Capítulo 20: Insultos de Adam White | Conto: Paixão Secreta | Temporada: 7ª

INSULTOS DE ADAM WHITE capítulo vinte

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O

 dia tinha sido cansativo. Mais um dia no escritório resolvendo pepinos lidando com clientes que odeio, mas que tem muito dinheiro e com empregados folgados que eu deveria colocar no olho da rua. Hoje é noite de sexta e eu devo mandar um grande ‘foda-se’ pra tudo isso e curtir o meu fim de semana. O transito estava uma merda agora pouco e por ter ficado engarrafado vou chegar quase uma hora atrasado em casa. Espero que não leve uma bronca afinal tive um dia de cão e a última coisa que quero é briga. Buzinei três vezes e mandei um barbeiro ir para a puta que pariu quando estava chegando no condomínio de prédios onde moro. Peguei um cigarro na carteira e coloquei na boca acendendo-o com o isqueiro rapidamente. Cocei a barba e aproximei vagarosamente da entrada.

- boa noite senhor Adam – falou o porteiro com um sorriso liberando a entrada.

- boa noite! – forcei um sorriso e acenei com o cigarro entre os dedos e trouxe novamente até a boca virando o carro e seguindo até a minha vaga. Ao sair do carro peguei a minha maleta, coloquei o terno nos ombros e liguei o alarme do carro enquanto caminhava para dentro do prédio. Apaguei o cigarro antes de entrar e fui até o elevador.

A porta começou a fechar, mas uma voz feminina pediu que eu segurasse. Era uma linda garota que sorriu para mim. Ela estava suada e com roupa de ginástica.

- estava fazendo uma corrida? – perguntei com um meio sorriso.

- sim – falou ela sem graça.

- me perdoe – falei estendendo a mão – meu nome é Adam.

- Michelle – falou ela com um sorriso – eu já te vi algumas vezes por aqui. Você sempre volta do trabalho nesse horário, não é?

- sim. devo admitir que também já te vi algumas vezes fazendo corrida – falei olhando para a bunda marcadinha e bem desenhada na calça leg. Meu pau estava duro na cueca e eu respirei fundo tentando manter a calma.

- você trabalha com o que? É empresário?

- sim. Tenho uma firma de advocacia.

- sério? Que bacana – falou ela ajeitando os longos cabelos para atrás da orelha – vejo que você usa aliança… uma pena esse touro estar domado.

- é uma pena? – perguntei rindo.

- sim.

- você ia querer me domar?

- não seu bobo – falou ela rindo.

- desculpa eu acho que estou levando a conversa pro lado errado – falei sem graça.

- não levou não. Eu não ia querer te domar, mas ia adorar que você me domasse e me colocasse pra cavalgar – falou ela sorrindo assim que o elevador parou. Antes de sair ela se virou e levantou a blusa mostrando os fartos peitos e descendo a blusa – eu moro no 502. Vem me visitar quando puder. Vou estar meladinha te esperando – falou ela com um sorriso e eu coloquei a mão impedindo que o elevador se fechasse até que ela entrou no apartamento e fechou a porta.

- puta gostosa! – falei coçando a barba e deixando a porta fechar.

Quando cheguei ao andar do nosso apartamento caminhei até a porta e a abri. Uma música tocava alto. Parecia ser um rock pesado. Mike gosta dessas coisas

- amor cheguei! – falei jogando o terno em cima do sofá junto com a maleta – Mike? – falei afrouxando a gravata enquanto caminhava até o nossos quarto. Ele só podia estar lá.

A música ficou bem mais alta e Mike estava pegando as coisas no guarda roupas e jogando dentro de uma mala. Ele parecia apressado.

- o que está fazendo?

- eu cansei! – falou ele irritado jogando mais e mais roupas na mala.

- o que? – perguntei confuso e irritado com a porra do som alto.

- eu cansei! Você é surdo! – falou ele parando e gritando para mim – cansei dessa merda de vida.

- tira a porra dessa música! – falei pegando o controle tentando abaixar o volume e no fim das contas eu o joguei no chão.

- cansei – falou Mike fechando o zíper da mala e a colocando no chão.

- onde você pensa que vai? – falei seguindo até a sala onde a música não era tão alta e eu finalmente podia ouvi-lo.

- vou embora. Eu tentei fingir que ainda gosto de você, mas eu te odeio. Okay?

- do que você está falando? Mike eu te amo – falei com raiva sentindo uma pontada de tristeza.

- eu não aguento mais olhar pra sua cara. Eu sou jovem e posso conhecer um monte de caras por ai. Quero me divertir. Você é velho e eu detesto essa vida de casado, essa rotina, você finge que gosta de mim, come todas as putas que tem no prédio.

- mas Mike eu te amo você não pode fazer isso comigo – falei segurando no braço dele – por favor.

- me solta. Você me trai e eu cansei de te perdoar.

- eu não traio Mike, eu te juro. Claro que eu paquero e faço algumas brincadeiras com algumas das moradoras mas…

- isso é traição Adam. Emocional. Não é só o sexo. Você se afastou de mim, é distante e a cada dia que passa eu tenho mais nojo da sua cara. Vou embora e espero que você não vá atrás de mim como sempre faz. Especialmente… - falou ele pausando – especialmente porque eu conheci um cara.

- que cara?! – falei puxando ele com força – que porra de cara você conheceu?

- não te interessa! – falou Mike puxando o braço com força.

- me fala o nome dele.

- não importa mais – Mike pegou o celular em cima da mesa e a mala com suas coisas – eu  amo ele e não sinto mais nada por você. Faz muito tempo que a única coisa que sinto por você é nojo e pena e a cada dia que passa a repulsa por você cresce.

- Por favor Mike me diz que está brincando – falei lambendo os lábios sentindo meus olhos humedecerem.

- tchau Adam. Espero que um dia você encontre alguém que você não afaste da sua vida.

Mike olhou pra mim uma última vez e saiu pela porta do apartamento. Eu me senti no sofá e coloquei as mãos no rosto sentindo as lágrimas molhando minha barba e a palma de minha mão. Eu não sei porque faço as coisas que faço, mas eu ainda o amo e não quero perde-lo. Deitei no sofá chorando como um bebê e abri os olhos suado. Minha respiração ofegante e aquela sensação horrível no corpo. Acho que todos sentem isso quando se tem um pesadelo. Percebi que estava na cama, metade o corpo coberto pelo cobertor e estava acompanhado. Peguei o meu celular e conferi as horas. Duas e vinte nove da manhã.

- qual foi? – perguntou Mike com a voz rouca ao meu lado.

- o que? – perguntei acendendo a luz do abajur.

- qual foi dessa vez? O que eu morro ou o que eu não te conheço?

- não – falei coçando a barba e respirando fundo – nenhum desses. Foi o que você me abandona.

- você sabe que eu nunca vou fazer isso né? – perguntou Mike olhando pra mim. Vivo tendo pesadelos e acordando no meio da noite. Mike conhecia todos eles. Ele estava tão magro e tão fraco por causa do tratamento.

- eu sei Mike – falei percebendo que ele estava tremendo na cama.

- você é tão cachorro que até nos pesadelos você me trai – falou ele tentando rir, mas não conseguiu porque os dentes começaram a bater.

- eu não te traio Mike. Era só uma garota no elevador. Além do mais é um pesadelo idiota. Só tenho olhos pra você. Você é o meu garoto no elevador.

- okay – falou ele com a voz trêmula – é a coisa mais fofa que você me disse hoje.

- você também não conseguiu dormir? – perguntei franzindo a testa pensativo

- não. os efeitos do remédio estão fortes – falou ele tremendo – estou com aquele frio, sabe… - falou ele olhando pra mim tentando forçar um sorrio – estou tremendo como se estivesse sem roupas no alto do Everest.

- deita aqui juntinho de mim meu amor – falei chegando pertinho dele e puxando-o para junto de mim. Puxei a perna dele e entrelacei com a minha. Deixei ele deitado em meu peito – tá melhor assim? Mais gostoso?

- muito mais – falou ele me abraçando forte ainda bastante trêmulo.

- porque você não me acordou Mike? Já disse que você pode me acordar quando estiver passando mal.

- não quero atrapalhar seu sono. Além do mais você parecia dormir tão bem. Parecia curtir seu pesadelo com a garota do elevador…

- você não sabe como eu fico aliviado quando acordo e te vejo do meu lado.

- acho que pra você não deve ter diferença né? Acorda de um pesadelo e tem outro do seu lado na cama – falou Mike rindo, mas não achei graça.

- cala a boca Mike – dei um beijo em seu rosto e comecei a acaricia-lo nos braços tentando esquentá-lo.

- estou com medo de não poder tomar o terceiro ciclo hoje quando formos ao hospital. Os efeitos da última sessão de quimioterapia ainda estão muito fortes.

- relaxa. Vai dar tudo certo. Qualquer coisa a doutora Alma vai atrasar em 1 dia ou 2.

- é engraçado como 1 dia ou 2 se tornam importantes quando você está limitado.

- limitado é caralho. Você não vai morrer, ouviu?

- okay – falou Mike tremendo e fechando os olhos ele tentou dormir ou pelo menos cochichar.

Em algumas horas Mike e eu vamos nos levantar para ir ao hospital tomar o último ciclo da quimioterapia. Ele tem piorado consideravelmente nos últimos meses e esse tratamento agressivo combinado com a radioterapia é a nossa última esperança. Xavier tem passado os dias conosco, mas não tem mais agido como se fosse um membro do relacionamento entre Mike e eu. Ele tinha até começado a trabalhar com o Eric já que eu tive que desistir da parceria por causa do câncer do Mike. Xavier andava muito com a Zoey a amiga do Mike que eu não vou muito com a cara. Ele estava ajudando ela com a gravidez indesejada. Acho que ela estava pensando em dar a criança para doação e Xavier a estava ajudando com isso.

Vanessa por outro lado mandou fotos do ultrassom do nosso bebê. Mike não parecia tão animado quanto eu. Na verdade virava a cara quando eu mostrava fotos do ultrassom e não queria falar nunca sobre a criança que seria nosso filho. Ele com certeza está desanimado. Ele pode ter perdido as esperanças, mas eu não perdi. Queria ficar acordado, mas acabei dormindo e novo. A única coisa boa foi que não tive nenhum pesadelo. Eu estava tão cansado e Mike estava tão quentinho que foi a receita perfeita para o melhor sono que tive em semanas.

Quando meu celular despertou na manhã seguinte me espreguicei na cama e olhei para o lado e vi Mike dormindo. Foi isso que me acalmou um pouco afinal ele parecia cansado e com muita dor. É bom que ele tenha conseguido fechar os olhos. Fui até ele e dei um beijo na ponta do nariz e acariciei seu braço.

- eu te amo – falei baixinho antes de dar um beijo em sua testa e me levantar.

Me levantei, calcei minhas pantufas de Tom que fazia par com as pantufas de Jerry de Mike e fui até o banheiro, mijei, escovei os dentes e sai do quarto chegando até a cozinha. Senti um cheiro bom de comida e vi Xavier na cozinha fazendo o café da manhã.

- Xavier? o que faz acordado a essa hora?

- oi irmão, bom dia – falou Xavier com um sorriso – eu sabia que você e Mike precisam ir para o hospital hoje bem cedinho então decidi levantar mais cedo um pouquinho e fazer o café da manhã de vocês.

- valeu cara – falei colocando a mão no ombro dele agradecendo, mas por algum motivo eu não consegui tirar.

- de nada – falou Xavier olhando para mim enquanto colocava a panqueca no prato. Ele deixou a panela e veio para um abraço. Ele me abraçou forte e eu agradeci pelo abraço – vai ficar tudo bem Adam. Mike vai sair dessa e vocês vão ficar juntos pra sempre.

- obrigado irmão – falei soltando-o e passando a mão no rosto tentando disfarçar meus olhos que estava úmidos.

- o café da manhã está pronto – falou Xavier servindo suco em três copos.

- vou acordar o Mike.

Entrei no quarto e fui por cima da cama e fiquei por cima de Mike. Sabia que ele adorava ser acordado por mim dessa forma. Ele nunca me disse, mas também nunca reclamou.

- amor?! Mike – me inclinei e tocando o rosto dele virei sue rosto e dei um selinho me sua boca – acorda amor. Precisamos tomar o café da manhã – Mike continuou de olhos fechados e na verdade ele não fez nada. Quando soltei seu rosto ele o virou como se estivesse dormindo profundamente – Mike? – dei dois tapas de leve no rosto dele, mas Mike não demonstrou reação – Mike?! Acorda! Porra, acorda! – falei mais alto percebendo que ele não estava dormindo. Estava desacordado – Xavier liga pra emergência!

- o que foi? – perguntou Xavier entrando no quarto rapidamente – o que aconteceu?

- Mike está desacordado! – olhei para Mike e me inclinei – Mike, acorda! você está bem? – Ele finalmente demonstrou alguma reação e soltou uma gargalhada.

- desculpa amor, mas não consegui resistir – falou Mike caindo na risada.

- porra Mike! Está falando sério? – falei com raiva.

- desculpa Adam – falou ele rindo e segurando na minha mão, mas eu a puxei e me levantei da cama.

- desculpa Adam, por favor – falou ele tentando parar de rir limpando as lágrimas.

- pelo visto você está melhor né? Ontem a noite você parecia estar com muita dor – falei respirando aliviado tentando engolir a brincadeira sem graça.

- sim, estou bem melhor – falou Mike parando sentado na cama – um pouco enjoado, mas aquela dor forte passou – ele se levantou – pena que vai durar só algumas horas. Uma vez que for até aquele hospital e eles colocarem mais veneno no meu corpo eu vou voltar a me sentir horrível outra vez.

- é a última vez Mike. Se tudo estiver indo como esperamos você fará a cirurgia e nós estaremos livres disso – falei olhando para Xavier que parecia ter dado boas risadas com a brincadeira de Mike – eu tenho duas crianças em casa – falei passando por Xavier e indo até a mesa.

Como sempre Xavier e eu comemos primeiro e Mike ficou lá sentado tomando pequenos goles do suco e tentando enfiar comida garganta a dentro. Não tem coisa pior do que ver a pessoa que você mais ama no mundo sofrer e não poder fazer nada. A sensação de impotência é destruidora. Acaba comigo por dentro. Por fora eu tenho um sorriso porque Mike precisa de um homem forte ao lado dele, mas por dentro eu estou detonado.

Na verdade Xavier percebeu isso e me convidou para uma viagem a capital para poder ‘extravasar’. Ele acha que Mike está percebendo o quão estressado eu estou com tudo o que está acontecendo. Ele disse que conhece um garoto… não sei o nome… Logan? Acho que é esse o nome. Disse que esse tal de Logan vai me fazer relaxar. Não estou com a mínima vontade de ir, mas Xavier tem me perturbado tanto com isso que acabei topando. Nós vamos viajar daqui a mais ou menos 1 mês.

- chega Mike – falei me levantando e pegando o prato – você não quer comer e eu não vou te obrigar.

- obrigado – falou ele engolindo o que tinha na boca – vou tomar um banho, okay?

- okay – falei me virando e dando um selinho na boca dele – te amo.

- também te amo – falou ele cansado indo até o quarto. Ele estava tão magro e acabado que não parecia um ser humano. Acabei pegando o prato e jogando com tanta força na pia que ele se quebrou – merda – falei vendo o sangue escorrer em minha mão.

- o que é isso? – perguntou Xavier vindo até mim.

- não é nada… é que… não aguento vê-lo assim.

- eu vou fazer um curativo na sua mão – falou Xavier.

- o que aconteceu? – perguntou Mike gritando do quarto.

- quebrei um dos pratos Mike, não foi nada grave.

- okay! – respondeu ele entrando no banheiro e ligando o chuveiro.

- se sente melhor? – perguntou Xavier colocando remédio na minha mão direita e eu senti o ardor.

- sim, um pouco – falei respirando fundo enquanto ele fazia o curativo enrolando uma gaze na minha mão.

- viu só porque eu insisto para que você vá comigo naquela viagem? você precisa se divertir um pouco. Precisa beber, tranzar…

- eu já aceitei ir com você Xavier. Não precisa especificar os detalhes – falei chateado. Não importa o que eu estou sentindo ou pelo o que estamos passando. É traição do mesmo jeito.

- prontinho – falou Xavier terminando o curativo.

- valeu – respirei fundo e me levantei indo para o quarto para poder tomar o meu banho.

O clima estava frio e Mike e eu nos agasalhamos bastante para ir ao hospital. Chamamos um Uber que nos deixou no Centro Médico Overlake. Mike tinha o dobre de agasalhos. Talvez seja porque ele emagreceu tanto que nem gordura corporal para esquentá-lo ele tem.

- vamos! – falei ajudando-o a subir as escadas caminhando para a entrada do hospital.

- para com isso Adam, eu sei subir escadas.

- se você cair, você se quebra. Vou te ajudar e para de reclamar.

- okay – falou ele colocando a mão no meu ombro e nós caminhamos até o hospital. A recepcionista nos recebeu com um largo sorriso no rosto e nos levou até o laboratório onde Mike fez os exames iniciais para saber como estavam as plaquetas. Saber se o corpo dele aguentaria outra sessão. A Dra. Alma nos chamou mais ou menos 30 minutos depois e ela estava acompanhada do Dr. Cody. Nós nos cumprimentamos e nos sentamos á mesa.

- como você está Mike? – perguntou o Dr. Cody para Mike.

- estou bem. Na verdade tive uma noite horrível, mas acordei bem melhor.

- e os exames? – perguntei para Dra. Alma que estava de olhos nos resultados desde que chegamos.

- os exames estão muito bem – falou ela sorrindo pra mim – ele vai poder tomar o remédio sem problemas.

- graças a deus – falou Mike parecendo aliviado respirando fundo – eu também vou passar pela radioterapia? – segurei a mão de Mike e trouxe até m eu colo.

- sim – falou Dra. Alma – você vai passar pela quimio a radio e daqui 21 dias você volta pro hospital, faz os exames e nós vamos saber se o câncer progrediu ou regrediu. Se tudo der certo a gente marca a cirurgia pra remoção.

- okay – falou Mike olhando para mim e apertando minha mão.

Mike e eu saímos do consultório e fomos até a sala para Mike receber o remédio. Os amigos de Mike já não estavam mais lá. Os que não tinham falecido, tinham tido sucesso no tratamento. Agora havia uma nova turma passando pela quimio.

- essa será sua última – falei olhando para Mike enquanto ele se sentava na poltrona.

- espero que sim – falou ele parecendo cansado e se sentando.

A enfermeira se aproximou e colocou a intravenosa na veia de Mike que começou a receber o remédio. Eram cerca de 5 a 6 horas para tomar todo o medicamento e eu peguei um dos livros que estavam a disposição e me sentei ao lado dele. Mie parecia cansado e passou a mão na cabeça careca e olhou pra mim.

- você pode ir embora se quiser. Você pode voltar depois.

- não Mike. Vou ficar aqui com você.

- vai dar uma volta Adam – falou ele insistindo – é sério. Eu estou com sono e vou tirar um cochilo. Sai e vai dar uma volta, resolver alguma coisa e depois você volta. Eu estarei aqui.

- tem certeza Mike Mouse?

- tenho sim – falou ele apertando os lábios em um sorriso – só pega um cobertor pras mim, por favor.

- pego sim.

Pedi para a enfermeira um cobertor e cobri Mike que deitou na poltrona e ele sorriu para mim. Me abaixei e dei um beijo na boca dele e disso o quanto o amava. Peguei  o meu celular e caminhei para fora da sala e então uma das enfermeiras veio caminhando até mim.

- Sr. Adam?

- sou eu – falei olhando pra ela.

- desculpe te incomodar com esse assunto, mas nós precisamos conversar sobre suas despesas médicas.

- despesas médicas? – perguntei confuso.

- sim – falou ela me levando até a recepção e me mostrando uma pasta com todos os detalhes.

- eu não entendi – falei olhando os papéis – tinha um amigo que ficou de pagar as despesas por mim.

- tudo bem então – falou ela com um sorriso – como não foi feito nenhum pagamento até agora é protocolo do hospital conversar com o senhor sobre o pagamento, mas se o senhor tem um fiador não tem problema.

- okay – falei ansioso respirando fundo – só por curiosidade…  quanto deu até agora as despesas médicas?

- só um minutinho – falou ela olhando no computador – R$$ 455 mil dólares – falou ela olhando pra mim.

- e eu posso fazer o pagamento após o fim do tratamento?

- se o valor fosse menor eu podia estar conversando com o conselho para estar bolando um plano de pagamento após todo o tratamento, mas como chegou a esse valor muito rápido é protocolo não autorizar a cirurgia enquanto pelo menos 50% seja pago.

- eu entendo. Muito obrigado – falei apertando os lábios querendo fingir um sorriso, mas não consegui. Fiquei puto ao receber aquela noticia. Eu não tinha um centavo sequer para pagar aquilo e Stephen tinha prometido que ia cuidar de tudo. Sai do hospital já com o celular na mão. Coloquei o número pessoal de Stephen para chamar, mas ele não atendeu. Ao chegar do lado de fora liguei para Stephen mais umas três vezes, mas as ligações foram rejeitadas – porra – falei enfezado. Decidi ligar no gabinete de vice presidente e a secretária dele atendeu.

- Gabinete do Vice Presidente – falou uma mulher.

- bom dia. Eu gostaria de falar com o Vice Presidente Stephen. Sou um amigo.

- qual o nome do senhor?

- Adam Harper White.

- Adam?! Okay – falou a secretária parecendo um pouco incomodada ao ouvir o meu nome – ele pode te atender no momento.

- como você sabe? Você nem saiu da sua mesa! – a garota ficou muda – olha… eu não sei o seu nome, mas eu já tive secretária. Sou empresário. Stephen não quer receber minhas ligações, não é? Ele mandou recusar?

- sim senhor – falou ela parecendo cochichar – não deveria dizer isso ao senhor, mas eu sei sobre tudo da vida de Stephen e sei sobre o senhor e sue namorado com câncer. O presidente Trump descobriu sobre o envolvimento de Stephen com… você sabe… gays e mandou ele cortar relações. Sinto muito.

- okay. Obrigado por… obrigado por ser sincera.

- sinto muito – falou ela desligando. Fechei a mão apertando o celular com força. Minha vontade era de jogá-lo no chão e quebra-lo de tanto ódio. Meus olhos se encheram de água. Queria chorar de raiva.

Por incrível que pareça não existe sistema de saúde público nessa merda de país. Se você não tem plano de saúde você está fodido. Existia o Obama Care que ajudava pessoas carentes a terem acesso a saúde básica, mas uma das primeiras coisas que o presidente Trump fez ao ser eleito foi acabar com esse programa. Claro. Os empresários não são beneficiados quando a população tem acesso a saúde de graça. Que porra de país é esse? A muito tempo não ficava desempregado e sem dinheiro e nunca tinha pensado nisso antes. Quantas pessoas não morreram ou se endividaram pelo resto de suas vidas por causa disso.

- aceita um? – falou um homem ao meu lado chamando minha atenção. Ele estava fumando e estava me oferecendo um cigarro.

- não, obrigado… eu… eu parei.

- câncer de pulmão, não é? – falou o homem.

- sim, como você sabe?

- eu te vi lá dentro. Minha filha também tem. Quando eles são diagnosticados esperam que a primeira coisa que nós faremos é parar, mas o estresse de estar passando pelo câncer faz com que seja impossível parar. Cada exame, sessão de quimio e cirurgia eu fico cada vez mais estressado e doido pra  fumar. Você não sente vontade?

- Sinto sim. Pra caralho – falei aceitando o cigarro – obrigado – falei devolvendo o isqueiro dele – traguei o cigarro e lambi os lábios – sinto muito pela sua filha – assoprei a fumaça para o alto.

- obrigado – falou o homem respirando fundo – sinto muito pelo seu… filho?

- não. namorado – falei olhando para o homem sem saber qual seria a relação dele.

- namorado? Bacana. Não se vê muitos namorados por aqui. Geralmente o elo ainda é muito fraco e eles desistem.

- entendo – falei engolindo em seco e levando o cigarro até a boca outra vez – nosso elo é muito forte. Eu não abandonaria ele nem se eu quisesse.

- bonito o amor de vocês – falou ele jogando o cigarro no chão e pisando em cima.

- eu me sinto mal – falei olhando pro cigarro e assoprando a fumaça.

- eu também – falou o homem e rindo e dando dois tapas amigáveis no meu ombro – algumas pessoas me recomendaram o cigarro eletrônico. Não faz tanto mal e ajuda bastante com o estresse.

- cigarro eletrônico? Okay – falei olhando para o homem – vou dar jeito de comprar um.

- a gente se vê lá dentro – falou o homem.

- okay – falei agradecendo pelo cigarro outra vez – eu sou Adam – falei para o homem que se afastou alguns passos.

- Edgar – falou o homem ajeitando o agasalho enquanto ele caminhava de volta para o hospital.

Enquanto fumava o cigarro fiquei pensando no que faria pra pagar a conta do hospital. Não quero ficar pedindo dinheiro emprestado pro meu irmão ou pra minha família porque esse é um problema meu. Posso fazer alguns empréstimos mas só consigo metade desse valor. Além do mais os juros do banco são muito altos. Não sei que porra fazer Nem que eu tenha que roubar um banco, mas o Mike vai fazer a cirurgia.

É bom estar de volta com Paixão Secreta. Já estava com saudades. O título do capítulo de hoje veio da música 'Adam White Disstrack' de Jordy Espero que tenham gostado desse capítulo, não esqueçam de deixar a opinião nos comentários (que me motiva a continuar com mais frequência) e não esqueça também de deixar o seu voto que é muito importante. Compartilhe com seus amigos que gostam de ler sobre a temática. Um grande abraço a todos e até o próximo capítulo.

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