Capítulo Vinte e Oito
ESTOU ASSUSTADO
F
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altava dois dias para a festa. Começava a ficar
realmente paranoico com aquelas mensagens que tinha recebido. Eu precisava
descobrir mais sobre o que aconteceria naquela festa. Não estava convencido.
Sei que corria um perigo real, mas precisava descobrir. Não conseguiria ficar
em paz enquanto não descobrisse.
Tobias tinha ido embora no dia
anterior logo após eu dispensá-lo. Tobias é um homem bom, ele foi um grande
amigo quando precisei e foi um homem para mim me proporcionando sensações e
sentimentos novos e únicos, mas foram as escolhas que fiz que me fizeram ver
que Tobias e eu nunca ficaríamos juntos.
Só espero não ter magoado ele
afinal ele merece alguém de bem. Alguém que possa retribuir de volta todo o
amor dele. Sofri muito na minha vida e tinha acabado por crescer como um garoto
sem sentimentos. Não consegui me apegar ao meu pai Dr. Marshall e nem a Tobias.
Estou começando a achar que nunca vou me apegar a ninguém.
- bom dia – falou Amy se
levantando.
- bom dia – falei colocando as
panquecas em cima da mesa – fiz o café da manhã.
- como você está?
- estou bem. Porque a pergunta?
- porque a festa está se aproximando.
Sobre toda essa história dessecara que se chama Troy/Deus. Você não está
assustado?
- cada dia que passa eu fico mais
assustado. Quanto mais perto chega dessa festa, mais assustado eu fico.
- então você não vai?
- eu não sei. Estava em perigo na
casa do meu pai, mas agora que estou vivendo com você não acho que eu corro
perigo.
- mesmo assim eu acho que devemos
ir.
- porque? Não acha que estaremos
muito mais seguros aqui?
- não estou pensando em segurança
e sim em divertimento. Essa festa é divertida. Acho que você deve esquecer esse
cara. Você nem sabe se é uma ameaça mesmo. Talvez seja só algum babaca tentando
te assustar. Você sabe como é. Estamos nas férias e todo adolescente está a
solta sem muito o que fazer.
- Talvez seja isso.
- nós vamos na festa então?
- vamos sim.
- ótimo – falou Amy começando a
comer. Como estava com fome também em juntei a ela.
Depois que comemos eu decidi ir
na casa do meu pai pegar minhas coisas. Como ele tinha dito que podia ir eu
decidi fazê-lo afinal eu não queria terminar as coisas ruins. Querendo ou não
ele é meu pai biológico.
Ao chegar na casa do meu pai eu
subi as escadas. Amy me emprestou uma mala para que levasse o que pudesse.
Levaria só o que conseguisse na primeira viagem, eu não voltaria mais lá.
Enquanto enchia a mala o
interfone tocou. Levei um baita susto afinal não esperava que ninguém fosse lá
e eu estava meio paranoico. Desci as escadas e ao abrir a porta vi uma mulher
de cabelos negros.
- Oliver? – perguntou a mulher.
- quem quer saber?
- meu nome é Stephany. Eu
trabalho no hospital St. Louis.
- eu te convidaria para entrar,
mas …
- não precisa – falou ela com um
sorriso – eu só vim te fazer um rápido pedido.
- pedido?
- sim.
- meu pai sabe que está aqui?
- não ele não sabe.
- olha eu não sei o que vai
pedir, mas…
- amanhã é aniversário do seu
pai.
- é aniversário dele?
- você não sabia?
- não.
- bom, amanhã é aniversário dele
e decidimos fazer uma festa surpresa depois que acabar o expediente. Será algo
no hospital mesmo.
- que bom, acho que ele vai
gostar muito. Eu com certeza irei.
- o meu pedido vai além de um
convite.
- o que seria?
- você é a melhor coisa que
aconteceu nesse último ano ao Dr. Marshall e eu tenho certeza que ele adoraria
ouvir algumas palavras suas em seu aniversário de quarenta e quatro anos.
- você quer que eu faça um
discurso?
- sim.
- eu não sei. Sou um garoto
tímido e nem sei mais o que dizer.
- pode dizer qualquer coisa. Todo
mundo sabe tudo o que sofreu e sabemos que você é uma pessoa sincera. Apenas
diga o que você sente em relação ao seu pai. Ele vai gostar muito.
- eu não sei Stephany…
- diga sim. Por favor. Eu fui
encarregada de te convidar porque sou a mais convincente do hospital. Apenas
diga que aceita ou todo mundo me mata no hospital.
- OK. Eu aceito.
- que bom – falou ela sorrindo.
- que dia é essa festa?
- amanhã ás oito da noite no
quarto andar.
- Ok. Eu estarei lá.
Stephany se foi e eu fechei a
porta. Me arrependi de ter ido até a casa. Agora tinha que fazer um discurso.
Meu pai é um homem bom, mas não estava no clima de fazer discursos depois do
que tinha acontecido entre nós.
Depois que enchi a mala eu chamei
um taxi que me levou a casa de Amy. Amy tinha saído, mas não me importei.
Coloquei as roupas no guarda-roupas e as outras coisas em cima da cômoda.
Depois disso tudo decidi escrever
um discurso. Não tinha muita inspiração lá no apartamento vazio e sombrio então
decidi ir ao meu lugar preferido para passeios. O Lago Champlain. Peguei um
caderno e duas canetas e coloquei dentro de uma mochila na cor parda que
encontrei dentro do guarda-roupas.
A casa da Amy ficava longe então
peguei o ônibus. Quando entrei, para variar, ele estava lotado de adolescentes
gritando e conversando. Esse era o lado ruim das férias de verão. A cidade se
enchia de sacos de hormônios prontos para topar qualquer coisa e isso não era
exclusividade de Vermont.
Andei até o fundo do ônibus
procurando um lugar bem longe deles. Para a minha sorte encontrei um lugar
vazio e me sentei.
Olhei para fora por um bom tempo
imaginando como escreveria o discurso, mas minha mente estava boiando.
- essa cidade é sempre assim –
falou alguém. Era um passageiro sentado do outro lado longe da janela.
- não sempre – falei olhando para
ele. Um homem de pele clara, olhos azuis acinzentados e cabelos loiros penteados
em um topete. Ele usava uma camisa de botões azul listrada com cinza abotoada
até em cima com exceção do último botão que estava aberto apresentando um
peitoral provavelmente peludo devido aos cabelos finos e grandes saindo pelo
alto da camisa.
- então eu fui azarado.
- verdade – falei olhando para
frente – vai ter uma festa no sábado e quanto mais perto chega do dia, mais
bagunceiros aparecem.
- fazer o que né? Eu não tenho do
que reclamar afinal eu já fui um desses bagunceiros na adolescência e aposto
que você também.
- pois é – falei não dando muito
atenção a essa parte – você não é de Vermont, certo?
- não. Eu sou de Norfolk,
Virginia, só vim visitar um amigo.
- Norfolk?
- sim, já ouviu falar?
- na verdade não.
- é uma cidade bonita.
- é uma cidade pequena como essa?
- não. Ela é mais como um centro.
Uma enorme cidade.
Ele estava com uma mochila nas
costas.
- você está vindo do aeroporto?
- estou sim, como sabe?
- a etiqueta da viagem ainda está
na mochila.
- verdade – falou ele tirando a
etiqueta.
Eu forcei um sorriso e olhei para
o outro lado.
Depois de mais um tempo de viagem
finalmente cheguei a ponto mais próximo do lago.
- esse é meu ponto – falei me
levantando.
- o meu é o próximo – falou ele.
- até mais – falei acenando e
descendo do ônibus juntamente com um bando de adolescentes, todos indo para o
lago.
Assim que o ônibus partiu eu
rumei para o lago. Precisava espairecer as ideias para escrever o discurso
idiota para o babaca do meu pai biológico. Essa é definitivamente a última
coisa que faço por ele.
Fui até o local onde costumava
pegar os recados escondidos na pedra e me sentei em cima dela. É claro que
antes de me sentar procurei por algum novo recado, mas não havia. Confesso que
pela primeira vez eu agradeci por não ter nenhum recado. Já estava paranoico o
suficiente.
Comecei a pensar em algumas
coisas e algumas frases que tinha ouvido em vários filmes que assisti depois
que sai da casa de David.
Meu raciocínio começava a ser meu
aliado quando levei um susto.
- olá – falou Helena chegando com
um sorriso.
- oi Helena.
- está fazendo o que sentado ai?
- estou escrevendo.
- vemos lá para o lago.
- até que eu queria, mas eu
preciso mesmo escrever.
- desculpa, estou te
atrapalhando.
- não, não está. Eu estou sem
ideias de qualquer jeito.
- para que? – perguntou ela se
sentando ao meu lado na pedra.
- para meu pai. Ele faz
aniversário hoje e ele terá uma surpresa no trabalho e eles me pediram para que
eu escrevesse alguma palavras para ele.
- deixa eu ver o que você
escreveu – falou ela pegando meu caderno.
Ela deu as duas linhas que tinha
escrito e em seguida pediu minha caneta.
- posso escrever?
- fique a vontade – falei
respirando fundo.
Ela segurou firme a caneta e em
seguida escreveu várias linhas.
- acho que você pode trabalhar
com isso. Se não tiver gostado não tem problema.
Peguei de volta o caderno e li as
linhas que ela tinha escrito.
- ficou ótimo. Acho que não
poderia fazer melhor do que isso – falei olhando para ela – onde aprendeu a
escrever assim?
Sempre gostei de escrever. Tenho
um caderno lá em casa cheio de poemas. Depois eu te mostro.
- adoraria.
- e então? Agora você pode vir
comigo até o lago, você não tem desculpas e me deve uma.
- tudo bem – falei me levantando
e guardando o caderno e a caneta na mochila.
Fui com Helena em direção ao
lago. Ao longe vi um grupo de garotos juntos jogando bola e nadando. Foi nesse
momento que vi Troy, o amigo de Helena.
Senti uma pontada de medo e
curiosidade. Será que Troy seria o mesmo “Troy” que me enviava mensagens?
- quer saber? – falei parando e
fingindo que procurava algo nos bolsos – eu preciso ir Helena.
- porque?
- eu esqueci meu celular em casa
e meu pai gosta de me ligar pelo menos umas duas vezes pra saber que estou bem.
ele é meio paranoico e se eu não atender ele vai colocar a policia toda atrás
de mim.
- OK, tudo bem -falou ela passando os cabelos para atrás da
orelha.
- obrigado por me ajudar.
- sem problema, te vejo na festa
então?
- sobre isso…
- não vai me dizer que você não
virá a festa?
- é que…
- sem desculpas Ollie. Você tem
que vir.
- porque você quer tanto? Porque
você e Troy querem tanto que eu venha a festa? Por acaso são vocês que estão
tentando me assustar?
- te assustar? Do que está
falando?
- não é nada – falei respirando
fundo – estou só… é que não costumo sair. Não tenho amigos.
- sabe porque Troy e eu
insistimos tanto? Troy é paramédico no hospital Sant. Louis.
- o que quer dizer com isso?
- Troy sabe quem é você e sua
história. Ele me contou. Estávamos apenas tentando facilitar para você fazer
amigos.
- Mais alguém sabe?
- não. Troy só contou para mim –
falou ela respirando fundo – então, você vai aceitar nossa ajuda e vir a festa?
- sim. Eu vou.
- ótimo – falou ela.
- quer saber? Acho que vou ficar
aqui com vocês.
- tem certeza? Seu pai não vai se
importar?
- não vai não.
- ótimo – falou ela seguindo
caminho e eu fui logo ao lado dela.
Decidi ir com ela afinal eles
sabiam da minha história e só estavam tentando ajudar. Ainda bem que Helena
havia me ajudado com o tal discurso porque eu não estava nenhum pouquinho
inspirado a escrever nada muito sentimental para meu pai. Não depois de tudo o
que aconteceu. Agora eu estava ansioso louco para chegar logo a noite para que
fizesse esse discurso de uma vez.
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