O CARA DE NEBRASKA capítulo vinte
E
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ra como
se eu estivesse fora do meu corpo. Não acreditava que aquilo estava realmente
acontecendo. Aquelas palavras se repetiam em minha cabeça enquanto eu tentava
processá-las sem acredita no que significavam. Ainda estava sentado ao lado de
Eve. Todos estávamos em silêncio. Scott continuava parado de pé esperando por
alguma reação.
- o que é feito agora? – perguntei limpando os olhos e me levantando.
- temos duas opções. Podemos deixar ligado aos aparelhos ou podemos
desliga-los.
- Acho que devemos deixar os aparelhos ligados – falei respirando fundo.
Já tinha passado por essa situação com eu irmão Christopher. Ele também ficou
ligado a aparelhos e eu decidi desliga-los. Me arrependo disso até hoje.
- não – falou Morgan se levantando – vamos desligar os aparelhos.
- você não pode fazer isso. Gray ia querer uma chance de viver. Talvez
ele acorde.
- você não entendeu Griffin – falou Scott falando calmamente comigo –
Gray não consegue mais respirar sozinho. Ele está ligado á aparelhos que jogam
ar em seus pulmões e essa é a única razão dele ainda estar vivo. O cérebro já
não responde e uma vez que o aparelho forem desligados ele não conseguirá
respirar sosinho.
- exatamente por isso devíamos deixar eles ligados. E se encontrarem a
cura? Pessoas não acordam do coma todos os dias?
- isso são milagres – falou Scott.
- e se Gray for um milagre? Eu não vou poder viver sabendo que talvez
tirei dele a única chance.
- eu isso eu posso resolver – falou Morgan se aproximando – a decisão
não é sua. Eu é que decido.
- por favor Morgan – falei implorando para ela.
- é como eu te disse antes. Gray e eu fomos casados por onze anos e eu
sei que ele não gostaria de ficar ligado á aparelhos pelo resto de sua vida. Eu
sei também que ele não gostaria de que eu desistisse dele tão fácil e então eu
vou deixar os aparelhos ligados por sete dias – falou Morgan olhando para Scott
– se ele não tiver nenhuma melhora até na próxima sexta eu assino os papéis
para desligar os aparelhos.
- obrigado Morgan – falei agradecendo ela por não desistir tão fácil –
eu posso vê-lo? – perguntei para Scott.
- Sim – falou Scott.
- não – falou Morgan – você não vai vê-lo.
Aquilo me surpreendeu.
- você não pode me impedir.
- claro que posso.
- não é hora para isso Morgan. Não é hora de ficar brigando. Quero
passar cada o máximo de tempo com ele. Gray me ajudou em um momento difícil e
ficou ao meu lado até que eu estava pronto para seguir em frente. Talvez se ele
souber que eu estou ao lado dele ele também melhore.
- Gray e eu ainda somos casados e eu estou te proibindo de chegar perto
do quarto dele.
- você não pode fazer isso – falei olhando para Morgan.
- na verdade ela pode – falou Scott.
- mas eu não sou qualquer um. Você mesmo disse que sabia sobre Gray e
eu. Como vocês podem me impedir de ficar perto do meu namorado.
- minhas mãos estão atadas – falou Scott olhando para Morgan com uma
cara de reprovação – Griffin eu sei que você e Gray tinham um relacionamento,
mas legalmente Morgan e ele continuam casados e ela é responsável por tomar as
decisões médicas enquanto ele não for capaz e se ela não quer que você o veja eu
não posso fazer nada a não ser pedir que deixe o hospital.
Como Morgan podia fazer aquilo comigo. Ela tinha o direito de ficar com
raiva de mim por ter mentido, mas aquilo não era hora de estar com raiva me
impedindo de vê-lo.
- eu não posso nem ficar aqui no hospital?
- pode – falou Scott – mas o máximo que pode ficar é aqui na sala de
espera. Você não pode entrar no quarto e nem andar pelos corredores – falou
Scott respirando fundo – sinto muito.
- você não pode fazer isso comigo Morgan. Eu preciso vê-lo – falei
sentindo minhas lágrimas caírem novamente.
Morgan olhou para mim e me encarou por um tempo.
- sei que foi errado não ter te contado, mas eu realmente mereço ser
punido dessa forma?
Morgan não respondeu nada e olhou para Scott.
- pode me levar até o quarto dele? – perguntou Morgan a Scott.
- posso – falou ele seguindo com Morgan pelo corredor.
As batidas do meu coração se tornaram intensas e pesadas. Eu as ouvia
como o som de um tambor. Era a impotências. Não podia fazer nada. Me sentia de
mãos vazias e Gray estava tão perto. Já não era ruim o suficiente saber que ele
estava em coma e agora não posso nem vê-lo? A última lembrança que terei dele é
vê-lo cheio de sangue, tremendo de dor dizendo que me ama? Não é o suficiente.
Eu não tive o suficiente.
- sinto muito – falou Holly se aproximando de mim.
- o que eu vou fazer? – perguntei olhando para Holly que não soube me
dar uma resposta.
- fique aqui – falou Eve – aqui você está perto de Gray e tenho certeza
e que ele saberá.
- eu não posso. Eu quero estar perto dele. quero tocá-lo quero beijá-lo
uma última vez – falei sentindo meus olhos pegarem fogo. Eu engoli as lágrimas
e cocei a testa pensativo.
- você está cansado – falou Kiff – você precisa dormir.
- vocês precisam conversar com a Morgan – falei olhando para Eve, Holly
e Kiff – ela está fora de si. Como ela não pode ver que o que está fazendo é
monstruoso.
- nós vamos tentar – falou Eve – eu prometo que vou tentar.
- OK – falei me recompondo e limpando meus olhos me preparando para ir
embora.
- onde você vai? – perguntou Holly.
- eu vou para Nebraska.
- oque vai fazer lá? – perguntou
Eve – eu pensei que você fosse ficar aqui.
- eu não consigo. Se eu ficar aqui vou acabar enlouquecendo sabendo que
ele está tão perto de mim e eu não posso nem vê-lo e além do mais eu preciso
resolver uma coisa lá antes que também seja tarde demais.
- você volta quando?
- na segunda – falei respirando fundo – na segunda eu estarei de volta,
mas eu já deixo aqui avisado que eu não posso mais trabalhar para Morgan.
- você não pode fazer isso.
- Eu posso porque eu não vou conseguir mais trabalhar no lugar onde o
conheci. Eu não vou nem conseguir viver aqui – falei tentando manter os
sentimentos sob controle – depois que os aparelhos dele foram desligados eu vou
me mudar de volta para Washington.
- eu pensei que você tivesse fugido de lá por causa de alguns problemas
– falou Holly.
- sim. Está na hora de eu encarar esses problemas.
- OK – falou Eve – a decisão é sua – falou ela me apoiando.
- vejo vocês na segunda – falei caminhando pelo corredor do hospital em
direção ao saída. Não me sentia bem. A sensação é d que eu estava abandonado
Gray, mas eu precisava resolver esse problema com o meu pai o quanto antes além
do mais eu não conseguiria ficar lá. Tem algo nesse hospital que não m e
agrada.
Peguei meu telefone e liguei para o Dr. Bryan Montgomery e avisei que
estaria indo para Nebraska nessa mesma manhã. Bryan conseguiria uma passagem
para mim e me ligaria em seguida dizendo que horas seria o nosso voo. Do
hospital fui direto para o meu apartamento. Me sentia mais perto de Gray lá do
que no hospital. Fui até o guarda roupas montar a minha mala para a viagem e
enquanto tirava algumas roupas minha me senti péssimo ao ver as roupas de Gray
próximas as minhas.
Me aproximei e peguei a camisa que ele tinha usado na última vez que ele
estava no meu apartamento. Aproximei do meu rosto e percebi que ainda tinha o
perfume dele. Era como abraça-lo e de olhos fechados, por alguns instantes, foi
como se nada tivesse acontecido e tudo fosse o mesmo.
Decidi levar essa camisa comigo e coloquei junto das minhas roupas. Fui
para o banheiro tomar um banho e enquanto ao água quente caia no meu corpo
tudo oque eu podia pensar é em como
teria sido ter feito amor pela primeira vez com ele. Me arrependo de ter sido
tão chato quanto a isso. Devia ter simplesmente feito de uma vez.
Quando saí do banho vesti minha roupa, calcei meus tênis e enquanto
penteava meus cabelos meu telefone célula tocou em cima da cômoda. Era uma
mensagem de Bryan dizendo que o voo sairia em pouco mais de uma hora. Nós
devíamos nos encontrar no aeroporto em vinte minutos.
Peguei minha cala e saí do meu apartamento. Sai a caminho do elevador e
quando passei em frente ao apartamento de Oliver e Rachel a porta se abriu.
- bom dia – falou Rachel me vendo com a mala.
- bom dia.
-- vai viajar?
- sim… vou visitar meu pai.
- boa viagem – falou ela sorrindo.
Eu não consegui sorrir de volta.
- o jantar está de pé, certo? Falou com seu namorado. Ele aceitou?
- aceitou – falei mentindo.
- que bom. Oliver e eu já até escolhemos o restaurante.
- eu estou atrasado para pegar meu voo – falei tentando encerrar aquela
conversa – mas eu volto na segunda e você me conta qual restaurante será.
- OK – falou ela.
Fui até o elevador e tentei não desabar até que as portas se fecharam.
Foi difícil em segurar, mas meus olhos estavam vermelhos outra vez.
O taxista que me levou ao aeroporto ficou me olhando chorar, mas não se
atreveu perguntar o motivo. Quando finalmente cheguei ao aeroporto o mesmo se
repetiu. As pessoas ficavam me olhando tentando descobrir porque eu estava de
olhos vermelhos. Estava de costas na fila do aeroporto para despachar a mala e
senti alguém tocando meu ombro.
- Griffin? – falou o advogado atrás de mim.
- olá – falei me virando.
Ao ver meu rosto Bryan mudou sua expressão e não hesitou em perguntar.
- você está bem?
- não. Estou péssimo – falei limpando os olhos – não me pergunte o
motivo só me ignore.
- OK – falou Bryan respeitando minha vontade.
- serão só algumas horas até Nebraska e ao chegarmos vamos direto para a
penitenciária para você poder ver seu pai.
- ok – falei caminhando até a moça da bancada entregando minha mala.
A viagem seria longa. Teria muito oque pensar até Nebraska. Eu
sinceramente não me importava mais com nada. Não sabia como sentir com
tudo o que estava acontecendo. Assim que
nós entramos no avião senti as dores no meu corpo. O sangue esfriou e eu
percebi o quanto estava cansado. Mal consegui esperar o avião estar no ar para
que eu pudesse dormir. Apesar de ter sentado ao meu lado Bryan não me fez perguntas
e apenas ficou em silêncio. A viagem seria longa, mas eu logo adormeci.
Estava em um sono profundo quando senti uma mão gelada tocar meu braço.
Acordei assustado e vi que era Bryan.
- nós já vamos pousar – falou Bryan.
- OK – falei bocejando e colocando
o cinto novamente. O voo durou pouco mais de três horas e no meu celular
vi que era quase uma hora da tarde.
- você está se sentindo melhor? – perguntou Bryan tentando puxar
conversa.
- não – falei sendo sincero – eu só quero acabar logo com isso para
poder voltar para casa.
- onde você vai ficar hospedado?
- não sei.
- você pode ficar na casa onde você cresceu – falou Bryan.
- ninguém mora nela?
- não. Antes de seu pai apresentar sintomas ele passou a casa para o seu
nome.
- tudo bem então.
Quando nós finalmente ousamos no Aeroporto Blair em Omaha nós pegamos um
taxi até a penitenciária de Nebraska. A viagem durou cerca de quarenta minutos.
A penitenciária ficava afastada de tudo. Havia florestas em volta e o caminho
até lá era praticamente deserto.
Nunca tinha ido até lá e me espantei com o tamanho no complexo
penitenciário.
- é tão grande – comentei e Bryan concordou.
- é enorme – falou Bryan – a maior penitenciária desse estado.
Quando finalmente chegamos a penitenciária o taxista ficou nos esperando
do lado de fora para nos levar de volta a cidade. Ele ficou lendo um jornal
enquanto Bryan e eu caminhávamos até a entrada.
Nunca havia visitado ninguém na prisão e só tinha visto em filmes. Era
tão chato quanto. Tive que deixar todas as minhas coisas na entrada. Assinar um
monte de papéis e inclusive foi examinado para saber se estava escondendo
alguma coisa. Bryan não precisou passar por isso, mas eu por outro lado não
tive como escapar de toda a burocracia. Diferente das outras visitas nós não
iriamos para o pátio e sim para a enfermaria onde meu pai estava internado.
Bryan e eu seguimos um guarda pelo corredor. Era um corredor assustador.
Lá dentro eu tinha uma sensação de claustrofobia que não ia embora. Era
estranho. Me sentia sufocado lá dentro.
Bryan e eu caminhamos em silêncio e foi quando vi uma placa indicando
que a enfermaria estava perto. Foi quando parei de andar e Bryan e o guarda
olharam para mim.
- ele está muito doente? – perguntei para Bryan.
- como assim?
- ele está debilitado?
- não. Ele está saudável apesar de tudo. Ele só fica na enfermaria
porque é mais fácil deve ser vigiado e assim ele não machuca outros presos e
também não se machuca. O dia-a-dia de uma pessoa com Alzheimer é uma caixinha
de surpresas todo dia. As vezes eles tem dias bons, as vezes tem dias ruins, as
vezes estão muito ansiosos então eles mantém seu pai aqui sempre em observação.
- OK – falei respirando fundo.
- fica calmo. Vai dar tudo certo.
- e se ele for tão cruel quanto eu me lembro?
- você vai se surpreender em como seu pai mudou – falou Bryan tentando
me acalmar.
- OK.
Nós dois caminhamos mais um pouco e finalmente chegamos a enfermaria.
Fiquei parado na entrada e vi que tinha várias camas separadas. O ambiente era
como o de um hospital moderno.
- com licença enfermeira – falou Bryan chamando uma delas.
- pois não? – perguntou a mulher vindo até nós.
- ele rapaz aqui veio visitar o pai dele.
- OK – falou ela com um sorrido pegando uma lista com o nome de todos os
detentos que estavam internados lá – qual é o nome do seu pai?
- Kenneth Nicholas Blake – falei nervoso.
- OK – falou a enfermeira confirmando – Kenny está no box 4 – falou ela
apontando.
- obrigado – falei agradecendo.
Enquanto caminhava para o box me lembrei da noite passada quando fiz a
mesma coisa e quando abri a cortina vi Gray machucado. As lembranças eram
recentes, mas já mexiam comigo.
- você quer ficar sozinho com ele um pouco?
- não. Tenho medo – falei olhando para Bryan.
- não precisa ter medo. É o seu pai.
- é exatamente por isso que eu tenho medo. Você não conheceu meu pai.
- OK – falou Bryan me seguindo.
Ao chegarmos no box 4 eu respirei fundo e levei a mão até a cortina
abrindo-a. foi estranho vê-lo. Fazia tanto tempo que eu até tinha esquecido
como era o rosto dele, as feições e lá estava ele. Meu pai era um homem alto de
cabelos loiros escuros e olhos azuis. Ele era um forte e suas feições eram
rusticas. Mesmo em uma cama de hospital ela não parecia fraco. Ele estava me
silêncio olhando para o outro lado. O fato de eu ter aberto as cortinas não
chamou a atenção dele. Na verdade ele nem se importou. Parecia distante
pensando em outra coisa.
- Kenny você tem visitas hoje – falou Bryan. Quase que no mesmo instante
meu pai virou o rosto. A voz e Bryan foi familiar e chamou a atenção dele.
Meu pai inicialmente olhou para Bryan e em seguida olhou para mim. ao me
ver meu pai me encarou e esticou o braço
segurando forte no meu pulso. Eu me assustei e tentei me soltar, mas meu pai me
puxou.
- você voltou – falou meu pai surpreso se sentando na cama. Ele ainda
segurava meu braço e me puxou mais forte até que fiquei próximo o suficiente
para um abraço. No inicio foi estranho e eu fiquei assustado, mas ao perceber
que era só um abraça eu o abracei de volta.
- eu senti tanto sua falta filho. Me perdoa pelas coisas que eu disse a
você – falou meu pai com sua voz rouca – eu nunca quis te machucar – falou ele
me soltando e olhando para mim. os olhos dele percorreram todo o meu rosto e em
seguida ele olhou para mim de cima em baixo rapidamente – o que eu estou
fazendo aqui filho? Eles me disseram que eu estou preso, mas eu não me lembro o
porque.
- você foi pego dirigindo embriagado – falou Bryan mentindo – é só por
algum tempo.
- ele se lembra de você? – perguntei para Bryan.
- algumas vezes, mas ele sempre acha que eu sou um amigo seu que estudou
com você. Ele não faz ideia de que meu realmente sou.
- eu disse que você era novo demais pra ser advogado – falei brincando.
- quando eu voltar para casa eu prometo que as coisas vão ser diferentes
– falou meu pai colocando a mão no meu ombro – eu não vou mentir e dizer que eu
entendo o que você sente, mas eu prometo que vou tentar ser um pai melhor.
Aquilo era engraçado é como se ele estivesse revivendo o a época em que
eu me assumi para ele. De alguma forma ele estava arrependido.
- onde está Christopher? – perguntou meu pai – porque você não o trouxe
com você?
Aquilo era cruel. Meu pai nem se lembrava do que tinha feito com meu irmão.
Era estranho vê-lo perguntar sobre isso.
- o senhor tem Alzheimer pai – falei sendo sincero.
- como assim? – perguntou ele confuso.
- lembra que o seu pai teve Alzheimer? O senhor também tem.
- eu lembro – falou meu pai pensando no meu avô.
- fico feliz por você ter voltado Bruce – falou meu pai me abraçado de
novo – Promete que não vai mais fugir?
Meu pai disse isso ignorando completamente o que eu tinha dito.
- eu também senti sua falta – falei abraçando forte meu pai. Tenho que
admitir que senti falta dele. Senti falta do meu pai e não do monstro.
- e então? – perguntou Bryan quando eu soltei meu pai – você vai cuidar
ou não do seu pai?
- vou sim – falei sentindo a mão do meu pai segurar a minha - mas eu não se ainda se vai ser em Los Angeles
ou em outro lugar.
- não tem problema – falou Bryan – você não precisa decidir agora. Uma
vez que o juiz veja seu caso ele vai permitir que você leve seu pai pra onde
quiser. Ele será um homem livre.
- vai levar muito tempo?
- eu vou começar a organizar os papéis e vou fazer o pedido na segunda. Como
o caso do seu pai é sério acho que no máximo em duas semanas ele pode ser
liberado.
- OK – falei olhando para o meu pai. Ele sorria para mim.
Como eu podia ficar com raiva dele ou guardar ódio que ele nem se lembra
que fez?
- você sabe que talvez um dia ele acorde, certo? – falou Bryan.
- o que quer dizer?
- pessoas que tem Alzheimer tem mudanças de humor e vivem dias do
passado no presente. São fantasias.
- sim, você me disse.
- só que as vezes acontece da pessoas acordar lúcida. Dura só algumas
horas e em alguns casos alguns dias, mas a pessoa acorda se lembrando de tudo. Você
acha que está preparado para esse dia caso ele aconteça?
- não sei. Só vou saber se acontecer.
- eu posso ir embora daqui? – perguntou meu pai parecendo ansioso.
- em breve pai.
- porque não posso ir embora hoje? – perguntou meu pai parecendo triste.
- o senhor não está se sentindo bem. Precisa ficar em observação por um tempo.
Acha que consegue ficar calmo?
- acho que sim – falou meu pai se deitando de novo respirando fundo.
- meu irmão Christopher tinha os olhos dele – falei olhando para Bryan. Fisicamente
eu puxei minha mãe. Sou mais parecido com ela. Cabelos escuros, olhos
castanhos, mas meu irmão Christopher era exatamente como meu pai. Olhos claros
e tinha cabelos escuros.
- você está fazendo a coisa certa – falou Bryan colocando a mão no meu
ombro.
- eu duvido – falei me lembrando de Gray. Tinha tomado algumas decisões
duvidosas quanto ao meu relacionamento com ele e agora eu nem tenho a chance de
corrigir as coisas – obrigado por ter me convencido a vir até aqui. Realmente
ele é um homem diferente – falei deixando meu pai para trás e seguindo até a saída
da enfermaria com Bryan.
- eu posso perguntar porque você estava chorando.
- não. não pode – falei sentindo um aperto no coração – não se atreva a
me perguntar – falei sério e Bryan entendeu que não devia tocar nesse assunto.
- tudo bem – falou Bryan.
Não via a hora de chegar a segunda feira para resolver todos esses
problemas para que eu pudesse voltar para Los Angeles. Eu não me importo se Morgan
não me deixa ver Gray eu vou ficar na sala de espera até que os aparelhos
tenham sido desligados. Preciso ficar perto dele o máximo tempo que eu
conseguir. Mesmo que tudo o que eu queira é ficar bem perto dele. Gray era um
imbecil e eu nunca deixei de dizer isso a ele, mas ele era o meu imbecil e tudo
o que eu quero é a chance de dizer adeus.
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