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capítulo quinze
NADA SE COMPARA
e lembro
daquele dia como se fosse ontem. Tinha chegado da escola. Tinha nove ou dez
anos não me lembro bem, acho que foi no dia do acidente. Eu tinha nove anos,
então foi definitivamente no dia do acidente. Naquele dia meu pai deveria ter
ido me buscar no colégio, mas ele não apareceu então o pai de um colega me
deixou em casa. O caminho até a porta de entrada parecia longo demais. A
mochila era pesada nas minhas costas, mas caminhei avidamente. Ao chegar na
entrada meu cachorro não apareceu. A última vez que eu o vi foi de manha quando
ele latia e chorava.
“Charlie, Charlie, Charlie, Charlie, Charlie, Charlie, Charlie”
- Charlie, onde você está? – falei chamando por ele.
Uma voz em minha cabeça dizia aquele nome sem parar. Procurava pelo
cachorro branco e enorme que sempre me recebia com amor, mas ele não apareceu.
Havia uma música alta sendo tocada no rádio. Uma música romântica do Foreigner.
A música estava realmente alta.
Joguei minha mochila em cima do sofá e olhei em volta. Cheguei aos pés
da escadaria e pensei em subir as escadas, mas por algum motivo decidi seguir
até a cozinha. Ao chegar na cozinha vi uma movimentação estranho no quintal. As
longas portas de vidro com adesivos de estrelas e lua pairavam lá no alto.
Me aproximei da porta de vidro e observei em silêncio o mesmo homem
estranho da lembrança anterior. O homem que eu não conhecia. Ele estava com a
roupa daquele dia. Roupa social e gravata, mas ele parecia sujo de sangue. Ele
cavava um buraco e parava as vezes para limpar o suor da testa. Mais abaixo vi
ele deitado no chão. Imóvel. O cachorro estava sem vida jogado logo aos pés.
Sem piscar eu observei atento enquanto o estranho homem se movia para
cima e para baixo tirando terra do buraco e jogando em cima da grama verde.
Tudo o que eu podia pensar era “porque aquele homem está arruinando o gramado?
Mamãe vai mata-lo”.
Alguns segundos depois o homem jogou a pá no chão e em seguida olhou
para o lado e pareceu mover a boca e foi quando do nada minha mãe apareceu. Ela
se abaixou ao lado do meu pai e ambos jogaram o cachorro dentro do buraco.
- Charlie! – falei baixo tocando o vidro. Eu iria sentir falta dele.
Assim que ele jogou o cachorro no buraco eu dei dois passos para trás e
sai da cozinha. Sabia que iria me encrencar se aquele homem e minha mãe vissem
que eu estava lá. Quando coloquei a mão no corrimão da escada para subir senti
uma mão tocando meu ombro.
- Max – falou uma voz conhecida.
Olhei para trás e vi Lea. Ela colocou o dedo na boca para que eu não
fizesse barulho. Ela segurou em minha mão e nós começamos a subir as escada em
silêncio. Antes que déssemos mais do que
três passos senti duas mãos fortes me segurarem e me puxarem para trás. Não foi
com violência. Era o homem estranho. Olhei atrás e vi que minha mão estava logo
atrás dele. Agora de perto podia ver que ele estava realmente sujo de sangue. O
homem se ajoelhou na minha frente e colocou as mãos em meu ombro. Aquilo me
incomodava.
- eu amigão, você precisa guardar um segredo – falou ele colocando o
dedo na minha boca. Sabia que iria me encrencar por ter visto aquilo no jardim.
Lea estava logo atrás de mim e ela parecia assustada. Ela estava de braços
cruzados e eu podia jurar que seus lábios temiam. Do que minha irmã tinha tanto
medo?
Ainda estava sentado ao lado de Ursie encostado na parede. Ursie tampava
a boca. Ela parecia surpresa com a cena que ela viu. Ela tinha um sorriso
malicioso em seu rosto.
- está rindo do que? – falei olhando pra ela.
- e você ainda pergunta? – falou ela tirando a mão na boca.
- pare de rir. Ele vai ouvir – falei levantando os braços – me ajude a
levantar.
- OK – falou ela me ajudando a ficar de pé – ele beija bem?
- para Ursie – falei caminhando até o quarto onde estava hospedado.
Minha perna doía um pouco, mas eu andei até a porta e a abri. Ursie veio
comigo. Ao invés de me ajudar a caminhar ela ficou titubeando atrás de mim.
Nós entramos no quarto e eu me sentei na cama. Ursie fechou a porta e
olhou para mim. Ela me encarou por um momento e se aproximou de mim com o olhar
fixo em mim.
- o que é isso no seu pescoço? – falou ela se inclinando e vendo uma
marca vermelha.
- ficou marca? – falei passando a mão no pescoço.
- sim, parece que alguém apertou seu pescoço. Tipo um irritação.
- foi Ralf.
- vocês fizeram? – perguntou ela curiosa – ele gosta da coisa bruta?
- não Ursie – falei bravo e apreensivo – eu entrei no quarto dele e
quando eu tentei acordá-lo ele pulou em cima de mim. ele estava sonambulo e
começou a me estrangular.
- é sério? – falou ela assustada.
- sim. Ele me enforcou e eu comecei a me desesperar. Eu tentava me
mover, mas ele estava em transe. Não sei o que eu fiz para ele acordar, mas ele
acordou. Para minha sorte é claro.
Enquanto ainda conversávamos a porta se abriu. Era Ralf. Ele tinha em
sua mão uma sacola. Ursie e eu nos assustamos quando a porta se abriu. Estávamos
falando dele e tive medo de que ele tivesse escutado algo que o chateasse.
- aqui tem algumas coisas que podem usar para fazer o curativo – falou
ele entregando a sacola para Ursie. Ele ainda tinha a expressão que conhecia
bem.
- obrigado – falei agradecendo.
- por nada – falou ele olhando para meu pescoço vermelho. Ele não
conseguiu desviar o olhar e nem disfarçar. Ele encarou meu pescoço e ficou
surpreso. Ele não percebeu que tinha me machucado.
- vou ficar bem. Só está vermelho – falei passando a mão.
- OK – falou ele indo até a porta perturbado – vou avisar que vocês vão
demorar a descer – falou ele fechando a porta sem olhar para trás.
- tem hora que ele dá medo – falou Ursie.
- verdade – falei passando a mão no meu pescoço – mas o que veio a
seguir valeu totalmente – falei lembrando dos seus beijos.
Ralf tinha tirado meu fôlego duas vezes naquele quarto. Quando apertou
meu pescoço e quando encostou seus lábios nos meus. Definitivamente ele entrou
em minha mente.
- vamos fazer esse curativo – falou Ursie tirando a atadura. Pela
primeira vez pude ver a ferida. Não era tão horrível quanto eu imaginava.
Ursie passou um remédio limpando a ferida com o algodão e eu me lembrei
dos sonhos que tive. Detestava ficar sozinho com meus pensamentos porque eu
sempre lembrava da minha infância e com isso eu lembrava da minha mãe. a umas
três semanas os sonhos com acontecimentos e lembranças do dia do acidente
começaram a aparecer na minha mente sem razão.
- eu tinha um cachorro – falei para Ursie.
- o que? – perguntou ela confusa.
- eu tinha um cachorro. Essa memória da minha infância insiste em me
assombrar. Eu lembro do meu pai, minha mãe, um cachorro… lembro da minha irmã e
me lembro também de um homem estranho.
- que homem?
- não sei. Não reconheço ele. Talvez seja algum tio. Não me lembrava
disso até agora a pouco. De repente eu tive essa lembrança eu só fico tentando
lembrar o que aconteceu com ele.
- com esse homem?
- não. Com o Cachorro.
- o que isso tem a ver com tudo? – perguntou Ursie.
- nada, é só algo que aconteceu. Uma lembrança aleatória – falei
respirando fundo enquanto ela colocava gaze na ferida. Depois de pronto eu me levantei
e procurei pelo espelho.
- acha que vão notar essa mancha vermelha? – perguntei me olhando no
espelho.
- sim, mas pode dizer que é reação alérgica a algum dos remédios.
- ótima ideia – falei olhando para ela – vamos então.
Antes que saíssemos do quarto meu celular vibrou. Vi que era minha irmã
Lea.
- pode me esperar lá fora Ursie?
- claro! – falou ela saindo do quarto. Peguei o celular e atendi.
- Oi Lea.
- oi Max, tudo bem com você?
- o que você acha?
- sinto muito.
- porque? Por eu não ter a chance de ver meu pai? Por não poder me
despedir dele?
- isso não cabe a mim. Eu não concordo com a decisão da nossa mãe, mas
preciso respeitá-la.
- tudo bem Lea. Eu já me acostumei com a ideia. Não vou implorar para
ela.
- não fique com raiva dela Max. Minha mãe está sofrendo.
- Eu também e isso não impediu ela de fazer o que fez.
- Só estou ligando para que saiba que você ainda é meu irmão e eu te
amo. Não importa o que aconteça – falou ela com a voz trêmula. Acho que ela
estava chorando.
- também te amo – respondi respirando fundo para não chorar.
Depois de um certo tempo em silêncio Lea se despediu. Limpei meus olhos
antes de sair do quarto. Ursie me esperava do outro lado da porta. Quando sai
do quarto. Ralf também saía do dele agora com uma roupa diferente. Ele tinha
tomado seu banho. Ele usava uma camiseta azul claro e uma bermuda que ia até o
joelho na cor bege.
- eu te ajudo a descer – falou ele apertando o passo até nós. Ursie desceu
as escadas na frente e eu passei o braço por trás de Ralf e pude sentir o cheiro
do seu perfume. Era doce.
- você está cheiroso – falei quando descíamos as escadas.
- me perdoa pelo pescoço – falou ele ignorando meu elogio.
- não tem problema. Se alguém perguntar vou dizer que é reação alérgica.
- tudo bem – falou ele me ajudando a descer mais alguns degraus. Acho
que parte do medo dele é que a namorada descubra o que aconteceu – ficamos em
silêncio alguns segundos até que Ralf olhou para mim outra vez.
- obrigado – ele fez uma breve pausa – você também cheira bem.
- e olha que eu nem passei perfume.
Pela primeira vez ele deu um sorriso completo. O sorriso dele era
bonito. Ele mostrou todos os dentes e eu sorri de volta.
- você tem um sorriso bonito, devia sorrir mais vezes.
- eu não sou muito de sorrir – falou ele quando chegamos no fim das
escadas.
Lá embaixo ouvimos todos conversando á mesa. Não conseguíamos vê-los,
mas os ouvíamos muito bem. Ursie havia se enturmado e falava sobre algo ao qual
não dei muita atenção.
- bem, é isso. Hora do almoço – falei me virando para ir a cozinha, mas
Ralf segurou de leve meu braço.
- espera – falou ele olhando para a porta da cozinha para ver se alguém
conseguia nos ver. Me virei de volta para ele e Ralf se colocou a minha frente
e segurou meu rosto entre suas mãos. Ele aproximou o rosto do meu e deu um
selinho em minha boca. Minha mão esquerda repousava sobre o seu ombro direito e
minha mão esquerda acariciava sua cintura enquanto ele dava selinhos em meus
lábios e eu correspondia todos saciando novamente minha sede.
Ralf então transformou os carinhosos selinhos em um beijo mais
apaixonado e deslizou suas mãos por meu corpo e me abraçou forte e eu fiz o
mesmo. Abracei-o forte e mais uma vez me senti seguro como no aeroporto. Eu
estava envolto em seus braços sentindo seu corpo queimando junto com o meu.
Estávamos claramente os dois apaixonados um pelo outro.
Ralf acariciava minhas costas deslizando suas mãos me apertando mais
perto dele e eu preferi manter minhas mãos imóveis apenas apertando-o,
sentindo-o de verdade.
- almoço está pronto – falou uma voz atrás de mim.
Levei um susto e olhei para trás. Era Kyara. Senti o coração de Ralf batendo
forte. Ele ficou feliz por não ser alguém da família ou sua noiva.
- já estamos indo – falou Ralf não me soltando.
- vem logo ou vai perder o famoso purê da sua mãe – falou Kyara chegando
até onde nós estávamos. Alguns segundos e ela nos pegaria no flagra.
Kyara segurou na mão de Ralf e o puxou para a cozinha. Ele me soltou. Ele não teve escolha já que a noive o puxou com
tudo quase m derrubando. Ursula veio até mim e me ajudou a chegar até a
cozinha.
- Max, sente-se – falou o pai de Ralf, Randy.
Fui até a mesa e me sentei ao lado de Ursie próximo a ponta da mesa
perto do pai dele. Ralf se sentou de frente para mim. Kyara estava logo ao seu
lado.
A expressão dele tinha voltado a ser a mesma que eu conhecia. Quem o
visse daquela forma não imaginava que ele tinha um lado tão romântico. E beijos
macios.
- o que é essa marca no seu pescoço? – perguntou Kyara – parece que
alguém te enforcou.
- é só uma reação alérgica aos remédios – falei limpando a garganta e
disfarçando.
- sério? porque parece que alguém apertou forte seu pescoço.
- Pare de ficar fazendo perguntas inapropriadas – falou Ellen
repreendendo a futura nora.
- me desculpe – falou Kyara.
- não tem problema – falei colocando comida no meu prato e logo em seguida
colocando um pouco na boca – realmente parece que alguém apertou meu pescoço,
mas na verdade está coçando então acredito que algum dos remédios que estou
tomando está tendo um efeito colateral.
- Desculpa tocar nesse assunto, mas você não vai no velório do seu pai? –
perguntou Randy.
- na verdade não.
- porque? – perguntou Ellen – vocês não e davam bem?
- a verdade nos dávamos bem. Minha mão é que não quer que eu vá. Ela me
culpa pela morte dele.
- Se algo tivesse acontecido com Ralf eu também te culparia – falou Kyara
– antes você do que ele. Eu entendo sua mãe.
- Kyara! – falou Ralf bravo fazendo o silêncio predominar na mesa. Todos
se calaram e olharam para mim. Kyara não devia ter mais ou menos uns vinte e
sete ou vinte e oito anos. Ela era bem imatura para a idade.
O comentário dela me chateou um pouco, mas eu não queria causar confusão
e nem criar intrigas ou briga.
- não… está tudo bem. Eu também acho que tenha sido – falei levando na
esportiva.
- se seu pai estivesse vivo ele teria orgulho de você – falou Randy –
você não tem culpa do que aconteceu com ele. Seu pai é a vítima. Você é a vítima.
Muita gente perdeu a vida naquele aeroporto e você continua vivo, ela teria
tanto orgulho quanto o que eu tenho por Ralf. Ele é um exemplo de homem, lutou
pelo país, salvou aquelas crianças daquela explosão no Iraque e salvou você.
- Ele é a melhor coisa que eu fiz na vida – falou Ellen.
- Me desculpa Max – falou Kyara – é que eu não sei oque faria se algo tivesse acontecido com Ralf
– falou ela se aproximando dele e os dois deram um selinho.
- Não tem problema Kyara. De verdade.
- vamos apenas almoçar e respeitar a dor do Max. Ele perdeu o pai –
falou Ralf finalizando o assunto.
- concordo – falou Randy concordando com o filho.
Depois de um tempo de silêncio o almoço continuou. Admito que não tinha
nenhum apetite. Lembra de meu pai fez meu estômago se revirar queria chorar e
gritar, mas ao invés disso eu coloquei uma máscara, sorri e fingi que estava
tudo bem. Enquanto todos conversavam eu fiquei mais em silêncio. Basicamente Kyara
e eu ficamos calados. Enquanto comíamos a refeição eu tinha a impressão de que
ela me encarava. Enquanto todos conversavam ela ficava me encarando. Era como
se toda a situação acontecesse me câmera lenta exceto Kyara que não parava de
me encarar e eu tentava não me importar.
- então Max … – falou o pai de Ralf falando comigo.
- sim senhor –falei olhando para ele.
- você cursou alguma faculdade?
- Turismo, eu acho… Acho que também cursei jornalismo. Não me lembro
bem.
- você não se lembra? – perguntou ele confuso.
- eu sofri um acidente de carro á alguns meses e eu tenho Amnésia desde
então.
- você não se lembra de nada? – perguntou Ellen.
- não. De nada de antes do acidente – falei colocando uma garfada na
boca – na verdade eu tenho me lembrado e algumas coisas, mas nada importante.
- você tem algum emprego? – perguntou Randy.
- Eu trabalhava como Avaliador do TripAdvisor, mas eu me desliguei da
empresa a duas semanas. Não queria mais ficar viajando. Agora quem eu pai se
foi e minha mãe não quer manter contato comigo eu não sei o que farei.
- tenho certeza de que não terá problemas em encontrar um emprego, é
como dizem: “há males que vem para o bem” e você pode ter certeza que vou
conversar com todos os meus contatos sobre você. Emprego é o que não vai
faltar.
- eu fico muito agradecido Sr. Falconer.
- não por isso – falou ele sorrindo e voltando a comer.
- eu já disse que estou grávida? – falou Ursie.
- sério? menino ou menina? – perguntou Ellen.
- ainda não sei. Está muito cedo.
- Max, você é o pai? – perguntou – Ellen.
- não senhora…
- acho que ele é gay – falou Kyara – eu vi isso no jornal depois que você
foi salvo.
Assim que ela proferiu aquelas palavras senti um frio na barriga. Não sabia
qual seria a reação dos país de Ralf. Talvez eles fossem preconceituosos. Essa
era a ultima coisa que eu queria que eles soubessem.
- o que ela disse? – perguntou Randy.
- é verdade – falei envergonhado – eu sou gay.
- Olha Max não tem com o que se preocupar – falou Randy – Ellen e eu
podemos ser velhos, mas nós sabemos muito bem o que acontece no mundo de hoje,
toda a liberdade sexual… - falou ele pausando querendo encontrar as palavras -
…nós sabemos que hoje em dia todo mundo gosta de todo mundo e que alguns não
gostam de outros – falou ele meio confuso –
Não precisa ficar envergonhado.
- você é jovem e tenho certeza de que vai encontrar alguém que vai te ajudar
a passar por esses problemas – falou
Ellen com um sorriso no rosto – até lá você é bem vindo para ficar na nossa casa
pelo tempo que precisar.
- OK – falei rindo – devo admitir que fiquei com medo de que vocês
mudassem comigo por saber que sou gay.
- não tem problema em ser gay – falou Kyara – eu tenho um primo que é
gay. Talvez eu apresente você para ele.
Eu vi que Ursie não conseguiu disfarçar e começou a rir ao ouvir Kyara
dizer aquilo.
- para de rir Ursie – falei brigando com ela e quando olhei para Ralf
ele estava sério. Ele encarava o prato de com ida. Acho que ele tinha medo de
que Ursie contasse algo que não devia.
Ursie conseguiu disfarçar bem dizendo que estava rindo do fato de eu
estar envergonhado e não com o fato de Kyara querer me apresentar ao primo gay
sendo que eu tinha beijando o namorado dela no quarto.
Assim que terminamos de almoçar continuamos a conversar. Depois de ouvir
algumas história de Ralf em serviço todos se levantaram. Ursie e eu começamos a
recolher as louças.
- não precisam fazer isso – falou Ellen.
- não, tudo bem – falou Ursie – é o mínimo que posso fazer depois de ser
tão bem recebida.
- eu também não posso ficar apenas olhando.
- pode sim – falou Randy – você precisa ficar de repouso.
- tudo bem então.
Voltei a me sentar a mesa fazendo companhia para todos enquanto eles
arrumavam a cozinha e lavavam todas as louças. Ursie e Ralf estava lavando,
enxaguando e ela começou a puxar conversa comigo. Todos apenas ouviram.
- Max, me fale mais sobre o seu cachorro.
- então… - falei tentando me lembrar de mais coisas – eu lembro que ele
não fazia muito barulho. Era um cachorro quieto e não me lembro o que aconteceu
com ele, mas que foi de repente.
- do que estão falando? – perguntou Ralf.
- Max disse que de repente se lembrou que na infância teve um cachorro.
- minhas lembranças vem e vão.
- qual era o nome dele? – perguntou Kyara.
- acho que era Charlie. Não tenho certeza. Minha lembrança não voltam
por completo, o que é uma droga.
Nós continuamos a conversar e depois que a cozinha estava toda organizada
todos voltaram a se sentar a mesa novamente. Não percebi que todos olhavam para
mim. Eu estava pensativo. Pensava em meu pai e no velório e no enterro que
estavam acontecendo nesse momento.
- no que está pensando? – perguntou Kyara me tirando do meu transe.
- No meu pai. Eu queria estar lá no enterro dele.
- você ainda pode ir. Ele é seu pai. Ninguém via te culpar se você aparecer
lá – falou Randy.
- melhor não. Não quero dar esse desgosto para minha mãe. Sei que no
fundo ela me ama e só está confusa.
- o que você diria a ele? – perguntou Ursula.
- o que?
- se você fosse ao enterro quase seriam as palavras que diria a ele?
- eu não sei – falei pensando em algo.
- tem que ser algo do coração – falou Ellen – você não precisa estar lá
para homenageá-lo. Diga algo aqui e agora. Sei pai vai ouvir de onde você
estiver?
- bom… - falei respirando fundo – pai… Passaram-se oito horas e seis dias
desde que você me tirou seu amor. Não sei
oque vou fazer agora, mas acho que não vou sair tanto quanto saia e vou
passar o dia inteiro dormindo. Desde que você se foi eu posso fazer tudo que eu
quiser, posso ver quem eu quiser ver, posso escolher com quem namorar, mas essa
liberdade tem um preço. Você me empurrava e me forçava ser uma pessoa melhor. Sei
que agora eu posso fazer o que eu quiser, mas nenhuma dessas coisas pode tirar
essa tristeza que eu sinto porque nenhuma dessas coisa se compara a você. Nenhuma
liberdade se compara a você. Tem sido tão solitário sem você aqui esses poucos
dias. Sinto que não consigo respirar direito. Sei que viver com você foi duro
às vezes. Sei que não fui o melhor dos filhos e sei que te decepcionei algumas
vezes, mas eu estaria disposto a fazer outra tentativa. Tudo o que eu queria
era uma nova chance, mas não existem segundas chances e eu não soube aproveitar
quando tive a chance.
Disse aquelas palavras olhando para baixo e quando olhei em volta todos
estavam em silêncio. Me senti fraco e senti vontade de chorar. Senti meu corpo cansado
e tudo o que queria era ficar sozinho.
- posso ir para o meu quarto? estou cansado – falei tentando acabar com
o péssimo clima que eu criei com aquelas palavras. Eram verdadeiras.
- claro – falou Ralf se levantando. Me levantei em seguida e nós caminhamos
até as escadas.
- pronto? – perguntou Ralf passando o braço por trás de mim.
- sim – falei subindo degrau por degrau. Um de cada vez.
Assim que chegamos ao topo voltei para meu quarto. Assim que entramos eu
me sentei na cama e tentei relaxar.
- posso te fazer uma pergunta? – perguntou Ralf de pé.
- pode – falei sentindo meu corpo cansado. Por mais que eu me sentisse
bem, eu esquecia que tinha passado por um grande trauma físico e emocional.
Estava cansado. Não era meu corpo que precisava de remédio. Era minha alma que
precisava de uma cirurgia.
- você tem namorado?
- Não.
- a tá – falou Ralf respirando fundo.
- porque a pergunta?
- nada. Só curiosidade – falou Ralf se sentando ao meu lado a uma
distância consideravelmente longe – as palavras que você falou sobre seu pai
forma bonitas.
- na verdade foram bem mais dolorosas do que bonitas.
- você vai ficar bem.
- espero que sim.
Ralf deu um sorriso e se levantou da cama e foi até a porta. Ele olhou
para mim por alguns segundos ele apenas me encarou. Não me importei com ele e
me deitei de costas e fechei os olhos. Em seguida ouvi a porta se abrindo e se
fechando.
Agora que estava sozinho me permiti chorar. Era doloroso. Sentia muita
falta do meu ai. sabe quando você está passando por um momento difícil em sua
vida, está triste, parece que o mundo conspira contra você, mas você tem aquela
pessoa com quem você pode contar? Aquela pessoa não torna tudo tão pesado? Meu
pai era essa pessoa. Sentia muita falta dele.
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FINAL PESADÍSSIMO! kkk
ResponderExcluirgeeente, e oficial, to viciado, otimo capitulo, como esta o pe? ei me tira uma duvida pq a capa de cada cap e um tipo de flor diferente?
ResponderExcluirBem a frase que me insirou colocar as flores foi essa: "Nunca lamente uma ilusão perdida ou obstáculo que a vida coloca em seu caminhi, pois não haveria fruto se a flor não caísse".
ExcluirAlém do mais Tudo Começou em Um Campo de Flores e é lá que tudo irá terminar.
Entendo, faz sentindo.
ExcluirGave pq vc SP posta 2 vezes por semana?
ResponderExcluirna verdade eu vou postar 5 vezes na semana :)
ExcluirQuando posto menos do que isso é porque algo pessoas aconteceu e me impediu :)
Dias corridos esses meus últimos. Quase sem tempo pra poder degustar melhor os capítulos. Mas sinto algo estranho na atmosfera desse conto nos últimos capítulos... Ou é a frieza que estou passando aqui que tem me deixado assim. Haha' De todo modo, sempre bom te ler, Escritor. Que venha(m) o(s) próximo(s)!
ResponderExcluirA.