Capítulo Vinte e Cinco
XXX
A
|
maioria das pessoas vive uma vida medíocre e não
experimentam a maioria dos sentimentos existentes. A maioria delas apenas
existem e suas existências são insignificante. Minha vida era assim a pouco
tempo atrás. Se eu morresse ou desaparecesse ninguém notaria, mas agora eu
estava realmente vivendo. Tinha feito algumas amizades e descoberto o amor e o
sexo.
Duas semanas se passaram desde
que eu tinha feito o exame de sangue para saber se tinha alguma DST. Tinha
feito sexo com Tobias e meu pai e precisava saber se estava limpo afinal nenhum
deles podia saber que eu fiz sexo com o outro.
Estava com medo do resultado e
não criei coragem para ir pegá-lo. Deixei para ir no outro dia.
Havia passado o dia todo fora.
Havia ido dar uma volta no Lago Champlain e encontrei Troy e Helena. Eu estava
assustado com o último recado que tinha recebido. Meu correspondente Troy/Deus
havia me dito para tomar cuidado na festa. Decidi que não iria nessa festa e
ficaria em casa.
Almocei com meus novos amigos e
tinha acabado de chegar em casa.
- bom dia pai – falei batendo na
porta do quarto dele. Era terça-feira e meu pai tinha dormido o dia inteiro
porque ele estava no turno da noite. O relógio marcava cinco e meia da tarde.
- Oliver? – perguntou ele abrindo
os olhos.
- sou Dr. Marshall – falei
entrando no quarto e me dentando ao lado dele na cama.
Meu pai fechou os olhos e
respirou fundo e em seguida bocejou.
- acho que eu não conseguiria
trabalhar a noite se fosse preciso – falei me aproximando dele e colocando
minha mão em seu rosto. Eu queria ter algum contato com ele só dessa forma
saberia se ele gostava mesmo de mim.
- eu também achava que não
conseguiria – falou ele olhando para mim com um sorriso que me pareceu forçado.
Me aproximei para dar um beijo na boca dele, mas meu pai se levantou – preciso
ir se não me atraso.
- OK – falei continuando deitado.
- você vai ficar bem a noite? Vou
ficar pelo menos duas semanas nesse turno.
- vou ficar bem sim.
- você passou o dia todo fora?
- passei sim. porque?
- por nada – falou ele forçando
um sorriso e entrando no banheiro.
O relacionamento com meu pai
estava apagando. A chama que estava acesa no começo se apagou e na minha
opinião havia se apagado muito rápido. Eu disse que não faria sexo com meu pai
até que ele me tratasse melhor e eu acabei cumprindo essa promessa porque meu
pai não me procurava mais por sexo.
Meu pai tinha dito que me amava e
que estava apaixonado por mim, mas começava a pensar que isso era uma mentira.
Meu pai parecia não estar mais interessado em mim como homem, mas estava sempre
insistindo afinal ele não podia simplesmente me seduzir, ter minha virgindade e
depois me jogar de lado. O mundo é assim tão cruel?
Me levantei da cama dele e sai do
quarto. Tomei um banho e ao descer as escadas meu pai estava tomando café. O
sol lá fora começava a se por e a noite invadia.
- se divertiu com seus amigos? –
perguntou meu pai puxando assunto.
- sim senhor –falei me sentando
ao balcão. Deixei meu pai sentado sozinho na mesa.
- senta aqui comigo – falou ele
apontando para a cadeira.
- tudo bem -falei me levantando e se sentando ao lado
dele.
Meu pai colocou o café em cima da
mesa e me puxou dando um beijo na minha boca. Um selo.
- me desculpa se não estou te
tratando da maneira certa – falou meu pai dando outro selo e depois um beijo de
língua. Me rendi e devolvi o beijo. Estava tão feliz por estar errado. Meu pai
era meu príncipe. Meu rei.
- não se preocupe com isso pai –
falei com um sorriso.
- eu me preocupo sim. Você é meu
filho e eu gosto muito de você. Sei que tenho te tratado diferente nessas
últimas semanas, mas quero que saiba que me sinto exatamente igual em relação o
você. O trabalho tem me estressado muito.
- não se preocupe Brody – falei
beijando a boca dele.
- OK – falou ele dando um beijo
no meu rosto e se levantando – você vai naquela festa?
- eu fui convidado. Troy e Helena
estão insistindo, mas estou pensando em ficar aqui.
- eu acho que você deveria ir.
Você não deveria se privar. Vá a festa.
- tudo bem. acho que vou pensar
na possibilidade de ir.
- até amanhã – falou meu pai
acenando e saindo de casa.
Meu pai agia um pouco estranho em
relação as minhas escolhas. Um dia ele briga quando saio de casa e no outro ele
tenta me tirar a força. Hoje mesmo eu passei o dia todo fora e ele tinha me
aconselhado muito a ir. Ele me deu a maior força. Era como se um dia ele me
quisesse e no outro não.
Faltava quatro dias para a festa.
Parece que todos em Vermont estavam ansiosos pelo sábado. Eu admito que também
estava ansioso, mas ao mesmo tempo nervoso devido ao recado que recebi.
Decidi ir ao lago novamente.
Deixaria outro recado para meu correspondente. Precisava saber mais antes de
sábado.
Fui até o lago e rapidamente em
direção a pedra. Estava um pouco escuro afinal já era quase sete da noite.
Olhei para o lago e a visão era linda. A água ondulava lentamente com a brisa
gelada. Por alguns instantes esqueci dos meus problemas e apenas admirei a
beleza da natureza.
Era por momentos como esse que eu
tinha enfrentado meu “pai” David. Eu só queria a liberdade de sair de casa
apenas para dar um passeio. Ao ver aquela cena eu percebi que tudo valeu a
pena.
Voltei a procurar por algo atrás
da pedra e antes que pudesse ver se tinha algo ou não alguém me assustou.
- Oliver! – falou alguém tocando
meu ombro. Dei um pulo e me virei assustado. Era Jake.
- Jake! – falei indo até ele para
um abraço – você está bem?
- estou sim! – falou ele
retribuindo o abraço.
- você me deixou preocupado Jake!
Você desapareceu!
- eu te disse que não quero
atrapalhar sua vida.
- você não atrapalha minha vida
Jake. Você é meu irmão. Independente do que o sangue diz.
- Oliver por favor…
- por favor você Jake! Eu sou seu
irmão e você vai me deixar te ajudar! Ok?
Jake respirou fundo e por alguns
instantes ele hesitou.
- Jake… só eu sei tudo o que você
sofreu! Na minha vida toda eu sofri dez por cento comparado a você. Você é o
verdadeiro lutador! Você é o verdadeiro vencedor. Você é que merecia ter outra
família, não eu.
- não diga isso Oliver. Você
sofreu também e eu não fiz nada. Tive inúmeras oportunidades de amenizar sua
dor r eu fazia o contrário eu fazia de tudo para que você sofresse mais.
- em nenhum momento eu fiquei com
raiva de você pro isso Oliver. Você é meu irmão. Me deixe te ajudar. Seja meu
irmão.
- tudo bem – falou ele forçando
um sorriso.
- obrigado – falei abraçando ele
novamente – obrigado por me deixar te ajudar.
- tudo bem – falou ele olhando
para a pedra – o que você estava procurando ali? Deixou algo cair?
Nesse momento me lembrei do real
motive de estar ali.
- Jake, por acaso é você que tem
deixado recados para mim?
- recados? Que recados?
- não é nada é só uma loucura
minha. Alguém tem deixado bilhetes para mim e eu pensei que fosse você!
- não fui eu.
- porque você veio aqui então?
- na verdade eu faço esse caminho
todos os dias nesse horário. Eu estava voltando do trabalho.
- todo esse tempo e você passava
por aqui – falei mais tranquilo – você está trabalhando em que?
- trabalho em um restaurante aqui
no centro. Sou ajudante de cozinha.
- que bom. Eu nunca imaginei que
você fosse bom cozinheiro.
- você nunca teve a chance de
provar.
- isso é verdade.
- quem sabe um dia eu não cozinho
pra você.
- isso será em breve – falei
caminhando com ele de volta – eu vou conversar com meu pai assim que eu tiver a
chance. Eu tenho certeza que ele vai te
ajudar. Tenho certeza que ele vai te acolher.
Jake
e eu caminhamos de volta até o momento em que tivemos que nos separar.
- te vejo em breve Jake – falei
abraçando-o.
- espero que sim – falou Jake me
abraçando meio sem jeito e em seguida partindo e acenando.
Atravessei o lago novamente a
caminho de casa. Alguns casais andavam na rua alguns de mãos dadas e outros
não.
- Oliver! Oliver! – alguém gritou
meu nome.
Parei e olhei em volta procurando
por alguém e ao longe eu vi Amy. Quase não acreditei.
- Amy! – falei correndo na
direção o dela e ela veio correndo na minha direção. Nós demos um tremendo
abraço – você está de volta – falei animado.
- estou sim. Estava em meus
planos passar o verão todo lá, mas decidi voltar mais cedo. Não conseguia parar
de pensar em você
- que bom que voltou. Tenho
tantas coisas para contar. Tanta coisa aconteceu desde que você se foi.
- eu vou querer ouvir tudo –
falou ela segurando em minha mão e nós seguimos caminhando até minha casa.
- e então? Como foi lá?
- sabe as imagens na televisão
que vemos nas crianças africanas tão magras? É tudo tão real. É tão estranho
quando passamos pelo vidro da televisão e vemos que tudo é real. Me senti tão
bem por estar lá ajudando-os. A gente pensa que não faz a diferença, mas a
verdade é que cada um que vai para lá faz uma enorme diferença.
- quem sabe um dia eu não vou.
- quem sabe no próximo verão –
falou ela rindo.
- o que você fazia por aqui? Faz
tempo que voltou?
- eu cheguei ontem. Tive que
fazer vários exames por causa da viagem e decidi dar uma volta no lago.
- você vai na festa?
- claro. Todo o ano eu venho.
Lembro quando eu te convidava e você dizia que pensaria e no final das contas
você nunca vinha? Eu pensei que você não gostava da minha companhia.
- pois é. A verdade é que meu pai
nunca deixava.
- espero que seu pai novo não
seja tão exigente quanto David era.
- meu pai é totalmente diferente.
Ele inclusive hoje estava me incentivando a ir a festa.
- que bom. Fico feliz por
finalmente poder ir.
- eu também.
Amy e eu caminhamos até minha
casa. Quando chegamos eu peguei a chave e destranquei o portão. Amy entrou e eu
fui junto com ela atravessando um breve caminho feito com pedras de mármore
brancas até a casa.
- e o Tobias? – perguntou Amy
tentando conter um sorriso.
- o que tem ele?
- quero saber como vocês estão.
Vocês tem se falado?
Eu fiquei em silêncio e
envergonhado. Nós paramos de andar assim que viramos a direita e chegamos
finalmente em frente a casa.
- o que foi? Me conta?
- Tobias e eu fizemos sexo –
falei de uma vez.
Amy não demonstrou reação e sua
cara foi de assustada.
- o que foi Amy? Eu pensei que
não ficaria tão chocada com essa noticia.
Amy não falou nada, mas ela não
olhava para mim. Sua cara de espanto olhava para a casa.
- o que foi Amy? – falei olhando
para a mesma direção que ela. Agora eu entendia o espanto.
- o que é isso? – perguntou Amy.
Eu dei dois passos para frente e
olhei para todos os lados. Meu coração acelerou.
EU SOU DEUS, EU SOU DEUS EU SOU
DEUS, EU SOU DEUS
Essa frase estava pinchada nas paredes da
frente e no chão com uma tinta vermelha na cor de sangue. Ficou mais destacado
ainda porque a frente da casa trazia a cor branca e prateado. O vermelho se destacou.
Nas janelas haviam a letra “X”
repetida três vezes: XXX.
Amy deu dois passos ficando ao
meu lado. Eu apertei forte a mão dela e olhei para ela.
- preciso te contar uma coisa –
falei ofegante.
Amy olhou para mim atenta a ouvir
o que eu diria.
0 comentários:
Postar um comentário
Comente aqui o que você achou desse capítulo. Todos os comentários são lidos e respondidos. Um abração a todos ;)