a mão de Laila.

- voltei! – falou Ursie entrando no quarto. Ela trouxe consigo um copo que eu reconheci logo de cara.

- o que é isso? – falei vendo o copo do Starbucks.

- se acalme, esse daqui não tem veneno – falou Ursie tentando me acalmar.

- não é isso. Eu estou com tanta fome. Eu daria tudo por um copo de cappuccino

- me desculpe, não devia ter trago – falou ela tomando um gole e jogando o restante no lixo.

- Onde está Ralf?

- lá fora – falou Ursie se aproximando da cama.

- acho que nem ele aguenta ficar perto de mim – falei me sentando na cama respirando fundo – eu estou amarelo, pálido e nojento.

- não é isso. Ele está lá fora comer alguma coisa – ele precisa voltar logo. Minha diálise é daqui a dez minutos.

- se ele não voltar eu te levo.

- por falar nisso – falei tirando a aliança e entregando a ela – obrigado.

- por nada – falou ela colocando a aliança de volta no dedo.

- eu fiquei muito feliz de saber que você e Laila estão noivas.

- eu também – falou ela rindo como uma colegial. Ela realmente ficava corada quando falava de Laila – eu sei que nos conhecemos a pouco mais de um mês, mas quando você sabe, você sabe.

- eu sei como você se sente. Eu sinto o mesmo por Ralf. A quanto tempo vocês estão noivas?

- quatro noites atrás.

- Eu só não entendo porque você não me contou antes. Eu fiquei chateado com isso.

- Eu me senti mal por estar passando por uma fase tão feliz na minha vida enquanto você está passando por uma fase difícil. Seu pai, a tentativa de suicídio de Ralf e agora esse problema com seu rim. Eu só não queria te chatear.

- eu não ia me chatear. Eu ficaria feliz por você. Não sou o tipo de pessoa que se sente mal ao ouvir as alegrias dos outros. Eu não sou assim. Nós somos amigos e você pode me contar qualquer coisa.

- me desculpa – falou ela segurando minha mão.

- não tem problema – falei abraçando Ursie.

- Max você precisa ir para a diálise – falou a enfermeira entrando no quarto.

- pode deixar que eu o levo – falou Ursie.

- OK – falou a enfermeira pegando uma seringa.

- pra que é isso? – perguntei curioso.

- Dra. Columbus precisa de uma amostra do seu sangue.

- sério?

- sim. Ela está sendo um pouco mais cautelosa.

- OK – falei esticando o braço. A enfermeira enfiou a agulha e retirou uma seringa com sangue. Assim que tirou a agulha ela colocou um curativo adesivo com um coelho desenhado.

- é sério? um coelho? – perguntei olhando para o adesivo.

- é o que eu tenho – falou ela saindo com um sorriso no rosto.

Ursie me ajudou a descer da cama e uma vez que estava na cadeira de rodas Ursie me levou pelo corredor. Ao entrarmos no elevador eu me lembrei de Lea.

- você sabe o estado em que Lea está? Ela está bem?

- olha a última vez que eu fui verificar ela tinha saído de cirurgia e estava no quarto descansando.

- Eu quero vê-la antes de ir pra diálise.

- acho melhor não nos atrasarmos.

- por favor. Eu só preciso vê-la e mostrar que ela pode contar comigo. Eu estou farto das pessoas ao meu redor tentarem se matar enquanto eu estou lutando para viver.

- tudo bem – falou Ursie apertando o botão do quatro andar.

O elevador subiu e assim que chegamos ao corredor Ursie me levou até o quarto de Lea. Ela estava deitada e imóvel. Ela tinha um gesso no grasso e as pernas estava me uma posição desconfortável, mas eu entendo que é necessário já que ela tinha quebrado a bacia.

- ela está acordada?

- não sei – falou Ursie parando a cadeira de rodas na porta. Eu tentei me levantar da cadeira pra conseguir ver o rosto dela e quase cai porque a enfermeira chegou na hora e me deu um baita susto.

- vocês não podem ficar aqui – falou a enfermeira.

- desculpe – falou Ursie tentando voltar.

- não. Ela é minha irmã. Eu quero vê-la.

- vocês não podem. Ela está descansando da cirurgia.

- Max? É você? – falou Lea me movendo na cama.

- sim, sou eu.

- você precisa descansar – falou a enfermeira ir até Lea.

Ursie empurrou a cadeira e eu me aproximei da cama. Lea virou o rosto e eu pude ver que estava arranhado.

- olá – falei esticando a mão e tocando o braço dela. Lea não conseguia se mover, mas conseguiu dar um sorriso pra mim. Aquilo só cortou mais ainda o meu coração.

- oi – falou ela visivelmente apática.

- você está bem?

- não. Tudo dói – falou ela deixando algumas lágrimas caírem.

- o que você fez? – perguntei limpando meus olhos.

- não era para isso acontecer. Eu queria estar morta.

- você ficou viva por uma razão.

- eu não tenho razão para viver.

- não diga isso Lea. Agora que você desabafou obre o que aconteceu vai ser melhor. O Dr. Rupert e Dr. Bryan são excelentes.

- não é isso – falou Lea.

- o que foi?

- a minha mãe me ligou.

- o que ela disse?

- ela começou a gritar comigo dizendo que eu devia ter ficado calada.

- sobre o que?

- sobre o tio Teddy – falou Lea tentando não chorar, mas ela não conseguida – ela disse que eu estou arruinando a vida dele ao sair contando para todo mundo o que ele fazia.

- Como ela tem coragem de te ligar pra dizer isso? Ela devia ficar do seu lado. Ela não devia ficar do lado dele – falei com muita raiva.

- você não pode ficar nervoso – falou Ursie.

- como não? Essa mulher é nojenta – falei tentando em controlar – esquece isso Lea. Vai ficar tudo bem.

- não vai – falou ela respirando fundo – ela disse que Teddy é meu pai. Eles tinham um caso. Ela disse que meu pai nunca soube.

Aquilo fez meu coração disparar. Senti algo entalado na minha garganta e por alguns instantes minhas mãos tremeram. Agora tudo fazia sentido. Minha mãe sempre soube o que tio Teddy fazia e o acobertava. Agora tudo se encaixou. Não consegui dizer nada. Não havia palavras que pudessem confortá-la porque aquilo era horrível. No fim Leon tinha dois filhos adotivos.

- não – falei apertando a mão de Lea – Leon é seu pai. Não importa o DNA. Leon sempre será seu pai. Sempre será o meu pai. Não ligue pra isso. Isso é o de menos.

- o que mais machuca é saber que eu sou filha de um pervertido.

- não Lea. Você sempre será um pedaço do nosso pai. Assim como eu. Pai é aquele que cuida e dá amor. Não é o DNA que define uma família são os laços de amor.

- eu só quero que essa dor pare – falou Lea chorando. Eu sabia que ela se referia a dor interior. A dor que ela sentia por dentro era pior. Era pesada, era cortante e era agoniante. O tipo de dor que não se pode colocar a mão e tratar. É muito mais difícil de cicatrizar.

- nós precisamos ir – falou Ursie olhando para o relógio.

- vai ficar tudo bem Lea – falei segurando a mão dela por um certo tempo. Só soltei quando Ursie puxou a cadeira para me levar á diálise.

Não disse nada no caminho até a diálise. A enfermaria me conectou a máquina e eu continuei em silêncio. Naquele hospital eu estava perdendo a vida passar. Tantas dores. Havia um mundo lá fora e parece que tudo se resumia aquele lugar. Aquele momento.

- desculpa a demora – falou Ralf chegando quase duas horas depois.

- não tem problema – falei cabisbaixo – Ursie me fez companhia.

- vou deixar vocês a vontade – falou Ursie se levantando e saindo.

- onde você estava?

- eu sai para comer alguma coisa e acabei encontrando um homem lá fora que disseque te conhece.

- que homem?

- Luke? Você o conhece?

- sim. Luke Ciccone. Ele era advogado do meu pai e me ajudou com o seguro de vida.

- pois é. Eu o encontrei e nós conversamos.

- por duas horas?

- sim. A hora acabou passando rápido.

- vocês se encontraram por coincidência?

- não. Na verdade ele disse que veio te visitar. Ele estava entrando no hospital e me reconheceu da TV. Ele me perguntou como você estava e me contou algumas coisas sobre você. Parece que vocês se conheciam antes de perder a memória. Ele era amigo do seu pai.

- sim – falei respirando fundo – e porque ele não veio me visitar?

- ele disse que esta meio sem jeito. Eu disse que ele podia vir que você gostaria de vê-lo, mas ele desistiu.

- ele podia ter vindo. Não me importo. Ele me ajudou na questão do testamento. Quanto mais pessoas que gostam de mim vieram me visitar, melhor           - falei triste.

- você ainda está bolado sobre o que aconteceu com Lea?

- sim – falei segurando a mão de Ralf – mas é pior do que eu pensava.

- você á viu?

- sim.

- como ela está?

- bem. Acordada, mas psicologicamente ela está destruída.

- é difícil passar pelo o que ela passou. Eu sei  oque ela está sentindo  -falou Ralf triste. Ele se sentia fraco por ter tentado se suicidar.

- Lea me disse que minha mãe ligou para ela e disse um monte de coisas. Disse que ela devia ficar calada e que ela está arruinando a vido do tio Teddy.

- desculpa dizer isso, mas eu nunca imaginei que sua mão fosse tão malévola.

- o pior de tudo é que ela disse que Teddy é o pai biológico de Lea.

- isso é verdade?

- sinceramente? Não sei, mas eu não duvido. Se Bonnie sabia que Teddy era um predador sexual e abusava de Lea e Charlie isso pode significar que ela o ajudou a acobertar e talvez tenha até ajudado ele a matar Charlie.

- será que ela seria capaz disso?

- sim. Eu não queria ter que dizer isso, mas eu realmente acho que ela seria capaz. No fim não sou eu a pessoa que mais deu desgosto ao meu pai. Foi ela. Se ele estivesse vivo ele iria sofrer. Eu não conhecia muito bem meu pai e o pouco tempo que conheci deu pra perceber que ele era um homem bom. Queria ajudar todo mundo. Tem hora que eu acho que ele morreu na hora certa. Se ele estivesse vivo ele ia sofrer muito. Ele iria se olhar no espelho e todos os dias veria o irmão que estuprou sua filha.

As seis horas de diálise nunca passaram tão devagar. Nas duas últimas horas eu acabei dormindo e acordei com Ralf acariciando meus cabelos. Abri os olhos e senti um pouco de dor. Meu corpo doía. O relógio marcava pouco mais das nove horas da noite. Minha cirurgia seria um menos de uma hora.

- acabou?

- sim. Acabou – falou Ralf me ajudando sentar em minha cadeira de rodas.

- eu me sinto um pouco melhor.

- depois da cirurgia você vai se sentir melhor ainda – falou Ralf me levando pelo corredor.  A noite o hospital ficava um pouco mais silencioso e solitário. Indo pelo corredor em direção ao elevador eu vi que havia um jardim e algumas pessoas sentadas do lado de fora. Havia uma lanchonete.

- aquele é o Dr. Gray?

- sim – falou Ralf.

- me leve até lá. Eu quero agradecer novamente pelo o que ele está fazendo.

Ralf levou aa cadeira de rodas pelo jardim e eu vi que Dr. Gray estava ao celular. Não queria incomodá-lo. Só agradecê-lo.

- você precisa entender o que estou fazendo… por favor, não desligue… - falou Gray colocando o celular no bolso – que droga – Ele parecia frustrado.

- olá – falei quando nos aproximamos.

- olá – falou Gray com um sorriso. Ele tentou disfarçar.

- eu não queria te atrapalhar. Eu só queria agradecer de novo o que você está fazendo.

- não é nada. Eu fico feliz em ajudar – falou Gray sorrindo.

Ralf se sentou á mesa com de frente para Gray e eu fiquei de frente para os dois.

- porque você está fazendo isso?

- sinceramente? Porque eu sou médico e eu fiz um juramento que salvaria vidas. É isso o que eu faço todos os dias. Só que hoje será de um jeito diferente.

- eu nem sei como agradecer – falou Ralf eu já estava ficando sem esperanças.

- olha eu já passei por alguns momentos em minha vida em que eu também fiquei sem esperanças. Quando Rupert me contou por tudo o que Max tinha passado eu sabia que tinha que ajuda-lo – falou Gray respirando fundo.

- porque eu tenho a impressão de que você aflito? Está com medo de que algo dê errado?

- não é nada – falou Gray rindo – é que… tem uma pessoa que não gostou muito dessa minha ideia de doar.

- sua esposa?

- não – falou ele pegando o celular e me mostrando uma foto – meu esposo.

Era um foto de Gray com um rapaz e um bebê.

- o nome dele é Griffin.

- e esse bebê? É o filho de vocês?

- sim. Meu pequeno Kurt – falou Gray com um sorriso no rosto – ele tem onze meses.

- olha que fofo – falei pegando o celular de Gray e mostrando para Ralf.

Ralf deu um sorriso olhando a foto e eu tive a impressão de que ele não achou tão ‘fofo’ quanto eu.

- então… - falei devolvendo o celular – não quero ser intrometido, mas quantos anos Griffin tem?

- sua idade. vinte e quatro – falou ele guardando o celular.

- legal – falei respirando fundo – e o Griffin não gostou de você estar me doando um rim?

- não – falou Gray – olha não é nada contra você. Ele tem medo de que algo dê errado porque eu já fiquei mal no hospital uma vez então ele meio que tem pavor quando eu digo que terei que fazer um procedimento cirúrgico em que eu seja o paciente.

- olha se eu estiver te colocando em maus lençóis você não precisa doar.

- não. Ele precisa entender. Ele está com esse medo irracional, mas eu tenho certeza de que tudo dará certo.

- eu entendo ele – falou Ralf – eu também tenho medo de que algo dê errado, mas eu não tenho escolha. Se ele não fizer a cirurgia ele não vai viver por muito tempo. Eu daria o meu próprio rim se fosse compatível.

- vai dar tudo certo Ralf – falei aproximando dele e dando um beijo em seu rosto.

- foi bonito o casamento de vocês – falou Gray.

- obrigado – falei segurando a mão de Ralf – não foi um casamento de verdade, mas eu pretendo me casar de verdade quando sair daqui.

- claro que foi de verdade – falou Gray – não acho que vocês devem se casar de novo. Foi real.

- você acha?

- acho sim – falou Gray com um sorriso.

- OK – falei feliz por ouvir Gray dizer aquilo. Eu realmente estava triste por ter que me casar com Ralf naquelas condições, mas eu me senti um pouco melhor depois do que Gray disse.

- será que o resultado vai demorar? – perguntou Ralf ansioso.

- eu pedi que a Dra. Columbus fizesse exames completos. Eu quero ter certeza de que estou dando um rim saudável para Max – falou Gray – é por isso que está demorando um pouco mais.

- é por isso que a Dra. Columbus tirou meu sangue? – falei olhando para o adesivo de coelho. Eu o retirei e embolei e joguei em direção a lixeira e acertei.

- sim. Ela só quer ter certeza de que somos compatíveis e é claro, saber se você está pronto para a cirurgia

- então quer dizer que a cirurgia pode não acontecer hoje?

- sim. A sua coagulação precisa estar boa. Do contrário ela não poderá fazer a cirurgia.

- espero que dÊ tudo certo – falei respirando fundo.

- vai dar. Sua cirurgia está marcada para ás de então logo ela deve ter todos os resultados.

Decidi voltar para meu quarto depois dessa conversa. Como Gray disse a médica logo iria me buscar para a cirurgia e eu precisava fazer uma última coisa antes de entrar na faca. Era uma coisa que não podia esperar. Quando chegamos no quarto eu continuei na cadeira de rodas.

- será que eu posso ficar sozinho por alguns minutos?

- você está bem? – perguntou Ralf.

- estou. Eu só preciso fazer uma ligação antes da cirurgia.

- vou estar lá fora se precisar de mim – falou Ralf saindo e fechando a porta.

Eu quase tinha me esquecido de Christopher. O homem que estava comigo no carro. Ela estava em coma e a esposa pediu que eu ligasse. Eu sentia que precisava ligar antes da cirurgia. Queria saber o porque dela querer falar comigo. Admito que tenho um certo medo. E se Christopher era meu amante? Eu não duvido.

Disquei o número de Madeleine  torci para que ela atendesse a essa hora da noite. O telefone chamou algumas vezes até que uma doce voz atendeu.

- alô?

- eu estou falando com Madeleine?

- sim. Quem está falando?

- olá Madeleine. Eu sou Max Loudorn.

- Max? É você?

- sim – falei respirando fundo – eu recebi o seu recado. Me disseram que você queria falar comigo.

- sim. Porque você demorou tanto a ligar?

- eu estive passando por alguns problemas pessoais.

- OK – falou ela pensativa – então… eu queria muito falar com você.

- olha Madeleine eu não vou poder responder ás suas perguntas porque durante o acidente em que seu marido e eu estávamos eu perdi a memória. Eu não lembro de nada.

- Max eu acho que você entendeu errado – falou Madeleine rindo – eu não tenho perguntas. Eu tenho respostas.

- não entendi.

-  os policias me disseram que você perdeu a memória. Eu imaginei que você fosse querer algumas respostas.

- sim. Eu quero. Você pode começar me dizendo como eu conheço seu marido e porque eu estava no carro com ele?

- Olha Max eu imagino que você saiba que é adotado?

- sim. Eu sei.

- Meu marido Christopher também é. E é por isso que vocês se conheceram.

- você também me conhece?

- sim.

- eu ainda não entendi. Porque eu e seu maridos ficamos amigos? Afinal eu estou em Miami e ele está me Chicago.

- Você e Christopher se conheceram em um fórum onde pessoas adotadas trocam experiências sobre a adoção e partilham um interesse em comum: encontrar os pais biológicos. Meu marido tem vontade de conhecer os país biológicos e você também. Meu marido não se lembra muito da infância. Tudo o que ele lembra é que passou por três famílias e dois orfanatos diferente. Ele esteve em um orfanato em Nebraska. Então ele foi adotado por uma família e foi morar em Nova Orleans. Depois de algum tempo e alguns problemas a família não o quis e ele acabou indo para um orfanato em Nova Orleans. Meu marido foi adotado quando tinha nove anos de idade. O que realmente levou vocês dois a se encontrarem é que vocês passaram pelo mesmo orfanato em Nova Orleans. Vocês conversaram online por um bom tempo e então decidiram se encontrar. Vocês dois iriam juntos para Nova Orleans tentar descobrir que orfanato é esse. Lá vocês podem obter informações das famílias biológica. Alguns orfanatos guardam os arquivos caso as crianças adotadas queiram saber suas origens. Então você veio para Chicago, nós nos conhecemos e você se hospedou na minha casa.

- mas e o acidente?

- olha uma coisa estranha aconteceu no dia em que você chegou em Chicago.

- o que?

- Depois de um jantar você veio se hospedar na nossa casa. Christopher e você iriam para Nova Orleans no dia seguinte. O problema é que quando chegamos em casa o nosso cachorro estava desmaiado no chão. Ele não conseguia respirar. Isso já era tarde da noite. Quase dez horas da noite. Então Christopher pegou o cachorro e foi ao veterinário. Você foi com ele. Eu e o meu filho ficamos em casa esperando vocês chegarem ou ligarem por noticias, mas Christopher esqueceu o celular e a carteira em casa. Então eu fiquei esperando vocês chegarem com noticias, mas vocês nunca apareceram. As noticias nunca vieram. Algumas horas depois eu liguei para a policia e reportei o desaparecimento de vocês dois. Isso foi na sexta a noite. Na segunda de manhã eu vi no noticiário que um carro tinha sido encontrado capotado em um campo de flores no quintal de uma família. Era o carro de Christopher. Você já tinha sido resgatado e quando eu cheguei no hospital para te ver eles me disseram que você já tinha recebido alta. O problema é que Christopher conseguiu sair do carro e rastejou até a avenida, mas ele desmaiou então ele foi levado para um hospital do outro lado da cidade. A policia só conseguiu localizar Christopher quase dois meses depois.

- porque você não me ligou usando o celular de Christopher?

- essa é a parte estranha. Quando eu cheguei me casa o celular e a carteira de Christopher tinham desaparecido.

- isso é insano – falei pensativo.

- então é isso. Você e Christopher vieram de um mesmo orfanato em Nova Orleans, mas nenhum dos dois sabe exatamente onde ficava esse orfanato.

- então eu estava procurando pelos meus país biológicos assim como Christopher?

 -sim. Exato.

- e como ele está?

- ainda está em coma induzido. Ele vai passar por uma cirurgia em algumas semanas e só então eles irão acordá-lo. Isso se ele acordar.

- Madeleine eu não sei como agradecer.

- que é isso. Não foi nada.

- eu posso te perguntar uma coisa?

- pode.

- o que aconteceu com o cachorro? Porque ele estava desmaiado?

- eu não sei. O cachorro não estava no acidente então eu imagino que vocês sofreram o acidente quando voltavam do veterinário. Eu sinceramente não estou disposta a sair em todos os veterinários da cidade procurando por um Dobermann sufocado.

- olha eu desejo melhoras á Christopher.

- obrigada – falou Madeleine desligando o telefone.

Aquilo realmente tinha me intrigado. Quanto mais eu procurava por respostas mais eu encontrava perguntas. Acho que essa busca está ficando cada vez mais difícil. Quer dizer então que meu pai me contou que eu era adotado, eu me revoltei e comecei a procurar pela minha família adotiva.

- Com licença – falou a enfermeira abrindo a porta do meu quarto. Ralf estava ao lado dela.

- vou para a cirurgia?

- sim, mas antes da Dra. Columbus quer conversar com você.

- OK.

A enfermeira pegou minha cadeira e rodas e me levou pelo corredor. Nós chegamos até o segundo andar e nós fomos até a sala de conferências. Assim que chegamos eu vi Dr. Gray sentado á mesa. Ralf e eu nos sentamos de frente para Dr. Gray.

- o que você faz aqui? – falei colocando os braços em cima da mesa.

- ela disse que quer conversar comigo antes da cirurgia – falou Dr. Gray coçando a barba grisalha que tinha em seu rosto.

- será que deu alguma coisa nos resultados.

- acho que não. Eu já até dei entrada no hospital como paciente. Assim que sairmos daqui vamos nos preparar para irmos ao centro cirúrgico.

- vai dar tudo certo  -falou Ralf segurando minha mão.

A Dra. Columbus entrou pela porta e fechou a porta. Ela não parecia muito feliz. A expressão dela trazia uma certa preocupação.

- e então doutora? Algum problema? – perguntou Ralf preocupado.

- não. Os resultados vieram limpos – falou ela se sentando na ponta da mesa. Ela tinha um papel nas mãos – você e o Dr. Gray são compatíveis. A doação pode ser realizada.

- ainda bem – falou rindo feliz.

- eu disse que daria tudo certo – falou Dr. Gray se levantando.

- na verdade tem uma coisa que eu gostaria de conversar com vocês – falou a médica escondendo um sorriso. Eu não entendi se ela estava frustrada ou tentando esconder um sentimento de alegria.

-  que foi? – perguntou Dr. Gray voltando a se sentar.

- você pediu que eu fizesse todos os exames e foi o que pedi ao laboratório. O que acontece é que o laboratório veio com uma observação interessante. Eu vi as anotações que o laboratório fez e pedi que revisassem. Foi por isso que eu remarquei a cirurgia para ás dez. Eu mandei  resultado de volta ao laboratório ás quatro horas da tarde. Eles acabaram de devolver. O mesmo resultado. As mesmas anotações.

- que anotações são essas? – perguntei curioso.

- do que se trata? – perguntou Dr. Gray.

- você é médico – falou Dra. Columbus deslizando o papel na mesa entranho para Dr. Gray – veja por sí só.

Dr. Gray pegou os papéis que estavam grampeados e começou a ler as anotações. Ele passou uma página, depois outra e ele tinha aquele olhar sério. Ele lia tudo em silêncio. Certo momento ele colocou o dedo e começou a analisar algo.

- o que foi? – perguntou Ralf – Alguma coisa errada?

- não é nada sério – falou Dr. Gray ainda olhando para o papel – na verdade é curioso – falou ele pensativo – O meu DNA tem sequências compatíveis o sexo genético masculino do DNA do Max – falou Dr. Gray olhando para mim.

- o que isso significa? – perguntei tossindo – eu ainda vou viver?

- sim. você vai viver – falou Dra. Columbus olhando para Gray que agora parecia hipnotizado.

Dr. Gray continuou olhando para mim. Ele desviou o olhar e pareceu pensativo. Olhei para Dra. Columbus e ela olhou para mim. Ela hesitou. Eu não precisei perguntar. Ela sabia que eu queria uma resposta.

- o que está acontecendo aqui? – perguntei nervoso.

- Olha Max… - falou Dra. Columbus pausando. Ela tentava encontrar as palavras certas – Nós podemos repetir o exame, mas pelo o que o laboratório concluiu eu posso dizer com toda a certeza que Dr. Gray é seu pai biológico.

Aquela noticia me pegou de surpresa. Agora eu entendia porque Dr. Gray olhava para mim assustado. Ele parecia pensativo. Eu percebi no olhar dele que no fundo ele sabia de algo que veio a tona. Algo do seu passado. Ele não disse nada. Eu não disse nada. Ralf parecia perplexo e Dra. Columbus não sabia se ficava feliz ou simplesmente não demonstrava sentimentos.

- você tem quantos anos? – perguntei para Dr. Gray.

- faço quarenta e um anos em alguns meses.

- eu tenho vinte e quatro anos – falei respirando fundo. Mais uma vez o silêncio dominou a sala de conferência. Eu tentei fazer as contas para ter certeza, mas era muita coisa na minha cabeça – onde você morava quando tinha dezesseis anos?

- em Nova Orleans. Eu nasci e fui criado lá – falou Dr. Gray ainda olhando para mim sem piscar.

Aquilo era o suficiente. Eu não precisava ouvir mais nada. Nunca fui muito de acreditar em destino. Coincidência? Talvez. Dizem que coincidências não existem. Dizem que você faz o seu próprio destino. Muitos gostam de dizer que passamos por dificuldades em nossas vidas e que devemos ter fé porque tudo tem um propósito. Eu fui ingênuo. Achei que comandava o jogo da minha vida, mas foi o destino que embaralhou as cartas. Eu era apenas um mero jogador.

Um abraço a todos. Já estou bem melhor da cirurgia. Espero que estejam gostando. Não esqueçam de comentar. Nesse sábado ainda teremos outro capítulo.