Capítulo Trinta e Dois
MELANCOLIA
E
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ra sexta-feira. Faltava um dia para a festa. Os
acontecimentos da noite passada me fizeram duvidar da minha sanidade e eu tenho
certeza que as pessoas a minha volta também. Senti uma dor na perna assim que
acordei ainda de olhos fechados.
Abri os olhos de vez e olhei para
o teto. Algumas coisas que aconteceram na noite passada agora erma um borrão. A
maioria das coisas estavam desordenadas em minha cabeça. Foi pensando nisso que
me lembrei de Kurt e tudo o que tinha acontecido. Olhei para o lado na cama e
ele não estava, me sentei rapidamente e pensei que talvez tudo aquilo tivesse
sido um sonho, mas meu nariz doía e eu vi o boné dele em cima do criado mudo ao
lado da cama.
Ouvi alguém rindo e me levantei devagar
e fui até a porta e vi Amy e Kurt sentados conversando enquanto tomavam café da
manhã. Era ele. O homem que tinha me
ajudado ontem.
Voltei para a cama e me deitei.
Decidi ficar lá deitado por mais um tempo. Estava envergonhado por tudo o que
tinha acontecido e as perguntas começariam. Uma boa noite de sono era tudo o
que precisava.
Fechei os olhos e mais uma vez
aquelas imagens vieram a minha cabeça. Tobias me batendo, David me mandando
tirar a roupa para me bater e Marshall perguntando se o gosto de seu néctar era
bom. Todas as coisas que tinham acontecido por decisões erradas. Algumas
decisões tinham sido minhas e outras não, mas estava arrependido das que tinha
tomado em relação a Marshall em especial.
Continuei lá deitado pensando na
vida e no que faria quando alguém abriu a porta. Senti um calafrio na espinha e
vi o homem parado na porta junto com Amy.
- bom dia – falou Amy. Ela
parecia assustada e preocupada imaginando se eu ainda estava em estado de
choque devido aos acontecimentos ou se eu estava melhor.
Hesitei antes de responder.
Fiquei encarando ela e Kurt.
- bom dia – respondi de uma vez
sem demonstrar expressão facial. Eu sabia que eles me bombardeariam com
perguntas.
- você está bem? – perguntou Amy.
- estou sim – falei me sentando
na cama.
Ela ficou me encarando junto com
Kurt. Eu coloquei a mão no rosto.
- eu estou muito feio? –
perguntei tocando meu rosto que agora estava desinchado, mas com certeza roxo.
- não claro que não – respondeu
Kurt se aproximando e se sentando na cama.
- o que aconteceu com você? –
perguntou Amy.
Respirei fundo, mas não respondi.
- não precisa responder – falou
Kurt – seja lá o que tiver acontecido você não precisa falar sobre. Não agora.
- eu posso falar.
- tem certeza? – perguntou Amy.
- tenho.
- quem te machucou desse jeito?
Foi o seu pai?
- não, foi o Tobias.
- Tobias? – perguntou Amy
surpresa.
- você sabia que ele era
alcoólatra? – perguntei olhando direto para Amy – não minta pra mim porque ele
estava bêbado quando fez isso em mim.
- não Ollie. Eu não sabia. Eu
nunca imaginaria que ele…
- então não tinha jeito de
impedir isso.
- você quer que eu chame a
policia? – perguntou Kurt.
- não precisa.
- tem certeza? Você não pode
ficar com medo de denunciá-lo.
- eu não tenho medo. Não sinto
medo a muito tempo em minha vida. Eu só não quero denunciá-lo.
- tudo bem então – falou ele
ainda sentado na cama.
- o que você ainda faz aqui?
- eu… - falou Kurt olhando para
Amy e depois para mim – eu só achei que você gostaria de ter companhia quando
acordasse. Se você quiser eu posso ir embora afinal parece que você está bem.
- se você quiser ir pode ir.
- então eu vou – falou ele se
levantando.
- obrigado por ter me ajudado
ontem.
- não foi nada – falou ele
estendendo a mão para que eu apertasse e eu vi a marca de unha que eu fiz no
pulso dele. Eu levei minha mão até a dele e apertei e em seguida eu levei minha
outra mão e segurei o braço dele alisando a ferida.
- me desculpa por isso.
- não foi nada – falou ele sem
graça – essas coisas acontecem e pra falar a verdade não doeu.
- me desculpa mesmo assim.
- tudo bem – falou ele puxando de
leve o braço.
Kurt e Amy saíram do quarto e eu
continuei lá, mas eu voltei a me deitar. Não estava com ânimo de sair da cama.
Depois de vários minutos Amy
entrou no quarto novamente.
- como você está de verdade?
- ele já se foi? – perguntei
quando ela entrou.
- foi sim – falou ela se sentando
na cama – não mude de assunto, eu quero saber como você está.
- estou péssimo. Cansei de dizer
que estou bem sendo que na verdade não estou.
- sabe Ollie, eu realmente sinto
muito eu nunca pensei que Tobias pudesse fazer isso com você.
- ao que parece eu nasci para
apanhar de homens.
- não diga isso.
- é a pura verdade. Todo homem
que entra na minha vida me bate e me machuca de maneira inimagináveis.
- você vai ficar bem. todo mundo
passa por fases sombrias em suas vidas.
- parece que minha vida é sombria
por inteiro.
- sei que vai parecer clichê, mas
tudo vai ficar melhor. Você só precisa acreditar nisso.
- eu gostaria muito de dizer que
acredito, mas eu estaria mentindo.
- por acaso aconteceu algo entre
você e seu pai biológico?
- não.
- tem certeza?
- tenho, não se preocupe com
isso.
- tudo bem – falou ela ainda
sentada na cama
- eu gostaria de ficar sozinho –
falei ainda deitado.
- tem certeza Ollie? Você passou
por tanta coisa, acho que o melhor é você ficar rodeado de pessoas.
- parece que todo mundo sabe o
que é melhor pra mim, exceto eu mesmo.
- você ainda vai na festa amanhã?
- nem se eu quisesse eu poderia.
Minha cara está toda machucada. Todo mundo vai ficar me encarando e além do que
eu não fui feito para ir a festas. Parece que meu destino é ficar deitado nessa
cama pra sempre.
- se você não vai eu também não
vou. Eu vou ficar aqui.
- você precisa ir Amy. Não
precisa ficar aqui comigo. Eu vou ficar melhor se você for. Eu vou só ficar
deitado.
- tudo bem, se você prefere que
eu vá.
- eu prefiro – falei ainda
deitado.
- vou dar uma saída, você vai
ficar bem sozinho?
- vou sim.
- tudo bem então, vou deixar você
em paz – falou ela saindo do quarto me deixando.
Amy se foi e eu fiquei lá deitado
em uma profunda depressão pensando em tudo o que tinha dado errado na minha
vida. Aquele sentimento de mal estar foi me possuindo cada vez mais e eu senti
um aperto no peito. meus lábios tremeram e eu fechei forte os olhos. O relógio
no criado mudo marcava quase uma hora da tarde e Amy não tinha voltado. Na
verdade não me importava com nada naquele momento e em tudo o que pensava era a
vontade de acabar com minha própria vida eu sei que não doeria nada que eu passasse
uma lâmina afiada no pulso.
Fechei os olhos e acabei dormindo
pouco pensando nisso. Pelo menos dessa forma eu não me sentiria um lixo tão
grande.
Estava dormindo e tendo um
pesadelo horrível. Quem me dera fosse apenas um pesadelo era mais como uma
lembrança reprimida de David me batendo. Acordei suado e ofegante. O quarto
estava escuro. Me sentei na cama e olhei em volta. O relógio agora marcava
pouco mais das cinco da tarde.
Ouvi um barulho vindo do lado de
fora e fiquei tentando adivinhar o que era, mas não consegui.
- Amy é você? – perguntei curioso
e amedrontado ao mesmo tempo. Nesse mesmo instante eu me lembrei da invasão na
casa de Dr. Marshall. Seria possível que a pessoa que tinha me enviado aqueles
recados na pedra estivesse lá dentro?
Me levantei bem devagar da cama e
fui andando até a porta e eu a abri bem devagarinho e olhei pela fresta e não
vi nada de anormal. Isso me deu mais medo ainda. Abri a porta de uma vez e
percebi que não tinha ninguém. Sai do quarto dando passos leves e foi quando
levei um susto.
- Jake? – perguntei vendo ele
pendurando um quadro.
- Ollie! – falou ele vindo até
mim e me abraçando.
- o que está fazendo aqui?
- Amy me ligou e me contou o que
aconteceu com você.
- ela te contou?
- sim. Espero que não se importe.
- na verdade… - falei respirando
fundo – você me assustou.
- me desculpa, mas é que Amy me
pediu para colocar um prego nessa parede para pendurar um quadro.
- onde Amy está?
- ela foi ao mercado. Nós vamos
fazer um jantar.
- porque você está aqui? Porque
Amy te ligou?
- ela não te contou?
- contou o que?
- nós estamos saindo.
- você e Amy?
- sim.
- você era o encontro que ela
tinha ontem a noite?
- sim era eu mesmo.
- porque ela não me contou?
- ela não te contou?
- pelo menos eu não me lembro
dela dizer que era você. Acho que me lembraria se ela dissesse que tinha um
encontro com meu irmão.
- você está com raiva por ela não
ter te contado sobre nós?
- tudo o que posso sentir desde
que acordei é raiva de todos e de todo mundo inclusive de mim mesmo.
- não se sinta dessa forma –
falou ele olhando para meu rosto.
- porque você está me encarando?
- porque Amy não me contou quem
fez isso com você.
- ela fez bem. eu não quero que
ninguém saiba que isso aconteceu. Nem você nem ninguém.
- OK – falou ele respirando fundo
– se eu puder fazer qualquer coisa por você…
- não, eu estou bem.
- você vai na festa amanhã?
- não.
- OK.
- acho que vou me deitar outra
vez.
- tem certeza? Não quer ficar
aqui e conversar?
- eu não quero que ninguém mais
me veja desse jeito. Nem você, nem Amy e nem outra pessoa.
- OK – falou Jake me vendo entrar
no quarto e fechar a porta. Eu me deitei novamente e mais uma vez fechei meus
olhos. Me sentia desanimado como se nada mais pudesse me fazer feliz. A
Melancolia preencheu meu corpo e me levou mais uma vez para um pesadelo onde
David me batia.
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