DEVERIA SER FÁCIL capítulo dez
C
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heguei em casa na segunda e meu
pai já tinha chegado de viagem. Eu entrei em casa e não vi barulho nenhum, mas
o carro dele estava na garagem então ele tinha chegado, mas talvez não
estivesse em casa. Subi as escadas e fui até o quarto dele. Ele estava lá
dormindo feito em bebê. Eu nem fui até ele e apenas fechei a porta.
Deitei-me na
cama e fiquei pensando na quarta-feira que seria o dia em que iriamos ao
psicólogo. Eu estava nervoso não sabia como ele reagiria ao que eu iria dizer,
mas era algo que precisava ser dito ou eu seria assombrado para sempre por
pesadelos e receito de tocar meu pai.
Por volta
dás 21:00 meu pai se levanto eu desceu as escadas. Eu estava assistindo TV.
- olá filho, que saudades suas –
falou ele vindo até mim. Eu me levantei e dei um abraço nele. O receio tinha
diminuído um pouco pelo fim de semana com Roman.
- com foi de
viagem pai?
- foi tudo
ótimo.
- fico
feliz.
- e você?
Como foi na casa de Roman.
- foi tudo
ótimo. Domingo Denny apareceu lá e nós assistimos filmes e jogamos conversa
fora.
- foi bom
você ter ficado lá então.
- foi ótimo.
- fico feliz
– falou meu pai.
- pai, o
psicólogo está marcado para quarta-feira ás 16h00min. Você pode ir né?
- não sei se
eu tenho algo nessa data ou hora, mas pode contar comigo, eu vou desmarcar
tudo.
- que bom,
eu preciso que o senhor queira ir se não, não vai valer a pena.
- eu quero.
Se você precisa ir ao psicólogo para se sentir melhor tudo bem, se você quer que
seu velho pai esteja com você. Melhor ainda.
Fui
trabalhar na terça-feira logo que cheguei fui direto à sala de Adam.
- posso
entrar? – perguntei.
- pode –
falou ele.
Eu abri a
porta e entrei. Ele estava lendo algo no computador.
- Adam eu
queria perguntar se amanhã eu posso ir embora mais cedo.
- porque?
Vai aonde?
- vou ao
psicólogo.
- tudo bem,
só me traz o atestado e espero que seja a última vez que mata.
- porque
está me tratando assim Adam?
- não estou
te tratando de jeito nenhum Mickey.
- Mickey? O
que aconteceu com Mike, seu amigo?
- escuta
aqui... – falou Adam.
- escuta
aqui você – falei. – você é meu chefe e insistiu em ser meu amigo e eu aceitei,
amigos são para as horas boas e ruins. Eu tive um namorado canalha que tentou
me matar, tudo porque descobri que ele estava drogando meu pai e estuprando ele
todas às vezes em que fiquei aqui trabalhando com você até mais tarde.
- o que você
está dizendo? – perguntou Adam atordoado.
- isso
mesmo, Charley drogava meu pai e estuprava ele. Eu decidi contar para meu pai e
ele começou a beber e me batia. Quando estava em casa bêbado destruía tudo e me
dizia coisas horríveis.
- sinto
muito – falou ele. – sinto pelo seu pai.
- em uma
dessas bebedeiras ele acabou me estuprando Adam. – nesse momento escorreu uma
lágrima dos meus olhos.
- Mike eu
não fazia ideia... – falou Adam.
- meu pai me
estuprou Adam e agora eu não consigo dormir porque tenho pesadelos com aquela
noite e amanhã vai ser o dia que meu pai vai saber disso e eu tenho medo da
reação dele. Bebedeira? Depressão? Suicídio? Não sei, só sei que não quero
perder meu pai. Em todos esses problemas eu encontrei uma pessoas que realmente
me ama e não tentou me matar ou estuprou meu pai. Roman. Eu não me interesso
pelo caso, só quero que vocês confiem nele.
Adam não
disse nada. Ficou apenas me olhando com pena e arrependimento.
- não me
olha desse jeito – falei limpando os olhos. – ninguém gosta de ser olhado com
pena.
- não estou
com pena de você. Estou com pena de mim. Por ser tão patético. Me desculpa por
não estar ao seu lado todos esses momentos. Me desculpa se não te dei liberdade
suficiente para me contar sobre essas coisas, se não se sentiu confortável
comigo o suficiente.
- há,
esquece isso – falei limpando meus olhos e engolindo as lagrimas – o que
passou, passou.
- pode
contar comigo para o que quiser. Pode faltar toda a semana se precisar.
- obrigado –
falei.
- sem
problemas. E pode ficar tranquilo que amanhã vou receber Roman de braços
abertos. Por você.
- obrigado
por isso também.
Ele deu um
sorriso e eu me levantei e fui.
Na
quarta-feira na hora marcada eu me despedi de Adam e sai ás 15h30min para que
não atrasasse, encontrei meu pai na porta da empresa e nós fomos de carro ao
consultório.
- boa tarde
– falei para a recepcionista.
- boa tarde
– falou ela educada.
- tenho uma
consulta ás 16:00 com o Dr. Rodriguez.
- há, sim.
Você é o Mickey?
- sou eu.
- Mickey é
só ficar aguardando ele que assim que sair o paciente que está com ele, você
será chamado.
Eu e meu pai
nos sentamos olhando a televisão ligada.
- você
consulta com ele a muito tempo? – perguntou meu pai.
- nesse
local sim, mas essa é minha segunda consulta com esse psicólogo.
- confia
nele para dizer o que tiver que dizer?
- sim. Eu
achei ele mais confiante do que o outro.
- tudo bem –
falou meu pai.
Os minutos
se passaram e logo o paciente e Jeffrey saíram conversando da sala e vi-os
vindo pelo corredor. Logo ele se despediu e veio até mim.
- boa tarde
– falou ele apertando minha mão e em seguida a do meu pai.
- boa tarde
– falou meu pai.
- o senhor
é?
- Larry, e
pode me chamar de você. – falou meu pai com um meio sorriso.
- Larry, eu
gostaria de falar com seu filho primeiro.
- é todo seu
– falou meu pai.
Me levantei
e nós fomos para a sala dele. Jeffrey fechou a porta e nós nos sentamos.
- está
preparado? – perguntou Jeffrey.
- acho que
estou.
- quer mesmo
fazer isso?
- quero sim.
- ótimo, fez
a lição de casa que eu te passei?
Eu fiquei
vermelho.
- fez ou não
fez? – perguntou Jeffrey com um sorriso.
Eu fiz um
quatro com a mão e com a outra tapei meu rosto.
- quatro
vezes? Nossa, você se saiu melhor do que eu esperava.
- foi sim –
falei vermelho.
- não fica
envergonhado. Isso é bom. Mostra que está preparado para superar essa fase da
sua vida.
- espero que
sim.
- eu não
tenho mais nenhum paciente depois de você. Eu deixei o dia livre para cuidar do
seu caso que é muito delicado.
- tudo bem –
falei.
- então, vou
chamar seu pai. – falou ele se levantando.
Ele saiu da
sala e eu me levantei e respirei fundo. Eu fechei os olhos e tentei me manter
calmo.
Logo meu pai
entrou junto com Jeffrey.
- pode se
sentar – falou Jeffrey se sentando. Meu pai ficou em uma poltrona do lado da
minha.
- então,
Larry, seu filho tem visitado muito o psicólogo ultimamente. – brincou Jeffrey
- pois é.
Também acho – falou meu pai rindo.
- pois bem.
Semana Passada Mike me contou algo novo. Algo que ele nunca tinha dito para
outra pessoa antes, nem para o antigo psicólogo e ele tem vontade que você
saiba porque ele sente um peso nas costas, se sente sufocado por esse segredo.
- agora me
preocupou – falou meu pai.
- Mike,
fique tranquilo – falou Jeffrey – olhe para seu pai, respire fundo e só diga
quando se sentir seguro. Nós vamos esperar e Larry, não apresse Mike, não diga
nada deixe que ele se sinta confortável em te contar o que tiver que dizer.
Talvez não seja hoje, mas será um progresso.
eu me sentei de lado no sofá e olhei para meu pai. Minhas mãos tremiam nos braços na poltrona. Eu respirei fundo e fiquei olhando para meu pai tentando arrumar as palavras certas. Eu olhei para o relógio da parede que marcava 16h15min. Eu respirei fundo e fiquei olhando para baixo tentando encontrar palavras certas. O silencio tomou conta da sala. Quando olhei para o relógio outra vez já era 16h35min.
eu me sentei de lado no sofá e olhei para meu pai. Minhas mãos tremiam nos braços na poltrona. Eu respirei fundo e fiquei olhando para meu pai tentando arrumar as palavras certas. Eu olhei para o relógio da parede que marcava 16h15min. Eu respirei fundo e fiquei olhando para baixo tentando encontrar palavras certas. O silencio tomou conta da sala. Quando olhei para o relógio outra vez já era 16h35min.
- pode me
contar – falou meu pai – seja lá o que for eu vou aguentar.
Jeffrey não
disse nada e apenas ficou observando.
- tudo bem –
falei – vamos lá.
Respirei
fundo outra vez.
- pai,
lembra aque-quela... aquela época que bebeu muito?
- lembro –
falou meu pai.
- você bebia
muito e não se lembrava de nada, você se lembra de poucas coisas que
aconteceram naquele mês.
- sim. Não
me lembro de quase nada porque eu fiquei muito tempo bebendo.
- pois é.
Aconteceu algo durante uma noite...
- o que?
Eu respirei
fundo.
- leve o
tempo que precisar – falou Jeffrey.
- você me
estuprou – falei de uma vez.
O brilho nos
olhos do meu pai desapareceram e ele olhou para Jeffrey pensando que fosse uma
pegadinha.
- co-como
assim.. es... estuprei?
- uma noite
eu cheguei em casa, você estava bêbado, você me jogou no chão, arrancou minha
roupa – eu comecei a chorar a partir daqui, não consegui segurar a emoção – e
me estuprou.
- eu,
e-e-eu... não faria isso Mike.
- você fez pai. você me machucou
muito. Foi por isso que sangrei aqueles dias. Você me machucou muito – falei
olhando para ele agora – desculpa dizer isso, mas você me destruiu.
Literalmente. Eu não tive nem coragem de ir a um hospital imediatamente só fui
depois inventando uma desculpa esfarrapada.
- meu deus –
falou meu pai colocando as duas mãos na cabeça. – meu deus, eu não fiz isso.
Mike, me perdoa – falou ele com um olhar que quebrou meu coração. Ele estava em
desespero.
- eu te
perdoo pai. Te perdoei a meses. Agora eu preciso que você se perdoe. – falei
olhando para ele e limpando minhas lágrimas.
- eu não
acredito que fiz isso – falou meu pai – Mike me perdoa – falou ele começando a
chorar.
- eu te
perdoo pai – falei olhando para ele segurando a mão dele.
Ele não
disse nada e apenas limpava as lágrimas.
- você tem
que me perdoar Mike. Por favor, me perdoa, você sabe que eu não queria fazer
aquilo.
- eu te
perdoo pai, eu te perdoei há muito tempo, só não podia mais guardar isso dentro
de mim.
- eu preciso
que me perdoa – falou meu pai outra vez.
Eu olhei
para Jeffrey.
- Mike será
que poderia me deixar conversando com seu pai á sós.
- claro –
falei me levantando. – por favor, pai, não surte – falei dando um beijo no
rosto dele. Eu me sentia leve e livre.
Sai da sala
e fui para a recepção e me sentei olhando a TV. As horas passaram e logo já era
18:00. A recepcionista arrumou o local de trabalho e se despediu de mim.
Decidi me
deitar. Peguei minha mochila e fiz um travesseiro em cima dos bancos que eram
macios e me deitei. Estava cansado de ficar sentado e quando deitei me senti
melhor. Eu então comecei a cochilar e antes que percebesse eu peguei no sono.
- Mike?
Mike? – falou uma voz me acordando.
- oi? –
falei acordando assustado. – era Jeffrey e meu pai.
- vamos
embora filho – falou meu pai.
- já? –
falei isso olhando para o relógio – era 22h36min – nossa está tarde.
- sim –
falou meu pai.
- você está
bem pai?
- estou sim
– falou meu pai me dando um abraço forte.
- eu te
perdoo pai.
- eu sei –
falou ele.
- me promete
que não vai fazer nada para se machucar.
- prometo –
falou meu pai.
- vou ver
seu pai pelo menos uma vez por semana – falou Jeffrey – ele concordou.
- que bom –
falei. – e eu?
- não
precisa vir aqui por esse motivo, você teve meses para se curar dessa feria e
eu acredito que esteja curado.
- tudo bem –
falei.
Logo nós nos
despedimos de Jeffrey e entramos no carro. Nós fomos conversando normalmente.
Eu estava tranquilo. Tinha sido a horas de conversa e parece que meu pai tinha
aceitado bem a noticia. Menos mal. Eu estava tão cansado que deitei a cabeça um
pouco para trás e antes que pensasse em outra coisa adormeci no banco do
carona.
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