ENTRE PAI E FILHO capítulo doze
O
|
último dia
havia chegado. Havia se passado algumas semanas e finalmente estava em minha
última sessão. Jeff parecia contente com o meu progresso. Já não pensava tão
negativamente sobre a vida. Ele disse que Cooper foi a melhor coisa que
aconteceu em minha vida. Havia melhorado bastante desde que tinha iniciado um
relacionamento com ele.
- como você se sente Mike?
Preparado para sua última tarefa?
- sim. Minhas malas estão
prontas. Cooper vai me levar até o aeroporto.
- você não precisa mais voltar a
Boston ok? Daqui dois dias viajo para San Diego e nós vamos juntos ao juiz.
- você vai me avaliar como?
- um homem capaz de viver em
sociedade.
- obrigado Jeff.
- não me agradeça. Agradeça a si
mesmo por que você se curou. Tudo o que fiz foi me sentar e ouvir o que tinha a
dizer.
- mesmo assim. Muito obrigado por
seu tempo, por ter me hospedado. Agradeço muito a você e ao Stephen.
- por nada – falou ele se
levantando e apertando minha mão. Em seguida veio um abraço – espero que se
divirta com sua família.
- estou nervoso por conhece-los,
mas estou otimista.
- eu sei que vai dar tudo certo,
não fique nervoso – falou Jeff abrindo a porta e nós dois saímos da sala.
Cooper estava na sala de espera e se levantou.
- tudo ok Mike? Seu voo sai em
uma hora.
- tudo amor – falei ficando ao
lado dele – pena que você não pode ir comigo.
- eu juro que se não fosse o
restaurante eu iria. A esposa de Freddy acabou de ganhar o bebê… você sabe.
- tudo bem, eu entendo – falei
rindo.
- ele está liberado?
- sim – falou Jeff – ele já pode
ir para casa e se quiser não precisa voltar.
Cooper olhou para mim esperando
uma resposta.
- Na verdade Jeff… essa é uma
novidade que eu queria dizer para você e Steve juntos, mas tudo bem.
- o que é? – perguntou Jeff
sorrindo.
- Agora que Adam e eu demos
inicio ao processo de divórcio, Cooper me chamou para morar com ele… eu sei que
estamos juntos a pouco mais de um mês, mas a verdade que quando você sabe, você
sabe. Nunca me senti assim com outra pessoa.
- meus parabéns – falou Jeff
cumprimentando Cooper e depois a mim – vocês irão oficializar?
- sim. Logo que Mike se instalar
lá em casa.
- é sério Mike… fico muito feliz
por vocês.
- obrigado Jeff.
Após nos despedirmos Cooper me
levou até o aeroporto. Nós saímos do carro e ele pegou a minha mala no porta
malas.
- quando chegar lá me liga ok? –
falou Cooper se aproximando para um beijo.
- ligo sim – dando o beijo e
depois outro – te amo.
- também te amo – falou ele
sorrindo e entrando no carro.
Peguei minha passagem e me dirigi
até a entrada para o check-in. Após todo o processo finalmente estava na sala
de espera. Estava nervoso por finalmente conhecer minha família biológica, que
no momento era a única família que tinha.
Cheguei no aeroporto
internacional de Nova Orleans ás dezenove horas e vinte e dois minutos. Olhei
no relógio para conferir mais uma vez antes de ligar para Ray.
Peguei meu telefone e avisei Ray
que esperava do lado de fora do aeroporto. Esperei alguns minutos e vi seu
carro vermelho se aproximar de mim. Me aproximei com a mala e ele desceu do
carro abrindo o porta malas. Notei que Ray não estava sozinho. Havia um homem
sentado ao seu lado. Ele também desceu do carro.
- seja bem vindo – falou Ray com
um sorriso colocando minha mala do porta malas.
- obrigado – falei nervoso.
Ele fechou o porta malas e se
aproximou para um abraço. Eu o abracei forte e ficamos abraçados por um bom
tempo. Dei um beijo no rosto dele e continuei abraçado.
- eu te amo tanto meu filho –
falou ele cochichando.
- como você pode me amar se nem
me conhece direito? – essa foi a pergunta que fiz. Não sei porque, mas aquela
bobeira saiu da minha boca para acabar com o momento.
- é o que um pai faz. Ama seu
filho incondicionalmente.
- me desculpa, foi uma pergunta
infeliz.
- não se desculpe – falou ele
colocando a mão no meu rosto e olhando para mim – meu filho – falou ele com os
olhos cheios de água. Antes que chorasse ele me soltou – Mike, esse é seu tio
Phil.
- muito prazer – falei estendendo
a mão.
- você se tornou um belo rapaz –
falou Phil me abraçando – nem acredito que você está aqui.
- Mike esse é meu irmão. Somos
melhores amigos – falou Ray batendo de leve nas costas de Phil – ele me ajudou
a passar por tudo quando você… você sabe do que estou falando.
Apenas dei um sorriso sinalizando
positivamente.
- vamos indo – falou Ray dando a
volta e entrando no carro. Abri a porta de trás, mas Phil chamou minha atenção.
- Vá na frente com seu pai, eu
vou atrás.
- ok – falei me sentando ao lado
de Ray.
A palavra pai já não fazia mais
parte do meu vocabulário e estava tentando eliminá-la de vez porque só tinha
lembranças ruins relacionadas a ela.
Toda a viagem eu fiquei calado.
Balancei a cabeça confirmando algumas vezes e outras vezes respondia apenas
“sim”, “ok” e “entendo”. Estava super nervoso para conhecer o resto da família.
Depois de alguns minutos
finalmente chegamos. Ray abriu o portão com o controle e assim que estacionou o
carro na garagem nós saímos do carro.
Respirei fundo uma última vez.
Ray pegou minha mala, mas não deixou que eu a levasse. Ele mesmo fez isso.
Saímos da garagem e a porta de saída na lateral nos levou para um corredor onde
ficava a escada para o segundo andar.
- Abby. Chegamos – falou Ray.
Ouvi passos vindos da sala e duas
pessoas apareceram. A primeira era uma mulher de olhos azuis e cabelos loiros.
Ela aparentava ter a mesma idade de Ray. Por volta dos quarenta e sete anos. O
homem que a seguiu parecia ter por volta dos setenta anos. Era parcialmente
careca e tinha um cavanhaque branco. Era alto e robusto.
Quando me viu os olhos de Abby brilharam.
- Mike, essa é sua mãe.
- meu filho – falou ela me
abraçando. De começo não abracei, não estava acostumado a ter uma mãe e havia
esquecido como era bom o abraço delas. Logo a abracei – senti tanto sua falta –
falou ela enchendo meu rosto de beijos.
Eu apenas sorri. Não sabia o que
dizer porque eu não sentia falta dela, já que a única mãe que conheci estava
morta.
- Mike – falou ela ficando ao
lado do homem mais velho – esse aqui é meu pai… seu avô: Symon.
- seja bem vindo garoto – falou
ele estendendo a mão e ao apertar a mão dele meus dedos quase foram quebrados.
- obrigado – falei tentando
disfarçar a dor.
Antes que alguém dissesse mais
alguma coisa um homem de cabelos e barba castanhos desceu as escadas. Ele deu
um sorriso e veio até mim com o braço estendido. Eu apertei sem saber quem ele
era.
- não está reconhecendo seu
irmão? – falou ele rindo.
- chega de piadas – falou Abby.
- estou brincando com ele – falou
ele rindo – meu nome é Keith. Sou seu irmão mais velho.
- muito prazer – respondi com um
frio na barriga.
- o jantar está quase pronto –
falou Abby – se você quiser pode tomar um banho Mike, depois desce para
conversarmos um pouco.
- ok – falei sorrindo.
- deixa que eu levo – falou Ray
subindo as escadas com minha mala. Eu subi logo atrás.
- esse é seu quarto – falou ele
abrindo a terceira porta á esquerda.
- obrigado – falei entrando.
Ray colocou a mala em cima da
cama e parou á minha frente.
- é isso – falou ele
aparentemente nervoso – se precisar de algo é só pedir.
- obrigado Ray.
- me chama de pai. Quer dizer…
sei que tem passado por alguns problemas com seu pai adotivo, mas significaria
muito para mim se me chamasse de pai.
- tudo bem… pai.
- se precisar de algo é só gritar
– falou ele andando em direção a porta.
Lembrei do que Jeff havia me dito
em uma das minhas sessões com ele e decidi colocar em prática o que havia
aprendido afinal Jeff tinha sábias palavras.
Andei rápido na direção dele e
coloquei a mão no ombro dele. Ele se virou e eu dei um beijo no rosto dele e o
abracei. Ele beijou meu rosto e ficou abraçado comigo por um bom tempo.
- vou tomar meu banho e já desço.
- ok –falou ele com um sorriso.
Era o sorriso de um pai que acaba de receber um gesto carinhoso do filho.
Admito que foi bom. Costumava ser muito próximo a Larry e sentia falta desses
abraços e do amor condicional que só ele me dava.
Tomei meu banho e depois de
arrumar todas as minha roupas no guarda-roupas eu vesti uma roupa casual, mas
simples. Desci as escadas e fui até a cozinha.
- ai está ele – falou Abby com um
sorriso – sente-se o jantar ficará pronto em breve.
- obrigado… mãe – falei me
sentando.
Abby olhou para Ray e ela deu um
sorriso e em seguida um abraço nele. Eu sabia que esse era um dia importante
para todos e ela estava feliz por ter seu filho de volta.
- e então Mike – falou meu avô se
sentando a mesa comigo – o que você faz da vida?
- eu costumava trabalhar na parte
administrativa em uma advocacia e era também assistente pessoal de um advogado.
- seu marido não é? – perguntou
meu irmão Keith chegando a cozinha – ele é gay, sabia disso Symon?
- Keith, por favor – falou minha
mãe olhando para ele e depois para mim – não fique constrangido Mike, meu irmão
tem Síndrome de Asperger e isso faz com que ele diga coisas inapropriadas.
- não tem problema.
- olha garoto – falou meu avô
tomando um gole de sua cerveja – eu posso ser velho, mas gosto de pensar que
sou moderno. No exército tinha meu pelotão e muitos dos soldados conversavam
comigo sobre sua vida pessoal. Alguns deles eram gays e eu sempre os respeitei
do jeito oque eles eram. O que quero dizer é: não precisa se sentir intimidado
com meu jeito sério. Eu te amo do jeito que você é.
- obrigado – falei limpando o
canto do olho. Fiquei emocionado com o que ele disse, mas não deixei
transparecer – você trabalha com o que Keith? – perguntei puxando conversa.
- trabalho em uma empresa de
móveis. Sou projetista de móveis e além disso sou o gerente regional e o
representante da minha empresa, significa que viajo bastante para todos os
lados do pais.
- parece ser um bom trabalho.
- e é – falou ele abrindo uma
cerveja – você não bebe?
- sim.
- pega – falou ele pegando outra
na geladeira e jogando para mim. Eu a peguei no ar.
- amor, onde está seu irmão? –
perguntou minha mãe para meu pai.
- deve estar lá fora falando ao
celular. Deve ser sobre trabalho.
- ele trabalha com o que? –
perguntei tomando um gole.
- seu tio Phil é dono de alguns
motéis no centro. Por isso ele fica sempre ligado no celular. Sempre tem algum
problema.
- entendo. Deve ser muito trabalhoso
ter que tomar conta de um estabelecimento que fica aberto vinte e quatro horas
por dia, todos os dias do ano.
- você ainda está casado ou já
tem outro home em sua vida? – perguntou meu irmão.
- não precisa responder – falou
Ray.
- na verdade eu dei entrada no
processo de divórcio com Adam.
- sinto muito – falou minha mãe –
não imagino como deve estar sendo difícil para você.
- bom, na verdade eu já conheci
outra pessoa e em breve estarei indo morar com ela.
- sério? Agora eu não sei o que
sentir – falou ela rindo. Não sei se fico triste pelo fim do seu relacionamento
ou feliz pelo começo de outro.
- fique feliz.
- como o conheceu?
- vai fazer duas semanas que nos
conhecemos. Para dizer a verdade ele me ajudou a sair da crise que tive.
- porque ele não veio com você?
Gostaria muito de conhece-lo.
- ele queria muito vir, mas é
dono de um restaurante em Boston e infelizmente não pode vir, mas ele mandou
lembranças e disse que está ansioso para conhece-los.
- muito gentil.
- na verdade ele disse que quando
vocês forem a Boston ficará feliz de recebe-los em seu restaurante.
- que gentil – falou minha mãe.
- muito – falei rindo e tomando
outro gole da cerveja.
- mas já começaram a beber sem
mim? – falou tio Phil chegando a cozinha.
- você fica dia e noite nesse
celular – falou Ray – não pudemos espera-lo.
- bem que eu queria me desligar
um pouco do trabalho, mas não consigo – falou ele pegando uma cerveja na
geladeira.
- agora a família toda está
bebendo – falou Keith – espero que o jantar ainda saia.
- engraçadinho – falou minha mãe
tomando um gole da cerveja dela.
O jantar ficou pronto e todos nos
sentamos a mesa e aproveitamos uma deliciosa refeição.
- e então filho? Gostou da
comida? – perguntou minha mãe para mim.
- uma delicia – respondeu Keith.
- ela perguntou para Mike.
- me desculpem, mas é que
costumava ser o único filho até ontem – falou ele rindo.
- sim. Está maravilhosa.
- muito obrigada – falou ela
rindo.
Depois que todos jantamos. Phil
saiu mais uma vez para falar ao celular e Keith subiu as escadas indo para o
quarto.
- Mike, enquanto sua mãe arruma a
cozinha gostaria de beber comigo? Gostaria de conversar com você;
- na verdade estava pensando em
ajuda-la, pode ser depois?
- querido, pode ir eu cuido de
tudo, mas obrigada por se oferecer.
- ok – falei pegando a cerveja na
mão de meu pai.
Ao chegarmos do lado de fora ele
se sentou em uma cadeira de madeira e eu me sentei ao segui lado. Abrimos as
cervejas de demos um gole.
- e então… - falei tentando
parecer receptivo – quer conversar comigo?
- na verdade não tenho muito o
que dizer. Estou só querendo tirar o atraso de vinte e dois anos.
- tenho vinte e dois agora, mas
daqui a dois dias completo vinte e três.
- é verdade – falou ele seu
tomando um gole – você comemora o dia em que foi encontrado no orfanato.
- que dia é meu aniversário de
verdade?
- dia 11 de novembro.
- Fui abandonado em Julho,
comemoro aniversário em maio, mas na verdade nasci em novembro– falei rindo e tomando
um gole da minha cerveja
- vinte e três anos e eu não tive
um dia sequer com meu garoto.
- e Keith?
- eu não sou pai dele, sou
padrasto. É claro que o considero um filho, mas com dez anos o garoto tinha QI
de 162. Ele praticamente se criou sozinho. Sua mãe e eu ficamos para escanteio.
Nunca tive a chance de sentar com meu filho e dividir sua primeira cerveja ou
seu primeiro cigarro. Não tive a chance de te dar broncas ou conselhos.
- bom… eu nunca experimentei antes. Se… não sei…
- ok – falou ele acendendo um e
dando uma tragada antes de me entregar. Eu coloquei na puxa puxei a fumaça, mas
não consegui manter e logo tossi e comecei a rir entregando ele de volta.
- eu sou um péssimo pai – falou
ele rindo e colocando o cigarro na boca – foi melhor você ter sido criado por
outra pessoa mesmo. Meu pai era um típico rústico americano. Bebia fumava e
tranzava com todas as mulheres da cidade. Mesmo quando estava com minha mãe.
Ele me ensinou muitas coisas erradas, mas essas são as lembranças que mais
gosto dele. A primeira vez que tomei cerveja ou fumei um cigarro com ele. Ele
podia ser um canalha com minha mãe, mas estava lá para mim sempre que podia. Eu
só queria partilhar desses momentos com você.
- obrigado – falei colocando
minha mão em cima da dele – obrigado por estar aqui comigo.
Ele deu um sorriso e apertou minha
mão.
- eu não sou tão irresponsável
quanto meu pai. Ao invés de te comprar uma carteira de cigarros eu vou te dizer
que fumar faz mal a saúde. Nem pensem em começar.
- não se preocupe com isso –
falei rindo e tossindo mais um pouco – não vai acontecer de novo.
Antes que meu pai dissesse algo.
Phil chegou até onde estávamos.
- vocês estão ai – falou Phil –
pode parecer estranho, mas o Mike tem visita.
- eu? visita? – Phil estava
certo. Era muito estranho.
- sim, você.
- vou lá - falei me levantando e deixando ao cerveja
em cima de uma mesa de madeira próximo a nós. Atravessei a casa e ao chegar lá
de fora abri o porta.
Um homem estava de costas e ao
ouvir o barulho d portão se abrindo os dois olharam para mim.
- finalmente de encontrei. Viajei
o pais todo atrás de você. Pensei que não tinha ninguém em casa. Estou chamando
faz uns dez minutos.
- tio Roger? – falei surpreso. Lá
estava ele com sua barba loira e seus cabelos arrepiados usando sua típica
roupa de bom moço fazendeiro. Senti um calafrio e mal consegui dizer uma
palavra.
Roger estava parado com um
sorriso bem a minha frente.
- e ai garoto? Tudo bem?
- está fazendo o que aqui?
- é assim que você me recebe? –
falou ele vindo para um abraço e eu o abracei.
- me desculpa, vamos entrando.
- não. Não quero te atrapalhar.
- como chegou aqui? Como sabia
que estava aqui?
- Digamos que eu chego na casa do
meu irmão para visita-los e quando chego lá fico sabendo de uma história bem
engraçada pela Vanessa.
- ok.
- depois que ela me contou tudo
peguei o primeiro voo para Boston e quando chegou lá descubro que já tinha ido
embora. Depois de conversar com Jeff, seu psicólogo ele me disse onde estaria.
Então peguei o primeiro voo para Nova Orleans.
- porque tudo isso?
- porque eu quero que saiba que
ainda sou sua família. Não quero que leve o que meu irmão idiota disse em
consideração. Se ele não te quer como filho: ok. Eu te quero como sobrinho.
Você é meu prefiro. Ainda se lembra disso né?
- não precisa fingir. Pelo que
percebi o sangue fala mais alto do que tudo. Meu pai preferiu o filho de sangue
a mim.
- Que se foda seu pai. Estou
falando sobre mim e o que estou dizendo é: você ainda é dá família. Você ainda
tem o Fabray no sobrenome e assim vai continuar.
- obrigado tio. Significa muito
para mim. Verdade.
- dá aqui outro abraço – falou
ele me abraçando outra vez e dando um beijo no meu rosto – eu te amo ok? Espero
que ainda me ame.
- te amo tio – falei abraçando
ele forte.
Nesse momento meu pai chegou
atrás de mim.
- tio Roger, esse daqui é Ray
quer dizer, meu pai.
- muito prazer – falou meu pai
apertando a mão de meu tio Roger.
- me desculpe Ray, eu não queria
atrapalhar vocês eu só queria conversar com Mike. Mostrar para ele que nem todo
mundo é tão idiota quanto meu irmão.
- não se preocupe com isso – falou
meu pai saindo da frente do portão – entre, venha conhecer todo mundo.
- não precisa. De verdade.
- onde você está hospedado Roger?
- na verdade não trouxe nem
malas. Vim direto do aeroporto para cá.
- não se preocupe. Agora você tem
um lugar para ficar.
- tem certeza? Não queria ter
aparecido aqui desse jeito.
- sem problemas. Pode ir
entrando.
Ao chegarmos lá dentro apresentei
tio Roger para todos.
- mãe, esse aqui é Roger. Meu
tio.
- muito prazer – falou ele
apertando a mão dela.
- tio Phil, Keith, Symon: esse é
meu tio Roger.
Todos se cumprimentaram.
- aceita uma cerveja Roger?
- com certeza – falou ele.
Meu pai entregou uma latinha para
ele.
- olha, eu espero não estar
atrapalhando. Não quero ser um incômodo.
- de maneira nenhuma – falou meu
pai – você está em casa Roger. Todo mundo que ama Mike é bem vindo em minha
casa.
Não sei bem quando foi, mas o
jantar se transformou em uma festa familiar. Todos bebendo, conversando e não
demorou muito para que a carne estivesse queimando. Havia se tornado uma
celebração ao meu retorno. O relógio marcava
um pouco mais das onze da noite e todos riam e conversavam enquanto
saboreavam a carne de meu avô. Não literalmente… deus sou tão pervertido.
- e então mano – falou Keith
chegando próximo a mim na mesa onde estava sentado – a vida foi dura com você
né?
- um pouco, mas tudo o que passei
me trouxe até aqui.
- o que não nos mata, nos deixa
mais forte, certo?
- exato – falei tomando um gole
do meu refrigerante. Já não aguentava mais beber cerveja.
- sabe o que é engraçado? – falou
Keith.
- o que?
- você está aqui a algumas horas
e Ray já dividiu uma cerveja, um cigarro e já disse que te ama várias vezes. Em
algumas horas ele já passou alguns momentos precioso entre pai e filho com
você.
- sim.
- sabe o que é engraçado?
- o que?
- ele não fez isso comigo. A
primeira vez que provei cerveja estava sozinho em casa. Não literalmente. Ray
estava lá em cima no seu quarto. Nos primeiros anos ele só ficava lá dentro
chorando.
- sinto muito. Deve ter sido
difícil para você também.
- meu pai nos abandonou quando
tinha oito anos. Sofri muito com isso. Meu pai e eu éramos muito próximos,
jamais imaginei que de um dia para o outro ele me trocaria por um parte de
peitos e uma buceta.
- ok – falei em sentindo sem
graça.
- bom, os dias estavam sendo
difíceis, nunca achei que teria um pai novamente. Foi quando minha mãe conheceu
Ray. Cara – falou ele rindo. Era como se ele se lembrasse de um bom tempo – foi
muito bom. Ray me tratava como seu próprio filho. Ele se tornou um pai para
mim. ele é meu pai. Nós tivemos uma ligação forte. Atrevo-me a dizer que muito
mais forte d oque com meu pai verdadeiro. Aquele que trocou o amor do filho
pelo amor de uma vagabunda qualquer.
- fico feliz que tenha se
resolvido.
- ai é que você se engana – falou
ele – tudo ia bem até que minha mãe descobriu que estava grávida. A partir
desse momento ele foi se afastando de mim.
- sinto muito – falei sem graça.
A conversa estava tomando um rumo sombrio, mas como ele tinha asperger ele não
filtrava o que dizia.
- foram dois anos bons, até ele
descobrir que seria pai. Era como se o filho de sangue valesse mais do que eu.
- eu sei como é ruim. Meu pai
biológico também se afastou muito de mim depois que teve o filho de sangue.
- pra você é fácil dizer. Seu pai
biológico está logo ali. O meu nunca vai voltar.
- desculpa se te ofendi.
- não ofendeu – falou ele tomando
outro gole da cerveja e rindo – sabe o que é engraçado? Eu pensei que se você
fosse embora ele voltaria a me amar, mas ele simplesmente se desligou do mundo.
- como assim?
- no meio daquele Margi Gras em Julho
Ray ficou o dia e a o noite no açougue. Minha mãe estava cuidando de nós dois
naquele dia. Eu tinha apenas dez anos e você tinha um mês e meio de idade.
- você se lembra do dia que
desapareci? Dia onze?
- claro que me lembro. Nesse dia
tio Phil veio nos visitar e os dois subiram as escadas para conversar. Eu
sabias que quando tio Phil estava em casa eles ficavam muito tempo lá em cima.
Eu te peguei no berço e sai com você
nos braços. Estava escuro, mas eu conhecia bem as ruas e além do mais ela
estava bastante iluminada com toda a festança.
- o que está dizendo? – falei
surpreso.
Olhei para meu pai e todos
conversando do outro lado da mesa. Ninguém era capaz de ouvir o que estávamos
conversando.
- Pensei em te deixar em uma
lixeira, mas alguém o encontraria e não demoraria para que alguém o levasse a
policia. Foi quando passei em frente ao orfanato. Não sei se foi meu
subconsciente que havia me levado até lá. Ou se foi pura sorte. Era próximo do
dia das bruxas e ainda havia a decoração nas ruas. Peguei uma cesta de vime e
te coloquei dentro. A chuva que começou a cair não ajudou, mas eu consegui
chegar em casa, trocar de roupa e me deitar. Minha mãe ainda estava trancada no
quarto com o tio Phil.
- foi você que me sequestrou?
- eu não chamaria de sequestro.
Eu apenas te passei para frente. O engraçado de tudo é que pensei que Ray
transferiria o amor que tinha em você para mim. Pensei que voltaríamos a ser o
pai e o filho que nós tínhamos sido nos últimos anos – falou meu irmão agora um
pouco perturbado – mas ele se fechou para o mundo. Não sei se minha mãe se
sentiu culpada, mas tio Phil nunca mais nos visitou com tanta frequência –
falou ele passando o dedo pela garrafa suada de cerveja – fui idiota por ter
feito isso, mas eu queria tanto ser amado por meu pai outra vez. Só queria ter
o amor dele de volta.
Agora era eu que estava
perturbado com tudo aquilo.
- fui eu quem te enviou aquela
carta. Queria que estivesse de volta. Agora que sou um homem feito eu percebo o
erro que cometi. Agora que você voltou Ray me trata como filho outra vez. No
começo desse ano ele voltou a ser meu pai outra vez. Me chamava sempre para
beber cerveja com seus amigos, me convidada para passar o domingo assistindo
futebol americano – falou ele rindo. Só agora percebi que aquilo se tratava de
uma confissão. Me senti bem outra vez, mas foi quando me veio a mente: quem sou
eu para impedir que você tivesse essas mesmas lembranças com seu pai? Foi por
isso que comecei a procurar por você. Contratei um detetive e ele fez um bom
trabalho descobrindo quem você era.
- eu nem sei o que dizer – falei
me escorando na cadeira.
- eu estou preparado para as
consequências. Pode ir lá contar para seu pai.
- você não vai contar para
ninguém?
No passado eu teria me sentido
mal, ficado dias sem sair da cama, contato tudo a todos e destruído outra
família, mas dessa vez não. Todos já pagaram demais por seus erros. Minha mãe e
tio Phil provavelmente se arrependeram até o inferno por estarem tranzando
pelas costas do meu pai quando eu desapareci. Keith também estava arrependido
ou nunca teria me confessado. Ele estava perturbado. Ele já havia sofrido
demais. Não era mesquinho o suficiente para dedurá-lo apenas por vingança.
Ele virou a mão e segurou minha
mão.
- obrigado – falou ele sorrindo.
Tudo o que ele queria é o que
sempre quis: O amor do pai.
Eu não pensava nele como o homem
que tinha acabado com minha vida, mas o homem que tinha dado uma chance a todos
nós. Se eu não tivesse desaparecido talvez meu pai e minha mãe estivessem
separados porque a traição teria sido descoberta em algum ponto de suas vidas.
O meu desaparecimento uniu a família como nunca.
- você é um bom homem – falou
Keith se levantando e dando dois tapas de leve em meu ombro.
- obrigado – falei me levantando
e indo de encontro a todos.
- porque está tão feliz? –
perguntou meu pai – a que devo esse sorriso no seu rosto?
- não sei. Estou apenas feliz por
estar com minha família.
- também estamos felizes pro você
estar aqui – falou tio Phil ficando ao meu lado e passando o braço fazendo eu
ficar junto dele – um brinde ao Mike. Meu sobrinho querido, um filho que sempre
foi amado e que agora está em casa outra vez.
- um brinde – disseram todos
brindando com suas cervejas, sejam latinhas ou suas garrafas de vidro.
No dia seguinte acordei tarde.
Quase nove da manhã. Não queria ter acordado tão tarde, porque não queria
passar-lhes a mensagem de ser um homem preguiçoso. Sai do quarto e fui até o
banheiro e tomei um banho. A casa estava silenciosa. Fui até o quarto de
hospedes e vi meu tio Roger dormindo profundamente. Ele até se mexeu um pouco
na cama e eu fechei rapidamente a porta. Pelo visto todos estavam dormindo
decido a bebedeira da noite passada. Aproveitei que todos estavam dormindo para
fazer uma visita a cidade.
Descobri em uma breve pesquisa
pelo meu celular que havia um Audubon Aquário e Insectário no centro. Fui de
ônibus até lá. Desci a alguns metros de distância e ao chegar lá pague o preço
do ingresso e entrei. Lá era uma espécie de museu e zoológico de insetos. Era
interessante, bonito e um pouco nojento. Devo admitir.
Depois de uma hora de visita meu
celular tocou.
- alô.
- Mike?
- ele mesmo. Quem está falando?
- Fritz.
- oi Fritz. Tudo bem?
- sim. Como você está?
- ótimo. Onde você está?
- Em Nova Orleans, está tudo bem?
- se você sair dai agora, quanto
tempo leva para chegar aqui em San Diego?
- não sei… porque? O que está
acontecendo?
- não quero te falar por
telefone.
- meu deus, você está me
preocupando Fritz. Pode me dizer por telefone mesmo.
- seu pai foi baleado. Ele reagiu
a um assalto quando saia do banco hoje cedo.
- o Larry? – falei sentindo um
calafrio por todo meu corpo.
- sim.
- ele está bem?
- no hospital. Não sei se você
sabe, mas o sangue dele é raro. Precisamos encontrar alguém que seja
compatível.
E agora? O que eu faria? Estava
com um dilema há minha frente. Seria eu capaz de perdoar meu pai pelo o que ele
fez?
- tem mais uma coisa Mike.
- o que foi?
- Larry me contou que é HIV
positivo – falou Roger de uma vez.
Aquela noticia sim me chocou.
Meu pai é HIV positivo. Nunca
imaginei que ele serie. Pelo o que Vanessa me contou ela também tem e eles não
sabem como pegaram e nem quem foi o primeiro. Tudo o que sabem é que os dois
têm e minha irmã Rachel não.
Os dois estavam vivendo bem desde
então, mas agora que meu pai precisa de doação ele precisou contar.
- que sorte que você é compatível
–falou Roger.
- é… muita sorte – falei
respirando fundo.
Eu forcei um sorriso. Estava
feliz, mas na verdade ainda estava chocado com a noticia. Larry levou um tiro
certeiro e agora precisa de um rim e eu não sabia o que fazer. Estava com raiva
por ele ter dito aquelas coisas, mas também estava triste por não poder fazer
nada.
Ao chegarmos no hospital me
encontro com Vanessa que estava no saguão. Ela me abraça em prantos e começa a
me dizer o quão estúpido Larry foi por ter reagido ao assalto.
- espero que encontremos logo um
doador – falou Vanessa.
- espero que sim – falei
abraçando ela de volta.
- Mike, seja bem vindo – falou
Fritz com a mão estendida.
- olá Fritz. Ele está bem?
- está sim – falou Fritz – está
acordado e por enquanto descansando.
- olá Mike – falou Vincent
chegando com dois copos de café. Ele entregou um para Vanessa.
- olá – falei forçando um
sorriso. Estava muito nervoso para socializar.
- Mike, posso fala com você em
particular?
- pode – falei seguindo-o para
longe de todos.
- e então Mike. Como te disse por
telefone, você é compatível com seu pai.
- Larry.
- ok… Larry.
- eu não sei o que vou fazer
Fritz.
- porque? Você não quer doar o
rim?
- eu quero mas não posso.
- porque?
- porque eu já doei um dos meus.
Fritz ficou branco mais branco do
que já era quando falei isso.
- Mike… não sei o que dizer.
Ninguém sabe disso. meu pai não
sabe disso porque ele nunca me deixaria doar.
- você doou pra um amigo?
- sim. Na verdade um amigo de
Felix.
- quem é Felix?
- um amigo Fritz, o que importa é
que eu não tenho mais um dos meus rins.
- como você se recuperou sem que
seu pai soubesse?
- não foi difícil esconder. Você
não sabe do que é capaz de fazer pelas pessoas que gosta até que tem a chance.
- não sei o que vamos fazer –
falou Fritz.
- será que não podia realizar
teste em todas as pessoas possíveis? Talvez uma delas seja. Se meu pai é, e eu
sou as chances de alguém ser é grande.
- posso fazer. Se muitas pessoas
fizerem as chances são maiores.
- posso pedir para meu pai, pedir
para os funcionários fazerem os testes. Ele deve ter muitos amigos.
- ótima ideia – falou Fritz –
peça para eles fazerem os testes o mais rápido que puderem porque o outro rim
já está falhando.
- ok – falei nervoso.
Voltei para o meio de todos.
- e então? Quando vai ser a
cirurgia? – perguntou Roger.
- que cirurgia? – perguntou Vanessa.
- o médico não contou a vocês?
Mike tem o mesmo tipo sanguíneo e raro de Larry.
- verdade? – perguntou Vanessa
deixando transparecer a felicidade em seu rosto. Ela me deu um abraço.
- esperem – falei me afastando –
eu não vou doar.
- o que? – perguntou Roger –
Mike, pensa direito. Eu sei que meu irmão te maltratou, mas ele te ama. Eu sei
que sim.
- não é por isso.
- então porque? – perguntou
Vanessa.
- eu já doei a alguns anos atrás.
- meu deus – falou Vanessa
começando a chorar.
- vou perder meu irmão – falou
Roger começando a chorar também.
Não sabia mais o que pensar. Era
tudo muito estressante. Eu doaria o rim se o tivesse, mas agora só tenho o meu.
Vanessa continuava conversando
com Fritz e Roger foi atrás dela. Eu sabia do que falavam e só me deixava mais
e mais nervoso então decidi ir lá para fora tomar um ar.
Sai e atravessei a enorme praça e
me sentei em um dos bancos na praça. Fiquei lá ansioso com as pernas inquietas.
Minhas mãos estavam geladas e eu nem sabia o que fazer.
Foi quando ouvi passos próximos a
mim.
- Mike, é verdade que seu pai foi
baleado ao reagir a um assalto?
- oi? – perguntei levantando
olhar. Era um repórter.
Ao me levantar vi mais deles
chegando. Por todos os lados. Tive uma sensação de dejavú. Toda vez que ia para
aquele maldito hospital os repórteres vinham logo atrás de mim.
Andei de volta ao hospital, mas
logo os urubus chegaram mais perto e eu já não conseguia me mover para nenhum
dos lados.
- Mike…
- por favor…
- ele está bem?
- …faleceu?
As perguntas vinham de todos os
lados. Estava pronto para explodir, mas logo veio uma coisa em minha cabeça. Eu
olhei para as câmeras.
- gostaria de informar que meu
pai Larry foi baleado durante um assalto e precisa de um rim. Seu tipo
sanguíneo é O-. Se você tem o tipo sanguíneo O- venha ao hospital Saint Louis.
Você pode estar salvando uma vida. A do meu pai. Sem mais perguntas por favor.
Com muita dificuldade consegui sair por entre eles e cheguei dentro do
hospital.
- porque você fez aquilo Mike? –
falou Vanessa.
- agora nós temos uma chance.
Finalmente esses repórteres serviram para alguma coisa.
- espero que alguém apareça.
- também espero – falei
respirando fundo – só espero que nenhum juiz mande me prender afinal estou
quebrando a ordem de restrição. Não devia nem estar nesse hospital. O juiz acha
que posso tentar matar meu pai ou Adam.
- esquece isso – falou Vanessa –
você é filho dele, tem o direito de estar aqui.
- você quer almoçar? – perguntou
Roger – já são três da tarde e você não comeu nada.
- você também não – falei para
Roger.
- Vanessa você vem?
- acho que sim – falou Vanessa
olhando para Vincent – vamos?
- sim – falou Vincent.
Estávamos no restaurante mais
próximo ao hospital e as pessoas olhavam para nós, nenhuma delas tentavam
disfarçar.
Depois de comermos decidimos
ficar mais algumas horas. Seria bom deixar esquecer um pouco de tudo. Estar no
hospital me deixava doente. Já estava nervoso o bastante com minha situação.
Depois de duas horas afastado do
hospital decidimos voltar. Chegamos ao saguão e nos sentamos esperando por
noticias.
- onde vocês estavam? – perguntou
Fritz se aproximando.
- fomos almoçar e acabamos
ficando um pouco por lá.
- liguei no seu celular várias
vezes, mas você não respondeu.
- porque? Larry está bem?
- encontramos um doador
compatível a mais ou menos duas horas.
- sério? – falei me levantando.
Onde ele está? Quero agradecê-lo.
Vanessa e Roger riram de
felicidade.
- ele não é uma pessoa qualquer,
ele te conhece e está na minha sala esperando para conversar com você.
- ok – falei olhando para Vanessa
e Roger – vou lá ver quem é.
- seja lá quem for, agradeça-o
por mim.
- tudo bem – falei seguindo
Fritz.
Entramos no elevador e fomos para
o terceiro andar e chegamos a sala da diretoria. Fritz abriu a porta e lá
dentro estava Adam.
- Adam? O que está fazendo aqui?
- eu vi você na TV.
- seu sangue é O-?
- sim – falou ele com um sorriso.
- vou deixar vocês a sós – falou
Fritz fechando a porta.
Eu me aproximei dele.
- muito obrigado por fazer isso
Adam.
- saiba que não faço isso por seu
pai. Depois do que ele disse… quer saber? Ele já está sofrendo o bastante e não
precisa de julgamento, mas estaria mentindo se dissesse que faço por ele.
- faz por mim?
- sim – falou ele colocando um
papel em cima da mesa.
- o que é isso?
- nosso divórcio. Sei que não é
uma boa hora, mas eu te amo o bastante para deixar você ir. Se você quiser
mesmo assinar.
- quero – falei respirando fundo.
- eu só te peço uma última coisa.
- o que?
- um beijo de despedida.
- você merece – falei me
aproximando e abraçando-o. Beijava meu marido pela última vez antes de assinar
o divórcio.
- tem certeza que quer se
divorciar? – perguntou ele dando um selo e levando suas mãos até minha bunda e
apertando de leve – nós dois fomos feitos um para o outro.
- sim. – falei beijando o rosto dele.
- só quero que saiba que o tempo
que passei com você foi o melhor da minha vida. Nunca vou ser feliz como fui
com você. Não outra vez.
- não diga isso. Você será feliz.
Você me fez feliz Adam.
- saiba que por mais que eu tenha
errado meu coração sempre foi seu e sempre será.
- eu nunca vou esquecer o que
está fazendo por mim. Não sei nem como devo descrever o seu ato… acho que…
Glorioso! – falei dando um beijo no rosto dele.
Dei um último selinho antes de me
virar e pegar a caneta. Coloquei a caneta no papel e respirei fundo antes de
assinar. Não existia mais motivos para estar preso a ele, mas mesmo assim minha
mão tremeu ao tocar o papel com a caneta.
Respirei fundo e fechei os olhos
mais uma vez. Tudo o que consegui ver foi eu e Adam tendo uma outra chance.
Larguei a caneta e peguei o papel rasgando-o.
- o que está fazendo?
- quando fecho os olhos não
consigo imaginar minha vida sem você.
- você me perdoa?
- não. Nós ainda não estamos
juntos, eu já tenho outra pessoa.
- então porque não assina?
- porque dentro de mim eu sei que
bem no fundo eu quero ter outra chance com você.
- obrigado – falou Adam me
agarrando e beijando minha boca.
- pare, eu disse que não estamos
juntos.
- OK – falou ele com um sorriso – vamos marcar
essa cirurgia.
A cirurgia de Larry foi perfeita
e não houve rejeição por parte dele. Ontem quando acordou da cirurgia ele pediu
que Vanessa me chamasse. Ele queria muito falar comigo, mas infelizmente eu não
compartilhava desse sentimento e preferi deixar as coisas como estavam. Ele
disse que não era mais meu pai e eu aceito.
Adam estava em recuperação em
casa. Sozinho como é de se esperar. A esposa traída está se fudendo pra ele e a
bola da vez, Marisol, nem coloca o pé lá para ajuda-lo. Sobrou para quem?
Exato: Para mim. Cooper foi compreensível na medida do possível, mas preferiu
pegar uma folga do trabalho e vir comigo para San Diego. Eu fui patético em
pensar que meu noivo confiaria em mim com o marido, mas a verdade é que preferi
assim mesmo, dessa forma evitamos confusão por parte de fofocas e o tal de “diz
que me disse”.
Só não sei ainda coo contar ao
meu noive, Cooper que eu me recusei a assinar os papéis do divórcio e Adam
continua sendo meu marido. Essa parte eu não calculei bem.
Cooper estava hospedado em um
hotel próximo ao centro. Nós havíamos conversado por telefone e ele havia
chegado um dia antes. Bem perto do trabalho de Adam, dessa forma trazia e
levava o trabalho dele além de cuidar dele.
- bom dia – falei acordando
Cooper com um beijo no rosto.
- bom dia – falou ele me dando um
selinho na boca.
- amor, precisamos ir lá na casa
do Adam. Você disse que quer ir comigo todas as vezes.
- eu confio em você – falou ele
rindo – eu não confio é nele.
- ia mesmo. É bem capaz dele me
agarrar ao me ver.
- Hey – falou ele levantando a
cabeça e olhando para mim – acho melhor eu ir sozinho.
- estou brincando com você seu
bobo.
- vamos indo – falou ele se
sentando na cama.
- ele vai gostar de te conhecer.
- será? – falou Cooper se
levantando da cama.
- não sei, mas quero estar positivo
quanto a tudo isso.
- vou tomar um banho e trocar de
roupa – falou Cooper se levantando.
- depois eu vou – falei me
deitando na cama e respirando fundo.
- você vai conversar com Larry
hoje?
- amor, eu sigo noventa e nove
por cento dos seus conselhos, mas eu realmente não quero mais me envolver com
ele.
- tudo bem. Não me culpe por
tentar – falou ele entrando no banheiro.
- não te culpo – falei me
sentando na cama.
Respirei fundo e esperei um pouco
até ele ligar o chuveiro para poder pedir o café da manhã, mas antes que ele
começasse seu banho ele apareceu na porta.
- não quer tomar banho comigo?
- não, estou bem.
- Mike, eventualmente nós teremos
que fazer sexo. Só fizemos uma vez e eu meio que estou te desejando agora.
- eu ainda não estou preparado
para fazer sexo novamente. Não depois de descobrir que o meu pai tem HIV.
Ele se aproximou de mim na cama e
se sentou ao meu lado.
- não estou querendo te
pressionar, ok? Só estou mostrando que estou aqui para você. Vou estar sempre
ao seu lado e não vou deixar ninguém te machucar enquanto viver. Mais do que
ninguém, você sabe do que sou capaz de fazer.
- sinto muito. É que…
- não precisa se explicar pra
mim. Eu entendo pelo o que está passando. Tome o tempo que precisar.
- obrigado – falei beijando a boca
dele. Minha língua estava dentro de sua boca e nos beijávamos apaixonados –
prometo que será em breve.
- te amo – falou ele se
levantando e indo para o banheiro.
Desde que descobri que meu pai e
Vanessa tinha HIV eu fiquei chocado e meio que me afetou. Fiquei com medo do
toque de outro ser humano. Havia tentando algumas vezes, mas não sentia
vontade. Tinha medo que de alguma forma eu pudesse deixar Cooper doente.
Depois que tomou seu banho, foi
minha vez e quando sai do banheiro vesti minha roupa e tomamos nosso café da
manhã. No caminho do apartamento de Adam aparamos em uma lanchonete e pedimos o
café da manhã para viagem.
Ao chegarmos na portaria do
prédio Bart, o porteiro me recebeu com um sorriso.
- olá Mike. Tudo bem?
- estou sim Bart e você?
- estou ótimo – falou ele olhando
para Cooper – quem é esse gatão?
- esse é meu noivo, Cooper.
- prazer – falou Cooper apertando
a mão de Bart.
- me desculpa, não queria ser
atrevido – falou Bart sem graça.
- não se preocupa com isso. Ele é
gatão mesmo – falei entrando.
- quer que aviso o Adam que está
chegando?
- por favor – falei indo até os
elevadores.
Não demorou para que Cooper e eu
chegássemos a porta do apartamento de Adam. Usei minha chave para abrir a
porta.
- somos nós – falei entrando.
- estou aqui no quarto.
- olá – falei abrindo a porta.
Adam estava deitado na cama assistindo TV.
- olá – falou ele com um sorriso.
- com licença – falou Cooper
entrando no quarto também.
- Adam, esse é Cooper meu…
- namorado, certo? – falou Adam
esticando a mão para cumprimenta-lo.
- noivo na verdade – falou Cooper
apertando a mão dele.
- ok – falou Adam olhando fixo
para mim. Seu olhar penetrante com certeza estava se referindo ao fato de que
eu não havia assinado os papéis do divórcio – não fui convidado para o noivado,
mas tudo bem.
- não houve noivado Adam – falei
entregando o café da manhã dele – Cooper me chamou para morar com ele e assim
que me mudar nos casaremos. Sem festa, apenas ir no cartório oficializar –
falei com um sorriso sem graça. O que faria quando Cooper descobrisse?
- ok – falou Adam dando um gole
do seu café – Mike será que você pode ir no meu trabalho pegar uns contratos
para mim assinar? A burra da minha assistente devia trazer, mas ela não sabe
chegar aqui.
- não chama ela de burra Adam.
Acho que devia respeitar mais as mulheres. Uma te deu a luz e a outra vai dar a
luz ao seu novo filho.
- você vai lá e pega pra mim? se
não quiser Cooper pode ir.
- eu vou – falei olhando para
Cooper – tudo bem para você?
- sim. Pode ir. Eu ajudo Adam no
que ele precisar.
- obrigado – falei pegando meu
celular e chamando por um taxi. Quando o taxi chegou ele me levou até a
empresa. Fazia muito tempo que não ia naquele lugar.
O elevador se abriu e eu entrei
apertado o 20º andar. O elevador parou no 17º andar e um homem de terno e uma
barba preta cobrindo seu rosto entrou. O elevador parou no 18ª e Outro homem
entrou. Dessa vez um homem de cabelos bem penteados para o lado. Seus olhos
eram verdes.
Quando o elevador parou no 20ª
andar todos nós descemos. Para minha surpresa dei de cara com a última pessoa
que eu queria: Marisol. Eu a reconheci por causa da gravidez evidente.
- bom dia Nathan – falou a
recepcionista
- bom dia Francyne – falou o
homem de barba.
- bom dia Axel.
- bom dia respondeu o homem de
olhos verdes.
- Adam está aqui?
- não, ele está de repouso em
casa.
- sério? – perguntou Marisol –
será que ele não vem na parte da tarde?
- não – falou Francyne.
- a cirurgia que ele fez é
complicada Marisol. Não faz nem três dias que ele está de repouso.
- com licença – falei chamando a
atenção da recepcionista – eu vim buscar os papéis para Adam assinar.
- ok – falou ela olhando na
gaveta e me entregando – diga que o cliente pediu para ele ler o contrato duas
vezes antes de assinar.
- ok.
- você vai para o apartamento de
Adam agora? – perguntou Marisol.
Antes que pudesse responder,
Nathan olhou para mim.
- depois você pode voltar aqui?
Eu preciso que leve alguns contratos até a Big Buy que fica na esquina com…
- desculpa, mas eu não sou office
boy.
- então… quem diabos é você.
- Mickey – falei estendendo a mão
– mas pode me chamar de Mike.
- então você é Mike? – falou
Nathan apertando minha mão.
- sim.
- como ele está? bem?
- se recuperando.
- pensei que vocês estivessem
você sabe.
- sim, mas ele pediu que eu
ajudasse em sua recuperação então… estou ajudando ele.
Marisol nesse instante entrou na
sala de Adam batendo a porta.
- alguém está nervosa – falou
Axel rindo.
- bom já vou indo. Foi um prazer
conhecer vocês.
- o prazer é todo meu – falou
Nathan sorrindo. Eu não correspondi o sorriso e apertei o botão desaparecendo
de lá.
Saí do prédio com os contratos na
mão e peguei um taxi para ir para casa.
0 comentários:
Postar um comentário
Comente aqui o que você achou desse capítulo. Todos os comentários são lidos e respondidos. Um abração a todos ;)