NÃO QUER ESTRAGAR A FESTA capítulo
quatro
P
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assou-se
uma semana desde que Xavier e eu tínhamos nos entendido. A noite que passamos
juntos foi embaraçosa e não trouxe nada de construtivo para nosso
relacionamento já que nenhum de nós via o outro da maneira que nos tratamos
naquele dia. Sei que faz parte do luto. Já tentei me matar, bebi demais e até
fiz sexo inapropriado em hora inapropriada e com a pessoa errada. Qual será a
próxima fase desse luto? Faz duas semanas que deixei de ir a essas reuniões e
ainda sinto falta dele.
Era
fim de semana. Sábado de tarde. Depois de uma noite de trabalho eu dormi até
mais ou menos ás cinco da tarde e foi quando acordei. Tomei um banho e desci as
escadas.
Meu
pai e Vanessa conversavam na cozinha. Eles cochichavam. Quando cheguei eles
pararam de conversar e disfarçaram.
-
boa tarde pra vocês – falei fingindo que não tinha visto eles cochicharem.
-
boa tarde meu filho, dormiu bem? – perguntou meu pai.
-
dormi sim.
-
você vai trabalhar hoje?
-
na escala desse mês minha folga é no sábado. graças á deus.
-
Vanessa e eu vamos a uma festa de confraternização da empresa dela. Você quer
vir?
-
confraternização da ‘Olympus Advocacy’?
-
sim. Sera em uma chácara. Será legal, lá tem várias piscinas, lugar para
dormir… será divertido.
-
vocês agora fazem confraternização por nada?
-
sim. A cada três meses mais ou menos fazemos uma confraternização.
-
você vai conosco? – perguntou meu pai.
-
eu não sei. Estou tão cansado.
-
vamos, vai ser divertido – falou Vanessa.
-
tudo bem. eu vou.
-
nós vamos sair ás oito – falou meu pai.
-
vão levar a minha irmã?
- vamos sim.
-
ás oito estarei pronto.
Concordei
me ir a festa não porque estava animado, mas para que eles sintam que posso
socializar quando quiser. Voltei para meu quarto e quando o relógio marcou oito
horas eu desci ás escadas pronto, com uma mochila nas costas.
-
onde você vai com essa mochila? – perguntou Vanessa – você não larga ela pra
nada?
-
nós não vamos passar a noite lá? Eu preciso dos meus antidepressivos, escova de
dentes…
-
acho que você deve parar com esses remédios – falou meu pai com minha irmã nos
braços.
-
mas foi o psiquiatra que receitou. O senhor insistiu tanto para que eu fosse e
agora que estou tomando você quer que eu pare?
-
primeiro que eu não sou “você”, me respeita e me chama de ‘senhor’ e segundo
que parece não adiantar nada você passa o dia todo na porra daquele quarto.
-
Ok, falei pegando o frasco do remédio abrindo e jogando todo ele nas escadas –
o ‘senhor’ está satisfeito?
-
você está dentro da minha casa, você tem que me respeitar.
-
acho que antes de pedir respeito você tem que merecer. você não me respeita a
muito tempo e tudo o que faz é brigar comigo. Aconteceu algo? Eu não te
reconheço mais.
-
Eu é que não te reconheço mais. você é esse garoto paquiderme que vive tomando
remédios. Vira homens, sai desse quarto, vai viver a vida e pare de ficar
lamentando o passado. Deixa de ser uma bixinha chorona.
Nesse
momento todos ficaram em silêncio.
-
parabéns senhor Larry Fabray, conseguiu tirar minha vontade de sair – falei
subindo as escadas.
-
vai voltar pro quarto?
-
quer saber? – falei me virando – Você não vai conseguir me fazer chorar ou
voltar pedindo perdão porque eu não me importo. Você não é meu pai a muito
tempo. Quer dizer, você nunca foi meu pai. Onde está aquele homem que disse que
me ajudaria a esconder um corpo se eu pedisse?
-
quero você fora da minha casa.
-
eu não vou sair dessa casa.
-
como é que é?
-
você acha que vai me xingar, me tratar mal e vai me fazer sair daqui? Primeiro
que Você não teria essa casa se não fosse por mim lembra? Eu consegui o
dinheiro para pagar aquele agiota. Acho melhor você ir pra sua festinha e me
deixar em paz porque você pode me chamar de bicha, viado e chorão quantas vezes
quiser porque dessa casa eu não saio.
Voltei
para meu quarto e fiquei lá trancado até o momento em que ouvi o carro deles
saindo da garagem.
Não
entendo porque meu pai me trata dessa forma. Ele nunca foi esse tipo de homem.
Ele nunca foi homofóbico ou idiota comigo antes. Ele cochicha com Vanessa. Um
dia implora por um abraço e um beijo e no outro ele me xinga e me quer fora de
casa. Não se espante. Isso acontece com frequência desde que voltei a morar com
ele. Eu sei que tenho dinheiro para viver fora, mas eu quero ficar lá. Essa
casa era da minha mãe e eu paguei por ela quando meu pai não tinha nada. Eu só
vou sair de lá quando eu quiser.
Como
meu pai e Vanessa só voltavam no dia seguinte a noite, eu decidi programar a
noite. Liguei a televisão do meu quarto e coloquei em um canal de filmes.
Precisava comprar algo para comer e decidi ir ao supermercado comprar algo para
comer e beber.
Aproveitei
a roupa que eu estava e chamei um taxi que me levou ao Carrefour mais próximo.
Ficava perto do aeroporto.
Ao
chegar lá comprei várias baboseiras. A maioria delas eu quase não comia porque
não era muito fã, mas decidi comprar assim mesmo. Dois sabores de sorvete,
chocolate, refrigerante e todo o tipo de baboseiras que você possa pensar.
Comprei também pizza e lasanha congeladas para o jantar de hoje e o almoço de
amanhã.
Fui
para o caixa pagar as comprar e além da pessoa sendo atendida tinha um homem na
minha frente. Aguardei alguns minutos até que finalmente foi minha vez.
Ao
chegar em casa guardei tudo o que comprei de comida na geladeira, mas algumas
coisas que eu tinha comprado pra mim guardei no meu quarto. Entrei no banheiro
para tomar um banho novamente e a campainha tocou.
Desci
as escadas e fui atender direto sem falar pelo interfone e quando abri a o
portão eu levei um susto e uma bela surpresa. Era meu tio Roger.
-
tio Roger? – perguntei surpreso.
-
e ai moleque? – falou meu tio me dando um abraço na porta mesmo.
- o que está fazendo aqui tio?
-
vim visitar meu sobrinho preferido – falou ele me soltando e entrando. Ele
tinha uma mochila nas costas.
-
que surpresa – falei fechando o portão e entrando junto com ele.
-
onde está o Larry bundão e a Vanessa?
-
eles não estão em casa.
-
sério? Onde foram?
-
estão em uma festa de confraternização.
-
sério? Porque você não foi?
-
eu ando muito cansado e decidi fazer uma festa aqui mesmo. Vou assistir a uns
filmes, comer bastante e ouvir música bem alta.
-
parece que eu cheguei na hora certa então?
-
parece que sim.
-
ótimo – falou ele jogando a mochila em cima do sofá.
-
onde está meu primo Leo?
-
ficou lá em casa com a esposa e o filho.
-
como estão o bebê deles?
-
estão ótimos. Ele disse que até hoje espera a sua visita. Você nunca mais foi
lá desde a primeira vez. Você não gostou de lá? O titio estava com saudade de
você?
-
eu não tenho desculpas pra isso tio. Eu realmente prometi que voltaria e nunca
voltei.
-
quando eu for embora você vai comigo.
-
agora não posso tio porque estou trabalhando, mas posso ir em um fim de semana.
-
não importa. Desde que você vá.
-
vamos marcar.
-
e então? Vamos começar essa festa ou não?
-
eu não comprei bebida alcoólica porque estou evitando ao máximo, mas tenho
certeza de que na geladeira tem algumas. Meu pai gosta de beber nos fins de semana
e toda sexta-feira ele compra.
-
não precisa falar outra vez – falou meu pai pegando uma lata na geladeira
abrindo e tomando um gole.
-
essa festa é meio caída, tudo o que vou fazer é assistir filmes.
-
não tem problema, vou assistir com você.
-
tudo bem então – falei pegando uma lata de refrigerante abrindo e tomando um
gole. Era bom ter companhia. A companhia de uma pessoa que não me xingava de
bicha e que gostava de mim. atualmente o único parente que realmente gosta de
mim.
Depois
que meu tio pegou uma cerveja e eu peguei uma lata de refrigerante nós subimos
para meu quarto para assistirmos a um filme. Meu tio era um cara legal e
espontâneo. Gostava de estar por perto dele porque ele era sempre alegria.
Quando Adam se foi ele me apoiou bastante. Ele me apoiou quando descobri meu
verdadeiro pai biológico e me apoiou todas as vezes mesmo quando eu estava
errado.
Meu tio e eu entramos no meu quarto
e nos sentamos na cama escorados na cabeceira da cama. Tiramos os calçados e eu
liguei o ar-condicionado.
- o senhor gosta de qual gênero de
filme tio?
-
qualquer gênero campeão. Eu só quero passar um tempo com você – falou ele me
puxando e dando um beijo no meu rosto.
-
OK – falei envergonhado.
-
o que foi? Não pode levar um beijo do tio não? Tá com tesão no tio? – perguntou
ele levando a mão no meio das minhas pernas pra sentir.
-
para com isso tio – falei tentando
desviar.
-
o que foi então? Só o pai pode beijar você?
-
meu pai e eu não estamos mais tão próximos.
-
garoto você e seu pai estão brigando de novo?
-
bom, seu irmão me chamou de ‘bichinha chorona’.
-
mentira Mike. Meu irmão não diria isso.
-
quer saber? Esquece.
-
espera Mike. Ele falou isso mesmo de você?
-
falou. Hoje. Foi por isso que eu desisti de ir na tal festa.
-
puta merda, meu irmão é um otário mesmo. Porque ele te chamou disso?
-
eu não sei tio. Ele tem me tratado bem um dia e no outro me trata mal. Eu não
entendo muito bem o que vem se passando com ele, mas eu desisti de tentar
conquista-lo desde o dia em que ele falou aquelas coisas pra mim.
-
já disse que você é meu sobrinho preferido?
-
umas vinte vezes.
-
eu vou continuar repetindo, OK? Saiba que o tio te ama mesmo você gostando de
‘morder o lençol’.
-
que isso tio – falei rindo – o senhor inventa cada coisa.
-
Larry é um otário mesmo Mike. Sabe porque eu vim aqui passar um tempo com você?
Porque eu estou tão sozinho naquela casa. Leo se casou e eu não estou
namorando. Sinto falta de passar um tempo com meu garoto que agora é um homem
feito e com família.
-
o senhor veio mesmo até aqui só pra passar um tempo comigo?
-
Com o Larry que não é. Ainda mais depois de descobrir que ele vem te tratando
dessa forma. Eu vou ter uma conversa com ele.
-
não tio, não fala nada. Eu só estou aguentando por aqui por um tempo, eu ainda
estou pensando se vou me mudar, ou, sei lá… não fala nada com ele. Eu não
preciso dele mais. Se ele quer me tratar dessa forma, tudo bem.
-
se você prefere que eu não diga nada eu te respeito.
-
obrigado.
-
seu pai volta que dia?
-
amanhã de tarde ou noite. Eles alugaram uma chácara.
-
que ótimo campeão.
-
porque, ótimo?
-
eu estava pensando em uma coisa.
-
que coisa?
-
você precisa se divertir.
-
como assim?
-
eu sei como é perder alguém amado Mike, eu sei que você não está se divertindo
ultimamente.
-
eu realmente não estou. Fico mais tempo em casa.
-
pois é, eu quero que você se divirta hoje.
-
como assim?
-
vamos entrar na internet e procurar um garoto de programa pra você.
-
que isso, deixa de bobeira.
-
não precisa ter vergonha. Se você gostasse de mulher, eu arranjaria uma
prostituta pra você se divertir, não é porque você gosta de homem que vou te
tratar diferente.
-
eu não gosto dessas coisas.
-
eu sei que você é todo certinho Mike, mas você precisa se divertir um pouco.
Sair da zona de conforto, voltar as origens.
-
eu não vou voltar as origens porque eu nunca fiquei com garoto de programa.
-
sério?
-
sério. Todo sexo que arranjo não precisa ser pago.
-
pois então? Pague por sexo. Não tem problema, é uma experiência diferente.
-
o senhor está com a mente poluída, mas obrigado. Significa muito pra mim saber
que o senhor faria isso por mim.
-
eu só não faria como vou fazer – falou ele se levantando da cama – vamos
pesquisar na internet.
-
não tio, estou falando sério.
-
OK, mas você precisa se divertir do mesmo jeito. Liga pra alguém que você goste
de ‘passar um tempo’ e veja se ele está disponível essa noite.
-
ligar para meus ex-namorados e ficantes? Sem chance.
-
porque? Qual o problema?
- eu não vou ficar ligando pros contatos na agenda pedindo
sexo.
- tem certeza? O tio só quer que você se divirta.
- eu estou bem tio.
- você que sabe – falou meu tio abrindo a porta do quarto –
vou lá pegar outra cerveja.
- pega um refrigerante pra mim.
- pra já campeão.
Meu tio desceu as escadas e ao voltar, nós continuamos a
assistir o filme sentados, escorados na cabeceira.
Comecei a pensar no que meu tio tinha dito e ele estava
certo. Eu precisava me divertir. Eu precisava, mas realmente não queria.
- obrigado viu tio.
- pelo o que? – perguntou ele olhando pra mim.
- por se importar. O senhor é uma das poucas pessoas que se
importam comigo ultimamente.
- eu gosto muito de você campeão. Espero que não tenha
ficado chateado pelo papo que tivemos. eu realmente contrataria um garoto de
programa pra te fazer feliz.
- um garoto de
programa não me faria feliz. Talvez por algumas horas, mas a felicidade
passaria tio, mas obrigado mesmo assim. Significa muito saber que em todos
esses anos o senhor mantém a palavra quando disse que gay ou não, eu ainda era
o seu sobrinho preferido.
- você sabe que sou uma pessoa transparente igual a água. Eu
falo o que tiver que falar. Eu não tenho essa de florear o que digo me
preocupando com os sentimentos das pessoas. Se eu digo que te amo é porque te
amo.
- pena que meu pai não tem esse lado. Ele só
tenta me afastar cada vez mais. Um dia ele tenta me puxar no outro ele me
afasta duplamente.
- porque você não se muda?
-
eu quero, mas eu sou cabeça duro tio. Eu não vou sair de casa porque estou
sendo tratado mal. Essa casa era da minha mãe. Eu também. Eu só saio daqui
quando eu tiver um bom motivo para não voltar.
-
eu tenho certeza que em breve você terá um motivo para não voltar. Seu pai te
trata mal agora, mas um dia ele vai voltar rastejando pedindo perdão pra você.
-
o senhor já falou coisas horríveis assim pro Leo?
-
claro que já. Todos nós temos acesso de raiva, mas sempre que fazia isso eu
pedia perdão pra ele e eu nunca fazia de novo. Pelo o que parece seu pai
continua fazendo errado e pede perdão toda vez.
-
verdade. Eu cansei de perdoá-lo tio. Ele é muito sem educação. Um dia ele diz
que quer um beijo um abraço no outro me xinga de bicha, pede respeita e me
manda sair de casa. Eu não entendo.
-
é a vida. Você já fez sua parte. Você viveu aqui com ele, você perdoou todas as
coisas que ele fez com você e ele continua errando. Você está limpo, se ele
quer errar o problema dele.
-
perdoei mesmo. Ele já fez cada coisa que eu já perdoei;
-
o único erro que você cometeu foi não ter me visitado mais.
-
eu prometo que na primeira chance que tiver eu vou visita-lo tio.
-
espero que sim.
-
o senhor vai ficar até que dia?
-
ia ficar pelo menos uma semana, mas depois do que me contou eu vou embora antes
de seu pai voltar.
-
não faz isso. Vocês são irmãos.
-
eu vou, porque se eu vê-lo eu vou quebrar a cara dele.
-
então é melhor ir mesmo – falei brincando.
-
estou com fome – falou meu tio.
Nós
descemos as escadas para comer algo e enquanto isso pensei no que meu tio tinha
dito: “eu tenho certeza que em breve você
terá um motivo para não voltar”. Espero que ele esteja certo. Desde que
Adam se foi que eu espero um motivo para tentar viver minha vida.
-
o que leva uma pessoa a estregar uma família como a nossa tio? Meu pai estragou
a família que ele tinha. Nosso relacionamento era forte e agora acabou –
perguntei enquanto comíamos uma pizza na cozinha.
-
eu não sei Mike. Eu acho meu irmão estranho esses últimos meses. Ele nunca foi
assim, sabe teve um dia que eu pensei que… deixa pra lá.
-
o que foi tio?
-
não é nada campeão.
-
pode dizer tio.
-
é melhor não Mike.
-
Agora o senhor fala. Se não vou ficar curioso.
-
não é nada de mais, mas você sabe que quando o homem muda dessa forma sempre
tem uma mulher por trás. Ou outro homem no seu caso… deixa eu reformular –
falou meu tio tentando concertar.
-
não precisa eu entendi – falei pensando – o senhor tá dizendo que a Vanessa
mudou meu pai?
-
eu não disse que ela mudou, eu só pensei nisso…
-
eu não acredito tio. Vanessa é muito legal e ela me ajudou em muitas ocasiões.
-
eu sei, eu não estou dizendo que ela não é legal. Estou dizendo que talvez ela
tenha alguma coisa a ver com essa mudança. Quando duas pessoas se casam você
não sabe o que acontece entre elas.
-
eu não sei… Vanessa me parece ser uma pessoa genuína.
-
talvez sim, talvez não.
-
vamos concordar em discordar tio.
-
de acordo – falou ele tomando um gole da cerveja.
Nós
comemos a pizza e depois subimos as escadas para continuar com nossa maratona
de filmes.
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