
CHUVA capítulo um
L
|
evantei o rosto devagar sentindo a chuva gelada
cair em meu rosto como milhões alfinetes sendo jogados em minha pele. Ela
estava realmente gelada deixando – além de um frio insuportável – todo o meu
corpo molhado. Apesar de ser tão cedo e eu estar todo encharcado á caminho do
trabalho eu não podia negar que adorava esse clima. Era mais pela sensação de
nostalgia que ela deixava em minha pele. Tenho boas lembranças de estar na
chuva, como meu primeiro beijo ou de estar em um passeio com meus amigos do
colegial. São infinitas as lembranças e mesmo que quase não chova em San Diego,
ás vezes em que a chuva caiu conseguiu deixar boas lembranças em minha mente.
Não que o sol que brilha forte quase todo o ano não tenha seu charme, mas eu
tenho um romance de longa data com as gotas que caem do alto.
Corri rapidamente passando a mão
em meu rosto tentando deixa-lo o mais seco o possível, mas era meio que
impossível de se conseguir. Estava encharcado e com muito frio. Meus lábios tremiam
e quanto mais eu pedia para a chuva parar mais forte e mais gelada ela caia.
Ela sabia que eu gostava e não tinha intenção de parar. Para minha sorte não
havia nenhum lugar em que eu pudesse descansar ou esperar pelo fim dessa
tempestade.
Depois de mais alguns passos
molhados senti meu coração bater forte e decidi que era hora de parar, nem que
fosse por alguns poucos segundos. Senti-a o bater forte em meu peito como um
tambor. Tum, Tum, Tum. Olhando em
volta percebi que eu era o único otário no meio da tempestade tentando não
chegar atrasado no trabalho. Bom, o único otário sem um guarda-chuva.
As pessoas passavam por mim em
seus carros confortáveis e com seus gigantes guarda-chuvas e me olhavam com
pena. Tentei não me importar com o que elas estivessem pensando de mim. A única
opinião á qual importava era a do meu chefe.
- Puta merda – falei olhando para
o relógio que marcava quase trinta minutos de atraso.
Olhei para os lados e atravessei
a rua correndo. Ao chegar do outro lado olhei para trás e ao longe vi a praia
de La Jolla. O oceano em toda sua
imensidão se esticava até onde a vista alcançava. E um pouco mais. O tempo que
levei para atravessar a rua e parar para apreciar a vista foi tempo suficiente
para que a tempestade se transformasse em uma leve garoa. Foi desconcertante
pensar que eu estava tão molhado e quando chegasse talvez nem chovendo
estivesse. Eu pareceria um louco.
Deixei a bela paisagem de lado e
segui meu caminho até o trabalho.
Já que não chovia decidi apenas andar. Estava atrasado de qualquer forma, maldito acidente que me fez descer do ônibus no meio do caminho e correr até o trabalho, nem assim consegui chegar a tempo. Depois de um longo tempo caminhando avistei de longe, tão grande quanto o céu e tão brilhante quanto um diamante. Caminhando decidi conferir minha mochila uma última vez. Os papéis e minha roupa reserva lá dentro estavam tão secos quanto eu estava molhado. Tinha valido a pena pagar um pouco a mais por um material impermeável.
Já que não chovia decidi apenas andar. Estava atrasado de qualquer forma, maldito acidente que me fez descer do ônibus no meio do caminho e correr até o trabalho, nem assim consegui chegar a tempo. Depois de um longo tempo caminhando avistei de longe, tão grande quanto o céu e tão brilhante quanto um diamante. Caminhando decidi conferir minha mochila uma última vez. Os papéis e minha roupa reserva lá dentro estavam tão secos quanto eu estava molhado. Tinha valido a pena pagar um pouco a mais por um material impermeável.
Continuei caminhando e me
aproximando cada vez mais do prédio da WCSK Advocacy/Law Firm, a advocacia em
que eu trabalho á três anos. Depois de alguns passos, tudo o que me restou foi
atravessar a rua para chegar á calçada do prédio. Quando coloquei o primeiro pé na rua um carro passou em alta
velocidade jogando lama gosmenta e marrom em mim. Admito que até provei o
gosto.
Por alguns instante não acreditei
que aquilo tinha acontecido comigo. Era uma obra maldosa do destino. Meus
braços estava sujos incluindo a roupa que eu usava. Estava envergonhado e
totalmente fudido. Atrasado e agora todo sujo. O carro mal educado deu ré e
abriu o vidro pela metade. Steven King, o dono da letra K no logo da empresa
era o motorista apressadinho que me encheu de lama.
- Me desculpe por isso, não
imaginei que tivesse uma poça de lama tão suja – falou Steve tentando se
desculpar.
- Não tem problema – falei
balançando os braços tentando tirar um pouco da sujeira.
- Tem certeza? Estou me sentindo
mal agora que percebo que além de atrasado você está sujo – ele conferiu a hora
no relógio antes de olhar novamente para mim através dos óculos escuros que
estava em seu rosto cobrindo seus olhos azuis. Por mais velho que ele fosse,
Steve trazia um rosto de bebê com sua barba bem feita e seu sorriso carismático
de garoto que sempre tem algo á dizer na ponta da língua e que sempre teve tudo
de mão beijada.
Steve era um dos sócios mais
novos. Tem vinte oito anos de idade e possui uma considerável fortuna. Mesmo
vindo de uma família nobre ele conquistou seu próprio dinheiro. Como? Insider Trading. Um crime ao qual ele
não foi condenado. Sempre pensei que talvez esse fosse o motivo dele ter sido
convidado a ser sócio a pouco mais de dois anos.
- Te vejo no trabalho Michael –
falou Steve malandro tentando esconder seu sorriso.
- Meu nome é Mickey.
- Tanto faz – foi a última coisa
que ele disse antes de acelerar rapidamente me deixando todo sujo e por
incrivelmente que parece, mais puto. Do jeito que eu estava não podia de
nenhuma maneira entrar pela porta da frente. Se Adam White, o dono do W, me
visse andando pelo saguão do seu prédio naquela situação ele me colocaria no
olho da rua por justa causa.
Adam é o fundador da empresa que
á onze anos atrás não passava de um pequeno escritório em sua própria sala de
estar. Um advogado talentoso e promissor que decidiu tomar as rédeas de sua
própria vida traçando seu destino entre os gigantes. Colocando a alma e o
sangue na empresa ele conseguiu ficar no ano passado em décimo terceiro lugar
no ranking das empresas que mais renderam no ano passado.
Dei a volta no prédio e desci a
rampa do estacionamento subterrâneo e atravessei o estacionamento praticamente
vazio. Subi pela escadaria e fui direto para o quinto andar. É lá que fica o local
de descanso para os funcionários. Um local para a confraternização de todos. Lá
também havia armários para guardar nossos pertences e chuveiros.
Ao chegar, fui até meu armário e
peguei os itens de banho e fui direto para o chuveiro tomar o meu precioso banho.
Lavei todas as partes possíveis do meu corpo antes de sair e vestir minha roupa
reserva. Uma camisa de botões e uma gravata vermelha. Graças a Deus não era
obrigatório usar o terno.
Depois que vesti toda a roupa
percebi que estava quase cinquenta minutos atrasado – que droga – exclamei
colocando a gravata rapidamente. Peguei minha mochila e corri para o elevador
apertando o botão que me levaria até o vigésimo andar.
Comecei nessa empresa há quase
três anos. Na época eu era um assistente de arquivo, trabalhando por pouco mais
de um salário mínimo. Não era muito, mas o suficiente para deixar meu pai
orgulhoso. A mais ou menos três ano e meio atrás surgiu a oportunidade de subir
de cargo. Uma vaga para ser assistente pessoal de Adam surgiu e afinal, quem
não quer ser assistente do dono? Muitos se candidataram, mas fui eu quem
conseguiu a vaga. Na época eu ainda cursava a faculdade de administração de
empresas. Me graduei ano passado depois de três anos de curso.
Por mais que eu merecesse a vaga,
eu não sou graduado em Direito e existem dezenas de estagiários na empresa que
na época cursavam direito e tentaram a vaga, mas aparentemente nenhum deles era
bom o suficiente. É claro que ter conseguido a vaga me rendeu alguns inimigos e
uma má fama. Muitos dos concorrentes, incluindo estagiários e estagiárias com
vários diplomas que perderam a vaga para um “zé ninguém”. Esses “inimigos” me
olham com inveja desde então e sempre que você sobe, ficam pelo menos uns dez
em baixo tentando te derrubar. Boatos recentes diziam que eu era a “vadia” de
Adam. Apesar de ser malvado e uma tremenda mentira eu nunca me importei com
essa fama, afinal faço meu trabalho bem e mereço cada centavo do salário que
ganho.
Vivo com meu pai, Larry Fabray,
desde que tinha oito meses de vida. Fui adotado por ele e por minha mãe –
Ramona Fox – quando tinha essa idade. Meu pai agora é viúvo, infelizmente minha
mãe faleceu devido a complicações de uma simples cirurgia de hérnia, mas é como
os médicos disseram na época – “toda a cirurgia tem um certo risco que deve ser
considerado pelo paciente” – meu pai e eu só não imaginamos que minha mãe seria
a infeliz a ser ‘premiada’ com essa estatística verdadeira, mas cruel. Desde
esse tempo, papai e eu estamos sozinhos. Tenho vinte anos de idade, prestes a
fazer vinte e um. Meu pai tem quarenta e seis anos e nós vivemos em uma parte
mais pobre de San Diego, bem longe do meu trabalho.
Não sou nem um pouco parecido com
meu pai esteticamente falando, quem não nos conhece acha que somos amigos.
Tenho pele clara, cabelos negros ondulados bem penteados pelo lado, olhos
castanhos escuros, pouco mais de um metro e setenta e oito de altura e por
volta de oitenta e nove quilos. Meu pai tem cabelos e barba loira e é dez centímetros
mais alto do que eu. Seus olhos são azuis e enquanto eu trago um corpo forte
natural mais para o lado do magro, ele tem um corpo naturalmente forte. Minha
mãe tinha a pele negra, olhos castanhos e seus cabelos iam um pouco abaixo do
ombro. Eram longos cabelos negros e brilhantes como a noite.
Por esse motivo as pessoas
gostavam de fazer suposições. Pai branco e mãe negra. As pessoas esperam um
filho ‘mulato’ como se fosse uma ordem natural quando duas coisas se misturam
sair algo com um pouco de cada. A maioria dos vizinhos sempre pensou que eu
fosse fruto de traição e não escondiam isso dos meus pais. As pessoas conseguem
ser más quando querem.
O elevador chegou finalmente ao
vigésimo andar abrindo suas portas e revelando um enorme saguão com chão acinzentado
com uma grande porta marrom ao lado de uma recepção, que é onde eu trabalho. Deixei
minhas coisas embaixo da recepção, escondido de todos e peguei a minha agenda
eletrônica verificando horários de reuniões e possíveis viagens. Fiz isso a
caminho da porta marrom que escondia a sala de meu chefe. Adam Harper White.
Estava nervoso porque pior do que atrasar é inventar desculpas que mesmo reais
não convencem ninguém. Bati na porta duas vezes e abri em seguida.
- Bom dia Mike – falou Adam
olhando para mim com seus olhos castanhos claros. Ele trazia uma cabeleira
ligeiramente grisalha bem penteada para o lado com um tímido topete. A barba
que preenchia seu rosto estava bem aparada e ele mal me olhou por dois segundos
antes de voltar a encarar alguns papéis que ele lia.
- Bom dia Sr. White – fechei a
porta e caminhei rapidamente até a cadeira em frente á sua mesa.
- Sente-se – falou ele prestando
atenção em mim.
Sentei-me sentindo borboletas no
estômago.
- Peço perdão pelo atraso Senhor.
Mil perdões. Devido à chuva forte houve um acidente na avenida principal e um
engarrafamento gigantesco.
- Porque eu deveria acreditar em
você?
- Senhor? – perguntei confuso.
- Você tem provas desse acidente?
- Não, mas tenho provas de que
vim correndo de lá até aqui no meio da chuva e quando cheguei aqui em frente um
idiota jogou lama em mim.
- OK, - falou ele voltando a ler
os papéis – não tem problema, acidentes acontecem, só gostaria que me ligasse
avisando da próxima vez – falou ele parando de ler e digitando algo no
computador.
- Sim senhor, me perdoa por não ter
feito a ligação avisando meu atraso – falei me levantando e me virando para ir
embora
- Não se martirize tanto por isso
– falou ele olhando para mim forçando um meio sorriso – mas eu agradeceria se
você me ligasse todos os dias antes das sete. Seria bom ouvir uma doce voz
todas as manhãs depois de minha esposa gritar por trinta minutos por eu ficar
mais tempo no trabalho do que com minha família.
- Me desculpe? – falei confuso
olhando para ele. ‘Doce voz’? Pensei comigo mesmo.
- Minha reunião com aquele cliente, o dono do tal restaurante ainda está marcada?
- Jack Montgomery?
- Esse mesmo.
- Sim senhor, hoje ás quatorze
horas na sala de reuniões do sétimo andar. Está tudo preparado.
- Por favor Senhor Fabray, não me
deixe esquecer dessa reunião. Ela é importante.
- Não se preocupe Sr. White.
Aviso o senhor com antecedência.
- Obrigado.
- Com licença – falei me virando
novamente para sair e dois passos dados alguém abriu a porta. Era Steve. O ‘idiota’
que jogou lama em mim.
Ao abrir a porta ele olhou para
mim de cima em baixo.
- Michael, vejo que já se lavou
da lama que joguei em você.
- Quer dizer que foi você quem
jogou a lama? – perguntou Adam para Steve.
Quando ele falou isso minha cara
foi no chão e voltou. Sem graça olhei pelo canto do olho para Adam e ele olhou
para mim com uma expressão não muito boa coçando a barba. Ele só fazia isso em
certos momentos, em especial quando não estava muito contente. Quando estava
preocupado com algo.
- Foi sim – respondeu Steve.
Esperei o Sr. White me dar uma
grande bronca por ter chamado Steve de idiota.
- O nome dele é Mickey e não
Michael – falou Adam olhando sério para Steve que entendeu o recado.
- Se me dão licença eu vou… -
falei saindo pela porta e fechando-a. Respirei fundo e confuso pelo o que tinha
acontecido essa manhã. Não entendo o porque, mas algo estava diferente. Sr.
White nunca tinha me tratado dessa forma antes. Ele era sempre tão carrasco com
poucas palavras e agora ele tinha me dito coisas esquisitas naquela manhã. Meu
coração estava palpitando pela conversa que nós tivemos antes de Steve chegar.
Ouvi-lo dizer que minha voz é doce foi estarrecedor e estranhamento delicioso
de se ouvir porque a voz dele é rouca e macia e eu adorava ouvi-la todas as
manhas. A diferença é que eu não podia dizer isso a ele.
- Tenha foco Mickey Fox Fabray –
falei para mim mesmo indo até a recepção.
Havia chamado Steve de idiota
para Adam e nem tinha percebido. Ao invés de me repreender por aquilo ele tinha
repreendido Steve por nunca acertar meu nome. Foi bom ver um idiota se dando
mal pela primeira vez na vida. Mesmo assim eu tinha o dever de me desculpar com
Sr. White por ter chamado seu colega de trabalho, sócio e possível amigo de
idiota. Quando tivesse a chance eu iria até sua sala e me desculparia com ele.
Voltando ao trabalho, tive uma
manhã bem corrida digitando planilhas e alterando dados cadastrais de clientes
devido a migração de um programa de dados. Uma hora de trabalho tinha me
estressado o suficiente para não ver que Gray Collins, o dono do C, havia
chegado. Ele saiu do elevador em silêncio e estava á dez segundos me dizendo
bom dia tentando tirar minha concentração.
- Bom dia Mike – falou ele com um
sorriso.
- Bom dia Dr. Collins – falei
olhando para o meu único chefe de olhos verde – posso ajuda-lo de alguma
maneira?
- Sr. White já está em sua sala?
- Está sim senhor e o Sr. King
está lá com ele.
- Obrigado – falou Sr. Collins
piscando seu olho direito com um meio sorriso para mim. Era o único chefe que
não usava barba e o rosto estava sempre bem aparado. Ele desapareceu entrando
na sala.
Poucos minutos depois de Gray
entrar na sala de Adam, os últimos sócios chegaram. Vanessa Smith, a dona do S
e Xavier White, irmão de Adam.
- Bom dia – falou ela sem dar
muita atenção á mim passando direto e entrando na sala do Sr. White.
- Bom dia Srta. Smith – respondi
prestando mais atenção ao meu trabalho do que aos lindos cabelos loiros e em
sua forte maquiagem vermelha. Uma linda mulher.
Voltei ao trabalho e continuei
digitando a planilha no novo sistema, que ao meu ver era um sistema superior ao
antigo, todo o trabalho valeria a pena porque depois da migração os benefícios
ficariam.
Estava distraído com o trabalho
quando meu celular vibrou em cima da mesa – VOCÊ
TEM UMA NOVA MENSAGEM – apareceu na tela. Ao clicar no aviso vi o nome de
Charley, meu namorado.
Bom dia meu amor — Charley
Bom dia — Mike
Já no trabalho — Charley
Sim, e você? — Mike
Acabei de chegar… o que você acha de um jantar no sábado? — Charley
Seria ótimo — Mike
Na sua casa, com o seu pai — Charley
Não estou pronto para te apresentar a ele — Mike
Estamos juntos á quatro meses, quando estará pronto? — Charley
Não sei — Mike
Eu sei, sábado ás oito da noite — Charley
Não — Mike
Você tem vergonha de mim? — Charley
Tenho vergonha de nós, você será o primeiro namorado que apresento ao
meu pai — Mike
É bom saber disso. sábado ás oito? — Charley
Sábado ás oito — Mike
Tenha um ótimo dia em seu trabalho, um beijão — Charley
Um beijo — Mike
Depois de trocar essas mensagens
com Charley, deixei meu celular em cima do balcão e voltei ao trabalho. Agora
nervoso por esse jantar. Charley e eu nos conhecemos na noite de ano novo em
uma festa que meu amigo Denny fez. Nós
nos conhecemos na festa, bebemos, tranzamos e durante uns dois meses tivemos
vários encontros casuais até que Charley me pediu em namoro. Eu aceitei, mas
não imaginava que iriamos tão longe. Faz umas três semanas que ele vem me
pressionando querendo conhecer meu pai. Já namorei outros caras em minha vida,
mas nenhum pareceu ser tão sério quanto esse namoro com Charley.
Não é que eu tenha medo de levar
Charley para conhecer meu pai é que eu não me sinto a vontade. Meu pai está
tranquilo quanto a minha sexualidade, mas talvez eu só tenha medo de
compromissos. A partir do momento que eu apresenta-lo ao meu pai o nosso
relacionamento se torna real.
- Mike você pode vir aqui, por
favor? - Steve abriu a porta da sala de
Adam e me tirou do transe.
Peguei minha agenda eletrônica e
fui até á sala. Ao entrar todos levaram seus olhares até mim.
- Mike, para quando está marcada
nossa viagem á Nova York?
- Inicialmente eu tinha marcado a
viagem para o dia sete junho, mas esse é o dia do aniversário de sua filha e
sua esposa disse que a presença do pai é obrigatória então remarquei para o dia
oito no voo dás sete e trinta da manhã.
- Você comprou passagens de
primeira classe para todos nós?
- Sim senhor, passagem para os
cinco e hospedagem de quatro dias e três noite no Stay On Main. A hospedagem se inicia ás seis da manhã do dia oito
de junho na sexta-feira e vai até o meio-dia de onze, segunda-feira.
- Ótimo – falou Sr. White – vou
precisar de você em Nova York então você pode comprar outra passagem para você
e outra hospedagem no mesmo hotel de preferência no mesmo andar.
- Vou ter que viajar?
- Sim, é sua primeira vez em
viagem de negócios? – perguntou ele com um sorriso no rosto sem vergonha no
rosto.
- Sim senhor – falei sinto um
frio na barriga ao vê-lo sorrindo para mim.
- É um problema pra você? – falou
ele se arrumando em sua cadeira.
- Não… não senhor. Eu posso
comprar as passagens… eu po-posso agendar e eu…
- É só isso por enquanto – falou
Adam me dispensando indiferente – quando terminarmos aqui, você pode vir á
minha sala?
- Sim Senhor White.
Sai rapidamente da sala e ao
fechar a porta sentei-me em minha cadeira e respirei fundo novamente. Uma
viagem de negócios com meu chefe? Era sim a primeira vez que viajava, mas não
estava intrigado com isso e sim com essa demonstração de afeto que o Sr. White
estava demonstrando desde que cheguei. Pensei que fosse paranoia ou apenas
fruto de minha imaginação, mas era real. Todos os sorrisos fora de hora e as mudanças
de humor que ele vinha tendo desde que cheguei. Não sei bem o que é, mas estava
mexendo comigo.
Liguei para agência de viagens e
pedi outra passagem, mas dessa vez na classe econômica. Não me atreveria a
viajar ás custas da empresa na primeira classe. Seria muito abuso. Liguei para
o hotel é pedi um quarto no mesmo andar que as outras reservas, mas
infelizmente só tinham quartos três andares acima. Era isso ou não ter reserva.
Depois de marcar tudo certinho voltei ao trabalho
Depois que a reunião acabou
Vanessa, Gray, Xavier e Steve saíram da sala de Adam e eu me levantei indo até
a sua sala como ele tinha pedido. Bati na porta tímido e nervoso esperando a
ordem.
- Pode entrar Mike – falou Adam
com sua voz rouca e macia.
- Com licença Sr. White.
- Mike por favor, sente-se. –
falou Adam de costas olhando pela parede de vidro que tinha atrás dele. toda a
lateral do prédio era de vidro dando uma privilegiada visão da praia de La Jolla e o oceano pacifico que se
estendia ao longo.
- Você comprou sua passagem e
confirmou sua hospedagem no hotel?
- Sim senhor, mas infelizmente o
hotel só tinha vagas três andares acima do de vocês.
- Isso será um problema, vou
precisar de você para me ajudar a ler o contrato antes da audiência. O cliente
é perfeccionista e inseguro. Ele adiciona e retira clausulas todos os dias.
Tenho certeza de que poucas horas antes
da audiência ele vai mudar de ideia, mas vamos resolver isso lá mesmo.
- Eu também marquei minha
passagem na classe econômica.
- Classe econômica? – perguntou
ele olhando para mim.
- Sim senhor.
- Você vai viajar ás custas da
empresa e não vai se aproveitar dessa oportunidade? Não vai sentir falta dos
serviços e da comodidade da primeira classe?
- Não senhor, nunca viajei de
primeira classe, não vou sentir falta do que nunca tive.
- Nunca? Está decidido. Assim que
sair da minha sala, ligue lá e compre uma passagem na primeira classe. Se não
tiver no nosso voo, compre no voo disponível. Ida e volta, OK?
- Sim senhor – falei tentando
esconder um sorriso.
- Mike, o cliente que estamos
defendendo em Nova York está sendo acusado de homicídio culposo. Ele é acusado
de matar uma criança de oito anos.
- Não ouve intenção de matar?
- Nosso cliente se chama Wallace
Parker, ele é um farmacêutico e alega que o fabricante cometeu um erro na hora
de empacotar as caixas de remédio vendendo remédio para dor de cabeça como
aspirina. Ambos são remédios inofensivos, mas a criança que tomou tinha
alergia. A mãe que é solteira, deu ordens á babá que cuida da criança para dar
o remédio antes da criança ir dormir. Quando ela chegou em casa a criança
estava morta. A garganta se fechou durante a noite e ela desmaiou e depois
morreu por asfixia.
- Meu deus – falei sentindo um
mal estar, aquela história era horrível.
- Ao pegar o remédio que deu a
criança ela leu o frasco e percebeu que o remédio dentro da caixa era diferente
do remédio descrito na embalagem.
- Se o erro foi do fabricante,
porque o farmacêutico é quem está sendo processado pela mãe?
- A corda arrebenta do lado mais
fraco Mike. O fabricante conseguiu provar que o erro foi do fabricante alegando
o que as caixas tinham sido violadas.
- E elas não foram?
- Não, mas como eu disse, a corda
arrebenta do lado mais fraco. Nós sabemos que existe uma mãe com a dor de
perder o filho, mas não se trata de mostrar que ela está errada, mas defender
um homem inocente. Você sabe e eu sei que para um advogado não importa se meu
cliente é inocente ou culpado. Desde que eu acredite que vale a pena defende-lo
eu defendo.
- Porque é tão importante
defender esse cliente?
- Esse é um trabalho gratuito. O
Sr. Parker não tem dinheiro para pagar um advogado, mas as vezes fazer a coisa
certa é mais importante do que o lucro. É por isso que esse trabalho é tão
importante para mim. Eu disse á Xavier, Gray, Steve e Vanessa e vou dizer a
você: Preciso de foco porque não podemos perder. Não quando um homem inocente
está sendo julgado injustamente por um crime que não cometeu.
- Não se preocupe senhor, vou
estar focado.
- Não se trata apenas de um crime
Mike. O Sr. Wallace Parker é negro. Pense nesse caso como o caso O.J. Simpson. Não é apenas um homem, mas
toda uma comunidade sendo julgada e discriminada. O cliente vai ao tribunal com
“culpado” escrito em sua testa, não porque ele é culpado, mas porque ele um
negro que matou uma criança branca. A cor da pele define sua culpa e é por isso
que eu aceitei o caso. Gosto de desafios e eu sei que vamos ganhar. Nós temos a
mídia em cima desse caso e temos ativistas de outro lado querendo justiça. A
justiça será feita e eu já estou preparado para sair daquele tribunal com o
veredito que inocente.
- O senhor tem tanta certeza de
que vai ganhar?
- O que eu posso dizer? Eu sou
foda! – falou Sr. White rindo quando disse aquilo.
Foi estranho ouvi-lo dizer um
palavrão. Ele é sempre tão educado e cuidadoso com as palavras que diz. Senti
vontade de rir, mas me segurei e mantive minha expressão de total compreensão.
- Senhor eu gostaria de
aproveitar esse momento para pedir desculpas pelo o que eu falei mais cedo.
Chamei o Dr. King de idiota.
- Não precisa se desculpar Mike,
o Dr. King é um idiota. Ele é ambicioso e talentoso, mas é um idiota.
- Mesmo assim prometo que não vai
acontecer outra vez.
Ele ficou em silêncio e por
alguns segundos coçou a barba.
- Você vai ligar e me avisar
quando se atrasar novamente?
- Sim senhor.
- Está perdoado – falou o Sr.
White sentando-se novamente.
Levantei-me e saí da sala dele
voltando a recepção para comprar a passagem. Liguei novamente para a companhia
aérea, depois de passar alguns dados fui transferido para outra atendente.
- No que posso ajuda-la? –
perguntou a atendente.
- Gostaria de transferir minha
passagem da classe econômica para a primeira classe.
- Qual o voo?
- JF079.
- Nós temos cinco lugares
disponíveis. A1, B3, B5, E17 e E19.
De todos os lugares disponíveis
apenas um deles me chamou a atenção. O assento de Adam é o E20. Se eu
escolhesse o E19 ficaria ao seu lado. Seriamos nós dois durante duas horas e
meia de voo. Não sei porque, mas essa ideia me excitou. Não de uma forte
divertida, mas de uma forma quente que fez o meio de minhas calças palpitar e
meu coração bater rápido com a ideia.
Deus, eu estava sentindo algo por
meu chefe. Não sei se é fruto da minha imaginação ou se é real. O meu chefe que
é casado e que tem dois filhos estava dando em cima de mim. Seria loucura
pensar que um advogado tão competente quando ele estaria interessado em um
garoto da classe média como eu? Porque eu? Porque agora? Depois de um ano e
meio de trabalho, porque ele estaria dando esses sinais agora?
- E19 – falei sentindo um frio
que me cortou a barriga e subiu até meu pescoço.
- A troca foi confirmada, mais
alguma coisa?
- Não. Apenas isso.
- A American Airlines agradece a
preferência.
Essa foi a última coisa que ouvi
antes de desligar o telefone. Eu tinha um sentimento em mim. Um sentimento que
dizia que o que fiz era errado, mas como pode ser errado se me sinto tão bem? Me
sinto excitado e estranhamento contente por ter feito aquilo. Passei o dia todo
nervoso pensando naquilo. No fim do expediente arrumei minhas coisas e para meu
azar mais uma vez choveu. A chuva que eu tanto amava no começo do dia agora era
odiada por mim. Não muito afinal eu ainda tremia de felicidade quando ela
passava entre meus dedos.
0 comentários:
Postar um comentário
Comente aqui o que você achou desse capítulo. Todos os comentários são lidos e respondidos. Um abração a todos ;)