CAPITULO 08
Sabe aquele momento em que você acorda e por alguns milésimos de segundo
não se lembra de onde está, quem é e você simplesmente se sente... Feliz?
Aquela era a melhor hora do meu dia. Eu rolei um pouco na cama tentando
imaginar que o que aconteceu na noite passada fora apenas um pesadelo, mas não
adiantava eu tentar fingir que aquilo não tinha acontecido. Eu sentei na cama e
esfreguei os olhos. Me levantei abri as cortinas do meu quarto e fui até o
banheiro e tirei a roupa para poder tomar um banho.
Depois do banho tomado e os dentes escovados eu vesti uma roupa nova e procurei
pelo meu pai no quarto dele, mas ele estava. Eu desci as escadas bem devagar
afinal não sabia se Jay estaria dormindo ou se meu pai estaria em casa.
- bom dia – falou Jay aparecendo da cozinha me dando um susto que fez
meu coração palpitar. – te assustei?
- um pouco – falei respirando fundo tentando relaxar. – onde está meu
pai?
- seu pai me ligou a uns 5 minutos e disse que estava saindo do hospital
e vindo pra cá.
- me diz que aquilo foi um sonho?
Ele olhou pra mim e sorriu.
- desculpa. – falou ele se virando e indo pra cozinha.
- você dormiu? – perguntei seguindo ele.
- um pouco... umas 3 horas mais ou menos.
- teve alguma noticia? – perguntei esperando uma resposta quem e fizesse
ter outro ataque.
- seu pai só me disse que seu irmão estava bem.
Minha mão começou a pinicar quando ele disse isso e eu alisei ela
tentando fazer passar.
- seu pai vai chegar logo.
Eu me levantei e fiz um café da manhã para nós dois. Enquanto comíamos
eu ouvi meu pai estacionando na entrada. Eu continuei sentado e Jay foi
recebe-lo na porta.
- bom dia – falou meu pai entrando com os olhos vermelhos de cansaço e
exaustão.
- bom dia – falei olhando pra ele e logo olhando para o meu cereal.
- ele está bem? – perguntou meu pai.
- está sim – falou Jay – melhor do que eu esperava. – então... como está
o Jake?
- está bem... estabilizado, mas tem uma coisa... – falou meu pai olhando
pra mim com medo de dizer.
- pode falar – falei largando a colher.
Ficou silêncio em casa. Meu pai não disse nada e olhava pra mim e para o
Jay.
- Jake chegou ás 05:00 da manhã. Ele sofreu ferimentos por causa da
explosão, mas não teve nenhum dano no cérebro.
- ele está consciente? – perguntou Jay.
- sim. Mal, mas está. Eu quase não pude ficar com ele, pois ele está na
UTI.
- não me sinto bem – falei colocando a mão na cabeça me sentindo meio
tonto. – eu respirei fundo tentando me acalmar. A esta altura eu já nem queria
mais comer.
- então pode se dizer que ele vai ficar bem? – perguntou Jay.
Meu pai olhou pra mim outra vez.
- na verdade... antes da explosão, uma semana antes mais ou menos Jake
veio reclamando de dores e fez alguns exames e descobriram que ele vai precisar
de um transplante de rins.
- mas eles descobriram antes...
- por causa da explosão o rim sofreu danos e ele precisa de um
transplante urgente. – meu pai falou isso limpando uma lágrima que escorreu
pelo seu rosto.
Eu me levantei e peguei meu prato e cereal e joguei fora e coloquei
minhas luvas e comecei a lavar o prato como se eles estivesse sujo e barro e
parecia que não saia nunca.
- você está bem? – falou Jay olhando pra mim?
- estou sim! Apesar da culpa ser minha...
- não fala isso... a culpa não é...
- minha! – falei interrompendo Jay – a culpa minha, sejamos realistas.
- tenha esperanças. – falou Jay para meu pai. – ele já deve estar na
fila de transplante.
- esse é o problema... o tipo de sangue dele é raro. AB+.
Jay não disse nada e meu pai também apenas ficou olhando para o chão.
- o quão ruim é? – perguntei tremendo um pouco a mão.
Ninguém disse nada por uns segundos e logo ví que Jay iria dizer algo.
- é estimado que apenas 2,5% da população têm esse tipo de sangue e
nesses casos geralmente uma pessoa da família é quem doa os órgãos, pois é mais
provável que tenha o mesmo tipo sanguíneo.
- então você pode doar não é pai?
- eu não tenho esse tipo de sangue.
Ele olhou pra mim e Jay também ficou olhando para ver minha reação
quando eu percebesse que eu é quem tinha o sangue AB+.
- sou eu? – falei largando o prato que caiu no chão se quebrando. – eu
não posso fazer isso. Eu odeio hospitais e a chance de uma infecção são grandes,
eu posso passar alguma doença pra ele...
Enquanto falava e começava a suar Jay e meu pai vieram andando até mim.
Antes que eles chegassem eu mandei eles se afastarem.
- fiquem longe – falei tirando as luvas e pegando uma garrafa de água
mineral e fui andando até as escadas e entrei no meu quarto e fechei a porta.
Eu andei de um lado para o outro pensando naquilo. Eu odiava hospitais.
E provavelmente meu sangue sujo faria piorar o estado de Jake. Não podia fazer
isso. Eles iam tentar me convencer e eu não podia fazer aquilo. Eu suava e
sentia os germes em minhas mãos.
Ouvi alguém tentando abrir a porta.
- Jack abre a porta - falou Jay batendo nela.
Eu não podia deixar que eles me levassem para o hospital. Eu corri para
o banheiro e abri a torneira da banheira e deixei encher de água. Fui até meu
quarto e comecei a abrir as gavetas e as portas do guarda roupas procurando por
algo que eu precisava.
- que barulho é esse? – falou Jay – Abre a porta, por favor, Jack.
Ninguém vai te obrigar a fazer nada.
Eu sabia o que tinha que fazer. Eu queria salvar meu irmão, mas não
teria coragem. Eu precisava fazer aquilo.
- vou arrombar a porta – falou Jay. Eu voltei correndo para o banheiro e
desliguei a banheira que estava cheia pela metade. Estava desesperado. Não sabia
o que fazer. Voltei para meu quarto e peguei uma cartela dos meus remédios. Eu
entrei na banheira depois de tirar os chinelos.
Sentei na banheira, pois era um lugar limpo para se terminar. Eu peguei
a garrafa de água e tirei todos os 24 comprimidos e fui colocando na boca e
engolindo. Enquanto tomava o comprimido de número 18 meus braços começavam a
ficar pesados e mal conseguia controlar minha respiração.
Finalmente aquela dor que sentia estava passando. A água quente da
banheira fez com que eu relaxasse. Meu coração batia forte no meu peito. Assim
que desmaiei ouvi a porta do meu quarto abrindo com um estronde e a última
coisa que ví antes de desmaiar foi um borrão do Jay entrando no banheiro.
- Henry – gritou Jay. Ele gritava alto até que meu pai apareceu no
banheiro. – chama uma ambulância.
- o que ele fez? – perguntou meu pai.
- ele tomou todos os remédios. – falou Jay tentando me tirar da
banheira. Ele se sentou no chão do banheiro e me colocou deitado no colo dele.
Meu pai pegou o celular e chamou a emergência.
- acorda – falou Jay dando tapas no meu rosto. Ele pegou a cartela de
remédios da minha mão e viu que eu tinha tomado todos.
Ele verificou meus batimentos cardíacos e minha respiração.
- a respiração dele está fraca – falou Jay. – Henry pegue a bula desses
remédios nós precisamos levar ele para o hospital o mais rápido possível.
- quantos comprimidos ele tomou? – perguntou meu pai – eu não posso
perder os dois filhos.
- ele tomou 19 comprimidos.
- ele vai morrer?
- pela dosagem a quantidade que ele tomou não vai mata-lo, mas ele pode
ter outros problemas.
Depois de mais ou menos 10 minutos a ambulância finalmente chegou.
Enquanto o paramédico me colocava na maca Jay viu que tinha um papel em cima do
meu criado mudo.
- que papel é esse? – falou Jay pegando e lendo.
- o que está escrito? – perguntou meu pai.
- “me leve para o hospital e faça o transplante”.
Eles olharam pra mim sendo colocado na maca.
- ele não tentou se matar? – perguntou meu pai.
- não. Ele estava tentando criar coragem para fazer o transplante.
- ele está tendo uma parada – falou o paramédico chamando a atenção
deles.
- meu Deus – falou meu pai.
Os paramédicos pegaram o desfibrilador e colocaram no meu peito dando
descargas elétricas tentando me acordar. Eles fizeram isso repetidamente. Entre
uma tentativa e outra eles massageavam meu peito tentando fazer meu coração
voltar a bater.
- afastem-se – falou o paramédico mais uma vez tentando me reviver –
quanto tempo já passou? – perguntou ele para o outro paramédico.
- 4 minutos.
- recarreguem em 360.
Ele esfregou as pás uma na outra e colocou no meu peito outra vez.
Jay e Henry olhavam pra mim com esperanças de que eu revivesse. Por fora
Jay estava dando apoio moral para meu pai, mas por dentro ele estava destruído
pensando que poderia me perder.
- afastem-se!
O barulho do desfibrilador ecoou pelo meu quarto.
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