ra
estranho. Minha cabeça doía e eu sentia algo escorrer pelo meu rosto. Eu estava
preso em algum lugar. Não conseguia reconhecer. Acho que minhas pupilas estavam
muito dilatadas porque tudo a minha frente era apenas um borrão sem sentido. O
rádio tocava alguma música romântica, mas eu não sabia quem era o cantor.
Parecia ser uma música bem antiga. Estava estranho. A medida que minha visão
retornava eu percebi que ao meu lado havia um jardim de flores amarelas. Não
sei o nome, mas a visão era linda. O problema é que elas pareciam no céu… ou
será que era eu que estava?
Olhei em volta e movi meus braços que estavam para o alto. Sentia algo
pressionar minha cabeça como se estivesse de cabeça para baixo. Foi quando
percebi que era por isso tudo estava estranho. Estava de cabeça para baixo
dentro de um carro preso pelo cinto de segurança. Olhei para o lado e vi que
não tinha motorista. Eu estava sentado no banco do carona. Parece que eu estive
em um capotamento, mas porque eu estava sozinho no carro? Quem estava
dirigindo?
- o senhor está bem? – perguntou uma voz doce ao meu lado. Virei o rosto
e vi uma linda garotinha com um vestido amarelo e sandálias brancas. Ela tinha
cabelos loiros e um pequeno sorriso no rosto.
- eu não sei – falei esfregando a mão na testa. O que escorria do meu
queixo pelo meu rosto era sangue.
- porque você está no meu jardim?
- acho que o carro saiu da estrada – falei olhando em volta novamente.
Percebi que a estrada estava longe e a casa estava do outro lado. Era um jardim
enorme como um campo de flores.
- você precisa de ajuda?
- sim – falei sentindo minha cabeça doer muito. Acho que tinha batido
ela com força – o papai e a mamãe estão em casa?
- sim. Nós acabamos de chegar de
viagem. Nós passamos o fim de semana na casa da minha avó no Alabama.
- que dia é hoje?
- segunda feira – falou a garotinha – nos viajamos na sexta e voltamos
hoje. Eu vim até correndo ver se as sementes que eu plantei haviam crescido,
mas o seu carro está em cima.
- como é seu nome?
- Annabeth – falou a garota.
- OK Annabeth… posso te chamar de Anna?
- me chame de Beth – falou ela se ajoelhando – como você se chama?
- eu… eu não sei – falei confuso – quando anos você tem Beth?
- sete.
- Annabeth você sabe onde eu estou? Que lugar é esse?
- você está em Chicago – falou Annabeth.
- Chicago?
- sim – falou ela.
- você parece ser uma garota esperta Beth, será que pode chamar seu
papai ou a sua mamãe e pedirem para eles ligarem para a emergência?
- claro – falou Beth se levantando e correndo em direção a casa que
devia estar a mais ou menos uns trinta metros de distância de onde eu estava. A
casa ficava em um lindo campo florido e a avenida passava do outro lado a mais
ou menos uns quarenta metros. O carro capotou por uma longa distância.
Esperei longos minutos até que eu ouvi um grito de mulher e ouvi pessoas
gritando e correndo na minha direção.
- Beth! Cuidado – falou uma mulher segurando a pequena garotinha.
- você está bem? – perguntou o um homem se ajoelhando.
- você deve ser o pai de Beth – falei olhando para ele.
- sou sim. Eu sou Richard – falou ela analisando a minha situação – O
que aconteceu?
- eu não me lembro Richard. Estou com um branco na mente. Não lembro de
como vim parar aqui. Na verdade nem sei onde estou. Sua filha me disse que
estou em Chicago.
- sim – falou o homem colocando a mão dentro do carro e tocando meu
braço – você está gelado. Agora são oito horas da manhã e você de ter passado
toda a madrugada dentro desse carro – falou o homem se virando e gritando para
a esposa – Cheryl! Ligue para a emergência.
- já liguei – gritou a mulher correndo até nós com um celular na mão –
ele está bem?
- parece que sim.
- tem certeza? – perguntou a mulher se ajoelhando do lado do marido.
- eu não tenho certeza. Sou engenheiro e não médico.
- como você se chama? – perguntou aa mulher de olhos azuis e cabelos
loiros.
- ele disse que não se lembra – falou o homem preocupado.
Alguns segundos se passaram e nós ouvimos sons de ambulância.
- a ajuda chegou – falou a mulher se levantando. O homem fez o mesmo e
caminhou na direção das ambulâncias. Não sentia muitas dores. Além de uma dor
forte na cabeça não sentia muita coisa doer. Talvez minha perna ou meu braço…
acho que quando me mover é que vou sentir uma grande dor.
- será que alguém pode me ajudar? – gritei esperando que alguém
aparecesse – é o maior saco ficar aqui de cabeça para baixo.
- olá – falou um dos socorristas de ajoelhando. Ele falava em alto e bom
som.
- olá – falei respondendo.
- você está bem? Está sentindo alguma dor.
- só na cabeça.
- OK, parece que você está bem – falou ele pegando uma lanterna para me
ver melhor – como é seu nome? Você consegue me dizer seu nome?
- não. Na verdade eu não sei. Não me lembro de nada.
O socorrista colocou a lanterna na direção dos meus olhos e viu que
minhas pupilas estavam dilatadas.
- ele bateu a cabeça – falou o socorrista falando com outro homem – ele
tem um corte no queixo e um na testa.
- qual o nome dele?
- ele não se lembra do nome então nesse caso ele será chamado de “John
Ninguém”.
- OK – falou o outro homem ao qual eu só via os pés.
- O senhor está sozinho ai? – perguntou o socorrista – quem dirigia o
carro?
- eu não me lembro. Eu acordei agora a pouco e não tinha ninguém do meu
lado.
O socorrista se levantou e gritou.
- Vamos fazer uma busca na área. O motorista deve ter sido jogado para
fora do carro enquanto capotava. Olhei pelo para-brisa rachado e vi que havia
uma equipe no local umas dez pessoas ao todo.
- olá? – falei cansado de ficar de ponta cabeça.
- sim – falou o socorrista se abaixando novamente.
- como é seu nome?
- é James.
- James… será que podem me tirar daqui?
- sim, mas antes vou ter que colocar esse colar cervical no seu pescoço.
- OK – falei sentindo ele envolver meu pescoço com o calor.
- ótimo – falou ele nervoso – vou precisar que feche seus olhos porque
vamos precisar quebrar o para-brisa para te tirar com mais facilidade,
- tudo bem – falei levando minhas mãos até meu rosto e em seguida um
barulho bem lato. Senti alguns cacos de vidro voando até mim, mas eles não em
machucaram. Essa era a beleza do vidro temperado.
- pode abrir os olhos agora senhor.
- Tudo bem James – falei olhando para ele tentando me manter calmo.
Apesar da situação ser bem estressante o que mais me irritava é que eu não
conseguia lembrar meu próprio nome. Não lembrava da noite passada, não lembrava
onde estava.
Um outro socorrista entrou pelo para-brisa com uma lanterna e me segurou
firme enquanto James tirava o cinto de segurança que me segurava preso ao
banco. Quando ele cortou o cinto de segurança eu achei que ia cair, mas esse
outro socorrista da pele mais escura e muito forte me segurou firme e com
cuidado ele e John conseguiram me tirar do carro.
Estava deitado na grama e a música irritante continuava a tocar no
carro. Estava praticamente imóvel. Minha cabeça doía muito e eu fui virado de
lado e colocado em uma maca. Em seguida fui levantado no ar e colocado dentro
de uma ambulância. Fui acompanhado por John e outro paramédico.
James começou a apalpar os bolsos da minha calça jeans procurando pela
minha carteira, mas ele não a encontrou.
- você não estava com sua carteira? – perguntou James – queria ver se
você estava com alguma documentação.
- não sei, mas acho que deve estar no porta luvas do carro. Não gosto de
andar com a carteira no bolso.
- OK – falou James – vou pedir para a equipe que ficou no local do
acidente procura-la e leva-la até o hospital. Uma vez que soubermos o seu nome
poderemos avisar á alguém o que aconteceu.
- OK – falei tentando me lembrar de algo, mas eu não me lembrava de nada.
Não lembrava do meu nome, se onde tinha vindo… não lembrava nem dos mais pais –
porque eu não me lembro de nada? – falei nervoso.
- Não fique nervoso. É normal esquecer algumas coisas depois do seu
acidente, mas uma vez que estiver no hospital eles vão investigar se tem algo
de errado em você – perguntou John.
- tudo bem – falei me sentindo enjoado pelo movimento da ambulância.
A ambulância seguir por um tempo e parou bruscamente.
- onde estamos?
- No Centro Médico de Chicago. Eles vão cuidar bem de você aqui – falou
John abrindo a porta do ambulância.
Senti a maca sair de dentro da ambulância e entrar no hospital. Alguns
médicos vieram me atender e eles me tocavam, colocavam luzes nos meus olhos e
eu senti algo queimar na minha cabeça quando um deles a apertou.
- as pupilas dele estão voltando ao normal – falou um dos médicos – ele
tem um corte no queixo e um na têmpora.
- ele não se lembra de nada – falou o Socorrista – é como se fosse uma
página em branco. Ele não lembra do nome, idade, de onde veio e nada do
acidente.
- ele sofreu traumatismo craniano – falou o médico olhando para a equipe
– OK pessoal – ele parecia ser o médico encarregado – Vamos suturar e fazer
alguns exames para saber se tem algo de errado – falou o médico.
A coisa mais dolorosa disso tudo foi levar anestesia no rosto e na
cabeça. Foi horrível. Doeu muito. É uma sensação engraçada receber anestesia. É
como levar um choque, mas em pequena escala. Quatro pontos no rosto e onze
pontos na testa. Depois disso tudo fui levado para exames. Fiz exames de sangue
para saberem se havia alguma toxina no meu corpo e uma tomografia
computadorizada na cabeça com contraste. Depois de vários exames fui colocado em um quarto para poder descansar enquanto recebia
soro na veia.
Já mais calmo e com muito menos dor eu pude finamente respirar aliviado
por estar bem. Se eu não fui levado para a cirurgia significa que não tinha
nada sério. O médico ainda não tinha aparecido com os resultados do exame. Cochilei
algumas vezes enquanto esperava ele aparecer.
Estava tendo um sonho estranho quando acordei assustado com a porta se
abrindo. Abri os olhos e vi um médico entrar com um envelope na mão.
- olá John – falou o médico tirando os resultados do exame de dentro do
envelope.
- estou bem doutor.
- você ainda está com Amnesia?
- sim – falei respirando fundo tentando me lembrar – não consigo me
lembrar de nada.
- interessante – perguntou o médico olhando para o exame.
- eu vejo alguns rostos aleatórios na minha mente, mas não lembro quem
são. Eu não sei nada sobre ninguém e nem sobre mim. Não sei que tipo de música
eu gosto ou qual o gênero de filme preferido. Não lembro nem se eu estudei.
Será que eu trabalho ou estudo? Quer dizer… tenho quantos anos? Essas coisas
estão confusas na minha cabeça.
- Você está sofrendo com Amnésia retrógrada – falou o médico se
aproximando de mim e me mostrando um exame escuro com o que parecia ser imagens
do meu cérebro em cores – você sofreu uma pancada na cabeça e isso pode
provocar amnésia. Você sofreu um pequeno dano que pode ter atingido o lobo
temporal no córtex.
- “Amnésia retrógrada”?
- Sim. Você esqueceu de tudo até o momento em que sofreu o trauma na
cabeça. Você ainda sabe andar, conversar, sabe como funciona o mundo, as leis,
o que é certo e errado, mas perdeu todas as memórias. Você é como uma página em
branco. Você sabe para que serve, mas não tem história.
- eu ficarei assim para sempre?
- talvez sim talvez não – falou o médico tentando ser paciente – Nós
temos Sete tipos de memória: Memória sensorial, a curto prazo, Memórias
semânticas, episódica, processual, visual/auditiva e Memória Priming. Muitas
vezes a perda de uma ou várias delas pode ser permanente. Existem casos de
pessoas que se lembram com o tempo, algumas se lembram de tudo e outras se
lembram de algumas coisas, mas existem casos de pessoas que nunca se lembram.
Você pode não voltar a ser quem era. Por mais que você continue sendo a mesma
pessoa sua personalidade pode mudar de acordo com aquilo que você é
apresentado.
- não há nada que possa fazer
doutor?
- Do ponto de vista cirúrgico não há nada que se possa fazer. Você não sofreu
uma lesão séria no cérebro, então acho que você está com Amnésia psicogênica.
- o que é isso?
- é uma amnésia temporária que ocorre devido a traumas psicológicos.
Essa tipo de Amnésia pode fazer com que você não consiga fixar memórias novas
ou te impedir de lembrar do passado, que é o seu caso. Essa memória quase
sempre volta dias após o começo da amnésia, mas em casos raros o paciente perde
a memória para sempre. Não é comum que a pessoa se esqueça de tudo, mas pode
acontecer. Você é um caro muito raro.
- então eu nunca vou lembrar do que aconteceu antes disso tudo?
- Depende. Para o seu caso eu recomendo um acompanhamento psicológico e
reabilitação cognitiva. Dessa forma você vai poder lidar com a perda da memória
e um bom psicólogo pode te ajudar a
estimular outros tipos de memória para compensar o que foi perdido.
- OK – falei nervoso. Me sentia claustrofóbico. Senti um pouco de falta
de ar e tentei controlar respirando fundo bem devagar.
- John eu sei que precisa descansar, mas a policia precisa pegar o seu
depoimento do que aconteceu.
- tudo bem.
O médico abriu a porta e saiu deixando dois policiais entrarem.
- Boa tarde Sr. Loudorn – falou um dos policiais entregando a minha
carteira.
- Loudorn? – perguntei confuso pegado a certeira.
- Senhores ele está com Amnésia. Ele não se lembra de nada de antes do
acidente, incluindo o acidente – falou o médico para o policial.
- nós encontramos sua carteira – falou um dos policiais – talvez te
ajude a lembrar de algo, mas no momento tudo o que precisamos é de detalhes do
acidente.
- Eu não estava dirigindo e me disseram que o motorista pode ter sido
jogado para fora da janela. Vocês encontraram o motorista?
- não – falou o outro policial que segurava um bloco de notas e uma
caneta – nós procuramos por uma grande área, mas não encontramos ninguém. A
única explicação é que o motorista foi socorrido ou até mesmo conseguiu sair do
carro. Dependendo do caso ele pode até ter fugido caso estivesse embriagado.
- Não me lembro de nada na noite passada. Na verdade eu não me lembro de
nada. Tudo o que me lembro foi de acordar de cabeça para baixo.
- tudo bem – falou o Policial – nós também encontramos o seu celular –
falou o policial entregando um celular todo quebrado. Com certeza ele nunca
funcionária novamente.
- que droga – falei virando ele de um lado para o outro.
- veja pelo lado positivo. Antes o celular do que você – falou o policial
tentando ser engraçado.
- tanto faz – falei colocando ele em cima do criado mudo do lado da
minha cama – estou com raiva porque não consigo me lembrar de nada – falei
colocando as mãos no rosto e respirando fundo – eu queria me lembrar.
- não se preocupe Sr. Loudorn – falou o policial fechando seu pequeno
bloco de notas – assim que encontramos sua carteira nós procuramos seu nome do
sistema e descobrimos que você vive em Miami. Nós entramos em contato com as autoridades
de lá á algumas horas e eles disseram que vão avisar seus familiares o que
aconteceu.
- tudo bem – falei respirando fundo.
Os policiais saíram do quarto e eu respirei fundo tentando me lembrar do
que tinha acontecido. Olhei para minhas próprias mãos e vi que havia um
machucado logo abaixo do dedo mindinho. No um braço esquerdo tinha um arranhão
e sentia uma pequena dor na perna e no ombro. Talvez pelo cinco de segurança.
Ficar pendurado a noite inteira de cabeça para baixo não deve ter sido fácil.
Eu sinceramente não me lembro.
Talvez alguém da minha família
estivesse tentando me ligar, mas graças ao celular destruído eles não
conseguiriam. Peguei minha carteira e eu a abri. Lá dentro haviam algumas notas
de dólar. Quarenta e oito dólares para ser mais exato. Passei os cartões e vi
que tinha vários cartão de bancos. Eu não me lembrava deles. Haviam também
alguns cartões de créditos e um cartão de identificação com o meu nome:
MAX RUTHERFORD LOUDORN –
TRIPADVISOR.
- como você se chama? – perguntou o médico curioso.
- Max Loudorn
- Max é um bom nome – falou o médico indo até a porta e saindo.
- me soa estranho – falei cabisbaixo – meu próprio nome me soa estranho.
Junto desse cartão do TripAdvisor havia também um cartão do hotel Silver Sleep Inn. Parecia ser um cartão
chave para abrir um quarto. Havia o número 289 no cartão. Provavelmente o
número do quarto que eu estava hospedado antes disso tudo.
- o que diabos é tudo isso? – falei espalhando tudo em cima do cobertor
que me cobria. Ao virar minha carteira para baixo caiu de lá uma aliança de
ouro.
Peguei ela entre os dedos e a olhei. Era brilhante. Cheguei ela mais
perto dos olhos e vi que nela estava gravada um nome: KEVIN VAUS MCFARLANE.
- Kevin? Eu sou casado? – perguntei para mim mesmo em voz alta.
Para confirmar eu coloquei a aliança na mão esquerda e coube direitinho
no dedo anelar. Era realmente minha aliança. Fiquei espantado. Não tinha nem
ideia de quem era Kevin McFarlane. O mais engraçado é que só foi preciso ler o
nome para me lembrar de que sou gay.
- Eu tenho um marido? Eu sou marido de alguém? – falei confuso – será
que esse Kevin estava comigo no carro? – eram perguntas as quais não tinha
resposta.
Deixei a aliança no meu dedo e voltei a vasculhar minha carteira. Foi em
um compartimento do lado esquerdo que encontrei duas fotos 3x4. Uma foto era do
meu rosto. Não tinha me olhado no espelho depois de tudo aquilo, mas eu
reconhecia meu rosto. Isso era bom. Estava me lembrando a medida que
encontrava. Eu estava com uma expressão séria nessa foto. A outra foto era de
um homem que eu não conhecia. Não reconheci ao olhar para a foto. Era homem de
cabelos e barba ruivos. Olhos azuis e uma expressão séria, mas não era só a
expressão. O rosto dele assustava. Ele usava uma espécie de uniforme. Parecido
com o da marinha. Na cabeça ele tinha um quepe preto. Havia um símbolo no meio,
mas como a foto era pequena eu não pude identificar.
Aquilo era muito bizarro. A cada nova informação a minha cabeça doía. Estava
me conhecendo pela primeira vez. Era uma pessoa desorganizada. Nunca vi uma carteira
tão suja. Voltei a colocar todos os cartões e fotos e a aliança dentro da
carteira e eu a coloquei em cima do criado mudo. Era tudo muito confuso. Não
via a hora da minha família chegar. Eu tinha um pai? Uma mãe? irmãos? Chicago
ficava tão longe de Miami. Se eu vivo em Miami porque diabos estou em Chicago? Estava
estressado e cansado de ficar sozinho com os meus pensamentos. Apertei o
pequeno botão que chamava a enfermeira e um homem entrou.
- olá Max – falou o homem olhando na ficha.
- o meu soro acabou – falei apontando mostrando que estava vazio.
- OK – falou ele pegando meu prontuário e lendo – aqui diz que esse era
o seu último soro.
- ótimo – falei respirando fundo.
Ele tirou a agulha do meu braço e colocou o soro vazio em cima de uma
bandeja de prata e em seguida ela pegou novamente meu prontuário.
- Olha eu não quero ser chato, mas essas camas são muito duras. Sem
falar do serviço de quarto que é péssimo.
- aqui não é um hotel – falou o homem rindo – e eu não sou seu camareiro.
Sou seu psicólogo.
- psicólogo?
- o Dr. Herman me disse que você está com Amnésiapsicogênica
e não se lembra do que aconteceu e não se lembra de nada de antes do acidente.
- você está certo. Não me lembro de nada.
- você passou por um trauma grande ontem a noite. Na Amnésia seletiva o
seu cérebro elimina tudo aquilo que ele acha que você não vai conseguir lidar. Se
uma lembrança te causa dor e sofrimento o seu cérebro faz com que essa
lembrança desapareça, mas no seu caso a Amnésia seletiva não se encaixa porque
você se esqueceu de tudo. Então creio que o Doutor Herman está certo. É Amnésia
psicogênica.
- eu vou me lembrar? você vai me ajudar a lembrar?
- não. Na verdade o Dr. Herman me chamou porque você tem uma visita.
- visita? – perguntei assustado.
- Sim. Devido ao que aconteceu o Dr. Herman achou melhor eu conversar
com ele antes de entrar.
- ele? – quem é?
- Um homem chamado Kevin McFarlane – falou o psicólogo.
- como é o seu nome doutor?
- Frederick Westbrook.
- Dr. Westbrook esse Kevin é um homem de cabelos e barba ruivos?
- é sim.
- é esse homem? – perguntei tirando a foto da carteira e mostrando para
ele.
- sim – falou Frederick pegando a foto – é esse mesmo – falou ele me
devolvendo.
- você já falou com ele?
- ainda não. queria ver como você estava antes.
- eu estou péssimo. Eu me senti preso sabe. Com falta de ar. Eu queria
me lembrar. Eu estou sentado nessa cama tentando me lembrar de algo, mas não me
lembro de nada. É angustiante.
- é um processo demorado. Você precisa esperar alguns dias. Se essas
memórias não voltarem você vai precisar trabalhar nisso, mas mesmo assim não
existem garantias de que elas vão voltar. Você pode tentar fazer terapia para
exercitar seu cérebro para que se lembre.
- e o que eu faço até lá? O que eu faço se essa memória não voltar? Eu
tenho uma aliança e estou casado com um homem que não conheço. Não sei quem é
meu pai ou minha mãe…
- se acalme – falou Frederick com um olhar sereno. Ele tentava me
acalmar.
- talvez se eu vê-lo eu me lembre.
- Improvável. Ele é exatamente como na foto. Se você não se lembrou ao
olhar a foto não vai se lembrar ao vê-lo pessoalmente. Isso não fará diferença.
- então eu não quero vê-lo – falei com raiva – manda ele ir embora.
- É normal ficar assustado – falou Frederick tentando me acalmar – eu
não te conheço e obviamente nem você mesmo se conhece, mas você tem uma foto
dele na carteira e tem uma aliança. Ele veio de Miami até aqui para te ver. Com
certeza você é importante para ele. Mesmo que não se lembre não significa que
ele não seja real. Ele te conhece melhor do que você. Ele pode te ajudar nesse
processo.
- OK – falei pensativo.
- olha Max… eu não posso deixar ele entrar se você não quiser
vê-lo. Se isso te chateia eu posso
mandar ele ir embora e voltar quando você se sentir melhor.
- não, tudo bem. Pode deixar ele entrar.
- OK falou o Dr. Westbrook
caminhando até a porta – vou conversar com Kevin primeiro. Vou explicar a
ele o que aconteceu e qual a sua
situação. Pode demorar um pouco.
- eu não vou a lugar nenhum.
- claro – falou o médico com um sorriso. O sorriso dele parecia uma
mistura de otimismo com decepção. O psicólogo saiu do quarto e fechou a porta. Estava
muito ansioso. Peguei o controle remoto da cama e fiz com que ela se levantasse
para que eu me sentasse. Tentei puxar em minha memória quem era Kevin, mas nada
parecia. Apenas um buraco na minha mente. Espero que eu me lembre assim que
olhar para ele.
Aaah, já gostei do que li! Não perdestes a mão nem a inspiração. Sinto que terei um novo vício. Mais um vício bom! :D
ResponderExcluirAbraços, escritor!
A.