UMA MÃO, UM CORAÇÃO capítulo vinte e seis
A
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penas quase um mês e meio depois
da noticia ter sido publicada pelo jornal onde Jerry trabalha foi que eu tive
coragem de viajar a San Diego para conversar com Xavier. Tive vergonha por
Adam. Por dois meses eu não tive coragem de sair de casa e aparecer em público
porque tive vergonha do que ele fez. Tinha medo de que as pessoas me dessem uma
surra na rua porque eles pensassem que eu fizesse parte disso. Roger viajou
comigo de volta á San Diego porque eu precisava conversar com Xavier. É claro
que eu não contei a Roger do que se tratava e ele não se ficou me perguntando.
Precisava
saber de toda essa história e foi o que ele fez. Estávamos em sua sala e ele me
contou tudo o que sabia sobre o que aconteceu naquela noite que Adam quase
matou um garoto.
Ele
me mostrou fotos do garoto praticamente deformado. Fotos tiradas no hospital
onde ele ficou durante um mês pelo o que me disse Xavier. Era difícil de acreditar
no que ele dizia depois de ter descoberto algo tão terrível.
- Por favor,
pare – falei me levantando.
- você está
bem Mike? – perguntou Xavier guardando as fotos que foram tiradas de Anthony no
hospital.
- não quero
mais ver essas fotos.
- você está
bem? Quer um copo d’água?
- Porque
Adam faria isso? Ele quase o matou de tanto bater.
- você mais
do que ninguém deve saber o quanto meu irmão era confuso com os sentimentos
Mike. Mesmo depois de casado com você ele ainda era confuso.
- sim, eu
sei é só que… eu passei a vida toda odiando pessoas como ele. Homofóbicos que
espancam gays e lésbicas. Passei três anos envolvido romanticamente com um.
- não fiquei
com raiva do meu irmão Mike – falou Xavier – todos nós cometemos erros.
- sim, deus
sabe que sou a pessoa que mais cometeu erros nessa vida, mas eu nunca tive
intenção de machucar ninguém e todas as vezes que errei fui eu quem saiu
ferido.
- não odeie
meu irmão. Eu sei que você o ama.
- não se
atreva a tentar adivinhar como me sinto em relação á Adam.
- o que
posso fazer por você? Não quero que odeie Adam e não quero que odeie a mim.
- Quero que
você me responda a verdade Xavier – falei olhando para ele.
- o que você
quer saber? – falou Xavier.
- isso
aconteceu meses antes de eu ser convidado a ser assistente de Adam. Eu sempre
me perguntei porque eu nunca fiz uma entrevista de verdade e eu também sempre
me perguntei porque Adam disse que eu “era o garoto certo”, mas agora eu sei a
resposta, mas eu preciso que você me diga.
Xavier ficou
de pé e olhou para mim. nós estávamos na sala no mesmo prédio onde me apaixonei
por Adam.
- o que você
quer saber? – perguntou Xavier.
- isso
aconteceu meses antes de eu me tornar assistente de Adam. E quando ele disse
que eu era o garoto certo é porque ele sabia que eu era gay. Ele sempre soube.
Você sempre soube.
- sim. Adam
e eu sempre soubemos.
- adam foi a
julgamento por isso?
- sim, ele
foi. Nós conseguimos um acordo de sigilo e tudo ocorreu em segredo.
- Adam saiu
impune?
- não. Ele
concordou doar dinheiro á organizações da comunidade LGBT.
- ele devia
ter sido preso pelo o que fez, mas não foi então eu acho que sei o porque.
- Mike, por
favor – falou Xavier.
- quando foi
a audiência de Adam?
- Mike… -
falou ele não querendo me dizer.
- me diga
Xavier. Você me deve isso.
- OK – falou
Xavier respirando fundo – nós conseguimos adiar ás audiências em meses, quase
um ano depois. Porque Adam não podia ir preso e a única forma era mostrar que
Adam estava bêbado e que agiu sob influência da bebida pra isso nós
precisávamos mostrar que ele não era homofóbico…
- …então
vocês contrataram um assistente pessoal gay para ele.
- sim. A
Audiência foi um mês depois de termos contratado você. Nós mentimos e
falsificamos documentos mostrando que você era assistente de Adam a mais de
dois anos e não á apenas um mês. Os documentos foram tão convincentes que você
não foi chamado para depor especialmente porque Adam se ofereceu a doar
dinheiro.
- então é
isso? eu era simplesmente a obra de caridade de Adam? Eu o ajudei a destruir a
vida de um jovem e ele saiu impune disso? vocês não tinham o direito de me usar
desse jeito.
- Adam se
apaixonou por você. Isso não é mentira. Ele mudou o ponto de vista dele graças
a você. Ele se aceitou graças a você.
- os fins
justificam os meios?
- Adam não
ficou impune. Ele também deu muito dinheiro á família da vítima mesmo a justiça
não ter mandado.
- Claro que
ele ficou impune. Tudo o que a família quer em um momento como esse é ver o
agressor atrás das grades e não o dinheiro dele. Vocês me usaram para livrar
Adam de uma prisão. Vocês mentiram para mim e me usaram. A verdade é que você
adam só se preocupavam com você e Adam. Vocês nunca se preocuparam com ninguém
além de vocês mesmos. Essa empresa sempre foi a número um para Adam. Mesmo
quando estávamos casados a coisa mais importante para Adam era a empresa. Eu
sempre fiquei em segundo lugar e agora percebo que o que ele amava de verdade
era a empresa.
- você não
pode dizer isso. ele te amava.
- sabe, foi
bom ele ter morrido porque eu não conseguiria olhar nos olhos deles depois de
descobrir isso – falei respirando fundo – eu aguentei muita coisa dele e mesmo
assim eu o amei, mas não posso perdoá-lo por isso. eu o odeio por ter me usado
e te odeio por ter me usado também.
- não diga
isso Mike. Você não sabe o que eu fiz por você.
- porque
você se importa comigo?
- Mike, o
conselho da Olympus prometeu cuidar
de você. Sempre. Você era muito importante para Adam e apesar dele não estar
aqui essa empresa é o legado dele e você faz parte desse legado. Você é o
legado de Adam.
- que ótimo
– falei limpando os olhos – sou o legado de um
homem que mentiu para mim toda a vida.
- pare de
tentar fazer isso ser pior do que já é. Adam te amava.
- como você
sabe? Como EU sei? Tudo o que sei é que fui contratado porque sou gay, vocês
mentiram no tribunal, tudo isso para que Adam não fosse preso. Porque vocês não
me demitiram assim que tudo isso acabou? Seria mais fácil para todos nós.
- não sei
mais o que dizer…
- e Rebecca?
Você sabia sobre ela?
- claro que
não e tenho certeza de Adam também não sabia.
- como você
pode afirmar isso com tanta certeza?
- Mike isso
só prova o quão confuso era Adam. Ele tinha dúvida sobre a sexualidade e fez
muito sexo com mulher. Quais a chances dele ter engravidado alguém vinte anos
atrás? Grandes. Você sabe e eu sei disso. Adam não sabia dessa garota. Ela pode
ter descoberto a pouco tempo também, você não falou com ela?
- não. Faz
tempo que não á vejo. A última vez que eu á vi ela me beijou e eu menti a ela
dizendo que não tinha amores em minha vida e foi por isso que não tinha nada na
porcaria do livro que eu escrevi, mas aparentemente ela deve estar confusa
porque se ela veio até mim é porque ela sempre soube sobre Adam e eu.
- você precisa
esquecer tudo isso Mike, não fique fazendo drama por pouca coisa… – falou
Xavier. Notei que ele se arrependeu de dizer isso no segundo em que saiu de sua
boca – não quis dizer isso…
- pouca
coisa? Acabei de descobrir que tudo o que sabia na verdade nunca foi real –
falei saindo da sala de Xavier que me seguiu.
- onde você
vai? – perguntou Xavier.
- quero
conversar com Gray.
- ele está
em reunião com os outros advogados.
- ótimo. Preciso
dos doze advogados dessa empresa juntos – falei entrando na escadaria e Xavier
veio atrás de mim. Ao chegarmos no vigésimo andar vi a recepcionista teclando
algo no computador.
Fui em
direção a porta e ela se levantou assustada.
- com
licença, o senhor não pode entrar ai eles estão em reunião.
- deixa
comigo – falou Xavier segurando meu braço segundos antes de eu abrir a porta.
- me solta
Xavier.
- eu prometo
que nós te explicamos tudo – falou Xavier.
- o que isso
quer dizer? – falei abrindo a porta.
Nesse
momento todos os advogados sentamos a mesa olharam para mim.
- que diabos
é isso – falaram os advogados olhando para mim. O que mais me chamou a atenção
foi o advogado que por muitos anos conheci e pouco soube sobre ele. Adam estava
sentado a mesa com eles.
- isso só
pode ser uma ilusão – falei para Xavier.
- eu devia
ter te contado – falou Xavier.
Nesse
momento Gray se levantou assustado.
- o que está
fazendo aqui? – falou uma advogada – nós estamos em reunião.
- ótimo –
falei olhando para a advogada – eu preciso que vocês me defendam.
- Mike, o que
está fazendo? Perguntou Gray.
- quem é
esse garoto? – perguntou um outro advogado que eu não conhecia.
- esse é
Mike – falou Wilfred.
- “O” Mike?
– perguntou outra advogada.
- sim, acho
que sou “O” Mike.
- O que você
deseja aqui Mike? – perguntou Nathan.
- você
contou á eles sobre o caso Mason? – perguntei para Gray.
- sim –
falou Vincent – Gray nos contou sobre o caso.
- todos
vocês sabem do que se tratam? – perguntei olhando para os advogados na mesa. Entre
eles estava Roman e Nathan.
- sim –
falaram todos.
- ótimo –
falei fechando a porta da sala.
- o que está
fazendo? – perguntou Xavier.
- sente-se
Xavier – falei ainda parado.
Xavier
sentou na cadeira vazia e todos me olharam atentos. Todos os momentos da minha
vida passaram diante dos meus olhos. Tinha muita informação em minha mente
nesse momento, mas eu não conseguia sentir nada. Fiquei dormente para noticias
ruins. Especialmente ao ver Adam sentado á mesa com eles apenas me olhando sem
dizer uma palavra sequer. O que o homem morto estaria fazendo naquela mesa?
-
preparem-se porque vocês nunca vão esquecer esse momento –falei para todos os
advogados á mesa que se entreolharam – e é bom que estejam todos familiarizados
com os dados que Gray passou a todos vocês porque eu tenho uma nova informação que
ninguém sabe, nem mesmo Gray e como meus advogados vocês vão querer saber.
- e que
informação é essa? – perguntou Roman.
- Eu menti. Não
vi quem matou Mason.
- mas você
me disse que foi testemunha? – falou Gray.
- Sim, mas
eu não sou testemunha porque fui eu. Fui eu quem matou Mason e como todos estão
revelando segredos achei que já era hora de todos saberem.
Nesse
momento Adam se levantou e ficou me encarando. Apenas um pensamento veio á mim:
“Como eu queria que você estivesse morto”. A canção que tocava quando nos
casamos tocou em minha cabeça, mas agora ela parecia ser trilha sonora de um
filme de terror.
Desejaria
estar mais surpreso por Adam estar vivo. Não sei porque, mas não sinto nada
agora que estou vendo ele. É difícil sentir algo quando descobri que tudo o que
tivemos foi mentira. Desde o começo. Não sei como ele está aqui na minha frente
levando em consideração que eu juntei seus pedaços na rua á mais de cinco meses
atrás e realmente não me importa nem como e nem porque.
Na noite em
que matei Mason, meu pai me deu banho. Eu estava em choque pelo o que tinha
acontecido. Estava cheio de sangue e mal conseguia e mover e não conseguia
dizer nada. Meu pai me deu banho e enquanto passava a esponja por meu corpo tentando
me limpar ele continuou a repetir.
- você vai
ficar bem, papai não vai deixar você ser preso – falou meu pai tentando me
acalmar. Ele parecia mais paranoico do que eu.
- nunca ninguém
vai saber o que aconteceu. Seja sempre o bom garoto que sempre foi e você vai
ficar bem meu filho.
Bem, agora
eles sabem e eu realmente não me importo com o que eles vão dizer porque o que
fiz eu fiz por um motivo. Era ele ou eu. Fui corajoso o suficiente para fazer o
que foi preciso para sair vivo daquela noite. Todo mundo pode pensar que sou
fraco, chorão e que não valho a pena, mas a verdade é que quando eu precisei eu
fui forte e fiz o que foi preciso e eu faria tudo outra vez.
- nós tomamos decisões em nossas vidas
Mike. Decisões são tomadas e a verdade é que não importa como ele morreu e sim
o tempo que vocês passaram juntos.
- o tempo que nós passamos juntos? –
falei com vontade de rir – OK, você quer eu pense só no tempo que passamos
juntos? Me diga, se eu não estou errado você disse que o pior momento de sua
vida foi quando encontrou seu filho na piscina certo? Sem querer ser rude e
desrespeitoso.
- sim. A pior lembrança que tenho.
- agora, imagine eu recebendo uma
ligação me mandando ir para onde nós trabalhávamos. Quando o recebi a ligação
eu pensei que tinha acontecido algo de ruim é claro, mas nunca imaginei que ele
tinha morrido. Você sabe pra que eles me ligaram?
- não.
- para reconhecer o corpo. O acidente
foi tão feio que eu tive que reconhecer o corpo e sabe porque eu reconheci? Eu
só o reconheci pelo livro. Ele tinha uma cópia autografado do meu livro. O
livro e a carteira dele onde tinha uma foto nossa de quando nos casamos. Eu sei
que o livro era o dele porque eu fiz uma dedicatória personalizada pra ele. Eu estava
brigado com ele na época, mas ele foi a um dos eventos em uma livraria. Um
ônibus a mais de cem quilômetros por hora, deu um defeito no freio bateu nele e
o arrastou por vinte metros até que bateu em um muro. Houve dezenove feridos
dentro do ônibus, cinco feridos do lado de fora e três pessoas mortas. Toda vez
que eu fecho os olhos eu o vejo despedaçado no chão como se fosse lixo.
- sinto muito mesmo. Deve ter sio uma
coisa muito… Deve ter sido triste.
- triste? Imagine olhar para os
pedaços de três corpos espalhados no chão e você ter que ajudar a policia a
identificar qual perna é a do seu marido e qual perna é a de outra vitima. Fui
eu. Eu tive que identificá-lo porque os filhos são pequenos e a ex-esposa
estava em viagem. Os irmãos me pediram para identificar porque eles não
aguentavam nem imaginar. Eles me disseram que não queriam ver Adam do jeito que
eu vi. Eu disse sim sem pensar duas vezes. Meu pai não queria, mas eu tive que
fazê-lo. Fiz porque eu ainda o amava. Eu nem era mais casado com ele, mas fui
eu quem passou pelos estágios do luto enquanto os irmãos estavam consolando a
mãe que tem problemas de saúde.
- será que vocês podem nos deixar
a sós? – falou Adam de pé me encarando. Ele usou o mesmo tom autoritário que
ele tinha. Tanto para falar com os amigos, funcionários ou comigo.
Todos se
levantaram e saíram da sala. Um advogado de cada vez. O barulho dos passos
deles saindo, dos livros e papéis sendo recolhidos. Nada fazia sentido naquele
momento.
Assim que a
porta foi fechada ela fez um barulho que ecoou pela sala silenciosa. Adam
continuou de pá, parado me encarando. Nos olhamos por vários minutos. Nada era
dito, nenhum movimento era feito. Apenas nós dois em uma sala. Tão pertos e tão
distantes aos mesmo tempo.
Em passos
pequenos me aproximei dele. Fiquei á um metro de distância dele sem saber o que
dizer, sem saber como me sentir em relação a tudo isso. Lambi meus lábios que
estavam secos e respirei fundo com toda a informação que agora inundava minha
mente.
Adam se
atreveu a vir em minha direção ele moveu seu corpo para perto do meu o
suficiente para que eu sentisse o cheiro de seu perfume. Eu tinha raiva, tinha
perguntas, mas nada mais fazia sentido em minha mente. Adam colocou uma mão no
meu ombro e me abraçou. abracei-o forte e temo que não vou conseguir larga-lo.
Como eu odeio esse homem. Depois de tudo o que descobri aqui estou eu. Fechei
os e continuei abraçado com ele. Ouvi que alguém abriu a porta da sala e
fechou, mas não liguei para isso. Continuamos abraçados por alguns segundos até
que Adam me soltou e segurou meus dois ombros me olhando de longe.
- isso é pro
seu próprio bem – falou Adam.
- o que? –
perguntei confuso. Nesse momento alguém me abraçou por trás e colocou um pano
no meu nariz. Senti um cheiro forte e quando mais eu tentava me soltar, mais eu
respirava e mais fraco eu me sentia. Tinha certeza de que era Clorofórmio.
Adam se
aproximou de mim aparentemente tentando me acalmar e eu o empurrei batendo os
braços por todos os lados. Em um certo momento fiquei tão fraco que Adam pegou
minha mão e colocou em seu rosto. Senti sua barba espetando minha mão e aquilo
me mostrou que o que acontecia era real. Tocá-lo me fez perceber que não era
sonho, não estava alucinando. Essa sensação não durou muito tempo porque fiquei
fraco e finalmente desmaiei nos braços de quem me abraçou por trás. Adam então
segurou em meus braços e cuidadosamente me colocou deitado no chão.
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