CAPITULO 09
Eu abri os olhos e ví uma luz forte que vinha até meus olhos. Eu olhei
para o lado e não tinha ninguém na sala. Eu estava com minha roupa normal que
usava no dia-a-dia. Eu me sentei na cama e tentei me lembrar do que tinha
acontecido. Eu tinha tentado ajudar meu irmão tomando todos os meus remédios
possíveis.
- será que funcionou? – falei colocando a mão no meu quadril tentando
ver alguma cicatriz, mas não tinha nenhuma.
Teria sido tudo em vão?
Eu me sentia um pouco estranho. Eu me levantei e fui até a porta, mas
ela estava trancada. Eu bati na porta e olhei pelo pequeno quadrado de vidro
que tinha nela, mas eu não ví ninguém. Eu virei para trás e tentei entender o
que estava acontecendo. Eu olhei para o relógio na parede, mas ele estava
parado marcando 20:41.
- o que está acontecendo? – perguntei para mim mesmo em voz alta. Fiquei
por alguns segundos sentado na cama e ouvi o barulho da porta sendo
destrancada. Eu olhei rapidamente para ela e a mesma não se abriu. Eu me
levantei e fui até ela girando a maçaneta e ela abriu. Eu saí no corredor e
mais uma vez não tinha ninguém. Eu fui andando até o fim do corredor bem
devagar e o único barulho era o da minha respiração e dos meus pés descalços
sobre o chão. O corredor e comprido e a cada quarto que eu passava eu olhava
dentro e não tinha nenhum paciente.
Assim que cheguei no fim do corredor ví que o hospital estava
completamente vazio.
- tem alguém aí? – minha voz ecoou pelos corredores e eu não tive
resposta.
Olhei para os dois lados e apenas ví duas luzes piscando. No fim do
corredor do lado esquerdo eu ví uma sombra aparecendo.
- olá! Quem está aí?
Eu ví apenas a sombra ficando mais densa e fiquei com um pouco de medo e
me virei dando uns passos.
Enquanto voltava para o meu quarto ouvi um barulho que me fez parar.
Olhei pra frente e para trás… mas nada ví. Continuei andando bem devagar
contando meus passos. Então algo passou rápido pelo corredor que seguia em
minha frente, eu paralisei de susto. Fiquei olhando sem piscar. Minhas pernas
estavam tremendo. Novamente o vulto preto passou para o outro lado, eu dei um
passo pra trás. Seja o que fosse passava como um raio.
- alguém está aí? – perguntei mais uma vez esperando por uma resposta.
Eu comecei a dar passos para trás. Então a coisa dessa vez passou pelo
corredor, mas ficou parado no fim do corredor. Eu não conseguia enxergar direito
bem o que era ou simplesmente não queria acreditar que o que estava vendo era
real.
A coisa tinha uns dois metros de altura, tinha cabelos negros que iam
até abaixo dos ombros, seus braços eram grandes que quase tocavam o chão o que
fazia ficar meio corcunda suportando o peso. Pela postura não parecia ser uma
mulher, era magro, mas aparentava ser bem forte. A criatura então pulou na
parede e ficou de quatro como se suas enormes unhas tivessem sido enfiadas na
parede.
- o que é isso! – exclamei assustado querendo correr.
Eu então dei um passo mais rápido para trás, eu não conseguia parar de
olhar. A criatura abriu então o que escondia nas costas, ela tinha asas negras.
A criatura começou a andar devagar pela parede, as luzes do corredor já não
estavam todas acesas, as que estavam começaram a piscar falhando. A criatura
soltava um baixo rugido como de cachorro com muita raiva. Com os cabelos
cobrindo o rosto, quando ela passou perto de uma das lâmpadas deu para ver que
suas asas não eram de penas e sim uma coisa que lembrava o brilho de uma
borracha negra, parecia com coro negro e tinha espinhos nas bordas. A coisa
então pulou novamente no chão com uma graça demoníaca. Ele flexionou as pernas
quando caiu.
Eu estava apavorado e meus olhos arregalados. A criatura então levantou
a cabeça e olhou em meus olhos profundamente. Eram olhos completamente negros.
Ele então abriu a boca de um tamanho impossível para um ser humano revelando
seus dentes enormes e soltando um grunhido como de uma ave de rapina sendo torturada
e começou a dar passou longos e rápido quase correndo o que me fez se virar e
começar a correr de verdade. Eu estava muito assustado e mal sentia as batidas
do meu coração. Eu estava suando frio. Dois passos meus mal davam um passo
daquela criatura horrível.
- socorro!
Eu comecei a gritar e a olhar para as portas que não se abriam será que
ninguém estava ouvindo meus gritos? Eu tentei abrir uma porta quando passei por
ela e pra minha sorte a porta se abriu, mas eu tive uma grande surpresa.
Parecia que o quarto tinha pegado fogo e tinha teias de aranha e alguns insetos
que se assustaram com a luz fraca que entrou no quarto quando fechei a porta
bem rápido e continuei correndo, foi quando reparei que não só o quarto, mas
todo o corredor estava podre e queimado com cinzas pelo chão. Tudo cheirava a
mofo e umidade.
Eu comecei a gritar por alguém quando ouvi o barulho do enorme relógio
marcando meia-noite. Eu virei o corredor e fui em direção as salas de exames do
hospital. A criatura continuava soltando seu grito estridente e assustador. Eu
corria e olhava pra trás. A criatura havia parado onde o corredor virava e
estava olhado para mim. Eu parei cansado e respirando. Minha cabeça e meu
coração latejavam, meus pulmões estavam com dificuldade para respirar. O Suor
escorria. Eu olhou pra baixo fechando um pouco os olhos se recompondo e quando
voltei a olhar a criatura não estava mais lá. Eu olhei em volta e a única coisa
que me chamou foi às paredes e o teto pingando como se chovesse lá fora. Estava
muito fedido.
Só agora havia percebido o quanto fedia. Havia água por todo o chão como
se tivesse tido uma enchente dentro do hospital. Eu olhei de lado com os olhos
para a esquerda e para a direita sem saber onde a criatura estava. Só quando
senti um arrepio e um frio gelado na nuca descobri… estava atrás de mim. Quando
olhei para trás como um leque a criatura abriu a boca quase no tamanho de minha
cabeça e soltou o mesmo som de ave de rapina sendo torturada, mas dessa vez
periciam milhões delas, eu tampei os ouvidos e a criatura estava com os braços
pra trás como se o vento estivesse soprando contra eles. A baba da boca caia em
todo o seu rosto.
A criatura parou de gritar e fechou sua boca ficando parada em frente de
mim me encarando com seu olhar satânico como se me desejasse.
- Jack, não se mecha – falou uma voz. Eu estava atônito e parado. Olhei
para a criatura e ela continuava imóvel como uma estátua. Eu apenas virei minha
cabeça com cuidado e ví que tinha um homem parado no final do corredor.
- quem é você? – perguntei assustado
- não se mova e não olhe nos olhos dele – falou ele dando pequenos
passos e vindo até mim.
Eu então olhei para o lado para não olhar para os olhos como ele tinha
mandado. Assim que ele foi chegando mais perto eu ví que ele usava uma máscara
na cara. Uma máscara de palhaço. Mas não era um palhaço feliz era um palhaço
sem expressão no rosto. Naquele momento não sabia quem me dava mais medo.
- venha comigo bem devagar – falou ele esticando a mão para que eu
pegasse nela.
Eu estava assustado então decidi ir com ele. peguei na mão dele e nós
fomos andando bem devagar.
- quando eu disser corre, você corre – falou ele.
- tudo bem – falei com a mão tremendo.
Nós continuamos andando bem devagar até chegarmos no fim do corredor
- vai para a esquerda. – falou ele soltando minha mão e me mandando
correr.
Quando comecei a correr eu ví que ele veio atrás de mim correndo. Logo
atrás vinha a criatura que a esse ponto tinha encolhido as asas e não estava
correndo ele estava deslizando pelo chão.
Quando olhei para frente eu ví que era o fim do corredor e não tinha
para onde correr.
- para onde nós vamos?
- continua – gritou o homem de máscara.
- não tem mais para onde ir – gritei.
- confia em mim. Continua sem parar.
Eu estava assustado, mas eu não parei e quase chegando à parede fechei
meus olhos e assim que atingi a parede eu caí no chão. Supreendentemente eu caí
pra frente. Eu me levantei assustado e tentei ver se tinha machucado alguma
coisa e eu não sentia nada. Eu tinha atravessado à parede. Eu estava no quarto
onde tinha acordado.
- como isso é possível? – perguntei assustado – quer dizer… nada disso é
possível, mas... eu acabei de atravessar uma parede.
Eu olhei em volta e ví que o homem de máscara estava parado em pé sem
dizer nada próximo à porta.
- onde eu estou? Estou morto?
- mais ou menos – falou o homem.
- eu estou sonhando?
- mais ou menos – respondeu ele outra vez.
Quem é você? Porque eu me sinto diferente?
- se acalma – falou ele me mandando sentar na cama.
Eu fui até ela e sentei.
- você precisa se acalmar. – falou o homem.
- o que era aquela coisa?
- não sei no que você acredita ou como o chama, mas ele é o mal. Seu mal
para ser mais especifico. Ele é tudo o que você já fez. Ele é seu sofrimento
personificado.
- porque eu não podia olha dentro do olho daquela coisa?
- você já ouviu a frase: “se você olhar para um buraco o buraco olha de
volta pra você?”.
- sim. Não com essas palavras, mas já sim.
- então você entende porque não devia olhar para aquela criatura. Ela
foi enviada para te fazer sofrer.
- porque? Eu já não sofri muito em vida, porque não posso morrer em paz.
- você não pode se entregar – falou o homem dando dois passos até mim.
- quem é você – perguntei.
- vamos nos concentrar em você – falou ele.
- eu quero saber quem você é! Pelo amor de deus você está usando uma
máscara horripilante me dá vontade de ir lá fora e pular nos braços daquele
morcego mutante.
Ele se aproximou e colocou a mão atrás desamarrando a máscara do rosto.
Quando ele retirou eu levei um susto.
- não é possível! – falei caindo uma lágrima dos meus olhos.
Ele apenas deu um sorriso e me olhou com seus olhos verdes.
Eu tentava segurar o choro.
- você morreu! Meu pai me disse que você morreu! Porque você está aquí?
- eu vim te proteger – falou ele se aproximando.
Antes que ele chegasse eu me levantei e o abracei chorando um pouco no
ombro dele. Eu olhei para os olhos verdes dele enquanto ele secava minhas
lágrimas com a mão.
- eu te amo – falei dando um beijo na boca dele. Sentir os lábios dele
outra vez era muito bom. Eu te amo Kyle! – falei olhando para ele e dando um
selinho na boca dele.
- eu também te amo Jack – falou ele com um meio sorriso me abraçando e
alisando minhas costas. Eu deitei minha cabeça no ombro dele sem acreditar que
estava com ele outra vez.
Eu nem acreditava no que estava acontecendo. Primeiro uma coisa gigante
com asas me persegue e depois encontro Kyle. Eu continuava abraçado com ele
enquanto ele me confortava tentando fazer com que parasse de chorar. Ele estava
com uma camisa e uma calça preta e um tênis branco e preto.
- onde eu estou? – perguntei olhando pra ele já sem lágrimas de tanto
chorar.
Ele não respondeu e apenas olhou pra mim com um sorriso no rosto.
- aonde você está? – perguntei me lembrando de algo. – você desapareceu
e não me disse nada.
- eu não sei – falou ele olhando em volta e se sentando na maca.
- se eu não estou morto e estou sonhando... onde eu estou? Você não é
real?
Ele pegou minha mão e colocou no rosto dele.
- eu sou mais real do que você pensa – falou ele sorrindo. Seus olhos me
davam uma certa paz.
- eu estou me sentindo diferente. me sinto estranho.
- pode ser estranho pra você – falou ele batendo na cama mandando eu me
sentar.
Eu me sentei e segurei na mão dele.
- nunca mais vá embora – falei olhando pra ele.
- eu nunca fui.
Eu fiquei para um tempo olhando pra ele.
- antes de você voltar você vai ter que se lembrar de algumas coisas. –
falou ele.
- me lembrar do que? – perguntei ansioso.
- o que você se lembra.
- eu me lembro de você, meu pai e meu irmão. Lembro que sofri um
acidente em casa e fui para o hospital.
- apenas isso?
- sim.
- vem comigo – falou ele se levantando e pegando minha mão – se você
quiser ir embora você vai ter que se lembrar de algumas coisas... boas e ruins.
- não sei se eu quero – falei puxando ele pela mão. Não quero ficar
longe de você outra vez.
- não vou deixar você. Vou ficar com você o tempo todo.
Eu me levantei e fui até a porta segurando a mão dele.
- preparado? – perguntou ele sorrindo pra mim.
- não – falei sorrindo pra ele.
Quando ele abriu a porta não havia mais o corredor do hospital e sim o
que parecia ser o interior de uma cabana nós passamos pela porta e ela se
fechou sozinha.
- o que eu vou ver aquí.
- eu não sei – falou apertando minha mão – não fica com medo.
Nós demos alguns passos dentro da cabana e de repente a porta da frente
se abriu e eu ví meu pai, meu irmão com 11 anos de idade e minha mãe grávida.
- esta lugar está exatamente do mesmo jeito de quando nós viemos para
nossa primeira lua de mel. – disse meu pai colocando umas malas no chão.
Meu irmão passou por nós e pareceu não nos ver e subiu as escadas.
- eles não conseguem nos ver?
- não – falou Kyle.
Minha mãe e meu pai deram um beijo e entre um beijo e outro minha mãe
alisou a barriga e meu pai colocou a mão em cima da dela. Aquilo me fez
derramar uma lágrima.
- tenho saudades dela – falei.
- então você se lembra? – perguntou Kyle.
- sim... mais ou menos. Eu me lembro que ela morreu quando eu ainda era
bebê.
Meu pai fechou a porta e ela se sentou no sofá.
- você já pensou em um nome? – perguntou meu pai se sentando do lado
dela.
- nó temos que pensar juntos – falou minha mãe sorrindo pra ele.
- tudo bem – falou meu pai abraçando ela – se eu fosse escolher o nome
eu colocaria Benson. E você?
- bem. Eu sempre pensei em vários nomes para bebês, mas sempre teve um
que eu gostei: Zack.
- por mim pode colocar o seu. Zack – falou meu pai dando um beijo na
barriga dela.
- não posso fazer isso com você – falou ela sorrindo.
- pode sim. O próximo eu escolho – falou ele dando um beijo nela.
Meu irmão desceu as escadas.
- adivinha Jakob seu irmão vai se chamar Zack.
- eu te amo Zack – falou meu irmão dando um beijo na barriga da minha
mãe.
Exatamente naquele momento eles paralisaram como se fosse um filme e
alguém tivesse apertado pausa.
Corria algumas lágrimas pelos meus olhos.
- porque eu estou vendo isso? Eu não tinha nascido.
- você estava com 8 meses de vida. Você já ouvia tudo de dentro da sua
mãe. Provavelmente foi aquí que eles escolheram seu nome.
- temos que voltar – falou Kyle abrindo a porta que dava direto para o
quarto do hospital. Nós entramos e fechamos a porta.
- você está bem? – perguntou Kyle.
- estou sim. – falei limpando as lágrimas.
- você está pronto para entrar em outra porta?
- acho que sim.
Eu coloquei a mão na maçaneta e abri a mesma porta e fui para o corredor
do hospital. Nós andamos alguns passos e fomos até a próxima porta.
- espero que a próxima porta seja de uma lembrança boa.
Assim que abrimos eu reconheci o lugar.
- é minha casa. – falei.
Assim que entramos e fechamos a porta eu ví meu irmão sentado no sofá
jogando videogame.
- seu pai está demorando – falou minha mãe com o telefone tentando falar
com ele.
Ela andava de um lado para o outro e finalmente desligou o telefone.
Ela foi até a cozinha pegou um copo de água e tomou. A barriga dela
estava bem maior do que na outra lembrança.
- não deixa seus brinquedos espalhados falou ela com meu irmão.
Meu irmão não deu bola e continuou jogando.
- abaixa o volume Jakob – falou ela.
Meu irmão resmungou alguma coisa e abaixou o volume. Eu fiquei olhando
meu irmão e o quanto ele era pequeno.
- porque será que ele me odeia? – falei olhando pra ele.
- você se lembra disso.
- sim... quer dizer até alguns segundos atrás eu não sabia disso.
- você sabe o porque?
- não – respondi.
Quando disse isso ví que minha mãe deu um grito e caiu de costas.
Meu irmão levantou assustado.
- mamãe – falou ele se ajoelhando perto dela.
Começou a sair sangue de sua vagina.
- está na hora. – falou minha mãe gemendo de dor.
- quero ir embora – falei para o Kyle me virando. A porta tinha
desaparecido.
- eu estou aquí – falou Kyle me abraçando.
- eu não mereço ver isso – falei abraçando ele e começando a chorar.
Meu irmão abriu a porta da sala e saiu correndo pra fora gritando.
Minha mãe deu um grito alto de dor.
- porque a demora – falei limpando o nariz – Onde está o Jakob.
Quando mais ela gritava de dor mais eu começava a me lembrar do que
tinha acontecido no meu nascimento.
De repente entrou dois homens e uma mulher pela porta. Eram
provavelmente nosso vizinhos.
Uma poça de sangue havia se formado onde minha mãe tinha caído.
- vou ligar para uma ambulância – falou um dos homens pegando o celular.
- acho que não vai ter como esperar – disse à mulher que entrou com eles
– as contrações estão a cada 30 segundos.
- vamos ter que fazer o parto dele aquí mesmo. não se preocupe Lea –
disse o homem tentando acalmar minha mãe – eu sou bombeiro e vou salvar seu
filho.
- salve ele, por favor – falou minha mãe suada e chorado de tanta dor. – não deixe nada acontecer com ele.
- eu não consigo mais ver isso – falei virando rosto.
Eu virei o rosto apenas ouvindo os barulhos do choro e grito da minha
mãe seguido pelo barulho de um bebê chorando.
Eu me virei para ver e me ví recém nascido.
- ele é lindo – disse minha mãe.
No mesmo instante a ambulância chegou e os paramédicos socorreram ela.
- ela está com um sangramento – falou o bombeiro me entregando para o
paramédico.
- se acalme senhora – falou um dos paramédicos.
Eles colocaram ela em uma maca e a levantaram.
- onde está seu marido? – perguntou.
- ele está fora. Ele deve estar chegando, mas não atende o celular. Ele
está bem? – perguntou ela por mim.
- está sim – falou o paramédico empurrando a maca.
- diga ao meu marido para chama-lo de Jackson.
- a senhora vai ficar bem.
- por favor – falou ela chorando – diga á ele que eu o amo e que nosso
filho se chama Jackson.
Eles há levaram e quando eles saíram eu pude ver meu irmão parado na
porta. Ele tinha visto tudo sem poder fazer nada.
- quero ir embora – falei com os olhos vermelhos tentando segurar o
choro.
Eu me virei e abri a porta que tinha aparecido e fui até o corredor e
sentei no chão. Kyle fechou a porta e fiquei em pé na minha frente.
- eu tenho TOC. – falei limpando os olhos – eu matei minha mãe e eu
tenho TOC. Meu irmão me odeia porque matei minha mãe no dia do meu nascimento.
Kyle se agachou e alisou meu rosto.
- me desculpa – falou ele.
- pelo que? – perguntei limpando o rosto.
Ele ficou em silencio e o sorriso tinha desaparecido do seu rosto.
- o que foi? – perguntei me levantando.
- acho que não é por isso que você tem TOC.
- como assim? – falei limpando o rosto. – como você pode saber? Você
disse que não sabia.
- eu não sei – falou ele se levantando e respirando fundo – eu apenas
sei, eu sinto isso.
- eu não quero ver mais nada. Eu quero ficar aquí.
- você não pode desistir – falou Kyle.
- por favor não quero mais sofrer.
- o que você acha que eu sinto? Como você acha que eu me sinto vendo
você sofrer e não poder fazer nada – falou Kyle me olhando profundamente.
Eu olhei profundamente pra ele e fiquei pensando em como seria se eu
morresse de uma vez.
- você não pode desistir – falou Kyle – é por isso que estou aquí para
poder te ajudar a passar por isso.
- eu me lembro de você Kyle. Quer dizer... não lembro muito, mas lembro
o suficiente para saber que eu te amo, mas se você está aquí comigo quer dizer
que você morreu.
- eu não sei – falou Kyle.
- se você morreu eu não quero ver essa lembrança.
- eu estou aquí – falou Kyle pegando nos meus braços e me abraçando –
você vai conseguir. Faça isso por mim.
Eu o abracei e fechei os olhos sentindo seu perfume.
- tudo bem.
Ele me soltou e pegou na minha mão. Nós andamos até a porta seguinte.
Antes de chegar nela eu ví as luzes piscando.
Nós olhamos para trás e aquela criatura estava parada no fim do corredor
olhando. Eu apertei a mão de Kyle.
- não tenha medo – falou ele dando um passo até a porta e a criatura deu
dois passos em nossa direção.
Eu parei um pouco de sentir medo e comecei a pensar.
- Kyle – falei olhando para a criatura.
- sim? – falou ele olhando pra mim.
Hoje mais cedo quando esse monstro apareceu eu estava perto dessa porta
e eu tentei abri-la.
- você está dizendo que...
- ele não quer que eu entre.
Nós dois olhamos ao mesmo tempo para aquela criatura e ela estava parada
nos encarando.
- e se essa coisa estiver tentando me proteger? E se eu não aguentar o
que eu ver lá dentro?
- acredite em mim. Você precisa ver o que têm lá dentro.
Kyle deu um passo para trás chegando mais perto da porta e a criatura
deu um passos grande em nossa direção.
- ele não quer que você entre também. – falei olhando pra ele.
- que diabos têm aí dentro? – falou Kyle.
Nós ficamos imóveis por algum tempo pensando se iriamos entrar naquela
porta.
- nós temos que entrar Jack eu vou estar aquí ao seu lado.
- eu também estarei ao seu lado – falou para Kyle
No momento que disse isso a criatura começou a deslizar em nossa
direção. Ela esticou o braço e começou a gritar. Nós nos assustamos e nós dois
nos viramos e abrimos a porta.
Estava escuro lá dentro.
- têm certeza? – falei para Kyle. Ele olhou para a criatura e ela se
aproximava de nós dois.
Ele entrou e me puxou pra dentro fechando a porta.
Estava escuro e silencioso.
- eu estou aquí – falou Kyle apertando minha mão.
De repente tudo se iluminou. Nós estávamos novamente em minha casa, mas
desta vez era de dia.
Ouvi a porta se destrancando e meu pai entrou e logo atrás eu entrei. Eu
aparentava ter 10 anos de idade.
- vai se trocar – disse meu pai me dando um beijo e me mandando subir e
vestir uma roupa para tomar banho de piscina.
Logo atrás veio o amigo do meu pai Kenny que entrou e fechou a porta.
Ele entrou com um charuto aceso e ainda tinha sua barba por fazer.
- você falou com Jakob? – perguntou Kenny para meu pai.
- ainda não – falou meu pai indo até a cozinha. – o exército é dureza
ele não deve ter tempo para ligar.
Eles pegaram uma cerveja cada um e abriram tomando um gole.
Kenny se sentou no sofá da sala e pegou um cinzeiro e colocou o charuto.
Meu pai ficou em pé e tomou um gole.
- droga – falou meu pai.
- o que foi? – falou Kenny tomando um gole da cerveja.
- tenho que ir até no centro. Amanhã é o domingo... – ele olhou pra
baixo triste – faz exatamente 10 anos que Lea faleceu.
Kenny olhou para o meu pai.
- você tem certeza que é só isso?
- o que? – falou meu pai.
- amanhã seu filho faz 10 anos de idade.
Meu pai passou a mão na cabeça.
- é verdade – disse ele.
- não deixe os momentos ruins atrapalharem os bons momentos da sua vida.
Eu conheci a Lea e ela ficaria triste se você não comemorasse o aniversário do
Jack. Eu sei que amanhã você vai se lembrar de que sua esposa faleceu, mas
também comemora o nascimento do seu filho.
- você está certo – falou meu pai forçando um sorriso – eu já te contei
em como Jack recebeu esse nome?
- não – falou Kenny.
- ela juntou os nomes que nós queríamos Benson e Zack e quando fui até o
hospital pegar meu bebê e se despedir da Lea o paramédico que os socorreu disse
que Lea queria que ele se chamasse Jackson.
- sinto muito – falou Kenny
- eu vou planejar uma festa para ele e preciso comprar algumas coisas,
você se importa de cuidar dele?
- não – falou Kenny – pode ir e levar o tempo que for.
- não – falou Kenny – pode ir e levar o tempo que for.
- obrigado – fico te devendo essa – falou meu pai pegando a chave do
carro.
Eu desci as escadas sem camisa pronto para nadar.
- aonde meu pai foi tio Kenny?
- Jack amigão senta aquí com o tio Kenny?
Eu desci as escadas com minhas chilenas no pé fazendo barulho no chão e
me sentei do lado dele.
- seu pai teve que ir resolver um problema, mas logo ele vai voltar. –
falou Kenny me abraçando.
- não parece tão Ruim – falei para Kyle.
Kyle não respondeu e continuou olhando para a cena sem piscar e ele
apertou minha mão. Eu olhei novamente para o sofá e eu continuava sentado ao
lado de Kenny.
- então... você já está virando um homenzinho! – falou Kenny.
- sim – falei sorrindo – posso ir tomar um banho na piscina tio Kenny?
- espera – falou Kenny me abraçando junto dele. – você não gosta do tio
Kenny? – perguntou ele.
- sim.
- se o tio Kenny te pedir uma coisa você faz pra ele?
- sim tio Kenny.
Kenny levantou um pouco a camisa e abriu o zíper da calça, pegou minha
pequena mão e colocou entre suas pernas.
- mas você não pode contar pro papai ok? – falou ele sorrindo pra mim.
A fumaça do charuto dele dançava pela sala.
- não é possível – falei chorando enquanto via aquela cena.
Olhei para Kyle e ele também chorava. Seus olhos verdes agora era
rodeados por uma cor vermelha.
Minhas mãos tremiam eu não conseguia me mexer. Kenny colocou o charuto
na boca e abriu os braços e fechou os olhos olhando pra cima e gemeu enquanto
eu repetia alguns movimentos que ele tinha me ensinado.
Eu senti uma dor no meu coração e minha cabeça começou a doer de ver
aquilo, pois eu estava me lembrando. Eu não conseguia parar de olhar para
aquilo.
Meu eu de 9 anos olhou pra mim e ficou olhando sem dizer nada me
encarando como se ele me visse.
- Jack! – falei esticando o braço para o meu eu de 9 querendo ajuda-lo –
eu tremia e chorava.
- me ajude – falou Jack olhando pra mim enquanto Kenny me pegava no colo
e acariciava meu frágil corpo.
- solta ele – gritei alto de tanta raiva. Meu rosto estava vermelho e eu
suava muito.
Kenny me ouviu e olhou pra mim em pé. Eu me assustei não era para ele me
ver. Ele se levantou do sofá. Meu eu de 9 anos tinha desaparecido. Ele veio
andando em minha direção sorrindo.
- titio está aquí – falou ele chegando perto de mim. – eu olhei para o
lado e Kyle tinha desaparecido.
- Kyle? Você prometeu ficar ao meu lado!
Kenny pegou minha mão e colocou dentro da calça dele.
- faz do jeitinho que titio te ensinou.
Eu tremia, estava apavorado, triste, com nojo, me sentindo culpado, mas
eu fiz o que ele mandou pois eu tinha medo dele.
Ele colocou o charuto na boca e deu um trago assoprando na minha cara.
Eu tossi e me senti tonto e caí no chão.
Quando eu abri os olhos eu estava outra vez no corredor do hospital.
Kyle estava sentado se escorando na parede e olhava pra baixo triste. Eu
continuava tremendo e caia algumas lágrimas do meu rosto que agora pingavam no
chão, pois eu não conseguia me levantar.
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