Capítulo Trinta e Um
CHOQUE: PARTE 2
Q
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uando estamos em estado de choque o corpo nos
impede que sintamos dor. Perdemos os sentidos porque a adrenalina domina nosso
corpo. Quando sofremos um trauma muito grande, tanto internamente quanto
externamente o corpo providencia para que nos sintamos bem. muitas vezes isso
não é o suficiente e acabamos presos em um limbo.
Eu estava preso em um limbo
insuportável onde via tudo o que deu de errado em minha vida e sentia o ódio
que guardei todo esse tempo. Ter descoberto as coisas que descobri despertou
uma fera dentro de mim. Não tinha culpa das minhas ações naquele momento porque
estava em estado de choque.
Kurt segurou forte meus braços
até que o taxi chegou. Ele conversou comigo outra vez tentando me acalmar.
Dizendo que iria ficar tudo bem. ele me contou piadas até que o taxi chegou. Ele
explicou para o taxista o que tinha acontecido e em seguida conseguiu me
colocar dentro do taxi. Em seguida ele se sentou ao meu lado.
- por acaso você conhece algum
Edifício Washington?
- seu sim – falou o taxista.
- é pra lá que estamos indo.
- tem certeza que não quer um
hospital?
- não.
- OK, eu só não quero problemas.
- você não vai ter.
O taxista partiu nos levando até
o prédio de Amy. A viagem foi tranquila levando em consideração que Kurt, o
estranho que apareceu em meu caminho naquela cálida noite estava conversando
comigo enquanto alisava minhas mãos. Ele tentava me acalmar e estava
funcionando. Pelo menos até o próximo ataque.
Ao chegarmos na porta do prédio,
nós saímos do carro e Kurt pagou a corrida.
Assim que o taxi se foi ele olhou para mim.
- qual o apartamento que ela
mora?
Eu não respondi nada.
- não me faça ir de apartamento
em apartamento procurando por ela – falou ele tocando meu ombro.
- quarto andar, apartamento 6.
- vãos lá então – falou ele me
guiando até a entrada – vamos pela escada pra que ninguém veja você machucado e
pense que fui eu quem te machucou.
Nós subimos as escada devagar até
que chegamos no quarto andar. Havia sido uma caminhada árdua levando em
consideração tudo o que tinha sofrido naquela noite.
Nós fomos até o apartamento seis
e Kurt bateu na porta e em seguida a porta se abriu, mas não foi Amy que abriu
e sim Dr. Marshall.
Ao vê-lo eu fui na direção dele
para ataca-lo, mas Kurt me segurou por trás passando os braços em mim me
deixando imóvel.
- Oliver! – falou ele surpreso.
Eu me debati e comecei a chorar
porque tudo tinha voltado como uma onde quebrando no mar.
- o que está fazendo com meu
filho – falou ele nervoso.
- Oliver! – falou Amy vindo até a
porta – solta ele – falou Amy.
- não fui eu que fiz isso com ele
– falou Kurt – eu o encontrei assim na rua. Ele está em estado de choque e a
única coisa que o impede que ir para cima de vocês sou eu então acho que
soltá-lo não é uma boa opção.
- estado de choque? – perguntou
Dr. Marshall se aproximando e quando ele fez isso eu me debati mais ainda.
- acho melhor se afastar – falou
Kurt.
- ele é meu filho, não me diga o
que fazer.
- você não parece ser um pai
muito bom. O que seu filho faz uma hora dessas na rua todo machucado? Se não
fosse por mim ele poderia estar preso ou morto – falou Kurt entrando comigo no
apartamento.
- eu sei o que é estar em estado
de choque.
- você vai ficar ai falando sem
parar ou vai fazer alguma coisa?
- OK, Ok – falou meu pai tirando
o terno – deixa eu ver essas aferidas – falou ele se aproximando e tentando
tocar meu rosto, mas agora ao invés de tentar atacar eu me virei e abracei
Kurt.
- não deixa ele me tocar – falei
com a cabeça deitada no ombro dele.
- tudo bem – falou Kurt – ele não
vai te tocar.
- como assim você não deixar? Eu
sou o pai dele.
- acho que eu devia ter perguntar
o que você fez para ele? Afinal ele não que você o toque?
- quem você pensa que é? O que
você está insinuando?
- por favor – falou Amy – acho
que todos aqui concordam que queremos o melhor para o Oliver Ok?
- Ok – falou Dr, Marshall
- então acho melhor você ir
embora – falou Amy para ele.
- Oliver é meu filho.
- você veio aqui dizendo que
tinha feito algo horrível e Oliver aparece aqui e não quer ser tocado por você
então acho que o melhor é você ir embora Oliver é meu melhor amigo e eu não vou
deixar nada mais machuca-lo acho melhor você ir embora. Oliver não quer ver
você – falou Amy.
- ele é meu filho.
- faça isso por ele – falou Kurt
– seu filho não quer ver você.
Dr. Marshall olhou para Amy e em
seguida pegou o terno e pegou a careteira. Em seguida ele tirou uma quantia de
dinheiro e deixou em cima da mesa de centro.
- se ele precisar de algo… –
falou ele vestindo o terno e saindo do apartamento.
- ela já se foi – falou Kurt
alisando minhas costas tentando me acalmar.
- o que aconteceu Oliver, quem
fez isso com você? – perguntou Amy se aproximando de mim, mas eu não respondi
nada. Como diria a ela que o amigo e chefe tinha me batido? Então achei melhor
ficar calado.
- acho melhor ele tomar um banho
– falou Kurt – você tem algo para fazer curativos?
- vou pedir na farmácia – falou
ela pegando o telefone. O dinheiro que Dr. Marshall deixou seria útil no final
das contas.
Eu me soltei de Kurt e andei em
direção ao banheiro. Kurt me acompanhou e me viu tirar a roupa. Desabotoei a
camisa e joguei no chão. Em seguida eu abri o cinto e tirei a calça e a cueca.
Kurt ficou sem graça ao me ver completamente nu.
- você acha que consegue tomar
banho sozinho?
- Consigo – falei ainda de costa.
- pode ir, eu vou estar aqui no
quarto. Se ficar com medo ou precisar de qualquer coisa é só me chamar.
- OK – falei entrando no
banheiro.
Kurt estava envergonhado e
constrangido naquele momento porque ficou excitado ao me ver nu. Ele não
queria, mas era inevitável. Ele sentou-se na cama disfarçando a ereção e tentou
relaxar e ficou lá esperando eu sair do banheiro torcendo para que dessa vez eu
saísse de roupa.
Quinze minutos se passaram e a
porta do banheiro estava aberta e a água estava caindo, mas Kurt não se atreveu
a olhar lá dentro mesmo estando preocupado com o tempo que tinha passado.
- ele ainda está no banho? –
perguntou Amy entrando no quarto.
- está sim.
- afinal… quem é você?
- me desculpe – falou ele se
apresentando e apertando a mão dela – meu nome é Kurt Griffin.
- sou Amy Gallard – como você
conheceu Oliver?
- Eu estou aqui só a passeio e
estava no ponto de ônibus esperando por um taxi para ir até o aeroporto e foi
quando ele apareceu todo machucado. Eu tentei perguntar o que tinha acontecido
e tentei ajuda-lo, mas ele me atacou.
- que bom que você apareceu, mas
se quiser ir embora pode ir eu cuido dele.
- não, quer dizer… eu já perdi o
voo de qualquer maneira. Não tenho mais pressa.
- eu só me pergunto o que
aconteceu com ele.
- eu também queria saber.
- já se passaram quase vinte
minutos, será que ele está bem?
- não sei – falou Kurt se
levantando – Oliver, é o Kurt. Você está bem?
Não respondi nada então Kurt
decidiu entrar no banheiro e viu que o chuveiro estava aberto, mas eu não
estava tomando banho. Eu estava deitado no chão do banheiro sentindo a água
cair no meu corpo enquanto eu encarava o teto.
- Oliver! Oliver! – falou ele
indo rapidamente até onde eu estava e abrindo o box do chuveiro.
Depois de analisar rapidamente
ele viu que eu estava apenas deitado.
- você está bem? – perguntou ele,
mas não obteve resposta.
- ele está bem?
- sim, traga uma toalha por
gentileza.
Kurt fechou o chuveiro e em
seguida pegou a toalha com Amy.
- se levanta – falou ele
estendendo a mão, mas eu não peguei.
Kurt jogou a toalha no ombro e se
abaixou e segurou meus braços e fez força me levantando. Eu forcei com as
pernas e firmei ao ficar de pé. Ele jogou a toalha e enrolou na minha cintura.
- ele está bem? – perguntou Amy
outra vez.
- sim – falou Kurt saindo comigo
do banheiro – ele está em choque.
- meu deus – falou Amy – o que
diabos aconteceu com ele?
- eu não sei – falou Kurt indo
até ás gavetas procurando por roupas até que encontrou uma cueca e uma bermuda.
- vou dar privacidade – falou Amy
saindo do quarto e fechando a porta.
- você consegue se vestir
sozinho?
- consigo respondi parado sem
fazer movimento algum.
- tudo bem – falou Kurt
percebendo que seria como tomar banho. Eu não faria nada. Ele se sentou na cama
e me puxou pela cintura tirando minha toalha ele me viu nu pela segunda vez.
Ele pegou a cueca e me pediu para levantar
uma perna de cada vez. Em seguida ele subiu a cueca.
Ele pegou a bermuda e me fez
fazer a mesma coisa. Agora eu estava vestido.
- quer ficar sem camisa por causa
do calor?
- quero – falei me sentando na
cama.
Kurt ficou lá sentado ao meu lado
em silêncio até que os remédios e os curativos foram entregados.
- você faz os curativos? –
perguntou Amy entrando no quarto.
- eu posso tentar – falou ele
pegando a sacola com tudo o que ele precisava. Ele tirou algumas coisas e se
virou para mim e eu fiquei quieto enquanto ele passava os remédios.
Amy pegou a calça que eu estava
vestida e quando foi jogar na roupa suja o meu dente caiu do bolso e ela pegou
na mão.
- o que é isso? – perguntou ela.
- parece um dente – perguntou
Kurt pegando na mão.
- é um dente – falei.
Kurt entregou de volta o dente
para Amy e terminou de fazer os curativos. Amy saiu do quarto levando a roupa
suja de sangue para fora.
- você parece novo em folha –
falou Kurt mentindo tentando me animar.
- você quer comer alguma coisa? –
perguntou Amy entrando no quarto.
- não – respondi me deitando na
cama. Tudo o que queria era dormir.
- vou deixar você dormir – falou
Kurt se levantando. Amy jogou um cobertor em cima de mim me cobrindo.
- você quer um lugar para dormir?
Perguntou Amy para Kurt que me encarava deitado – eu posso arrumar o sofá para
você.
- quer saber? – falou Kurt
tirando o tênis que usava e se deitando comigo na cama – vou passar a noite com
ele. Acho que ele não deve ficar sozinho. Ele entrou debaixo da coberta e se
deitou de lado alisando meu braço.
- tem certeza? – perguntou Amy.
- se ele quiser eu posso ir
embora.
Ao ouvir Kurt dizer aquilo eu
usei meu braço direito para puxar o dele fazendo-o me abraçar. Não queria que
ele fosse. Não queria passar aquela noite porque eu tinha uma sensação. A voz
de David estava na minha cabeça e ele me mandava tomar todos os remédios do
armário do banheiro. Eu queria fazer aquilo e precisava de alguém lá que me
impedisse de fazer aquilo.
- bom, acho que ele quer que você
fiquei – falou Amy com um sorriso – é melhor assim;
- também acho – falou Kurt
alisando minha barriga e se aconchegando atrás de mim – você vai ficar bem, vou
ficar a noite toda com você – falou ele para mim.
As intenções de Kurt eram boas e
eu tinha percebido isso nele.
- vou deixar vocês – falou ela
indo até a porta – boa noite Oliver – falou ela apagando a luz e saindo do
quarto.
Eu estava de olhos abertos e
alisei o braço de Kurt tentando dormir. Parecia que eu estava entrando em um
buraco fundo de depressão. Sei que a depressão é a pior doença de todas e tinha
medo de que acabasse no fundo, mas de alguma forma tinha encontrado em Kurt uma
força a mais para me reerguer. Não sei quem é aquele estranho, mas ele tinha me
ajudado em uma noite mais do que a maioria das pessoas toda a minha vida. Kurt
alisava minha barriga e conversava comigo. Ele contava coisas que viu no
jornal. Ele tentava me acalmar e foi assim que dormi a noite. Sentindo a
respiração quente de um estranho em minha nuca.
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