CAPITULO 14
Eu fui embora da casa do Kyle feliz por tê-lo visto outra vez. Eu queria
dar o espaço que ele precisasse para poder processar o que tinha acontecido
afinal não era fácil o que ele tinha passado e ter que abrir mão de mim. Ele
teve que abrir mão de ser feliz para que eu fosse feliz.
Assim que cheguei em casa já era por volta dás 20:00. Eu fui para o meu
quarto e tomei um banho demorado na água bem quente. Assim que saí do banho e
vesti minha roupa meu pai bateu na porta do quarto. Eu abri a porta ele entrou;
- Jack... Jay está lá em baixo.
Eu sequei meus cabelos com a toalha e olhei pela janela e ví as estrelas
lá fora.
- e então? – perguntou meu pai.
- fala pra ele que eu já vou descer.
Eu gostava muito de Kyle realmente ainda tinha algo entre nós, mas eu
não podia negar que também havia algo entre Jay e eu. Eu me lembrei daquela
noite em que eu me machuquei e Jay me levou para o hotel e cuidou de mim a
noite inteira.
Eu desci as escadas e ele estava sentado no sofá conversando com meu pai.
- boa noite – falei olhando pra ele.
Ele se levantou com um pacote na mão e me entregou.
- boa noite – disse ele me entregando – eu trouxe os chocolates que você
gosta.
Eu peguei e agradeci.
- vou deixar vocês a sós – falou meu pai indo até a cozinha fazer
companhia para meu irmão.
- então... – falei sem graça indo até o sofá e me sentando – obrigado
mesmo pelos chocolates.
Jay se sentou ao meu lado.
- seu pai me disse que você foi ver Kyle hoje.
- sim – falei sem graça.
- ele está bem? – perguntou.
- sim.
Nós ficamos em silêncio por alguns segundos.
- sobre ontem – falou Jay – eu queria conversar com você.
- tudo bem – falei me acomodando no sofá.
- na verdade será que não podíamos ir para um lugar mais reservado?
- claro – falei me levantando e levando os chocolates para a geladeira.
- filho, depois eu tenho que limpar a cicatriz da cirurgia e fazer um
novo curativo.
- se você não se importar eu posso fazer – falou Jay chegando até a
cozinha – se Jack não se importar é claro.
- por mim tudo bem.
Nós subimos as escadas e entramos no meu quarto. Eu abri as janelas,
pois meu quarto estava meio quente.
- me deixe colocar esse lençol antes de você se sentar – eu falei isso
colocando um lençol por cima da cama.
Ele se sentou na cama e eu me sentei do lado dele tirando a camisa. Jay
retirou o curativo e enquanto limpava a cicatriz ele começou a falar.
- eu queria me desculpar por ter ido embora daquele jeito.
- não tem problema – falei reclamando um pouco, pois o remédio ardia.
- como psicólogo foi antiprofissional e antiético.
- não tem problema – falei me lembrando da noite passada com mais
clareza. Era como se tudo o que me fizesse sentir mal, todas as lembranças
ruins desaparecessem com o tempo. Provavelmente era minha autodefesa.
- e como amigo aquilo foi pior. Eu fui desprezível e fraco.
- amigo? – falei desapontado – ok.
- sim – falou ele limpando os pontos – quer dizer… nós nunca fomos nada
de verdade, nós nos beijamos, mas nunca chegamos a morar juntos. O destino foi
cruel.
- ontem eu te chamei de namorado – falei ainda mais desapontado.
- sabe por que eu fui embora ontem? – perguntou ele.
Eu decidi não tocar mais no assunto de namoro ou sei lá o que, estava
mais do que claro que não significava nada pra ele.
- não. – falei seco.
- eu me senti envergonhado – falou Jay.
- se você se sentiu envergonhado imagina eu que passei pro aquilo e
ainda te contei.
- não é isso – falou ele quase me interrompendo.
Eu fiquei calado como que pronto para ouvir o que ele iria dizer.
- minha mãe sempre trabalhou fora, ela sempre foi uma mulher forte e
independente mesmo depois de casada. Eu sempre fui um garoto caseiro minha mãe
nunca me deixou sair para passar o tempo na rua ela dizia que as más
influências iriam me desviar do caminho certo. Hoje eu sou grato por isso, hoje
eu sou o homem que sou por causa dela, mas de um outro lado isso me prejudicou.
- ai – falei quando ele puxou um dos pontos.
- perdão – falou ele.
- ok.
- então... minha mãe e meu pai sempre trabalhavam muito e para que eu
tivesse tempo para estudar e um pouco de lazer eu nunca precisei fazer trabalho
domésticos ela tinha contratado uma diarista que ia em casa duas vezes por
semana. Era uma mulher que tinha por volta de 35 anos que tinha filhos, ou
seja, parecia ser uma boa mulher com ótimas referências. Quando eu tinha 14
anos essa diarista depois de ter feito o trabalho perguntou se podia tomar um
banho em casa, pois ela teria que ir para um compromisso depois que saísse de
lá e teria que ir direto. Eu disse que tudo bem. Não vi problema nenhum afinal
ela já trabalhava para minha família a mais de um ano.
Aquela história começava a tomar um rumo diferente do que eu esperava.
- durante o banho ela me chamou para pegar a toalha que ela tinha
esquecido dentro de sua mochila e quando fui até a porta do banheiro para
entregar ela me puxou pra dentro dele.
- você tinha 14 anos? Esse é o sonho de qualquer garoto ficar com uma
mulher mais velha.
- pra mim não foi assim – falou Jay pegando a gaze e o esparadrapo. –
como eu disse eu tinha poucos amigos e não convivia na rua e eu só fui
descobrir o sexo com meus 16 anos até essa idade eu só sabia o básico do
básico. Eu não fazia idéia do que ela estava fazendo comigo no banheiro eu só
sei que gostava.
- mas, você disse que não gostou – falei.
- não. Eu não sabia o que ela fazia, mas eu senti prazer.
Ele ficou um pouco em silêncio e eu deduzi o que ele quis dizer.
- foi igual a mim – falei respirando fundo – quando você ficou mais
velho e descobriu o que ela fazia você ficou com ódio.
- por isso eu estava envergonhado – falou ele – eu fiquei puto quando
cresci e descobri pelo oque tinha
passado. Pra mim é sempre difícil lhe dar com pacientes com vítimas de estupro,
mas eu sempre fiz meu trabalho perfeitamente, mas com você foi diferente.
- mas porque você ficou envergonhado?
- antes de você me contar o que passou eu me odiava por ter passado por
aquilo, mas depois do que eu ouvi o que você passou me senti patético. Eu não
passei metade do que você sofreu.
Agora eu entendi a reação dele na hora que foi embora na noite passada.
Eu não o culpava. Ele era meu psicólogo e sempre sabia o que me dizer para me
sentir melhor agora ele precisava de algumas palavras.
- não diga isso – falei tentando parecer indiferente já que ele tinha
deixado bem claro que não queria mais nada comigo – você é um sobrevivente
assim como eu, você deve saber que o ato não importa o que importa é a cicatriz
que deixa e pelo que vejo apesar de nossas experiências terem sido diferentes
nossas cicatrizes parecem ter sido iguais, até idênticas. Rasgou a nossa alma.
Ele terminou de fazer o curativo.
- pode vestir a camisa – falou ele. Eu vesti a camisa e esperei ele
dizer algo.
- você está certo – falou ele. – eu sei disso, mas não sei por que não
consigo ser racional quando se trata de você. Eu só estou arrependido de ter
sido um covarde e te abandonado.
- não se sinta assim.
Ele não disse nada e ficou olhando para a parede.
- então... acho que é isso. Obrigado por ter esclarecido. Fico feliz de
ter compartilhado isso comigo.
Ele deu um sorriso pequeno.
- se você preferir eu posso arranjar outro psicólogo.
- porque? – perguntou ele.
- você mesmo disse que nunca tivemos nada de verdade, só nos beijamos em
algumas horas de tristeza. – eu me afastei um pouco dele.
- não foi isso que eu quis dizer – falou Jay – eu sei tudo sobre Kyle.
Eu li as anotações que seu antigo psicólogo fez e agora que você reencontrou
ele eu não quero ficar entre vocês. Eu sei como você reage a situações onde
está sobre pressão. Eu te amo o suficiente para me afastar de você para que não
tenha que fazer uma escolha.
- você não tem esse direito – falei olhando para o chão. – você não tem
o direito de fazer essa escolha por mim. Eu não sei direito o que eu sinto.
Aquí dentro – falei colocando a mão no coração – e aquí – falei colocando na
cabeça – está uma bagunça. Eu sinto tantas coisas. Quando eu ví Kyle hoje eu me
senti como da primeira vez que o ví. Eu senti um calor no meu corpo, a sensação
de nostalgia eu senti apaixonado...
- então sua escolha está feita – falou Jay me interrompendo olhando pela
janela.
-...mas quando eu te vejo Jay, é como se eu não sentisse o chão abaixo
dos meus pés. Toda vez que te vejo meu coração pula. Eu não sei direito o que
eu sinto exatamente no momento. Eu fiquei triste por você ter ido embora e
posso ter me exaltado um pouco mais do que devia e posso ter confundido meus
sentimentos.
Ele continuou sem olhar pra mim como se estivesse evitando olhar em meus
olhos para não se machucar.
- eu não sei o que eu sinto exatamente aquí no meu coração. Eu fiquei
muito feliz ter visto Kyle. Não vou mentir eu o beijei. Nós nos beijamos. Foi
bom, excelente. Que merda Jay... eu amei Kyle, ele foi meu primeiro amor é como
se tivéssemos parados no tempo. Ele fez uma escolha á três anos atrás e meus
sentimentos mudaram nesse tempo eu o beijei, mas Jay Rodriguez eu estou
apaixonado por você. Jay eu te amo.
Eu estendi minha mão e virei a palma. Ele pegou minha mão e deu um beijo
ainda sem olhar pra mim.
- eu também te amo. – falou Jay olhando pra mim com os olhos vermelhos e
escorrendo umas lágrimas.
- nunca mais se atreva a me abandonar – falei dando um beijo na mão
dele.
- nunca mais – falou Jay – eu prometo.
Nós aproximamos nosso rosto e nos beijamos de língua, um beijo quente e
calmo, um beijo apaixonado com gosto de lágrimas. Eu alisei o rosto barbudo
dele decima pra baixo. Nós paramos de nos beijar e ficamos com as testas
coladas olhando bem perto um para o outro.
- Seja meu primeiro – falei dando um beijo no rosto dele.
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