CAPITULO 13
Eu sinto muito por ter escondido isso de você filho.
- Kyle está vivo? – perguntei esperançoso
- sim – falou meu pai. – me desculpe filho, mas esse foi um pedido de
Kyle, eu não pude negar.
- como assim pedido? – falei pensando na pior das hipóteses.
Meu pai olhou para Jake e ele olhou de volta.
- por favor pai, me conta o que aconteceu.
- filho, ele sofreu um acidente de moto e teve um problema neurológico,
ele precisava de cirurgia urgente no cérebro para par um sangramento, mas o
sangramento era em um lugar muito perigoso e havia riscos durante a cirurgia.
- ele está em coma? – falei esperando para que as palavras acabassem com
todas as minhas esperanças.
Meu pai ficou calado e se sentou na cadeira.
- ele precisa saber – falou Jake. – nós não temos mais o direito de
esconder pai, ele se lembrou de quase tudo. Eu não sei o que aconteceu na
verdade eu nem conheço Kyle, mas parece ser alguém importante.
- por favor pai, Jay foi embora. Eu preciso me concentrar em outra
coisa. Eu preciso saber.
Meu pai apertou os lábios não querendo falar.
- ele não queria que você sofresse filho.
- ele está mesmo em coma?
- não – falou meu pai.
- Durante a cirurgia a medica conseguiu parar o sangramento, mas
infelizmente a cirurgia danificou a parte motora de Kyle e ele perdeu 80% do
movimento das pernas e perdeu o controle da mão esquerda... ela tem espasmos e
treme.
Eu fiquei olhando pra ele imaginando o pior e no final das contas não
era algo tão ruim. Não acredito que todo esse tempo Kyle estava vivo.
- ele está vivo? – perguntei.
- sim – falou meu pai – mas Kyle sabia dos seus problemas e depois da
cirurgia ele me prometeu nunca contar o que tinha acontecido.
- mas ele está vivo. O pior seria a morte.
- não pra ele. – falou meu pai. – ele não queria que você se preocupasse
com ele.
Aquelas palavra me deram um alivio. Eu sei que o que tinha acontecido
com ele era terrível, mas significava que eu poderia falar com ele outra vez.
- eu quero vê-lo.
- não sei se ele vai querer te ver filho.
- eu sei que ele queria me proteger, mas agora que eu sei de tudo eu não
vou simplesmente deixar pra lá.
Nós todos ficamos em silêncio por alguns segundos.
- ele ainda mora na mesma casa?
- não sei eu não mantive contato com ele desde aquela época. A única
coisa que nós podemos fazer, se é realmente o que você quer, é ir até lá.
- eu quero ir hoje.
- filho se acalme, você tem que processar muita coisa, é muita
informação para você. Talvez você queira que eu ligue para o Jay para vocês
conversarem sobre isso...
- não pai, Jay foi embora sem me dizer nada. Ele provavelmente deve ter
nojo de mim. – eu disse isso sentindo meu corpo todo começando a coçar. – e se
Kyle também me achar nojento. E se ele me vir e não quiser mais me ver.
- está vendo? – falou meu pai vindo até mim – é por isso que eu acho
melhor você deixar pra lá essa história.
- não pai, eu preciso vê-lo. Eu acho que eu ainda o amo.
- tudo bem – falou meu pai alisando minhas costas.
Eu me assustei um pouco.
- me desculpa – falou meu pai.
- tudo bem – respondi. – mas, eu realmente quero ir. Eu sei que eu estou
de repouso da cirurgia, mas eu consigo.
- nós podemos ir hoje de tarde, que tal?
- ótimo – falei dando um sorriso.
Meu pai ficou me olhando com um sorriso.
- eu sou patético. – falei parando de sorrir. – sou tão carente que fico
indo atrás de uma pessoa que pode nem me amar mais.
- não pense nisso. – falou meu pai. – não fique se torturando com
perguntas.
- ok.
Meu pai disse que iriamos por volta dás 16:00 horas e assim o fez. Meu
pai e eu entramos no carro e meu pai dirigiu tentando lembrar o caminho da casa
do Kyle.
- você se lembra desse caminho? – perguntou meu pai.
- não muito, algumas coisas parece que eu reconheço.
- todos os dias depois que você conheceu Kyle você vinha para a casa
dele. Você realmente ficava melhor quando estava com ele.
- pai
- sim.
- você acha que com Jay eu apenas estava tendo um dejavú?
- só você pode responder isso – falou meu pai.
Depois de uns 20 minutos de viagem finalmente chegamos a um bairro que
me lembrei de algumas coisas.
- a casa dele é a próxima – falou meu pai diminuindo e parando em frente
a casa dele.
- eu estou nervoso – falei respirando fundo. – e se ele não morar mais
aí.
- vamos tirar essa dúvida agora.
Nós saímos do carro e andamos pela entrada comprida de grama. Era um
bairro bonito. Todas as casas eram separadas por uma linda cerca viva. Chegamos
até a porta da casa e eu bati na porta. Esperamos por alguns segundos e uma
mulher abriu a porta.
- olá. – falou ela.
- boa tarde, não queremos incomodar, mas gostaríamos de falar com Kyle.
A mulher deu um sorriso e olhou pra mim rapidamente.
- aguardem só um minuto.
Ela disse isso fechando a porta.
- e se essa mulher for esposa dele?
- filho ele não é gay?
- sim, mas nunca se sabe. E se ele gostar de garotas também?
- se acalma – falou meu pai.
A mulher que atendeu a porta demorou um longo tempo. Depois de alguns
minutos finalmente ela apareceu.
- sinto muito ele não está – disse ela.
- então porque demorou? – falei.
- perdão, mas eu não terminei – disse ela sorrindo pra mim. – ele não está,
mas acho que ele precisa disso. Falou ela saindo da frente da porta e nos
deixando entrar.
Nós entramos e ela fechou a porta.
- gostaria de alguma coisa para beber?
- não obrigado – falei nervoso. Minhas mãos estavam suadas.
Nós nos sentamos no sofá e ela sentou em frente a nós.
- não façam muito barulho ele não sabe que deixei você entrarem.
- você é?
- perdão, meu nome é Lara, eu sou enfermeira de Kyle.
- meu nome é Jack.
- eu sei quem você é. – falou ela sorrindo.
- sabe?
- sim. Foi por isso que deixei você entrarem. Como vocês devem saber
devido aos problemas de Kyle ele não pode viver sozinho então a família dele me
contratou para morar com ele. É claro que ele nunca quis, mas ele acatou ao
pedido da mãe.
- mas, como você sabe quem sou eu?
- Kyle me fala muito de você. Ele me mostra fotos suas.
- ele sabe que sou eu e meu pai que está aquí?
Ela deu um sorriso.
- não. Desculpem-me, mas como eu disse ele precisa de companhia. Ele
ficou muito sozinho depois do acidente e não aceita visitas de ninguém. Em
todos esse 3 anos ele perdeu todos os amigos e o único momento em que ele
esquece de sua condição é quando fala de você.
- será que ele vai querer me ver? – falei.
- pra saber isso você vai ter que ir até lá.
Eu fiquei calado e senti um frio na barriga, mas eu criei coragem e me
levantei. Lara se levantou e me explicou.
- é só subir as escadas e virar a direita o segundo quarto é dele.
- é estranho ter escadas, devido ao que aconteceu com ele. – falou meu
pai.
- desde que desde o acidente ele só desceu as escadas 2 vezes porque o
irmão o obrigou.
- será que eu devo? –falei olhando para meu pai.
- lembra do que eu te falava quando você era pequeno? “seja verde
filho”.
- lembro.
Lara deu um sorriso.
- verde? – disse ela
- verde é a cor preferida de Jack e também e a cor da esperança. A
esperança é a última que morre – falou meu pai.
- mas quando morre é a que mais machuca – falei indo até a escada.
Eu subi as escadas bem devagar. Assim que cheguei ao corredor eu ouvi a
voz dele.
- Lara, da próxima vez não precisa vir me perguntar se eu vou atender eu
já te disse que não quero ver ninguém.
Eu quase chorei quando ouvi sua voz firme ecoando pelo corredor. Eu
cheguei até a porta que estava fechada e bati duas vezes.
- pode entrar Lara.
Eu coloquei a maçaneta e fiquei pensando se teria coragem de abrir
aquela porta e percebi que se eu pensasse muito em todas as decisões que eu
fizesse eu viveria uma vida com medo então eu abri a porta de uma vez, mas bem
devagar.
Assim que eu abri eu o ví deitado na cama assistindo televisão. Ele
parecia diferente com a barba no rosto. Quando ele me viu ele ficou pasmo, ele
não disse nada e eu também não tive coragem de dizer nada.
Eu fiquei parado na porta esperando para ver a reação dele.
- oi – falei quebrando o gelo.
- oi – respondeu ele se acomodando na cama. – o que você está fazendo
aquí? Quer dizer... estou feliz em te ver mas...
- eu me lembrei – falei interrompendo ele. – eu me lembrei de tudo e foi
por isso que eu vim.
Eu queria me aproximar dele, mas não queria que ele se irritasse comigo.
Ele ficou sorridente e olhava pra mim sem acreditar no que estava
acontecendo.
- vem aquí – falou ele
Eu fui andando até a cama dele e fiquei em pé.
- posso me sentar?
- pode sim – falou ele.
Eu me sentei na cama e nós ficamos nos olhando por um tempo.
- nem acredito que você está aquí – falou ele sorrindo.
- porque você fez isso? – perguntei sem pensar. – eu não teria desistido
de você.
- olha só como eu estou agora.
- eu não me importo como você está.
- mas eu me importo – falou ele olhando para baixo.
- o que foi? – perguntei.
- eu era um policial respeitado, era um homem orgulhoso e quando te
conheci foi um dos melhores momentos da minha vida, supostamente era para eu
ser o homem da sua vida o homem que tentou te proteger e acabou se
transformando em um inválido.
- me desculpa – falei limpando uma lágrima do olho – se eu nunca tivesse
contado para você... eu devia ter guardado só pra mim.
- não diga isso – falou ele olhando pra mim – me perdoa por não ter sido
o homem que você precisava.
- o homem que eu preciso; - disse olhando pra ele.
- eu fui obrigado a me aposentar por causa desse acidente. Eu sinto como
se eu tivesse sido castrado, se eu não consegui ser o homem que você precisava
no passado imagina agora.
- não diz isso. – falei olhando fundo nos olhos dele.
- você não vai querer isso, olha minhas pernas eu não ando mais. Preciso
de alguém para fazer tudo por mim. Minha mão direita fica tremendo – ele disse
isso me mostrando a mão que tremia a cada 10 segundos mais ou menos.
- por favor, não me afaste outra vez por causa disso. Não pense que você
não me ajudou a superar meus problemas, você ajudou mais do que você imagina.
- sabe, às vezes eu agradeço por ter acontecido esse acidente porque eu
ia matar aquele desgraçado com minha própria arma.
- não se preocupa com ele – falei tentando o acalmar – eu contei tudo
para o meu pai e meu irmão aquele bastardo do Kenny já está mais do que preso.
A morte não seria uma punição justa para ele.
Ele olhou sorrindo pra mim.
- você progrediu bastante quanto a sua doença.
- verdade – falei arriscando a fazer o primeiro contato físico. Eu
coloquei a mão sobre a dele. A mão dele estava suada. – está vendo quase não me
importo mais de tocar as pessoas.
- comigo não conta – falou ele sorrindo – você nunca teve problemas para
me tocar pelo o que eu me lembro.
Eu dei um sorriso pra ele apertando a mão dele e ele correspondeu
apertando a minha. Ele abaixou a cabeça e olhou para a nossas mãos juntas. Ele
pegou minha mão e deu um beijo nela.
- você não sabe o quanto eu sonhei com esse momento, o momento em que eu
fosse te ver outra vez.
- eu não posso dizer o mesmo já que não me lembrava de nada.
Ele deu um sorriso e segurou minha mão mais forte. Ele me olhava quase
que sem piscar. Nós não falamos nada e apenas ficamos admirando um ao outro. Eu
me aproximei um pouco dele. Ele continuou me olhando com a mesma feição de
quando estávamos perdidamente apaixonados... definitivamente continuávamos
apaixonados um pelo outro.
Eu fui me aproximando o rosto dele bem devagar. Eu fui me aproximando
cada vez mais olhando nos olhos verdes dele e logo senti seu bafo em meu rosto
e demos um selinho.
Ficamos nos olhando sentindo o bafo quente um do outro.
- você deve ter me achado desleixado com essa barba.
- na verdade te achei uma graça com essa barba – falei isso dando outro
selinho na boca dele.
Este selinho levou a outro e a outro e logo começamos a nos beijar de
língua. Era um beijo calmo, quente e apaixonado.
Nós ficamos nos olhando por alguns segundos.
- Henry sabe que você está aquí?
- ele está lá embaixo com Laura.
Ele ficou em silencio por alguns segundos.
- se você não quiser vê-lo ele vai entender.
- por favor – falou ele – é difícil olhar para seu pai depois de todo
esse tempo. ele me conheceu como um homem forte e capaz e agora ele só vai ver
o que sobrou de mim.
- por favor não fica falando isso. – eu disse isso dando um selinho
nele.
Ele não me tocava com a mão direita.
- adivinha? – falei sorrindo – meu irmão e eu estamos nos dando melhor.
- sério – perguntou ele rindo. – que bom.
- verdade – falei sorrindo – só não imaginava que uma tragédia era o que
iria nos aproximar.
- tragédia?- falou ele.
Eu fiquei pensando se diria ou não. Que diabos, é claro que eu iria
contar eu estava muito empolgado.
- Kenny também abusou dele quando ele era criança.
- sinto muito – falou Kyle.
Eu levantei minha camisa e mostrei o curativo da cirurgia que tinha
feito e expliquei o porque. Kyle achou muito nobre da minha parte ter feito o
que eu fiz levando em consideração a situação em que me encontrava com meu
irmão.
- isso deve ser um sonho – falou Kyle.
- também. – falei – é estranho pra mim, sabe eu não percebo o tempo que
passou que eu te vi, pra mim parece que eu te ví ontem pela última vez.
- eu sofri muito todo esse tempo.
- eu imagino Kyle. Você precisava de mim todo esse tempo, você poderia
ter me deixado cuidar de você.
Eu dei um beijo no rosto dele e sem pedir permissão deitei a minha
cabeça no ombro dele.
- está vendo? Você continua sendo o mesmo homem que conheci. Eu me sinto
seguro quando estou com você.
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