CORTE/PONTO capítulo vinte e oito
V
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ictória
estava sendo colocada dentro da ambulância para ser levada ao hospital mais
próximo. Não tive outra escolha a não ser ligar para Gray e contar tudo o que
estava acontecendo. Não queria estressá-lo especialmente hoje e agora que ele
provavelmente está com os filhos, mas eu precisava recorrer a ele especialmente
se o sobrenome do médico Grant indicar que ele é parente de Scott. O hospital
mais perto era o New Eden Community
Hospital. Um hospital comunitário próximo do bairro de Watt.
A ambulância tinha saído a alguns minutos e eu voltei para o apartamento
de Victória para tentar encontrar algo que me ajudasse a encontrar esse
cirurgião, algum cartão de visita… qualquer coisa.
Eu olhava em volta e Louise olhava para mim.
- ela vai ficar bem? – perguntou
Louise preocupada.
- eu não sei, mas sei que ela vai ser bem cuidada no hospital – falei encontrando
na geladeira um cartão de visitas do médico de Victória. Dr. Grant Davis Clarke
– Cirurgião Plástico.
- o que é isso? – perguntou Louise.
- o cartão de visitas do medico.
- não tem número.
- só tem um endereço – falei guardando o cartão de visitas no bolso –
vamos para o hospital.
Ao chegarmos lá embaixo nos entramos em um taxi que nos levou até o
hospital. Assim que o carro começou a andar peguei meu celular para ligar para
Gray. Já tinha tentado, mas ele não tinha atendido. Espero que tenha mais sorte
dessa vez. Disquei o número e assim que o celular chamou duas vezes ele
finalmente atendeu.
- Griffin? onde você está? Você saiu a mais de meia hora e não voltou
mais.
- você está com seus filhos?
- sim, Morgan chegou a pouco.
- eu não queria te atrapalhar Gray…
- diga o que foi?
- você sabe onde fica o hospital New
Eden?
- sei sim – falou Gray preocupado – você está bem?
- estou sim, mas preciso que você vá até esse hospital. Eu te encontro
lá e te explico tudo o que aconteceu.
- tudo bem – falou Gray desligando o celular.
Louise e eu estávamos a caminho do hospital e Louise reparou na sacola
que eu carregava. Uma das caixas estava quase caindo para fora da sacola.
- esse remédios são para você? – perguntou Louise.
- sim – falei ajeitando a caixa dentro da sacola.
- acho que você não precisa desse remédio – falou Louise.
- você sabe pra que ele serve? – perguntei surpreso.
- claro, ele é muito usado por pessoas que querem perder peso.
- eu preciso perder alguns quilos.
- para quem você ligou?
- para o meu namorado. Ele é médico.
- Kiff estava certo em me dar seu número.
- por eu ser gay?
- por você ser uma pessoa boa – falou Louise grata pelo o que eu estava
fazendo – muita gente na comunidade gay tem preconceito com pessoas trans. Acho
que o pior preconceito vem de pessoas que deveriam te entender, mas escolhem te
discriminar.
- eu não tenho preconceito com nada – falei tirando as caixas da sacola
tirando as cartelas de remédio de dentro. Eram comprimidos metade azul e metade
branco. No total foram seis cartelas. Coloquei as caixas vazias na sacola e
coloquei as cartelas no bolso, desse jeito Gray não as veria.
- você é um homem bem progressista Sr. Blake – falou Louise sorrindo.
- por favor me chame de Griffin – falei sorrindo de volta para ela.
Quando chegamos ao hospital Victória já estava na emergência. Nós
entramos na emergência e eu fiquei espantado pelo tamanho do hospital. Não eram
nem a metade do enorme hospital onde Gray trabalhava.
- com licença – falei chegando em uma enfermeira – onde está Victória…
- Carter! – falou Louise.
- Victória Carter – falei olhando para a enfermeira que olhou nos papéis
e apontou para um box de cortinas fechadas.
Louise e eu caminhamos até as cortinas esperando ver médicos trabalhando
em Victória, mas ela estava simplesmente deitada na maca sozinha do mesmo jeito
que eu a encontrei na cama.
- e então Victória? O que eles disseram? – perguntei me aproximando dela.
- nada – falou ela ainda com dor.
- como assim? Oque eles vão
fazer? Você tem uma infecção.
- eles ainda não atenderam ela – falou Louise segurando a mão de
Victória.
- porque? Ela é claramente uma emergência – falei olhando em volta e uma
enfermeira passou por trás de mim e eu segurei no braço dela – quando vocês vão
cuidar dela?
- nós não temos pessoal o bastante trabalhando hoje – falou a enfermeira
olhando para Victória.
- pois pra mim parece que tem gente o suficiente. Porque vocês ainda não
cuidaram dela?
A enfermeira engoliu em seco e sinalizou para mim apertando os lábios.
Ela olhou para Victória e depois para mim.
- vocês não querem trata-la só porque ela é uma transexual?
- não posso obrigar os médicos daqui a trabalharem – falou a enfermeira
partindo com alguns algodões na mão. Ela estava claramente mais preocupada em
cuidar de um homem que tinha um corte no braço que nem ao menos estava
sangrando.
- é por isso que não vamos a hospitais – falou Louise apertando a mão de
Victória.
- isso é inaceitável – falei com raiva olhando em volta.
Deixei Louise e Victória para trás e fui caminhando de box em box vendo
o que estava acontecendo e olhando nos crachás de todos os médicos até que
finalmente encontrei uma cirurgiã plástica.
- Dra.. Smith?
- pois não? – falou a mulher de cabelos ruivos olhando para mim.
- você é cirurgiã plástica?
- sou – falou ela tirando as luvas que usava.
- tem uma paciente aqui precisando de você.
- você trabalha aqui?
- não, mas uma amiga está com dor. Acho que ela tem uma infecção.
- ela precisa passar pela triagem.
- ela não passou pela triagem e não vai passar porque ninguém aqui quer
se aproximar dela só porque ela é transexual.
- vamos lá – falou a Dra. Smith me seguindo.
- achou alguém? – perguntou Louise.
- sim.
- bom dia eu sou a Dra. Smith – falou a médica se aproximando.
- o nome dela é Victória Carter e ela fez uma cirurgia clandestina á
dois dias e desde então ela tem estado com muita dor. Acho que ela tem uma
infecção.
Dra. Smith colocou algumas luzes e então jogou um lençol em cima de
Victória e pediu que ela abriu as pernas de Victória para ver a situação e foi
quando ela olhou para mim.
- você está certo – falou Dra. Smith olhando para mim – ela devia ter
dilatado á dois dias, mas isso não aconteceu porque ela está com uma infecção.
- você pode ajudá-la? – perguntou Louise.
- sim, precisamos leva-la imediatamente para cirurgia para tirar a
infecção e corrigir o erro que esse charlatão fez nela. Dra. Smith falou com
algumas enfermeiras e rapidamente elas vieram e levaram Victória na maca pelo
corredor.
- fique bem! – gritou Louise para Victória. Ela tinha um rosário entre
as mãos.
- ela vai ficar bem – falei nervoso tentando me acalmar acariciando o
ombro de Louise tentando acalmá-la.
- espero que sim – falou Louise limpando os olhos – nós precisamos
encontrar esse médico para impedir que ele faça isso com outras pessoas.
- nós vamos encontra-lo.
- Griffin? – perguntou Gray chegando á emergência.
- ali meu namorado – falei para Louise. Caminhei até Gray.
- o que aconteceu? você está bem?
- eu estou.
- o que aconteceu?
- é tudo muito complicado de explicar agora Gray.
- não me importa. Quero saber exatamente o que está fazendo aqui.
- essa daqui é Louise – falei apresentando Louise a Gray.
- muito prazer – falou Gray apertando a mão dela – de onde vocês se
conhecem? – perguntou Gray para Louise.
- o Kiff me deu o contato dele – respondeu Louise.
- Gray essa ela é trans e ela tem uma amiga chamada Victória que também
é trans e Victória fez recentemente a cirurgia de ajuste de sexo, mas foi com
um médico clandestino.
- onde ela está?
- foi levada a cirurgiã porque está com uma infecção.
- você me matou de susto pensei que fosse você que estivesse passando
mal eu dirigi gula a um louco.
- desculpa, sei que devia estar de repouso, mas eu tive que ligar porque
olha só o nome do médico que fez a cirurgia clandestina na Victória – falei
mostrando o cartão de visitas do Dr. Grant Davis Clarke.
- Dr. Grant Davis Clarke? Impossível – falou Gray olhando o nome – Grant
é irmão do Scott.
- eu imaginei que fossem parentes pelo sobrenome.
- então vocês conhecem o médico? – perguntou Louise.
- nós não temos certeza Louise, mas nós com certeza conhecemos o nome
dele.
- ele precisa ser preso para que não faça mais com ninguém o que fez com
Victória.
- Sei que é o nome dele, mas isso é impossível Griffin! Não deve ser o
Grant. Lembra quando você mostrou as cicatrizes que tem na cintura e nas costas
e eu disse que tinha um amigo cirurgião plástico que podia dar um jeito nelas?
Era de Grant que eu estava falando. Ele tem licença. Não precisa atuar
clandestinamente.
- então você precisa averiguar porque se não for o Grant é alguém usando
o nome dele para fazer cirurgias clandestinas.
- eu vou ligar agora para ele –falou Gray pegando o celular – tudo bem
Scott?
Queria prestar atenção na conversa de Gray, mas comecei a me sentir
esquisito. Senti uma coisa no meu corpo. Sei que é normal o coração bater, mas
o meu estava irregular e eu o sentia bater que forma diferente do normal. Senti
como se meu coração tivesse acelerado de repente e em seguida desacelerado.
Olhei para Gray e ele estava com o celular na orelha. Tentei levar minha mão
esquerda até o braço dele, mas não consegui me mover. Senti um calafrio no
corpo e de repente um frio na nuca e nas mãos.
Engoli em seco e de repente foi como se tudo a minha volta tivesse
ficado mudo. Senti um arrepio e tudo o que via na minha frente era uma imagem
distorcida e embasada. Não me lembro de mais nada a não ser um apagão. Meu
corpo caiu no chão.
- ajude-o! – falou uma voz que eu não reconheci.
Abri os olhos e estava no chão. Sentia meu coração bater muito rápido e
só agora percebi que tinha desmaiado. Eu tentava respirar, mas não conseguia
controlar minhas respiração então comecei apenas a inspirar o ar, mas não conseguia expirá-lo. Meu corpo
estava fraco e eu não conseguia me mover. Tentei olhar em volta procurando por
Gray, mas eu não o consegui ver, mas eu consegui senti-lo.
Senti meu corpo ser levantado e percebi que Gray me pegou em seus braços
e me colocou deitando em uma maca.
- Griffin? consegue me ouvir? – perguntou Gray colocando uma luz nos
meus olhos.
Tentava controlar a respiração, mas não conseguia foi quando um
enfermeiro colocou uma mascara de ar em mim e foi então que eu comecei a dar
uma melhorada.
- Inspira… expira… Inspira… expira! – falou Gray tentando me acalmar –
está se sentindo melhor?
Não respondi, mas sinalizei positivamente com a cabeça.
- consegue falar?
Sinalizei negativamente com a cabeça.
- me mostra onde dói.
Levei minha mão até meu coração. Gray pegou seu estetoscópio e começou a
ouvir meu coração e meus pulmões.
- você está com arritmia cardíaca – falou Gray colocando o estetoscópio
em volta do pescoço.
- a pressão dele está dezenove por nove – falou a enfermeira para Gray.
- me dê uma cartela de atenolol – falou Gray.
A enfermeira trouxe uma pacotinho e Gray abriu e em seguida tirou a
minha máscara.
- vou colocar esse remédio embaixo da sua língua para controlar sua
respiração.
Abri a boca e Gray colocou o comprimido embaixo da minha língua.
- ele é bem amargo, mas você precisa deixar ele debaixo da língua.
Obedeci Gray e fechei a boca. O
gosto do comprimido era mesmo horrível.
- o que será que causou a arritmia? – perguntou Gray a si mesmo tentando
imaginar o porque.
Agora eu estava conectado a vários aparelhos que mediam minha pressão a
cada minutos e que mediam os meus batimentos cardíacos. Gray continuava
pensativo. Louise olhava para mim e eu olhava para ela. Ela sabia o motivo e
ela diria.
- olha no bolso dele – falou Louise – quando nós viemos para o hospital
ele tinha alguns remédios na mão e ele guardou no bolso.
Gray apalpou os meus bolsos e logo ele encontrou as cartelas. Ele jogou
todas em cima da bandeja, mas ficou com um na mão e ele leu atrás.
- Sibutramina? – falou Gray alto olhando para mim – onde você arranjou
esse remédios? Porque você está tomando esse remédio? – falou Gray olhando para
mim jogando a cartela em cima da bandeja com os outros. Ele estava com raiva.
Você namora um médico e está se auto medicando?
- me perdoa – falei tirando a mascarar de ar.
- Você ficou louco Griffin? Você sabia que esse remédio aumenta a pressão
e a frequência cardíaca?
- não – falei começando a me sentir melhor.
Gray olhou para o monitor e viu que minha frequência cardíaca estava
diminuindo a minha pressão também estava melhor.
- porque você estava tomando esse remédio? – perguntou Gray.
- por nada – falei com vergonha do motivo – eu só tomei dois Gray.
Comprei eles hoje.
- só dois? Que ótimo porque esse remédio podia ter te matado – falou
Gray fechando os olhos tentando se acalmar.
- já pedi desculpas.
- esse remédio é muito perigoso Griffin e ele não deve ser tomado em
hipótese algum por pessoas com problemas cardíacos.
- mas eu não tenho problemas cardíacos.
- bom – falou Gray rindo sarcástico – o monitor mostra que você tem –
falou Gray apontando.
- o que eu tenho?
- arritmia cardíaca e pressão alta.
- mas eu nunca senti nada.
- porque até hoje você teve uma vida saudável.
- então eu vou morrer?
- claro que não – falou Gray segurando minha mão - arritmia cardíaca e
pressão alta não provocam morte súbita e podem controladas com remédio e boa
alimentação. Vou te receitar Atenolol e Losartana e nós vamos ajustando esses
remédios até quantidade que vai fazer
você se sentir bem.
- até quando vou ter que tomar esses remédios?
- a vida inteira – falou Gray – mas isso não é nada. Sinta-se grato por
ter descoberto agora.
- então os remédios na verdade salvaram minha vida?
- não. Namorar um cardiologista salvou sua vida. Se você tivesse
desmaiado em outro lugar provavelmente estaria morto agora porque seu coração
não iria bombear sangue de forma correta para o corpo e isso iria comprometer
seus órgãos. Sorte sua que eu estava aqui.
- essa é a segunda vez que você salva minha vida sabia?
- qual foi a primeira?
- quando te conheci – falei brincando.
- não fica muito animado porque você ainda vai ter que me explicar como
conseguiu comprar esses remédios que só são vendidos com receita especial.
Receitas iguais as que eu tenho na minha maleta. Será que vou ter que fazer com
você igual faço com meus filhos? Vou ter que esconder minhas coisas?
- me perdoa Gray, eu sempre piso na bola.
- não há como negar – falou ele se inclinando até mim e dando um beijo
no meu rosto – o importante é que está bem.
- você conseguiu falar com Grant?
- não, mas eu falei com o Scott e acontece que o Grant teve o carro
roubado á quase um ano e levaram algumas coisas pessoais dele incluindo
documentos.
- então não é ele que está fazendo as cirurgias clandestinas?
- não, mas graças a você a policia vai poder tirar um charlatão das
ruas. Eu queria ter falado mais com Scott, mas você desmaiou.
- pelo menos temos o endereço de onde o charlatão trabalha.
- Sim. Scott vai avisar Grant o que está acontecendo. Por sorte Grant
fez boletim de ocorrência na época do contrário ele poderia até ter a licença
caçada.
- ainda bem – falei mais tranquilo. O remédio embaixo da minha língua já
tinha se dissolvido todo.
- traz um copo de água para ele por favor.
O enfermeiro me entregou o copo de água e eu bebi ele todo tentando
tirar o gosto amargo da boca.
- vamos pra casa – falou Gray me ajudando a se levantar.
- espero que você fique bem – falou Louise.
- obrigado Louise.
- quanto você vai cobrar pelo seu serviço? – perguntou ela.
- nada Louise. Foi um prazer conhecer você e Victória. Não posso aceitar
seu dinheiro.
- obrigado Sr. Blake – falou ela me abraçando.
- Sr. Blake é meu pai – falei abraçando ela – mantenha sempre contato e
se precisar de qualquer coisa é só me ligar – falei soltando Louise.
Nós caminhamos até a saída, mas quando passamos em frente a recepção
Gray pediu um pedaço de papel e uma caneta.
- ligue nesse número – falou Gray anotando um número no papel e
entregando a Louise.
- Dr. Grant Clarke? – perguntou ela confusa.
- esse é o número do verdadeiro cirurgião plástico chamado Dr. Grant
Clarke - Quando ligar diga que foi o Dr. Forbes que o indicou. Pode passar para
suas amigas e ele fará qualquer procedimento que precisar de graça.
- obrigada, nem sei o que dizer – falou Louise apertando a mão de Gray
sorridente.
- cirurgia é mais do que cortar e dar pontos. Apenas tenha em mente que
nem todos nós somos charlatões – falou Gray sorrindo.
Louise deu um sorriso e guardou o papel e em seguida saiu a caminho da
sala de esperas até que Victória saísse de cirurgia. Gray e eu caminhamos para
fora do hospital e entramos no carro dele. O caminho até em casa foi
silencioso. Nenhum de nós queria falar sobre o enorme elefante no carro.
- desculpa ter atrapalhado seu encontro com seus filhos.
- você não vai mesmo me dizer porque queria tomar aquele remédio?
- não, vamos só deixar isso pra lá.
- você que sabe – falou Gray olhando para a estrada novamente.
Antes de irmos para o apartamento Gray passou em uma farmácia e comprou
os remédios que ele tinha me receitado. Assim que chegamos de volta no
apartamento eu mostrei a maleta de Gray. Ele abriu a maleta e pegou o bloco de
receitas especiais.
- você cometeu um erro – falou Gray mostrando o receituário para mim –
você deixou a segunda via aqui o papel dela é carbonado. Tudo o que escreveu na
primeira via ficou na segunda – falou ele tirando e embolando – eu teria
descoberto de qualquer jeito.
- é como você sempre diz – falei me sentando no sofá – a verdade sempre
aparece.
- exato. A verdade sempre aparece – falou Gray indo até a geladeira
pegando um copo de água e trazendo consigo quatro comprimidos.
- o que é isso?
- você vai tomar dois comprimidos e cada por dia. Dois de Losartana e
dois de Atenolol.
- OK – falei colocando os comprimidos na boca e engolindo com água.
- esses remédios são vendidos sem receitas e eles não te impedem de beber
álcool. Eles vão controlar sua pressão e seus batimentos cardíacos. Desde que você
não fique se automedicando você vai ficar bem.
- OK – falei tomando toda a água do copo entregando o copo de volta para
Gray.
Gray foi até a pia e lavou o copo o colocando no escorredor. Em seguida
ele pegou o celular.
- o que vai fazer?
- vou ligar para Morgan e ver quando ela pode trazer meus filhos de novo
– falou Gray se escorando no balcão. Ele cruzou os braços e ficou me olhando
enquanto Morgan não atendia o telefone.
Tenho certeza que Gray estava chateado com o que tinha feito. Onde eu
estava com a cabeça quando peguei a receita dele e comprei aqueles remédios? Nem
eu sei de onde surgiu tamanha estupidez. O que fiz não é diferente do que o
charlatão estava fazendo com aquelas transexuais. Gray não estava sozinho
porque eu também estava chateado comigo. Por ter falsificado a receita e por
ter atrapalhado o encontro dele com os filhos.
- falei com Morgan – falou Gray me tirando do transe.
- e então?
- ela vai trazê-los no sábado á tarde.
- desculpa mesmo ter atrapalhado você. Eu sei o quanto você está com
saudade deles.
- não tem problema, matei a saudades deles um pouco hoje e foi bom você ter
me ligado do contrário não sei o que teria acontecido com você.
- pois é – falei sem graça.
- eu disse pra você que estava bem melhor, do contrário eu não teria
conseguido pegar você nos braços pra te colocar na maca.
- ainda bem. Se você não estivesse bem podia ter se machucado e eu nunca
me perdoaria por isso.
- vou tomar um banho. Me sinto sujo sempre que exerço medicina – falou Gray
entrando no meu quarto.
Continuei sentado no sofá pensando naquilo tudo. Não era nem meio dia e
eu já tinha fodido com tudo o que podia. Sentia que cada decisão minha eu
decepcionava Gray mais um pouco. Já até sabia como terminaria essa história:
Gray terminando comigo porque no fim das contas percebe que sou imaturo demais
para ele. Como podia seguir os dias convivendo com esse medo de que Gray
termine comigo? Foi esse o motivo de comprar aqueles remédios idiotas e eu
estava novamente preso naquele dilema.
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