Capítulo 10: Um Erro Honesto | Verão Em Vermont

Capítulo Dez

UM ERRO HONESTO

T

enho essa lembrança em minha mente, mas não lembro muito bem quantos anos eu tinha na época. Eu me lembro que costumava ter um elefante azul de pelúcia ao qual eu carregava para todos os lugares. Eu sempre tentei me lembrar desse pequeno elefante. Quem me deu? Ou onde ele foi parar? Eu só tenho essa lembrança, mas nunca o vi.

Já procurei inúmeras vezes no sótão, mas nunca encontrei nenhum vestígio desse elefante. O engraçado sobre as memórias é que elas nunca são claras ou tem um começo meio e fim, mas a verdade é que as memórias são nossa máquina do tempo. Com elas viajamos para o passado.

O engraçado é que acabei esquecendo partes importantes de minha vida, partes boas, mas essa lembrança me persegue desde que me entendo por gente. Já perguntei a minha mãe certa vez sobre esse elefante de pelúcia, mas ela diz não se lembrar de tal coisa. Ela nem se lembra de eu ter tido um brinquedo de pelúcia.

Já era triste o suficiente ter que contar a Tobias que seu amado esposo estava traindo-o. minha mãe ter aparecido toda machucada não ajudou a dar a noticia.

- vocês precisam ser corajosos – falou Tobias.

- exato. Vocês não podem se intimidar. Ele precisa ser preso, precisa pagar por seus crimes. Eu tenho um amigo que é um excelente advogado, tenho certeza que ele vai se interessar no caso de vocês.

- eu não tenho certeza se quero denunciar David.

- eu também não tinha mãe, mas é preciso.

- será que eu posso conversar com meu filho em particular.

- mas é claro – falou Amy.

Ela e Tobias saíram da sala e nos deixaram a sós.

- o que foi mãe? Porque não quer denunciar meu pai? Tem medo dele?

- você precisa volta para casa Oliver.

- o que? Eu nunca mais vou voltar lá.

- eu tenho medo do que ele pode me fazer em seguida.

- não precisa viver com medo. Acha que também não tenho medo de denunciá-lo? Eu tenho, mas vou fazer isso pela senhora.

- quer fazer algo por mim? Volte para casa – falou ela segurando em meus braços.

Por alguns instantes eu fiquei olhando para ela e foi então que minha ficha caiu.

- o meu pai sabe que está aqui?

- não, claro que não.

- sim, ele sabe.

- porque está dizendo isso filho? É claro que ele não sabe.

- ele bateu na senhora e depois mandou você vir aqui, ele acha que vou voltar.

- não é isso filho é que…

- cansei de ser manipulado mãe. Não vou cair nessa.

- ele vai me bater de novo se você não voltar.

- você não precisa voltar mãe – falei gritando – você vai voltar porque quer. Eu sofri muito nessa vida e muitas vezes eu não tive escolha. Agora eu tenho. Eu não vou voltar lá. Se a senhora e Jake ainda estão lá é porque querem. Se vocês preferem obedecê-lo, se vocês preferem ser humilhados por ele, tudo bem, mas não venha aqui tentando me manipular com essa pose de esposa que apanhou do marido. Se você fosse mesmo uma mãe você não me pediria para voltar lá, porque você sabe o que ele fez comigo. Sabe o que ele fez com Jake e mesmo assim preferiu ficar calada e quieta como um cachorrinho.

- por favor Oliver…

- você sempre soube das coisas que ele fez a mim e a Jake. Eu perdoo você pro isso, mas não vou te perdoar por vir me chantagear e pedir para mim voltar.

- me deixa…

- vai embora daqui.

- mas…

- vai embora daqui – falei apontando para a porta. Estava muito nervoso. Minha mãe olhou para mim e em seguida se virou e saiu do apartamento.

- está tudo bem aqui? – perguntou Tobias vindo até a sala. Eu estava chorando. Fazia tempo que não chorava. Estava nervoso e estressado com tudo o que estava acontecendo e agora meu pai tinha batido em minha mãe a qual eu tinha acabado de expulsar de casa. Eu quase cai tentando colocar a mão no meu rosto, mas Tobias se aproximou rápido e me abraçou por trás.

- eu não quero chorar – falei apertando os lábios.

- chore. Não tem problema em chorar – falou ele passando os braços por mim e me apertando forte.

- não sei mais o que fazer – falei chorando – eu não quero voltar lá, mas também não quero vê-los sofrer. Eles não tem a mesa força de vontade que eu tive.

Tobias não disse nada e apenas continuou abraçado comigo.

- tudo vai melhorar Oliver.

- talvez seja melhor eu voltar.

- não vou deixar você fazer isso. Não se atreva a votar atrás.

- o que eu vou fazer? Enquanto estou aqui ele pode estar lá machucando eles.

- vamos pensar neles depois. Pense em você.

Eu comecei a respirar fundo tentando me acalmar e parei de chorar.

- está melhor? – perguntou Tobias ainda junto de mim.

- estou – falei olhando para trás.

Ele continuou abraço comigo por alguns segundos e então afrouxou os braços e levou sua mão direita até meu rosto e se aproximou me dando um selo. Fechei os olhos sentindo seus lábios juntos ao meu. Ele me olhou por alguns segundos e nossos rostos ficaram a centímetros de distância.

Tudo o que precisávamos era da permissão. Nossos corpos sabiam o que queriam e só esperavam um simples gesto ou movimento para continuar. Antes que eu pudesse tomar minha decisão baseado no que sabia sobre Harold, Tobias se aproximou e enfiou a língua em minha boca. Levei minha mão até seu rosto e deixei lá enquanto nos beijávamos. Sentir o sabor de sua boca era como comer chocolate. Era como entrar pelos portões do paraíso.

Nós nem percebemos que Amy havia chegado ate a sala. Eu não me importei e Tobias também não se importou.

- o que vamos fazer – falou Amy atrapalhando.

Tobias parou de me beijar e olhou para mim. Eu não sabia o que sua expressão queria dizer, mas ele provavelmente estava arrependido. Se ele soubesse o que Harold anda fazendo com ele, talvez sua expressão fosse outra.

- me desculpa – falou Tobias me soltando e se afastando gentilmente.

- eu não sei – falou Tobias limpando a garganta e passando os dedos nos lábios para limpar a baba.

Não conseguia mais pensar em nada. O beijo de Tobias tinha sido muito diferente do que Frank. Não tinha feito efeito só nos lábios, eu estava me sentindo diferente. Os braços de Tobias envolto em mim me fizeram adormecer e ir para outra dimensão.

- Oliver, o que você quer fazer? – perguntou Amy para mim. Eu sabia aquela não estava se referindo a minha mãe e sim a Harold e Frank. Ela queria que eu contasse o que estava acontecendo, mas eu não podia simplesmente contar. Nós tínhamos acabado de nos beijar.

Eu sinalizei negativamente com a cabeça.

- você precisa contar – falou Amy.

- contar o que? – perguntou Tobias.

- é. – falei hesitando.

- vocês estão me deixando nervoso – falou Tobias.

- não é nada é que…

Antes que pudesse abrir minha boca Harold entrou pela porta.

- boa noite – falou ele olhando para Tobias e indo até ele para um beijo –Oi Amy – falou ele olhando para a Amy e depois olhou para mim – tudo bem com você Oliver? Parece que você andou chorando.

- um pouco – falei tentando me recompor.

- o que está acontecendo?

- Oliver estava prestes a contar algo que viu hoje – falou Amy.

Eu realmente não estava confortável com aquela situação. Queria dizer a verdade, mas não achava certo.

- diz Oliver – falou Amy.

- tudo bem. Pode me dizer – falou Tobias.

- eu vi… - senti uma forte dor de estômago. Estava muito nervoso – eu vi Harold e Frank se beijando.

Eu vi a expressão que Harold fez quando eu disse aquilo.

- o que? Harold e Frank? – perguntou Tobias rindo. Ele realmente achou graça do que tinha dito – você deve estar enganado.

- eu vi hoje. Depois que você foi para o trabalho. eles pensaram que eu tinha saído. Harold e Frank discutiam e então Frank empurrou Harold na parede e eles se beijaram.

- isso é mentira. Eu não voltei aqui. Eu estava no trabalho – falou Harold nervoso.

- porque Oliver mentiria? – falou Amy.

- não se intrometa – Harold falou agressivo a Amy.

- se acalma Harold, eu sei o que está acontecendo – falou Tobias se aproximando de mim.

Fiquei parado enquanto ele se aproximava.

- eu sei que você sofreu muito Oliver e eu te ajudei em um momento em que precisou de mim e ter te beijado hoje deve ter te deixado confuso. Eu não devia estar alimentando esse sentimento que tem por mim. Não precisa inventar mentiras. Eu te entendo e não estou com raiva de você – falou Tobias colocando a mão no meu ombro.

- eu não estou mentindo – falei dando um passo para trás. Eu odiava ser chamado de mentiroso – os dois se beijaram na frente do espelho. Frank ainda disse que iria se aproximar de mim apenas para ficar mais perto de Harold.

- você precisa entender que está fazendo uma acusação muito séria.

- eu acredito no Oliver – falou Amy se aproximando de nós – ele não motivos para mentir.

- você me conhece a tanto tempo e prefere acreditar nesse bastardo…

- Harold – falou Tobias olhando para trás.

- foi disso que Frank me chamou – falei olhando para Harold – ele disse que podia usar o “bastardo” para se aproximar de dele.

- quer saber? Não vou ficar aqui sendo acusado de algo que não fiz – falou Harold indo em direção a porta.

- espera – falou Tobias nervoso – por favor Oliver não invente mentiras. Eu sei que você sofreu, mas não tem o direito de brincar com a vida das pessoas. Você está falando da minha vida, do meu esposo. Você está brincando com meu casamento. Você está pedindo que eu acredite que o homem ao qual eu divido minha vida nos últimos anos é um traidor.

- eu não estou mentido.

- sim, você está – falou Tobias nervoso – não é porque você teve uma vida miserável, triste e insignificante que significa que as outras pessoas devam ter.

- Tobias! – gritou Amy – já chega. Ele já sofreu o suficiente.

Tobias mudou sua feição e deu um passo em minha direção.

- me desculpa Oliver não queria ter dito isso.

- tudo bem – falei me afastando usando as muletas. Eu estava muito ferido pelo o que ele disse. – me ajude a sair daqui – falei para Amy – vou voltar para a casa do meu pai. Não devia ter saído de lá.

- você não vai voltar pra lá – falou Amy tentando me acalmar.

- eu não vou ficar aqui – falei tentando andar e desviar dela. Meus braços tremiam.

- se acalma Oliver – falou Tobias se aproximando de mim.

- sai de perto de mim – falei tentando dar um passo mais largo do que conseguia. Eu escorreguei e soltei as muletas caindo no chão e batendo a cabeça na ponta da mesa. Foi o bastante para me fazer desmaiar.

Enquanto estava desmaiado mais uma vez o elefante de pelúcia veio a minha mente. Algumas vezes ele era azul e outras era rosa, mas o mais importante é que ele estava lá no chão. Quando era criança eu brincava com ele.

- onde diabos esta esse elefante?

Foi o que me perguntei antes que o sonho acabasse.