capítulo dezessete
REVELACAO
U
|
ma puta
manhã estressante. Era a única forma de descrever a forma que eu comecei o meu
dia. Meus planos não incluíam correr para o psicólogo por não ter reconhecido
os rostos a minha volta. Ralf ficou estranho comigo até depois do almoço. Ele
me tratava diferente quando Kyara estava por perto. Ele parecia distante, não
conversava comigo direito e nem olhava direto para mim. Aquilo me irritava
demais. Ralf não podia brincar com meus sentimentos desse jeito. Não gostava de
ser bem tratado pelas costas, mas pela frente ser tratado com indiferença.
Ursie foi embora porque tinha “planos”. Foi assim que ela me descreveu
seu dia. O almoço foi silencioso. A manhã tinha sido bem estressante para todos
e eu estava um pouco envergonhado com aquela situação. Assim que todos
almoçaram eu fui até a pia lavar as louças.
- não precisa lavar Max. Eu lavo – falou Ellen colocando os últimos
pratos em cima da pia.
- nem pensar Ellen. Eu preciso fazer algo para me sentir útil.
- deixa ele – falou Kyara – talvez seja bom fazer algo. Ocupar a cabeça
com algo.
- pois é – falei concordando mesmo sem ter pedido a opinião dela.
- vamos assistir TV – falou Randy se levantando da mesa – quando você
terminar junte-se a nós.
- tudo bem. Assim que terminar – falei olhando para trás forçando um
sorriso.
Todos saíram da cozinha e foram para a sala. Depois de lavar as louças
do almoço eu não fui para a sala, mas sim para meu quarto. Subi as escadas para
pegar minha carteira e meu celular. Eu tinha planos quando acordei naquela
manhã e agora que tudo havia se resolvido eu decidi seguir com o meu dia. Ao
descer de volta eu fui até a sala avisar que eu ficaria ausente. Todos estavam
assistindo TV. Ralf e Kyara estavam abraçados em um sofá. Kyara estava bem
próxima de Ralf. Sua cabeça deitada em seu ombro. Ellen e Randy estavam
sentados em outro sofá.
- vou sair – falei chamando a atenção de todos.
- você está bem? – perguntou Ellen.
- estou sim senhora. Não tem nada a ver com o que aconteceu e manhã.
- onde você vai? – perguntou Kyara.
Não tinha intenção de dizer onde eu ia, mas Kyara era bem intrometida
para o meu gosto.
- vou ao cemitério visitar o túmulo do meu pai. Minha mãe não pode me
impedir de visita-lo.
- eu te levo – falou Ralf se levantando ao me ouvir dizer aquilo.
- não precisa. Eu vou chamar um Uber.
- Eu não me importo de te levar – falou Ralf insistindo. Seria bom ter a
companhia dele, mas eu não podia deixar ele continuar com aquilo. Me tratar de
dois jeitos diferentes.
- eu quero ficar sozinho – falei sendo bem direto..
- há… OK – falou Ralf respirando fundo. Ele pareceu triste e frustrado.
- enfim… estou indo. Volto em algumas horas.
- vai com Deus – falou Randy.
- obrigado – falei me virando e saindo de casa.
A pior coisa que fiz o dia todo foi dispensar Ralf daquela forma. Me
senti um pouco mal, mas foi necessário. Ele precisa saber que a ‘confusão’ de
sentimentos que ele vive no momento também me afeta. E muito. Ele estava tendo
mudanças de humor entre outras coisas.
Ao chegar ao Cemitério da Cidade de Miami eu tive uma leve surpresa.
Estava achando cemitério seria um lugar sombrio e um labirinto de lápides, mas
a verdade é que era um campo verde com várias lápides no chão. Ao chegar fui
até a administração e depois que eu dei o nome do meu pai eles me passaram a
localização da lápide dele.
Coloquei meus óculos escuros e caminhei pela grama procurando pela
lápide do meu pai. Havia uma longa fileira de lápides em meio á algumas árvores
pelo caminho. Algumas eram maiores do que outras. Algumas lápides traziam
consigo frases e fotos dos entes queridos.
Depois de algum tempo caminhando passei por um portão cinza e cheguei a
uma espécie de clareira. Haviam mais árvores ali do que no resto do cemitério.
Caminhei por entre as lápides e percebi que havia um campo do outro lado
completamente vazio. Era estranho e um pouco mórbido saber que todo aquele
campo seria preenchido com pessoas mortas.
- merda – falei olhando para a lápide dele - esqueci as flores.
LEONARD RUTHERFORD LOUDORN | 1967 – 2016 | PAI AMADO, HOMEM HONRADO.
Olhei em volta e vi que a maioria das lápides tinham flores, mas a dele
não tinha nada. Estava vazia. Havia uma pequena foto dele na lápide, mas não
havia flores. Me senti mal. Me ajoelhei no chão e toquei a lápide com a mão e
fechei os olhos. Eu tentei senti-lo.
- estou aqui pai – falei respirando fundo sentindo um calafrio –
desculpa pelos últimos dias. Eu não… eu não queria te dar nenhum desgosto –
falei sentindo meu rosto queimar. Engasguei um pouco e tentei não desabar –
minha mãe disse que o senhor não estava mais orgulhoso de mim. Sei que eu te
decepcionei com aqueles sentimentos, mas eu só estava confuso. Nunca quis te
chatear pai – algumas lágrimas caíram no chão e a brisa gelada passou por mim
me fazendo arrepiar. Limpei o meu nariz que estava escorrendo e limpei meus
olhos.
Me sentei no chão e me escorei na lápide. Coloquei minhas mãos na grama
e fechei os olhos. A última a lembrança que tinha do meu pai foi quando ele me
deixou no hotel. Aquela foi a última vez que eu o vi. A última vez que eu ouvi
sua voz foi no aeroporto. Só queria me sentir perto dele. Queria que ele
soubesse que que estava lá. A brisa estava gelada e as sombras da árvore me
deram um ambiente delicioso. Foi estranho, mas me senti em paz. Em seguida me
senti cansado e em seguida com sono. Me rendi ao cansaço e acabei dormindo.
- Max? Max? – falou uma voz calma próximo de mim.
Abri os olhos assustado e percebi que tinha dormido.
- o que? – falei apertando os olhos tentando enxergar algo. A luz
atrapalhava e me fez lacrimejar.
- Max? Você está bem?
- estou – falei reconhecendo de estava. Dormi sob o túmulo do meu pai –
quantas horas?
- é quase cinco horas da tarde. Você está bem?
- estou sim – falei me levantando. Era uma mulher de cabelos pretos –
quem é você?
- sou eu – falou ela com a cara séria.
Me abaixei e peguei os óculos escuros que estava no chão.
- Ursula? – falei olhando para ela.
- Lea – falou ela olhando fixo para mim.
Não conseguia reconhece-la, mas agora que ela disse que era minha irmã
eu percebi que ela movia as mãos exatamente igual. Aquilo era uma droga. Não
reconhecia minha própria irmã.
- o que está fazendo aqui? – perguntei sentindo meu rosto inchado. Dormi
por quase quatro horas.
- o mesmo que você. Vim ver meu pai.
- que bom – falei ficando de pé olhando para ela – a diferença é que
você teve a chance de se despedir dele. Eu não. Você veio atrapalhar minha
despedida?
- Eu já pedi desculpas Max. Já disse que não tenho nada a ver com a
decisão da minha mãe. Foi ela quem te proibiu. Não fui eu. Você tem que tentar
entender.
- Eu não preciso tentar. Eu entendi. Foi exatamente por isso que eu não
fui ao velório e nem ao enterro, mas eu pratiquei o Shivá em respeito ao meu
pai.
- você fez o Shivá?
- sim. Foi bom ficar sozinho por um tempo.
- na verdade foi bom encontrar você aqui.
- porque?
- eu te liguei, mas você não atendeu.
- Coloquei o celular no silêncio – falei pegando meu iPhone. Havia três
ligações perdidas de Lea e uma ligação de perdida de um número desconhecido – o
que você queria falar comigo?
- amanhã será a leitura do testamento do papai e o advogado disse que
nós três devemos estar presentes.
- boa tentativa, mas não vou estar lá. Não quero estar perto da minha
mãe. Ela me feriu ao me proibir de ver meu pai. Machucou muito.
- O Advogado disse que nós três não estivermos lá ele não poderá fazer a
leitura. Foi uma exigência do papai.
- claro que foi um desejo do papai, mas ele não imaginou que minha mãe
fosse fazer o que fez.
- Sei que você está com raiva e é direito seu sentir raiva, mas deixe
isso de lado. Pelo meu pai – falou Lea cruzando os braços olhando para baixo
–você não trouxe flores? – falou ela surpresa.
- eu também não estou vendo flores na sua mão.
- eu esqueci.
- eu também – falei colocando os óculos escuros. Olhei para Lea e ela
encarava o chão. Não sei se ela estava chorando ou se apenas olhava fixamente para
nosso pai embaixo de toda aquela terra e grama. Os óculos escuros que ela usava
forma um bom disfarce para sua dor – que horas será?
- ás sete horas da manhã.
- tão cedo?
- sim. Eu te envio o endereço por mensagem no Whatsapp.
- tudo bem – falei me virando.
- você já vai embora?
- sim. Vou deixar você sozinha. Eu já fiquei o suficiente.
- até amanhã – falou ela acenando.
- até – falei caminhando de volta pelo cemitério.
O caminho era longo. Foram quase dez minutos de caminhada de volta a
entrada do cemitério. Eu chegar do lado de fora caminhei pela calçada até que
cheguei a um parque de Skates. Me senti em um banco de madeira e olhei em
volta. Vi alguns jovens andando de Skate e na grama algumas crianças brincavam.
Uma fonte jorrava água no meio do lago.
Peguei meu celular e vi o número desconhecido que ligou para mim. Retornei
a ligação e o celular chamou algumas vezes antes de um homem atender.
- Max?
- Ralf?
- sim. Sou eu.
- porque você me ligou?
- Fiquei preocupado com você.
- eu disse que voltaria em algumas horas. Porque você me ligou?
- você parecia um pouco chateado quando saiu daqui. Eu queria ter ido
com você.
- não. Não preciso da sua companhia soldado. Não sou nada seu. Sou só um
hospede na casa dos seus pais. Você tem namorada. Você ficou exatamente onde deveria.
- porque está me tratando desse jeito?
- porque eu já fui muito iludido por uma vida só. Eu estava noivo e um
homem que não me amava. Terminei o noivado porque descobri que ele me traia. Não
estou disposto a estar em um relacionamento em que eu tenha que fingir ser quem
não sou.
- eu gosto muito de você Max. Não estou mentindo sobre isso. Eu nunca
senti por outra pessoa o que sinto pro você.
- Eu também gosto de você, mas gostar não é o suficiente. Hoje mais cedo
nós estávamos nos beijando e você em empurrou como se eu não fosse nada. Você
está brincando comigo. Eu sou um ser humano.
- quando você chegar nós vamos conversar. Hoje Kyara vai dormir na casa
da mãe.
- Na verdade eu não vou dormir ai hoje a noite. Vou dormir na casa da
Ursula.
- porque está fazendo isso comigo?
- não estou fazendo nada Ralf. Tudo o que você fez foi apertar meu
pescoço e fingir que eu sou seu. Eu deixei por um tempo, mas não quero mais
estar no meio dessa bagunça.
- tudo bem… - falou Ralf cabisbaixo – até mais.
- até.
Desliguei o telefone e chamei por um Uber para ir á casa de Ursie. Não
sabia se ela me receberia em casa por uma noite, mas eu meio que acabei de me
convidar. Espero que ela não se importe. Quando o carro estacionou em frente a
casa de Ursula eu olhei para o outro lado da rua. Era a casa de Kevin. Se eu
tivesse me lembrado disso eu não teria vindo.
- ora, ora ,ora… olha só quem apareceu
-falou Ava com um sorriso no rosto. Ela estava saindo da casa de Kevin.
Olhei para Ava e em seguida me virei e caminhei em direção a casa de Ursula.
- então agora você está com a sapata? – falou Ava em tom de deboche.
- vai cuidar da sua vida – falei olhando para Ava – sabe eu nunca gostei
de você. Desde o começo. Mesmo sem a minha memória eu tinha nojo quando olhava
pra você. Não pense por um minuto sequer que você é melhor do que eu ou Ursula
porque você não passa de vômito.
- o que é isso? – perguntou Ava atravessando a rua e ficando mais perto
de mim – cuspindo no prato que comeu?
- do que você e´stá flaando?
- o Max de antes do acidente era muito mais liberal. Não sei se você gostava
mesmo de buceta ou era só da minha – falou ela rindo de braços cruzados.
- porque você não volta lá para dentro da casa do Kevin? Tenho certeza
de que deve estar acontecendo uma orgia maravilhosa lá dentro.
- Kevin vai ficar feliz de saber que você está tão perto.
- é bom ele ficar longe do contrário a policia vai receber uma bela filmagem
que eu fiz á beira da piscina – falei me referindo a cena de sexo entre Kevin e
o filho Adrien. Eu não me lembrava de onde ela estava, mas se isso impedisse
eles de ficarem perto de mim, eu continuaria mentindo que tinha me lembrado.
- e o papai? Como está? Quentinho embaixo da terra?
- não fale do meu pai – falei indo em direção ao Ava, mas ele apenas rui
para mim. Minha vontade era de mata-la – fecha essa sua boca de cadela. Não quero
você falando dele – falei com raiva – espero que você pegue alguma doença e
morra sua vagabunda – falei com raiva. Sentia o suor escorrendo por minha
testa. Meu coração batia forte. Não sabia de onde tinha vindo tanto ódio, mas
estava lá.
- calma nervosinha – falou Ava atravessando a rua de volta para a casa
de Kevin.
Eu era um idiota. Deixei Ava
entrar em minha cabeça. Ela estava fazendo um jogo comigo e eu mordi a isca. Se
o plano dela era me deixar com raiva, ela conseguiu. Respirei fundo e me virei
indo até a casa de Ursula. Ao me aproximar da porta toquei a campainha.
Olhei para o céu e vi que estava começando a ficar escuro. O clima
estava esfriando, acho que uma tempestade estava se aproximando. Se não hoje,
talvez nos próximos dias. Depois de tocar a campainha novamente ouvi som de
risada e então a porta se abriu. Ursula estava sorrindo com uma taça com bebida
na mão..
- Max? – perguntou ela surpresa.
- olá.
- o que está fazendo aqui?
- eu vim fazer uma visitinha. Espero que não esteja atrapalhando.
- quem é Ursie? – perguntou Laila vindo de dentro da casa. Ela também
tinha uma taça, mas ao invés de uma bebida transparente a taça de Laila tinha
vinho.
- é o Max – falou Ursula – vamos entrando.
- obrigado – falei olhando para Laila – o que está fazendo aqui?
- eu sim visitar Ursula – falou Laila engolindo em seco e colocando a
taça em cima do criado mudo.
Ursula deu risada de Laila e tomou um gole de sua bebida.
- você está bebendo? Você não disse que está grávida?
- isso aqui é refrigerante – falou ela tomando o restante da bebida.
Eu vi que Laila estava envergonhada e eu logo entendi o que estava
acontecendo. Laila e Ursula estavam tendo um encontro.
- você é… sabe… lésbica? – perguntei enquanto caminhávamos para a sala.
Eu vi que Laila engasgou ao me ouvir fazer aquela pergunta para Ursie.
- desculpa se estou sendo indiscreto, mas eu perdi a memória. Eu tenho o
direito de perguntar – falei rindo e me sentando no sofá.
- sim. Eu sou – falei Ursula se sentando ao lado de Laila no sofá de
frente para mim.
- OK – fale rindo. Olhei para Laila e ela parecia envergonhada – então vocês
duas estão tipo… namorando?
- digamos que estamos nos descobrindo – falou Ursula segurando a mão de Laila.
Laila pareceu envergonhada, mas não hesitou. Quando Ursie se aproximou ela correspondeu
ao beijo. Foi difícil não sentir um pouco de inveja das duas.
- olha eu não quero ser intrometido e nem quero atrapalhar o encontro de
vocês, mas será que eu posso passar a noite aqui?
- porque? Aconteceu alguma coisa? – perguntou Ursie.
- o que aconteceu hoje quando Ralf me beijou… você estava lá. Você viu a
forma que ele me empurrou quando Kyara apareceu. Eu não quero ser tratado
assim. Eu gosto do Ralf, mas ele já está envolvido com Kyara.
- não tem problema. Você pode dormir no quarto de hóspedes.
- obrigado. Eu vou subir e não vou atrapalhar vocês.
- Nós vamos sair para jantar. Nós só estávamos tomando algo para nos
animar. Não quer vir com a gente?
- não. Podem ir só vocês. Não quero atrapalhar.
- você não vai atrapalhar – falou Laila.
- é sério. Podem ir. Eu vou ficar bem.
- OK – falou Ursula se levantando – se quiser comer algo sinta-se a
vontade. Tem de tudo na cozinha.
- obrigado.
- nós vamos voltar lá pelas onze horas.
- tudo bem. Divirtam-se – falei indo
até a garagem com elas. Úrsula entrou no carro e Laila se sentou no banco do
carona. Quando o carro saiu a garagem de fechou. Ursula e Laila acenaram já na
rua.
- o quarto de hospedes é o segundo quarto á direita – gritou Ursula
dentro do carro.
- tudo bem – gritei vendo a porta da garagem se fechar lentamente.
Ursula tinha sido legal em me receber e eu não estava com fome. Na
verdade era o contrário. Estava sem fome nenhuma. Estava sem apetite nenhum então
decidi ir para o quarto.
Subi as escadas e ao chegar no topo fui até o segundo quarto á direita. Entrei
no quarto e fechei a porta. Fui para a cama me deitei. Tinha dormido quase a
tarde toda no cemitério com meu pai e tinha sido de uma certa forma relaxante e
reconfortante. Me senti bem.
Estava sem sono, mas para minha sorte tinha uma televisão no quarto. Tirei
meus sapatos e minha roupa. Fiquei apenas de cueca. Desliguei a luz do quarto e
liguei a TV. Me sente na cama e me escorei na cabeceira. Joguei um cobertor nas
pernas e coloquei no Netflix.
Depois de uma breve procura coloquei uma série original do Netflix e
mergulhei no mundo da série. As horas se passaram e eu basicamente fiz uma
maratona. Foram cinco episódios seguidos. Foi uma das melhores coisas que me
aconteceram. Essa foi a primeira vez desde meu acidente que eu consegui me
distrair um pouco, consegui esquecer dos meus problemas. No meu celular o relógio
marcava pouco mais das dez e meia da noite. Meu estômago estava revirado e eu
estava faminto. Decidi ir até a cozinha e atacar a geladeira. Estava com muita
fome.
Coloquei um roupão e desci as escadas indo até a cozinha. Fui até a
geladeira e peguei os ingredientes para fazer um sanduiche. Tomate, maionese,
alface e pão. Um sanduiche natural bem saboroso. Havia suco na geladeira então
eu coloquei em um copo. Depois de pronto me sentei a mesa e peguei o sanduiche
na mão e abri a boca para dar a primeira mordida. Antes que pudesse saborear
ouvi alguém batendo na porta.
- droga – falei deixando o sanduíche em cima da mesa.
Fui até a porta de entrada e destranquei a porta. Tive uma desagradável surpresa.
Era Justin. Grande amigo piloto de Kevin.
- o que está fazendo aqui?
- Ava me disse que você estava aqui.
- Ava devia cuidar da vida dela – falei fechando a porta, mas Justin
colocou a perna e empurrou de leve com a mão.
- o que está fazendo?
- eu só quero conversar com você.
- eu não tenho nada o que falar com você.
- por favor Max. É importante – falou Justin insistindo. Ele fez cara de
cachorro sem dono. Aquilo não me comovia, mas desconfio que ele não ia me
deixar em paz.
- tudo bem, mas você não pode entrar. A casa não é minha. Vamos
conversar lá fora.
- OK – falou Justin saindo.
Fechei a porta atrás de mim e cruzei os braços. Estava frio.
- o que você quer conversar?
- como você está?
- estou ótimo – falei sendo sarcástico – todo mundo me pergunta como
estou. Eu perdi a memória, o rim e o meu pai. Como acha que estou?
- desculpa, eu só estou tentando puxar assunto – falou Justin me olhando
com seus olhos verdes.
- esse é o problema. Eu não quero ter assunto com você. Eu quero distância
de você, Kevin, Ava e Adrien.
- eu não tenho nada a ver com Kevin e Adrien.
- sério?
- eu vi você, Kevin e Adrien na cama. Juntos. Não adianta negar e nem
mentir. Não foi ninguém que me contou eu vi.
- OK – falou Justin sem graça.
- o que você quer de verdade? você não veio aqui pra jogar conversa
fora.
- quer mesmo saber?
- quero.
- sinto sua falta – falou Justin se aproximando.
- se afasta – falei abrindo a porta da casa.
- o que está fazendo?
- eu não quero nada com você.
- Eu sei que você não se lembra, mas você gostava de mim.
- do que está falando?
- nós dois éramos amantes.
- Irônico não? mas me responde… existe amante quando se faz orgia?
- Não. Não foi só durante a Orgia. Nós dois nos encontrávamos com frequência.
- não sei o que vocês estão planejando, mas…
- isso não tem nada a ver com Kevin, Adrien ou Ava Eu só vim agora te
ver porque eles acham que eu fui embora. Eu precisava te contar. Nós éramos amantes.
VocÊ julga Kevin por ter te traído com Adrien, mas você traia Kevin comigo. Nós
dois tínhamos um caso que ia além do sexo. Você não planejava se casar com Kevin.
Você planejava se casar comigo. No começo foi sexo. Eu não vou mentir. Eu era
uma pessoas presente na sua cama. Éramos Você, Kevin e eu. Mas o que fazíamos entre
quatro paredes ia além do tesão. Pouco tempo depois nós começamos a nos
encontrar sozinhos.
- eu não sei o que é pior, sua
tentativa de me convencer que isso é real ou você vir até aqui para perder seu
tempo.
- eu estava com você em Chicago alguns dias antes do acidente! – falou Justin.
- o que?
- sim. Eu fui o comandante da aeronave que te levou para Chicago. Nós
passamos a noite juntos e eu voei de volta para Miami, mas você ficou em
Chicago.
- Isso é mentira. Eu fui para Chicago porque descobri que Kevin e Adrien
estavam tranzando. Eu filmei e fugi porque ele partiu meu coração.
- É verdade que você filmou os dois tranzando, mas você não fugiu porque
ficou triste com a traição. Você não fugiu. Você estava feliz. Você ia chantagear
Kevin usando as filmagens.
- porque diabos eu faria isso?
- pelo dinheiro. Kevin queria que você assinasse um acordo pré-nupcial
por isso você usaria a filmagem para conseguir o dinheiro dele.
- isso é mentira. Eu nunca faria isso.
- eu não estou aqui para te reconquistar. Não estou aqui implorando que
volte para mim. Eu tenho sentimentos por você e eu sei que você não sente o
mesmo, mas eu sinto que devo te contar a verdade.
- porque eu escolhi Chicago?
- eu não sei. Você me ligou e disse que queria Chicago. Então eu troquei
com um colega piloto que iria para Chicago.
- então você não estava no carro comigo durante o acidente?
- não. Eu fui para Chicago com você e fui embora no outro dia. Isso foi
na sexta. Dois dias depois – na segunda – Kevin recebeu a ligação dizendo que
você tinha sofrido um acidente de carro nas estradas de Chicago. Nosso combinado
era você passar o fim de semana em Chicago, então eu faria novamente a rota de Miami
para Chicago na terça. Na volta você viria comigo de volta para Miami.
- você sabia sobre Kevin e Adrien?
- não. Eu fiquei sabendo no dia que você voltou.
- porque eu devo acreditar em você?
- no fundo você sabe que estou dizendo a verdade. Não preciso provar.
Você não precisa acreditar. Com o tempo você vai se lembrar. Só estou dizendo
isso para que saiba que você não era o santo que pensa que é. Você era ganancioso,
antipático e psicopata. Você tinha ódio do seu pai porque ele cortou suas
mordomias quando começou a namorar Kevin. Você achou que tinha encontrado o príncipe
e no fim Kevin fez o mesmo. Ele queria um acordo pré-nupcial afinal ele não queria
dividir o dinheiro com alguém que ele não amava.
- obrigado por melhorar o meu dia.
- não faço isso por maldade. Só achei que devia te contar.
- obrigado por ser sincero e não se preocupe. Kevin não vai ficar
sabendo de nada disso.
- boa noite.
- boa noite – falei me virando e voltando para dentro de casa.
Voltei para a cozinha e me sentei a mesa. Peguei novamente o sanduiche
para dar uma mordida e no fim perdi o apetite. Me senti mal com tudo o que
Justin tinha me contado. Todo esse tempo pensando que Kevin tinha me traído e
no final era eu era tão mesquinho e nojento quanto ele. Cada dia que passa eu
agradeço mais e mais pelo acidente que sofri.
Me senti tão mal que coloquei o sanduiche e o suco na geladeira e subi para
o quarto. Me deitei na cama e desliguei a TV. Joguei o cobertor por cima do meu
corpo e fechei meus olhos. Aquilo tinha me perturbado muito. Me sentia mal,
como se estivesse sozinho no mundo. Minha mãe tinha razão em não em querer no
velório. Meu pai não me contou tudo de mal que eu fiz com ele. Tenho certeza de
que chateei meu pai mais do que sabia. Se eu era capaz de chantagear pro dinheiro
, fico imaginando as coisas que fiz com meu pai, minha irmã, minha mãe e as
outras pessoas envolvidas em minha vida.
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