Capítulo Vinte e Sete
A ESCOLHA
N
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ão existem decisões erradas. Existem decisões. Meu
pai tinha decidido dormir comigo. Eu decidi levar a diante. Meu pai decidiu me
ignorar. Eu decidi insistir. Nenhuma dessas decisões tinham sido inteligentes e
nos levaram onde estamos agora.
Meu pai decidiu me humilhar no
hospital. Eu já encerrei a copa de pais ruins por uma vida. Minha última
decisão tinha sido tomada baseada nas anteriores: decidi ir embora da casa de
Broderick Francys Marshall, mais co0nhecido como meu “pai atual”.
Amy finalmente havia chegado na
casa do meu pai. Abri a porta e ela me olhou de cima em baixo.
- você não vai levar nada? Só a
roupa do corpo?
- nada nessa casa nunca foi meu
de verdade. De fato, Dr. Marshall ainda nem me registrou como filho. Eu sou um
convidado e se levar algo será roubo. Eu continuo sendo Oliver Bowler Maxfield.
- você não o chama mais de pai?
- foi ele mesmo que pediu.
Na verdade meu pai tinha me
pedido para não chama-lo de pai quando estivéssemos na cama, mas decidi
entender esse pedido para a vida toda afinal ele me via como um amante e não
como filho.
- que estranho – falou Amy.
- você têm certeza que não vou te
atrapalhar? Eu não pediria para morar no seu apartamento se não estivesse sem
ninguém.
- primeiro, não. Você não vai
atrapalhar, você é bem vindo e segundo: você tem alguém. Você tem seu pai.
- ele não é meu pai ele deixou
bem claro.
- Oliver, os pais erram de vez em
quando. Você precisa perdoá-lo.
- é mais complexo do que isso
Amy. Não é só o episódio do hospital. Tem muito mais coisa.
- eu vou ouvir essa história um
dia?
- quem sabe.
Ao sairmos entrei no carro de Amy
e nós fomos em direção ao apartamento dela. Era um lugar modesto e
estranhamente aconchegante. Me senti em casa ao colocar os pés nele.
- fique a vontade – falou Amy me
levando até o quarto.
- esse será seu quarto. Tem
cobertores no guarda-roupas.
- obrigado mesmo Amy.
- o que você vai fazer quanto a
suas roupas?
- sinceramente? Não sei.
- eu posso te emprestar algum
dinheiro.
- não queria abusar da sua
bondade Amy.
- Oliver, nós somos amigos. Não é
nenhum abuso.
- obrigado – falei abraçando ela
novamente.
Depois de uma hora, estava
finalmente instalado no apartamento dela. Não tinha muita coisa para colocar no
quarto a não ser meu corpo. Estava deitado na cama pensativo. Não sabia bem o
que fazer.
Amy bateu na porta do quarto e em
seguida a abriu.
- vamos almoçar fora? – perguntou
ela.
- acho que não. Se você quiser ir
pode ir.
- eu pago pra você.
- não Amy. É muito abuso.
- talvez a visita pague pra você.
- visita? Eu tenho visita?
- tem.
Me levantei e sai do quarto
eufórico. Tobias estava parado no meio da sala.
- Amy me contou o que aconteceu –
falou Tobias.
Fui até ele e dei um abraço
forte. Tobias beijou meu pescoço e retribuiu o abraço.
- sinto muito Oliver. Nem sei o
que dizer.
- não diga nada. Não tem nada o
que ser dito. Eu já estou acostumado com isso.
- eu passei em uma loja antes de
vir – falou ele me mostrando uma sacola cheia de roupas.
- não precisava.
- eu tive que chutar o seu
tamanho afinal não sabia.
- obrigado – falei abraçando ele
novamente.
- por nada – falou Tobias levando
sua mão até meu rosto virando-o. Em seguida ele deu um selo. Em seguida ele deu
um sorriso e alisou meu rosto com seu dedão.
- obrigado de verdade.
- vai se vestir, nós vamos
almoçar fora – falou ele me soltando.
- OK – falei entrando no quarto.
Vesti uma das roupas. Ao contrário do meu pai que havia errado meu número,
Tobias tinha acertado em cheio. As roupas tinha ficado perfeitas em mim.
Sai do quarto e em seguida nós
almoçamos. Fomos a um restaurante perto do hospital onde meu pai trabalha. Era
difícil encontrar algo que não fosse perto de lá porque Amy morava próximo ao
hospital.
Depois que terminamos de comer
decidimos continuar lá conversando um pouco antes de irmos embora.
- Tobias eu queria conversar com
você sobre uma coisa.
- sobre o que?
- sobre meu irmão Jake.
- seu pai não quis ajuda-lo?
- na verdade eu nem cheguei a
conversar com ele.
- tem certeza que tomou a decisão
certa? – perguntou Tobias – você precisa perdoá-lo.
- a Amy me fez a mesma pergunta.
- isso é verdade – falou Amy –
ele me disse que via além do que aconteceu no hospital.
- o que mais pode ter acontecido?
- eu prefiro não conversar sobre
isso. Estou querendo esquecer o que aconteceu.
- tudo bem – falou Tobias.
Nós nos levantamos e fomos até o
caixa pagar a refeição.
- Amy você paga pra mim e assim
que tiver dinheiro eu pago.
- eu pago pra você – falou
Tobias.
- não precisa.
- precisa sim – falou ele
entregando o dinheiro.
- depois eu te pago.
- não precisa – falou Tobias –
não insista nisso, eu já disse que não precisa.
- tudo bem.
Nós saímos do restaurante e
caminhamos de volta a casa de Amy. Tobias segurou minha mão e nós caminhamos um
ao lado do outro.
Era incrível a diferença entre
dr. Marshall e Tobias. Enquanto Marshall tentava me evitar a todo tempo, Tobias
conversava comigo abertamente. Me sentia diferente com Tobias.
Nunca perdoarei meu pai por isso.
Ele tinha minha virgindade e tinha dito que me amava e no final das contas ele
só queria uma noite de aventura porque no fundo nós dois não éramos pai e
filho. Apesar de sermos parentes sanguíneos nós nunca tivemos a relação de um
pai e filho. Não tínhamos laços. Ter feito sexo com ele foi como fazer sexo com
um outro homem qualquer.
Ao chegarmos no apartamento de
Amy Tobias se enfiou no quarto comigo.
- não podemos ficar aqui dentro.
Amy pode não gostar.
- Amy não se importa – falou
Tobias me puxando e se deitando na cama. Eu cai ao lado dele.
- você não precisa ir embora?
- pare de arranjar desculpas para
não ficar comigo. Você não quer ficar comigo? Não gostou da tranza que tivemos
é isso?
- não é isso Tobias.
- é sim. Eu não devia ter feito
algumas coisas que fiz. Acho que foi muito pesado levando em consideração oque
era sua última vez, mas é que estava te desejando tão intensamente que…
- cala a boca Tobias – falei
finalmente me dentando próximo a ele e levando minha mão ao peito dele – você
foi perfeito. A minha primeira vez foi perfeita e não voltaria atrás. Tudo o
que fizemos está feito e eu não penso em outra coisa desde que nós fizemos.
- da última vez que me mandou
calar a boca você jogou um copo de água em mim.
- eu posso ir lá na cozinha pegar
um copo se quiser.
- não precisa – falou ele
beijando minha boca. Apenas um selo.
- nós não podemos Tobias.
- porque?
- você é casado.
- você está certo Oliver. Eu sou
casado, mas meu casamento já era. Ele está em ruinas. Harold e eu não somos um
casal a muito tempo. Nosso casamento está desmoronado no chão esperando para
ser reconstruído. Harold disse que está disposto a tentar, mas eu não tenho
tanta certeza.
- viu só? Eu só estou
atrapalhando.
- você não está atrapalhando,
você está me ajudando a decidir o que eu quero.
- o que você quer?
Eu estou disposto a te escolher Oliver. Estou
disposto a me divorciar de Harold. Você é o único motivo que tenho. Tudo o que
preciso saber é se você está disponível se você está disposto a tentar.
- eu não tenho certeza.
- eu gostaria de dizer que posso
esperar você para sempre, mas eu não posso. Posso esperar mais algum tempo, mas
espero que não demore para se decidir. Se você estiver disposto eu peço o
divórcio, mas se não eu vou continuar com Harold.
Antes que pudesse dizer mais
alguma coisa Amy bateu na porta.
- você tem outra visita – falou
Amy.
- quem é?
- seu pai – falou ela fechando a
porta do quarto.
- você precisa conversar com ele
– falou Tobias.
- OK – falei me levantando – você
vem comigo?
- essa é uma conversa que você
precisa ter com o seu velho.
- tudo bem – falei saindo do
quarto.
Dr. Marshall estava parado no
meio da sala.
- Oliver! O que você está
fazendo? Eu cheguei em casa e você não estava lá.
- sim. Decidi ir embora Dr.
Marshall.
- não precisa me chamar de Dr.
Marshall. Você é meu filho.
- preciso sim, foi você quem me
pediu, lembra?
- eu não pedi nesse sentido
Oliver.
- você me quer de uma maneira que
eu não quero me dar.
- me perdoa por ter gritado com
você no hospital.
- eu te perdoo, mas não vou
voltar a viver com você.
- por favor. Você é meu filho.
- você não me vê dessa forma. Eu
não te vejo mais como um pai. Você é só um estranho que me seduziu e tirou a
coisa mais preciosa que eu tinha. Você me usou.
Dr. Marshall olhou para o chão
pensativo e depois respirou fundo. Agora nós conversávamos praticamente
cochichando.
- você vai mudar de idéia – falou
ele com um meio sorriso – eu sei que você vai mudar de idéia.
- eu não vou mudar de idéia.
- sim você vai. Você vai perceber
que eu sou o único homem para você.
- eu já estou com outra pessoa.
- como é? Com quem? – perguntou
ele nervoso.
- me perdoa Dr. Marshall, mas
isso não é da sua conta.
Meu pai pareceu abalado,
pensativo e nervoso.
- você ainda tem a chave da minha
casa?
- tenho sim, eu te devolvo agora
mesmo.
- eu não quero a chave. Eu quero
que você vá lá e pegue suas coisas. Elas são suas eu comprei pra você.
- não precisa.
- precisa sim – falou ele
parecendo mais calmo – amanhã eu estarei no trabalho, você pode ir e pegar suas
coisas e não vamos nos encontrar. Eu respeito sua decisão.
- obrigado por respeitar.
- boa noite – falou meu pai
saindo do apartamento de Amy
Tinha feito minha escolha naquele
momento.
- você está bem? – perguntou
Tobias.
- estou sim – falei indo até ele
e abraçando-o.
Ele beijou meu rosto e me abraçou
forte. Ele sabia que eu precisava desse abraço.
- você quer que eu peça o
divorcio? – perguntou Tobias.
- não.
- porque? – perguntou ele
intrigado.
- eu pensei bem e decidi que
preciso ficar sozinho.
- eu gosto muito de você Oliver!
- sim, eu também gosto de você,
mas fiz escolhas estranhas nessa última semana. Escolhas das quais me
arrependo. Acho que o que aconteceu entre nós dois foi apenas o calor do
momento.
- mas nós dois fomos feitos para
ficar juntos. Eu devis ficar com você. Eu fui o seu primeiro.
- não Tobias. Você não foi meu
primeiro. Eu menti. E parte disso é culpa minha porque eu me entreguei a alguém
que não devia. Você me tratou bem, me fez sentir coisas que ninguém me fez
sentir antes, mas eu sinto que preciso estar no controle da minha vida. David
controlou minha vida a muitos anos e eu me odiei por cada escolha que ele fez
por mim. Se eu ficasse com você, essa não seria uma escolha minha e eu me
odiaria pelo resto da vida.
- mas nós nos amamos – falou
Tobias tocando meu rosto.
- eu não amo ninguém Tobias. Me
perdoa dizer isso, mas eu não amo ninguém e não vou dizer que amo só porque é
estranho não amar, mas a verdade é que não amo ninguém. Nem você, nem meu pai e
nem minha mãe. Nunca tive amor na minha vida, nem sei como é esse sentimento.
Achei que amava, mas a verdade é que nunca amei. Você é um cara legal, mas
precisa de alguém que possa retribuir esse sentimento.
- você tem certeza?
- sim. Eu apreciaria muito se
você respeitasse minha decisão.
- OK – falou ele respirando
fundo.
Tobias olhou para mim antes de
sair. Respirei fundo e me sentei. Pela primeira vez havia feito uma escolha
pensando em mim mesmo. Me sentia bem. tudo o que precisava era saber que tinha
o controle da minha própria vida.
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