CAPITULO 10
Eu me sentei ao lado de Kyle que ainda permanecia na mesma posição
sentado, triste sem dizer nada.
- eu nem acredito que isso aconteceu comigo. – falei limpando lágrimas
dos meus olhos.
Eu olhei pra ele e ele ficou encarando o chão.
- eu não me importo de você ter saído de lá acredito eu tentei.
- eu me lembrei – falou ele com a voz rouca.
- o que? – perguntei.
- quando estávamos vivos e juntos você me contou.
- o que?
Ele continuou calado.
- acho que você não vai precisar entrar em nenhuma porta para saber da
próxima história.
Eu respirei fundo e limpei os olhos.
- pode contar.
Ele olhou pra mim e lambeu os lábios para começar a falar.
Jack. Meu eu sou policial... ou pelo menos era. Um dia você passou muito
mal em uma tarde enquanto andava pelo shopping procurando seu pai. As pessoas
estavam assustadas com você e não te ajudaram enquanto você passava mal, mas eu
estava no shopping aquele dia e te ajudei a respirar já que você estava com
falta de ar.
- eu me lembro – falei – eu fiquei impressionado com seus olhos, pois
tinha sido a primeira pessoa com olhos verdes que eu tinha visto em minha vida.
Fiquei tão admirado que melhorei enquanto você dizia coisas para eu me acalmar.
Na época eu conheci seu pai que ficou muito impressionado, pois eu era a
primeira pessoa com quem você falava a anos. Ele ficou tão agradecido por eu
ter te salvado que naquele mesmo dia me chamou para jantar em sua casa.
Depois daquele jantar algo mudou em mim.
- em mim também – falei. – eu lembro que não conseguia te tirar da minha
cabeça.
- eu fui o primeiro homem que você confiou depois do que aconteceu...
Nós demos uma pequena pausa.
- na época eu não sabia dessa história. Eu sabia que você tinha TOC e a
cada dia me aproximava mais de você, sempre depois ou antes do trabalho eu te
visitava e seu pai me recebia bem em casa. As vezes eu te lavava para o
terapeuta.
- como meu terapeuta se chamava? – perguntei curioso.
- Adam – falou ele.
- acho que me lembro dele – falei respirando fundo pronto para escutar o
resto da história.
Os meses se passaram e nós nos apaixonamos, você estava quase que curado
do TOC. Você tinha 19 anos na época.
- isso aconteceu então a 2 anos atrás.
- exato.
- certa noite te convidei para passar a noite em minha casa... você sabe
para o que...
- sim. Entendo – falei interrompendo ele;
- pois bem... nós nos deitamos na cama e eu subi em cima de você e te
beijava, mas toda vez que passava a mão em seu corpo você começava a chorar. Eu
fiquei com medo de ter te machucado, mas você me disse que não era minha culpa.
Eu disse que podia confiar em mim então você me disse que o melhor amigo do seu
pai Kenny tinha te estuprado...
Eu comecei a engolir o ar e não soltava eu tentei me controlar e Kyle
pegou minha mão.
- se acalma – falou ele apertando minha mão – se quiser eu paro de
contar.
- pode continuar – falei tentando estabilizar minha respiração.
- tudo bem – falou ele dando um beijo na minha mão.
Eu me levantei furioso da cama, pois eu já tinha conhecido o amigo do
seu pai, tinha estado no mesmo lugar que ele. uma raiva enorme me dominou. Você
começou a dizer que não tinha problemas, mas eu era cabeça dura demais para te
escutar e estava com muita raiva então eu deixei você em casa e peguei minha
moto e fui até a sua... com minha arma.
- e então? – falei olhando pra ele limpando uma lágrima do meu rosto.
- eu nunca cheguei na sua casa. – falou ele olhando pra mim.
- sinto muito – falei abraçando o braço dele.
Eu fiquei deitado no ombro dele querendo nunca soltar. Eu não queria
viver, eu queria viver a morte com Kyle.
- espera um pouco – falei levantando a cabeça.
- porque eu não lembro de nada disso?
- eu não sei – falou Kyle.
- eu posso responder essa – falou a voz de um homem. Eu olhei para o
lado e Kyle tinha desaparecido.
- quem está aí? Kyle?
- sou eu maninho! Não se lembra de mim?
Meu irmão surgiu de uma das portas.
- Jake... Jakob? – falei me levantando.
- você morreu?
- não sei – falou ele. – talvez eu seja apenas a representação que sua
mente criou para você. Uma imagem que você se sente confortável.
Meu irmão estava exatamente como da última vez que o tinha visto... por
foto é claro.
Alto, forte, cabelo raspado e sem barba. Ele usava o uniforme do
exército. Eu corri até ele e dei um abraço. Ele me abraçou de volta. Se não
podia abraçar meu irmão verdadeiro eu queria abraça-lo naquela experiência de
quase morte ou sei lá o que...
Eu olhei pra ele e ele estava fazendo uma coisa que ele não costumava
fazer muito: sorrir.
- eu posso te contar porque você não se lembra de nada do que aconteceu
com Kyle e nem com Kenny.
Ele abriu a porta do quarto e apareceu uma sala que eu acho que
conhecia.
- você reconhece essa sala? – perguntou ele.
- não sei... talvez.
Nós entramos e ele sentou em uma poltrona e me mandou sentar na outra.
- você pode me contar o que aconteceu? Porque eu não lembro de nada
disso?
- Jack... quando uma pessoa passa por um trauma muito grande como
desastres naturais e é muito para ela suportar e a terapia não funciona os
médicos opinam por um tratamento diferente.
- qual?
- com você foram usados dois tipos de tratamento, mas antes eu quero
contar o que aconteceu com Kyle.
- tudo bem – falei me acomodando.
- depois que Kyle sofreu o acidente você se culpou profundamente pelo o
que aconteceu com ele. você tinha ataques noturnos e não saia mais de casa. Seu
terapeuta te via em casa e você se recusava a dizer qualquer coisa que fosse.
Ele então decidiu usar tratamento de choque em você. Claro que hoje em
dia é tudo muito organizado e não é assustador como vemos nos filmes.
Tratamento de choque é usado normalmente hoje em dia e juntamente com o
tratamento de choque você tomou um medicamento usado em vitimas de traumas
muito forte. Esse medicamente apaga sua memoria.
- mas eu me lembro de toda minha vida, mas eu juro que antes de ver o
Kyle eu não lembrava dele. Parece que esse medicamento só apagou ele.
- exatamente. Depois de 2 sessões de tratamento de choque você começou a
tomar os comprimidos e fazer terapia para apagar exatamente a memória ruim.
Para poder atacar exatamente o trauma que você tinha sofrido ao perder Kyle.
- o que aconteceu com Kyle?
- eu não sei. Jack eu sou apenas seu subconsciente te dizendo o que você
sabe, mas não quer se lembrar.
- ok, pode continuar.
- Jack junto com o trauma de Kyle foi apagado a memória do abuso que
você sofreu. Por isso você não lembra de nenhum dos dois quando está acordado.
Depois que alguns meses que o tratamento começou a fazer efeito Adam, seu
terapeuta, recomendou que você tivesse outro terapeuta para criar novas
memórias então seu pai te levou para ver...
- Jay. – falei olhando pra ele. Meu irmão tinha desaparecido e em seu
lugar apareceu Jay.
- agora você se lembra de mim.
- sim – falei olhando pra ele e reparando em seus olhos verdes.
- eu te amo? – perguntei.
- só você tem a resposta – falou Rupert. Jay tinha desaparecido e em seu
lugar apareceu Rupert.
Eu olhei por baixo da porta e ví uma sombra nela e alguém bateu.
- quem é.
- está na hora de voltar – falou meu irmão que tinha aparecido outra vez
no lugar de Rupert. – você está se curando, está na hora de você acordar.
- eu quero ver Kyle. – falei.
- quem é Kyle? – falou Kenny que tinha aparecido.
Eu me levantei.
- fica longe de mim – eu me virei e tentei abrir a porta e quando não
consegui olhei para a poltrona e me ví com 10 anos de idade sentado na
poltrona.
- eu vou me lembrar do que eu ví aquí? De tudo o que eu me lembrei?
- não. Mas você pode. Basta você querer. – falei comigo mesmo.
A maçaneta começou a girar e aporta abriu devagar.
Eu olhei outra vez para a poltrona e não tinha ninguém. Quando olhei de
volta para a porta eu ví um clarão muito forte que fez meus olhos doerem.
Por um momento pensei que tinha finalmente morrido. Eu senti uma paz de
espirito que durou apenas alguns segundos até que ouvi a voz dele.
- Ele está acordando – falou Jay gritando.
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