RENASCIMENTO capítulo dezoito
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stava tendo um sonho colorido até demais para mim. Parecia um carnaval de animais. Andava em meio pessoas fantasiadas. Uma delas olha para mim. Sua fantasia tem o rosto de um lobo. Do outro lado vejo homem fantasiado de carneiro. Geralmente nessa parte do sonho já não consigo mais me mexer mesmo que eu tente. As pessoas que dançam em volta de nós e jogam confeites para não se importar conosco. É nesse momento que tanto o homem fantasiado de lobo e o fantasiado de carneiro tiram suas máscaras. Ambos sou eu. Os dois tem a mesma feição que faço quando não estou nem feliz e nem triste. É aquela feição que uma pessoa faz quando chega em um certo momento de sua vida ao qual não sabe que caminho tomar. Olho para minha mão e vejo que tenho as duas máscaras comigo, mas qual delas vou colocar? Eu não sei porque nesse momento eu acordo.
Abri os olhos devagar assustado e intrigado pelo sonho. Ainda de olhos fechados apalpo o local procurando por algo e encontro uma mão. Ela aperta a minha e a levo até seu rosto. Sinto a barba me fazendo cócegas.
- bem vindo de volta – falou Adam se abaixando e dando um beijo no meu rosto.
Abro os olhos devagar e noto que sua barba está menor do que da última vez que me lembrava.
- Adam? – falei sorrindo.
- sou eu – falou ele rindo.
- estou vivo?
- está – falou ele começando a chorar.
- o que foi? – perguntei alisando seu rosto.
- nada… falou ele se abaixando e se aconchegando junto a mim.
- o que foi? – perguntei intrigado.
Ele não respondia e apenas chorava junto a mim. suas lágrimas escorriam pelo meu pescoço.
Comecei a me sentir aflito e preocupado.
- ele morreu?
- morreu – falou Adam se levantando e limpando o rosto. Ele parecia um pouco abatido agora que minha visão não estava mais embasada.
- porque você está tão abatido?
Adam segurou minha mão e apertou.
- sei que pode parecer bobeira, mas eu realmente amava Cooper. Aprendia a amá-lo da mesma forma que amava você.
- vou sentir falta dele.
- vou chamar o médico…
- não, não vai. Não me deixe sozinho.
- não vou – falou ele beijando minha mão.
Nesse momento percebi que minha mão estava enfaixada. Meus dedos estavam todos no lugar.
- eu tenho todos os dedos – falei surpreso.
- sim, você tem.
- quanto tempo eu dormi?
- pouco mais de um mês. Estamos em outubro.
- eu estava em coma?
- sim, mas um coma temporário. Um coma induzido para que você melhorasse. O médico decidiu que você estava curado o suficiente e decidiu te acordar.
- vocês fizeram um enterro digno para Cooper?
- sim. Ele teve um funeral digno.
- que bom – falei deixando uma lágrima escorrer.
- estou tão feliz que você melhorou e passou por isso tudo.
- também estou – falei forçando um sorriso.
Nesse momento vi meu pai Larry aparecer do lado de fora do quarto. Junto dele estava Vanessa.
- seja bem vindo de volta filho.
- obrigado pai.
Meu pai veio até mim e beijou meu rosto.
Nesse instante um médico entrou no quarto e começou a fazer pergunta e testes rápidos para saber sobre meus sinais vitais. Estava tudo Ok. Ele então marcou vários exames para aquele dia e a enfermeira me levaria para um deles e eu decidi perguntar a Adam.
- e a audiência Adam?
- vou ligar agora para o juiz para marcar a audiência. Ele tiveram que adiar devido a tudo o que aconteceu.
- ok – falei segurando a mão dele e dando um beijo em sua boca.
- te vejo daqui a pouco – falou Adam.
- até – falei sorrindo.
O médico e a enfermeira me fizeram exames o dia todo. O médico não cumpriu sua promessa já que não deixou ninguém me visitar naquele dia apesar de ter ficado em coma ele disse que eu estava perfeito. Os exames foram variados, desde raio x, ressonância magnética até alguns ridículos como soletrar palavras e dizer o que via em imagens.
Nada foi afetado. Nem minha memória, nem minha fala, nem minha coordenação motora. O médico disse que eu podia ir embora no mesmo dia se quisesse, mas preferiu me deixar internado mais um dia para ver como reagia a tudo ao meu redor.
Finalmente havia chegado o horário de visitas novamente. Adam, meu pai Larry e meu pai Ray junto com minha mãe Abby apareceram.
- como você está meu filho? – falou meu pai Ray vindo até mim sentado na cama e me dando um beijo no rosto.
- estou bem pai.
- que bom que está vivo – falou minha mãe Abby.
- também estou feliz por estar vivo. É como se tivesse renascido e ganho uma segunda chance.
- a Vanessa mandou um abraço – falou meu pai.
- manda um abraço de volta e dá um grande beijo na minha irmã Rachel.
- Liguei para o juiz e a audiência foi marcada – falou Adam vindo até mim e dando um selo na minha boca.
- foi marcada para que dia?
- daqui a três dias.
- mas já?
- sim.
- ótimo, pelo menos assim tudo se resolve.
- você acha que o juiz vai te liberar? – perguntou Ray.
- sim pai. Dr. Wolf, meu psicólogo fez uma avaliação positiva minha. Com certeza vou me livrar.
- que bom – falou ele.
- será que eu posso… conversar com o Mike em particular um pouco? – perguntou Adam.
Todos concordaram e saíram do quarto me deixando apenas com Adam.
- o que foi Adam? Algum problema?
- não. Está tudo bem, eu só queria saber como… como nós dois ficamos?
- você está perguntando sobre o nosso relacionamento?
- sim. Sei que nós tínhamos planos. Cooper, você e eu íamos nos casar, mas depois do que aconteceu espero que nada mude. Eu ainda te amo Mike. Eu sei que te fodi no passado e…
- …pretende me foder no futuro – completei a frase dele.
Adam deu risada e eu acabei rindo também.
- eu estou confuso agora Adam, mas ainda te amo e não acho que vou deixar de te amar tão cedo.
- que bom – falou Adam beijando minha boca.
- estou ansioso pelo dia da audiência.
- eu também – falou Adam me abraçando. Estávamos torcendo para que tudo desse certo nessa audiência.
Nesse momento Lembrei do meu sonho. Quem seria eu? O carneirinho assustado e depressivo que fica mal porque algo de ruim aconteceu ou o lobo que não tem tempo de sofrer pelos próprios problemas?
Agora eu sei como o meu sonho acaba. Estava pronto para enfrentar meu destino. Espero eu que a audiência termine a meu favor. Não me importo se Adam me traiu e vai ter o filho de outra, ele é meu marido e não pretendo abrir mão dele. Não depois de quase ter morrido.
Os três dias se passaram e haviam chegado o dia da audiência. Tive um colapso mental e quase matei meu pai e meu marido. Isso não é tudo. Quase o fiz no meio da rua. É claro que agora eu estava Arrependido de quase tê-lo feito. Havia tido todas as vinte sessões com Jeff. Ele me disse que eu estava mais do que pronto para viver em sociedade. Ainda bem que ele foi meu psicólogo.
Estávamos todo nos tribunal em San Diego. Roman era meu advogado e eu estava sentado ao seu lado. Estávamos prontos para apresentar nosso caso. Meu pai e Adam estavam lá para me apoiar. A todo momento olhava para trás para vê-los. Stephen também estava no tribunal. Para me apoiar.
- você está pronto? – perguntou Roman.
- estou.
- você vai sair dessa – falou Roman – em um caso como esse a palavra que mais pesa na decisão do juiz é a do psicólogo.
- ainda bem – falei respirando fundo.
Todos ficaram de pé, porque o juiz Mitchell entrou na corte. Ele se sentou e todos nós também nos sentamos. Algumas testemunhas do ocorrido deram seu depoimento. Uma mulher assustada, um homem que estava do outro lado da rua e até o filho dele de doze anos que contou como ficou assustado ao me ver com a faca na mão indo em direção aos “dois homens”. Foi assim que ele se referia a Adam e Larry.
Estava nervoso e ansioso, minhas pernas balançavam e eu contava os dedos tocando na ponta de todos eles indo e voltando. Meus dedos que haviam sido cortados agora estavam lá, ainda enfaixados.
- já que não temos mais ninguém que possa dar seu testemunho, gostaria de chamar o Dr. Jeffrey Wolf.
Jeff se levantou e deu alguns passos se sentando na cadeira do réu. Ele levantou a mão direita e jurou dizer a verdade.
- Dr. Wolf… – falou o juiz olhando as anotações que Jeff fez de todas as sessões – o Sr. Krigsman-Fabray compareceu a todas as sessões?
- sim senhor meritíssimo. Em todas.
- eu li suas anotação. Várias e várias vezes, mas gostaria de te perguntar uma coisa.
- pode perguntar – falou Jeff olhando para mim.
- O Sr. Fabray demonstrou algum sinal de arrependimento pelo o que fez?
- sim. Foi exatamente nesse ponto quer mais trabalhamos no começo. Ele se arrependia profundamente e ficava de martirizando. Ele pensava muito em como seguiria com a vida se tivesse feito o que pretendia.
- então ele se arrependeu?
- sim. Tenho profunda certeza deque ele se arrependeu.
- bom… era só isso que queria perguntar – falou ele fechando o relatório – você então concorda que ele está apto a viver em sociedade? Concorda que esse “surto” foi apenas um episódio isolado?
Jeff olhou para mim antes de responder.
- diz logo – cochichou Roman para sí mesmo.
- não – falou Jeff respirando fundo – eu não concordo.
Quando disse isso todo o tribunal demonstrou surpresa. Inclusive eu. Senti meu coração parar por alguns segundos. Perdi meus sentidos por alguns segundos e logo eles voltaram. Todos cochichavam.
- silêncio por favor – falou o juiz Mitchell Morrison batendo o martelo.
Depois que a ordem voltou o juiz voltou a falar com Jeff.
- senhor não acha que ele está apto a viver em comunidade?
- não. Não concordo que foi um surto isolado. Já aconteceu antes e tenho medo de que aconteça de novo.
- nunca aconteceu antes – falei me levantando – ele está mentindo excelência.
- sente-se por favor Sr. Fabray ou vou pedir para prendê-lo.
- sente-se Mike – falou Roman puxando meu braço fazendo-me sentar.
- me perdoe doutor, mas poderia exemplificar por gentileza? Quando diz que “já aconteceu” apo que se refere?
- me perdoe, não quis dizer que aconteceu a mesma coisa. Eu estou dizendo que o Sr. Fabray tem propensão a tomar decisões precipitadas. Ele toma decisões erradas, se arrepende e dez minutos depois toma outra decisão errada e se arrepende logo em seguida. É um ciclo que deve ser quebrado. Temo que se continuar desse jeito, em breve ele pode causar um mal a outra pessoa além dele.
Estava tremendo de raiva. Como Jeff pode fazer isso comigo? Depois de todas as sessões? Depois de tudo o que ele me disse? Ele podia ter me dito qual seria a sua decisão. Me pouparia desse sentimento oque estou sentindo agora.
- isso é tudo o que preciso – falou o juiz olhando para mim – se levante para a sentença por favor – falou o juiz.
Roman e eu nos levantamos.
- não importa o que ele diga, eu vou recorrer – falou Roman em minha orelha.
- ok – falei nervoso.
- bom, devido aos fatos apresentados pelo Dr. Jeffrey Wolf, não tenho mais o que dizer. Não posso negar o que ele disse, pelo bem da sociedade eu digo que você fique recluso em um hospital psiquiátrico por dezoito meses. O tempo pode ser alterado levando em consideração sua melhora e seu comportamento. Você ficara no Hospital de Sanidade Mental de San Diego.
O juiz disse isso batendo o martelo e se levantando, dizendo que a sessão estava encerada.
- o que? Eu não sou louco – falei desesperado olhando para Roman – não posso ir para um hospício Roman.
- fique tranquilo Mike. Estou aqui por você. Vou recorrer a essa decisão. Você não é louco.
Jeff se levantou do banco dos réus e veio até mim e antes que chegasse perto o suficiente para eu soca-lo Roman pediu que ele se afastasse.
- o que você fez seu desgraçado? – perguntei com muita raiva de Jeff.
- fiz isso para seu bem Mike.
- Mike – falou Adam vindo até mim – você vai ficar bem.
- o que ele fez – falei tremendo.
- você vai ficar bem filho – falou meu pai se aproximando de mim. Queria muito beijá-los e abraça-los uma última vez, mas não me deram chance.
Os policiais vieram me algemar. Ficaria algumas horas preso até que o hospital viesse me buscar.
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